segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

390 Buddha Mercador


390
“Alegramo-nos ...etc.” - O Mestre contou isto enquanto residia em Jetavana sobre um estranho mercador. Havia em Sāvatthi um estranho mercador, rico e de grandes posses: ele nem usava a riqueza nem a dava para outros: se comida fina fosse servida não comia, comendo só caldo de casca de arroz e mingau azedo; se roupas de seda perfumadas com incenso fossem trazidas ele mandava voltar e vestia roupas grossas de pelo de bicho por dinheiro; se uma charrete adornada com jóias e ouro e puxada por cavalos puro sangue fosse trazida, ele mandava voltar e vinha uma carroça velha meio quebrada com um parassol de folhas em cima. Toda sua vida não quis presentes ou outros méritos, e quando morreu renasceu no ínfero Roruva. Suas posses ficaram sem herdeiro: e os homens do rei ficaram carregando tudo para o palácio durante sete dias e sete noites. Quando já estava tudo no palácio real, o rei foi após o café da manhã à Jetavana, e saudou o Mestre. Quando perguntado por quê demorara para ver o Buddha, ele respondeu, “Senhor, um estranho mercador morreu em Sāvatthi : sete dias foram gastos transportando sua riqueza, à qual não deixou herdeiro, para meu palácio : e apesar de ter tanta riqueza ele nem usava nem dava para outros : sua riqueza era como um tanque de lótus guardado por demônios. Um dia ele caiu nas mandíbulas da morte depois de recusar saborear carne e semelhantes. Bem, por quê este homem egoísta e sem mérito ganhou tanta riqueza, e por quê razão não inclinava os pensamentos em usá-la?” Esta foi a questão que ele coloca para o Mestre. “Grande rei, a razão porque ele ganhou sua riqueza e ainda assim não usá-la, foi esta,” e com a pergunta o Mestre contou uma história de tempos antigos.

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, havia um mercador egoísta descrente em Benares : não dava nada pra ninguém, não ajudava ninguém. Um dia indo esperar junto ao rei ele viu um paccekabuddha, chamado Tagarasikhi, colhendo ofertas, e saudando ele perguntou, “Senhor, colheste oferta?” O paccekabuddha disse, “Não estou colhendo, mercador?” O mercador deu ordens a um empregado, “Vá, leve-o a minha casa, coloque-o na minha cadeira e encha a tigela dele com a comida preparada para mim.” O empregado levou-o à casa, sentou-o, e falou com a esposa do mercador: ela colocou na tigela comida de excelentes sabores. Ele comeu a comida e deixando a casa foi pela rua. O mercador, voltando da corte, o viu e saudando-o perguntou se comera a comida. “Comi, mercador.” O mercador, olhando a tigela, não conseguiu reconciliar sua vontade, mas pensando, “Se meus empregados comeram a comida, me prejudicariam: ai, é uma perda de tempo para mim!” e não conseguia controlar o pensamento. Bem, dar é rico em frutos só para quem pode aperfeiçoar os três pensamentos:-

Alegramo-nos em sentir o desejo de dar,
Dê o presente, e dê animadamente,
Nunca arrependa-se de dar enquanto vivermos,
Crianças nascidas de nós não morreriam.
Alegria diante do dom munificente, dê animadamente,
Prazer no pensar a partir daí, isto é caridade aperfeiçoada.

Assim o estranho mercador ganhou muita riqueza, por ter dado ofertas a Tagarasikhi, mas não pode usar sua riqueza porque não purificou posteriormente o pensamento. “Senhor, por quê ele não tinha filhos?” O Mestre disse, “Ó rei, esta é a causa dele não ter tido filho” : e assim com a pergunta contou uma velha história.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu numa família de mercadores ricos de oitenta milhões. Quando ele cresceu, com a morte dos pais ajudava o irmão mais novo e cuidava da casa : fez um átrio de ofertas no portão da casa e vivia como chefe de casa fazendo ofertas. Nasceu um filho dele; e quando o filho já podia andar nos próprios pés, viu a miséria dos desejos e a benção da renúncia, e assim entregando todas suas posses e a esposa e o filho para o irmão mais jovem, exortou-o a contiuar a fazer ofertas com diligência; e então ele se torna asceta, e ganhando as Faculdades e as Consecuções habitava no Himālaia. O irmão mais jovem pegou o filho único : mas vendo que ele crescia pensou, “Se o filho de meu irmão vive, os haveres serão divididos em duas partes, matarei o filho de meu irmão.” Então um dia, afogando-o num rio, o matou. Depois que banhou-se e voltou para casa, a esposa de seu irmão perguntou-o, “Onde está meu filho?” “Ele estava brincando no rio : procurei-o mas não encontrei.” Ela chora e nada diz. O Bodhisatva, sabendo do problema, pensa, “Tornarei tudo isto público” ; e indo pelos ares e pousando em Benares com belas vestes, ficou na porta : não vendo o átrio de ofertas, ele pensou, “Aquele perverso destruiu o átrio.” O irmão mais jovem escutando que tinha chegado, veio e saudou o Bodhisatva e levando-o ao terraço, deu-lhe boa comida. E quando acabaram a refeição e sentados em conversa amigável ele disse, “Meu filho não aparece : onde ele está ?” “Morto, meu senhor.” “De que jeito?” “No rio : mas não sei de que jeito.” “Não sabe, seu cruel ! Seu ato foi conhecido por mim : não o mataste de tal modo? Serás capaz de manter as posses quando destruída por reis ou outros? Que diferença existe entre você e o pássaro Mayha?” Assim o Bodhisatva expondo a lei com a simplicidade de um Buddha falou estas estrofes:-

Há um pássaro chamado Mayhaka, vive nas grutas das montanhas:
Em árvores pipal [Ficus religiosa] com frutos maduros, ‘meu’, ‘meu’ ele grita.

Os outros pássaros, enquanto ele assim clama, em bandos ao redor voam:
Eles comem o fruto, mas o grito choroso do Mayha continua.

E do mesmo jeito uma única pessoa pode ganhar imensa riqueza,
E ainda assim não dividí-la com justiça entre ele e parentes.

Nenhum prazer ele colhe, de roupa ou comida,
De perfumes ou de guirlandas alegres; nem seu bom povo.

‘Meu, meu,’ ele lamuria enquanto guarda cobiçoso seu tesouro:
Mas reis, ou ladrões, ou seus herdeiros que desejam vê-lo morto
Pilham sua riqueza : ainda assim continua o choro lamúria do miserável.

Pessoa sábia, ganhando grandes riquezas, ajuda parentes :
Então ganhará reputação na terra e no céu depois.

Assim o Grande Ser expondo a ele a lei fê-lo reconstruir o átrio de ofertas, e indo para o Himālaia buscou meditação sem interrupção e depois foi para o céu Brahmaloka.

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Após a lição, o Mestre disse, “Então, grande rei, o estranho mercador não teve nem filho nem filha todo este tempo porque ele matou o filho do irmão, o sobrinho,” e então identificou o Jātaka: “O irmão mais jovem era o estranho mercador, o mais velho era eu mesmo.”




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