segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

386 Buddha Sakra


386
“Bodes são estúpidos...etc.” - O Mestre contou esta história em Jetavana, relativa à tentação de um Irmão pela antiga esposa. Quando o Irmão confessou que anelava ao mundo, o Mestre disse, “Irmão, esta mulher te faz mal : antes também entraste no fogo por causa dela e foste salvo da morte por sábios,” e assim ele contou um conto antigo.
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Certa vez quando um rei chamado Senaka reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era Sakra. O rei Senaka estava amigo de um certo rei-nāga. Este rei-nāga, dizem, deixou o mundo-nāga e vagava pela terra buscando comida. Os meninos da vila vendo disseram, “Isto é uma cobra,” e nele bateram com paus e outras coisas. O rei, indo passear no parque, os viu, e sendo informado que batiam numa cobra, disse, “Não deixem que batam, afastem-nos” ; e isto foi feito. Então o rei-nāga ficou com sua vida e quando voltou ao mundo-nāga, tomou muitas jóias, e vindo à meia-noite à câmara real deu-lhas ao rei dizendo, “Tenho minha vida por sua causa” : e fez amizade com o rei e vinha sempre visitá-lo. Indicou uma de suas garotas nāga, insaciável de prazeres, para ficar perto do rei e protegê-lo : e deu ao rei um encanto dizendo, “Se em algum momento não a ver, repita este encanto.” Um dia o rei foi ao jardim com a garota nāga e divertia-se no tanque de lótus. A garota nāga vendo um cobra-d’água, larga sua forma humana e faz amor com ele. O rei não vendo a garota diz, “Onde ela foi?” e repetiu o encantamento : então a viu prevaricando e nela bateu com um bambu. Ela foi irada para o mundo-nāga, e quando questionada, “Por quê veio ?” ela disse, “Seu amigo me bateu nas costas porque não fiz o que ele ordenou,” mostrando a marca do golpe. O rei-nāga, sem saber a verdade, chamou quatro jovens nāgas e os enviou com ordens de entrar na câmara do rei e destruí-lo como palha com o sopro das narinas. Eles entraram na câmara na hora do sono real. Quando entravam o rei dizia à rainha: “Senhora, sabes para onde foi a garota-nāga?” “Rei, não sei.” “Ho-je quando nos banhávamos no tanque, ela largou a forma humana e transava com um cobra-d’água : eu disse, ‘não faça isto,’ e bati nela com um bambu como lição : e agora temo que tenha ido ao mundo-nāga e contado alguma mentira ao meu amigo, destruindo a boa-vontade dele para comigo.” Os jovens nāgas escutando isto voltaram para o mundo-nāga e contaram ao rei. Ele, mexido, foi instantaneamente ao quarto do rei, e contou-lhe tudo e foi perdoado : “Deste modo me corregirei,” e deu ao rei um encanto que fazia conhecer todos os sons : “Isto, Ó rei, é um encanto sem preço : se der para alguém este encanto entrarás imediatamente no fogo e morrerás.” O rei disse, “’Tá bem,” e aceitou. A partir daquele momento entendia a voz mesmo das formigas. Um dia sentado no tablado comendo comida sólida com mel e melado deixou cair uma gota de cada, e um pedaço de bolo, no chão. Uma formiga vendo veio gritando, “O pote de mel do rei quebrou no tablado, e o de melado e o de bolo ; venham e comam mel melado e bolo.” O rei escutando o grito riu. A rainha estando perto dele pensou, “O quê o rei viu que faz rir?” Quando o rei já tinha comido sua comida sólida e banhado-se e sentava de perna cruzada, um ‘mosco’ disse para sua esposa mosca, “Venha, senhora, vamos gozar o amor.” Ela disse, “Desculpe por um instante, marido : logo trarão perfumes para o rei; enquanto ele se perfuma algum pó cai a seus pés : estarei lá e me tornarei fragrante, então gozaremos um ao outro deitados nas costas do rei.” O rei escutando a voz riu novamente. A rainha pensou novamente, “O quê ele viu que o faz rir?” Novamente quando o rei estava tomando sopa, um pouco de arroz caiu no chão. As formigas gritaram, “Um ‘caminhão’ de arroz quebrou no palácio do rei, e não há ninguém para comê-lo.” O rei escutando isto riu novamente. A rainha então pegou uma colher dourada e refletindo-se nela, “É me olhando que o rei ri ?” E foram para o quarto de dormir e na cama ela perguntou, “Por quê você ri, Ó rei?” Ele disse, “O quê você tem a ver com o meu riso ?” mas sendo questionado mais e mais contou a ela. Então ela disse, “Dê-me seu encanto de saber.” Ele disse, “Não posso te dar” : mas apesar de repelida ela ainda o pressionava.

