quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

389 Ananda Caranguejo



389
“Criatura de garras douradas...etc.” - O Mestre contou esta história quando residia no Bosque de Bambu, sobre Ānanda morrer por ele [ele queria ficar na frente do elefante bêbado que Devadatra atirou contra Gautama]. A ocasião será apresentada no Jātaka 542, sobre a contratação de arqueiros [para matá-lo] e no Jātaka 533 sobre o atroar do elefante Dhanapāla [Gautama grita com ele, que pisaria numa criança no caminho, e o elefante converte-se deixando de chamar-se Nalāgiri]. Então começaram uma discussão no Salão da Verdade : “Senhores, o Ancião Ānanda, Tesoureiro da Lei, que atingiu toda sabedoria possível àlguém em disciplina, deu a vida pelo Buddha Perfeito quando Dhanapāla veio?” O Mestre chegando e sabendo do tema da discussão , disse, “Irmãos, em tempos anteriores também Ānanda deu sua vida por mim :” e contou um conto antigo.
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Certa vez havia uma vila brahmin chamada Sālindiya no lado leste de Rājagaha. O Bodhisatva nasceu lá nesta vila numa família de fazendeiro brahmin. Quando cresceu ele estabeleceu-se e trabalhava numa fazenda de mil karisas [oito mil acres] em um distrito de Magadha à nordeste da vila. Um dia ele foi para o campo com seus empregados e dando ordens para arar, foi para um poço no fim do campo lavar o rosto. Neste poço vivia um caranguejo dourado, belo e encantado. O Bodhisatva com a escova de dentes na boca entrou no poço. Quando estava lavando a boca, o caranguejo aproximou-se. Então levantou o caranguejo e o colocou no seu casaco : e depois de fazer seu trabalho no campo colocou o caranguejo novamente no poço e foi para casa. A partir de então quando ia ao campo passou sempre primeiro naquele poço, colocando o caranguejo no casaco e então indo para o trabalho. Assim um forte sentimento de confiança nasceu entre eles. O Bodhisatva vinha ao campo constantemente. Em seus olhos eram vistas as cinco graças e os três círculos muito puros. Uma ‘corva’ (corvo fêmea) no ninho duma palmeira no canto daquele campo viu seus olhos e desejando comê-los disse para o corvo, “Marido, tenho um desejo.” “Desejo de que?” “Desejo comer os olhos de um certo brahmin.” “Seu desejo é ruim : quem será capaz de pegá-los para você?” “Sei que você não pode : mas no cupinzeiro perto da nossa árvore vive uma serpente preta : espere por ela : ela morderá o brahmin e o matará, então você arrancará os olhos e os trará para mim.” Ele concordou e depois foi esperar a serpente preta. O caranguejo tinha crescido e estava grande no tempo em que a semente semeada pelo Bodhisatva brotava. Um dia a serpente disse ao corvo, “Amigo, estais sempre me esperando : o que posso fazer por você?” “Senhor, sua escrava fêmea está com desejo dos olhos do dono deste campo : espero com a esperança de pegar os olhos com a sua ajuda.” A serpente disse, ”Bem, isto não é difícil, você os pegará,” e o encorajou. Dia seguinte a serpente esperou pelo brahmin chegar, escondida na grama, no limite do campo onde ele vinha. O Bodhisatva entrando no poço e lavando a boca sentiu um retorno de afeição pelo caranguejo, e abraçando-o colocava-o no casaco e ia para o campo. A serpente viu ele vir, e correndo rapidamente mordeu-o na panturrilha e fazendo-o cair no lugar fugiu para o cupinzeiro. A queda do Bodhisatva, o salto do caranguejo dourado do casaco, e o pousar do corvo no peito do Bodhisatva seguem junto um do outro. O corvo pendurado coloca o bico nos olhos do Bodhisatva. O caranguejo pensou, “Foi por causa deste corvo que veio perigo para meu amigo : s'eu segurá-lo a serpente virá,” e assim segurou o corvo pelo pescoço com sua garra firmemente como num torno, até cansar e soltar um pouquinho. O corvo chamou a serpente, “Amigo, por quê me abandonas e foges? Este caranguejo me aflige, venha antes qu’eu morra,” e falou a primeira estrofe:-

Criatura de garras douradas com olhos projetados,
Alimentada em mangues montanhosos, careca, encouraçada em concha óssea,
Ele me pegou : ouça meus gritos de dor !
Por quê deixas um companheiro que te quer bem?
A serpente escutando-o, alargou a crista e veio consolar o corvo.

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O Mestre explicando o caso em sua Sabedoria Perfeita falou a segunda estrofe:-

A serpente caiu em poder do caranguejo, não abandonaria seu amigo:
Estufando sua crista poderosa veio : mas o caranguejo dominou a serpente.

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O caranguejo cansando soltou um pouquinho. A serpente pensando, “Caranguejos não comem carne de corvo nem de serpentes, então por quê razão este aí nos segura ?” e perguntando falou a terceira estrofe:-

Não é por causa de comida
Que caranguejo segura serpente e corvo:
Diga-me, tu com olhos para fora,
Por quê nos segura e aperta tanto?

Escutando-o, o caranguejo explicou a razão em duas estrofes:-

Este homem me tirou do poço,
Grande gentileza ele fez;
Se ele morrer, minha dor é toda:
Serpente, ele e eu somos um.

Vendo-me crescido e grande
Todos me quererão matar:
Gordo e doce e delicado,
Corvos me vendo atacariam!

Escutando-o, a serpente pensou: “De algum modo devo enganá-lo e libertar-me e ao corvo.” Então para enganá-lo falou a sexta estrofe:-

Se tu nos segura somente pelo bem dele,
Dele tirarei o veneno : que ele se levante:
Rápido! Tire as pinças de mim e do corvo;
Senão o veneno aprofunda e ele morre.

Escutando-o o caranguejo pensou, “Este aí quer que eu solte os dois e ambos fujam, não sabe minha habilidade em tramas; afroxarei a garra para que a serpente mova-se, mas não libertarei o corvo,” e falou a sétima estrofe:-

Libertarei a serpente mas não o corvo;
O corvo será refém amarrado:
Nunca o deixarei sair
Até meu amigo estar são e salvo.

Assim dizendo soltou a garra para a serpente sair. A serpente tirou o veneno e deixou o corpo do Bodhisatva livre dele. Ele levantou-se e ficou na sua cor natural. O caranguejo pensando, “Se estes dois ficarem bem não haverá prosperidade para meu amigo, matarei-os,” esmagando ambas as cabeças com suas garras como brotos de lótus e tirou a vida deles. A ‘corva’ fugiu do lugar. O Bodhisatva espetou o corpo da serpente com um pau e atirou em um arbusto, deixou o caranguejo dourado livre no poço, banhou-se e foi para Sālindiya. A partir daquele dia houve maior amizade ainda entre ele e o caranguejo.
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A lição terminada, o Mestre declarou as Verdades, e identificando o Jātaka falou a última estrofe:-

Māra era a serpente escura, Devadatra era o corvo,
Bom Ānanda era o caranguejo, eu mesmo o brahmin tempos atrás.

Ao final das Verdades muitos alcançaram o Primeiro Caminho e outros Caminhos. A ‘corva’ era Ciñcamānavikā, apesar disto não estar dito na última estrofe.”




2 comentários:

Mariana disse...

Muito bom o caranguejo 🦀 salvou o amigo dele , caranguejo é símbolo de proteção

Vilma Aparecida da Silva Fonseca disse...

Amizade e gratidão difíceis de encontrar