quinta-feira, 29 de abril de 2010

406 Buddha rei de Gandhara




406
“Dezesseis mil cidades cheias...etc.” - O Mestre contou isto quando residia em Jetavana, relativo ao preceito de armazenar remédios ( Mahavagga vi, 15,10 ). A ocasião contudo ocorreu em Rajagaha. Quando o venerável Pilindiyavaccha foi até a residência do rei para libertar a família do guardião do jardim ( Mahavagga vi, 15,1- ), ele fez o palácio ficar todo dourado com seu poder mágico : e o povo deliciado trouxe para aquele ancião os cinco tipos de remédios. Ele os disponibilizou para a congregação dos Irmãos. A congregação então ficou com abundância de remédios e enquanto recebiam os remédios, enchiam potes, jarros, sacos e bolsas e deste jeito os separavam. O Povo vendo isto murmurava, falando, “Estes sacerdotes gananciosos estão açambarcando, estocando em suas casas.” O Mestre, escutando isto, declarou o preceito, “Quaisquer remédios para irmãos doentes que sejam recebidos, devem ser usados em sete dias,” e prosseguiu dizendo, “Irmãos, sábios antigos, antes do Buddha aparecer, ordenados em heresia e guardando apenas os cinco preceitos, usavam ralhar, repreender aqueles que estocavam até açúcar e sal para o dia seguinte ; mas vocês, apesar de ordenados em tal regra de salvação, fazem estoque para um segundo e terceiro dia,” e assim ele contou um conto antigo.
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Certa vez o Bodhisatva era filho do rei do reino de Gandhara ; e com a morte do pai ele se tornou rei e legislou com retidão. Na Região Central, no reino de Videha um rei chamado Videha legislava naquele tempo. Estes dois reis nunca havia se encontrado, mas eram amigos e tinham grande confiança um no outro. Naquele tempo as pessoas viviam muito : suas vidas eram de trinta mil anos. Uma vez então, em um dia de jejum de lua cheia, o rei de Gandhara tomou os votos dos mandamentos (um voto de guardar os cinco preceitos morais), e no meio do estrado onde estava o trono real preparado para ele, olhando através da janela aberta no quadrante leste, ele sentou fazendo um discurso a seus ministros sobre a substância da lei. Naquele momento Rahu (o eclipse) passava a cobrir a órbita da lua que estava cheia e espalhava-se pelo céu. A luz da lua sumiu. Os ministros, não vendo o brilho da lua, dizeram ao rei que a lua foi tomada por Rahu. O rei, observando a lua, pensou, “Aquela lua perdeu sua luz, tendo sido desfigurada por algum problema exterior ; agora minha comitiva real é um problema e não é conveniente que eu perca minha luz como a lua tomada por Rahu : deixarei meu reino como a órbita da lua brilhante no céu claro e me tornarei asceta : por quê deveria aconselhar outros ? Seguirei por ahi, desapegado de parentes e familiares, aconselhando apenas a mim mesmo : isto me é conveniente.” Então ele disse, “Façam como agradem a vocês” e entregou o reino aos ministros. Quando ele desistiu do reino nos dois reinos de Kashmir e Gandhara, assumiu vida religiosa e atingindo a faculdade trancendental passou as chuvas na região do Himalaia devoto à delícia da meditação. O rei de Videha, tendo questionado os mercadores, “Está tudo bem com meu amigo ?” escutou que ele havia assumido vida religiosa e pensou, “Quando meu amigo assume vida religiosa, que faria eu com um reino ?” Então ele desiste de legislar na sua cidade de Mithila, extensa sete léguas, e seu reino de Videha, extenso trezentas léguas, com dezesseis mil cidades, celeiros cheios e dezesseis mil garotas dançarinas e sem pensar em seus filhos e filhas foi para a região do Himalaia e assumiu vida religiosa. Lá alimentava-se de frutos somente, vivendo em estado de quietude. Ambos seguindo esta vida quieta encontraram-se posteriormente mas não se reconheceram : e ainda assim viveram juntos nesta vida quieta amigavelmente. O asceta de Videha servia o asceta de Gandhara. Um dia de lua cheia enquanto estavam sentados à raiz de uma árvore e falando de coisas relativas à lei, Rahu cobriu a órbita da lua enquanto ela brilhava no céu. O asceta de Videha olhou para cima , dizendo, “Por quê é destruída a luz da lua ?” E vendo que ela foi tomada por Rahu, ele questionou, “Mestre, por quê ele cobriu a lua e a tornou escura ?” “Estudante, este é um problema da lua, Rahu de nome ; ele a esconde do brilho ; eu, vendo a órbita da lua atingida por Rahu, pensei, ' Lá a órbita pura da lua torna-se escura por um problema exterior ; agora este reino é um problema para mim : assumirei vida religiosa de modo que o reino não me torne escuro como Rahu faz com a órbita da lua ' : e então utilizando a órbita da lua tomada por Rahu como tema, abandonei meu grande reino e assumi vida religiosa.” “Mestre, eras rei de Gandhara ?” “Sim, eu era.” “Mestre, eu era rei de Videha no reino de Videha e da cidade de Mithila : não éramos amigos apesar de nunca havermos nos encontrado ?” “qual era seu tema ?” “Eu escutei que tu assumiste vida religiosa e pensando, ' Certamente ele viu o bom daquela vida, ' tomei você como tema e deixando meu reino assumi vida religiosa.” A partir daquele momento tornaram-se mais íntimos e amigos e vivam de frutos somente. Após um longo tempo habitando lá, eles desceram do Himalaia em busca de sal e vinagre e chegaram numa vila da fronteira. O Povo, agraciado com a postura deles, deu-lhes ofertas e arrancando uma promessa fez-lhe casas para a noite e coisas semelhantes na floresta, e os fez habitar lá e construíram do lado da estrada um refeitório para fazerem refeição em um lugar agradável e provido d'água. Eles após sua ronda por ofertas na vila da fronteira, sentaram e comeram as ofertas naquela cabana de folhas e depois foram para a sua residência. O Povo que deu comida a eles um dia colocou sal numa folha e lhes entregou, e no dia seguinte deu comida sem sal. Um dia entregaram a eles uma grande quantidade de sal numa cesta de palha. O asceta de Videha pegou sal e aproximando-se deu o suficiente para o Bodhisatva na hora da refeição e tomou para si mesmo uma medida apropriada : colocando então o resto na cesta de palha, enrolando numa folha de grama, disse, “Isto dará para um dia sem sal.” Assim, num dia quando receberam comida sem sal, o homem de Videha, oferecendo a comida-oferta para o homem de Gandhara, pegou sal da folha de grama enrolada e disse, “Mestre, pegue sal.” “O povo não deu sal ho-je, onde você o conseguiu ?” “Mestre, o povo deu muito sal em um dia anterior : então guardei o que sobrou, dizendo, 'Isto dará para um dia sem sal.' “ O Bodhisatva então o repreendeu , dizendo, “Ó homem tolo, você abandonou o reino de Videha, extenso trezentas léguas, tomou vida religiosa e atingiu a liberdade dos apegos e agora tens desejos por sal e açúcar.” E assim o admoestando falou a primeira estrofe :-