O rei disse, “Se eu te der este encanto, eu morro.” “Mesmo que você morra, me dê.” O rei, estando em poder das mulheres, disse, “’Tá bem,” consentiu e foi para o parque numa carruagem, dizendo, “Devo entrar no fogo depois de passar este encanto.” Naquele momento, Sakra, rei dos deuses, olhando a terra em baixo, e vendo este caso disse, “Este rei tolo, sabendo que entrará no fogo por causa das mulheres, segue seu caminho ; lhe darei a vida” : então chamou Sujā, filha dos Asuras, e foi para Benares. Ele se tornou um bode e fez ela cabra, e decidindo que as pessoas não deveriam vê-los, permaneceram diante da carruagem do rei. O rei e os asnos Sindh que puxaram o carro os viram, mas ninguém mais os viram. Para começar conversa ele ficou como que fazendo amor com a cabra. Um dos asnos Sindh amarrado a carruagem vendo disse, “Amigo bode, já escutamos antes mas não tínhamos visto, que bodes eram estúpidos e sem vergonhas : mas estão fazendo, com todos nós olhando, isto que deve ser feito em segredo e em lugar privado, e não está envergonhado : o quê escutamos antes concorda com o quê vemos:” e falou a primeira estrofe:

‘Bodes são estúpidos’, diz o sábio, e verdadeiras certamente são as palavras:
Este aí não sabe que está badalando o quê devia ser um segredo.

O bode escutando-o falou duas estrofes:

Ó, senhor burro, pense e perceba sua própria estupidez,
Estais amarrado com cordas, sua mandíbula freada, e seu olhar bem direcionado.

Quando estais solto, não escapas, Senhor, este é um hábito estúpido também:
E aquele Senaka que carregas, é ainda mais estúpido que você.

O rei entendendo a fala de ambos os animais, e escutando-a rapidamente aproximou a carruagem. O asno escutando a fala do bode falou a quarta estrofe:

Bem, Senhor rei das cabras, sabes inteiramente da minha grande estupidez:
Mas por quê Senaka é estúpido, por favor explique.

O bode explicando falou a quinta estrofe:

Aquele que seu próprio tesouro especial sobre a esposa jogará fora,
Não pode mantê-la fiel e à sua vida deve trair.

O rei escutando estas palavras disse, “Rei das cabras, tu certamente agirás em meu benefício : diga-me o que é certo fazer.” Então o bode disse, “Rei, para todos os animais nada é mais querido que si mesmo : não é bom destruir-se e abandonar toda a honra ganha em troca de qualquer outra coisa querida” : e falou a sexta estrofe:-

Um rei, como tu, concebeu desejo
E ainda assim renuncia a ele ao custo da vida:
Vida é a coisa primeira : o quê as pessoas podem buscar de mais alto?
Se a vida está assegurada, desejos não necessitam travessia.

Assim o Bodhisatva exortou o rei. O rei, deliciado, perguntou, “Rei dos bodes, de onde vens?” “Sou Sakra, Ó rei, vim para salvá-lo da morte com dó de ti.” “Rei dos deuses, prometi dar a ela o encanto : que faço agora ?” “Não há razão para a ruína de
vocês dois : você diz, ‘É o caminho do ofício,’ e dê uns tapas nela : deste jeito ela não terá.” O rei disse, “’Tá bem,” e concordou. O Bodhisatva depois de exortar o rei foi para o céu de Sakra. O rei foi para o jardim chamou a rainha e disse, “Senhora, terás o encanto ?” “Sim, senhor.” “Então vamos pelo costume usual.” “Que costume?” “Cem chicotadas nas costas mas não podes emitir um som.” Ela consentiu pela cobiça do encantamento. O rei mandou escravos baterem nela dos dois lados. Ela agüentou duas ou três chibatadas e gritou, “Não quero o encanto.” O rei disse, “Você me teria matado para ter o encanto,” e tendo açoitado a pele das costas dela a mandou embora. Depois disto ela nem conseguiu mais falar do assunto de novo.
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Ao final da lição o Mestre declarou as Verdades, e identificou o Jātaka:- ao final das Verdades, o Irmão foi estabelecido no Primeiro Caminho :- “Naquele tempo o rei era o irmão descontente, a rainha sua antiga esposa, o asno Sāriputra, e Sakra era eu mesmo.”




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