Dezesseis mil cidades cheias com suas riquezas, tu largaste,
Tesouros com bens abundantes : e agora ho-je acumulas !

Videha, sendo deste jeito repreendido, não suportou a censura mas ficou ofendido, dizendo, “Mestre, não vês a própria falta, contudo percebes a minha ; não abandonaste teu reino e te tornaste religioso, dizendo, 'Por quê deveria aconselhar outros ? Exortarei apenas a mim mesmo' : por quê então tu agora me censuras ?” E assim falou a segunda estrofe :-

Candahar e todas suas províncias, toda sua riqueza, tu largaste,
Não mais dando ordens reais : e ho-je me dás ordens !

Escutando-o o Bodhisatva falou a terceira estrofe :-

É retamente que me expresso, pois odeio injustiça :
Quando com retidão falo, pecado em mim não deixa impressão.

O asceta de Videha, escutando as palavras do Bodhisatva, disse, “Mestre, não é adequado alguém falar depois de incomodar e enraivecer outro, mesmo que fale com razão : falas muito grossamente comigo, como se me fizesse a barba com navalha cega,” e assim falou a quarta estrofe :-

Quaisquer palavras, que pronunciadas, causem ofensas a outros,
Sábios deixam de falar tais palavras, apesar de grandes consequências.

O Bodhisatva então falou a quinta estrofe :-

Que meu ouvinte semeie palha, sinta-se ofendido ou não,
Quando falo com retidão, pecado não me deixa mancha.

Tendo assim dito, continuou, “Não trabalharei contigo, Ó Ananda ( o asceta é chamado por este nome, como se seu futuro re-nascer como Ananda fosse previsto ), como oleiro com argila crua apenas : censurarei e repreenderei de novo e de novo ; o quê é verdade, isto permanecerá.” E sendo assim constante na conduta adequada à censura do Abençoado, como um oleiro entre seus vasos, após moldá-los bem, não tomando mais argila crua, mas apenas o vaso cozido, assim pregando e admoestando repetidamente fez do homem como um bom vaso e exortando-o para mostrar isto, falou este par de estrofes :-

Não fossem a sabedoria e a boa conduta treinadas para crescer em algumas pessoas,
Muitos vagariam como búfalo cego em vão.

Mas já que alguns são treinados sabiamente para crescer em justa conduta moral,
Ocorre de outros seguirem disciplinados nos caminhos da virtude.

Escutando isto, o asceta de Videha disse, “Mestre, pode me exortar ; falei contigo com natural temperamento impertinente, me perdoe,” e assim prestando respeito ele ganhou o perdão do Bodhisatva. Então moraram juntos em paz e foram para o Himalaia. Depois o Bodhisatva contou ao asceta de Videha como atingir a meditação mística. Ele fez e alcançou as altas Faculdades e Consecuções. Ambos assim, sem deixar a meditação, tornaram-se destinados ao mundo de Brahma.
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Após a lição, o Mestre identificou o Jataka : “Naquele tempo o asceta de Videha era Ananda, o rei de Gandhara era eu mesmo.”

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