quarta-feira, 27 de novembro de 2013

471 Osadha e Amara ( cont. )





( na ilustração pintura nas paredes da caverna de Ajanta dos quatro sábios, Senaka, Pukkusa, Kavinda e Devinda conversando com o sábio Osadha )

     471    Osadha & Amara (cont.)

             Seguem os números das contas todas: 110, 111, 112, 170, 192, 350, 364, 387, 402, 452, 471, 500, 508, 515, 517, 528 e o próprio 546.

Outro dia, o rei após o café da manhã andava para cima e para baixo na longa calçada quando viu através de um portão um bode e um cachorro tornando-se amigos. Este bode tinha o hábito de comer a grama atirada aos elefantes do lado do estábulo deles antes que eles a tocassem ; os guardadores dos elefantes batiam nele e o afastavam ; e enquanto fugia balindo, um sujeito correndo rapidamente atrás, bate nas costas dele com uma vara. O bode com as costas curvadas de dor foi e deitou junto da grande muralha do palácio , em um banco. Havia um cachorrro que alimentava-se todos os dias dos restos, ossos, peles, da cozinha real. Naquele mesmo dia quando o cozinheiro terminou de preparar a comida e a colocar nas travessas, enquanto limpava o suor de seu corpo, o cachorro não conseguiu suportar o cheiro da carne e do peixe e entrando na cozinha, puxou o pano de prato e começou passou a comer a carne. Mas o cozinheiro escutando o barulho dos pratos correu para dentro e viu o cachorro : ele fechou ruidosamente a porta e bateu nele com varas e pedras. O cachorro soltou a carne da boca e fugiu latindo ; e o cozinheiro vendo-o correr, correu atrás e o atingiu em cheio nas costas com uma vara. O cachorro com as costas dobradas e mancando de uma perna chegou no lugar onde o bode estava deitado. Então o bode disse,”Amigo, por quê suas costas estão dobradas ? Sofres de cólica ?” O cachorro respondeu, “Você também está com as costas curvadas, está tendo um ataque de cólicas ?” Ele contou a sua história. Então obode adicionou, “Bem, voltarás à cozinha novamente ?” “Não, vale tanto quanto minha vida – Poderás voltar ao estábulo novamente ?” “Não, mais do que você, vale tanto quanto a minha vida.” Passaram a cogitar como viveriam. Então o bode disse, “Se arranjássemos de viver juntos, tenho uma ideia.” “Prego, diga.” “Bem, senhor, deves ir ao estábulo ; os guardadores de elefantes não vão te notar, pois ( pensam eles ) que você não come grama ; trarás miha grama. Irei até a cozinha e o cozinheiro não me notará pensando que não como carne e assim te trarei carne.” “Este é um bom plano”, disse o outro e fizeram uma barganha : o cachorro foi para os estábulos e trouxe um punhado de grama em seus dentes e deixou junto do grande muro ; o outro foi para a cozinha e trouxe para fora um grande pedaço de carne em sua boca para o mesmo lugar. O cachorro comeu a carne e o bode comeu a grama ; e então com este artifício viveram juntos em harmonia ao lado da grande muralha. Quando o rei viu a amizade deles pensou -”Nunca tinha visto tal coisa antes. Aqui temos dois inimigos naturais vivendo em amizade juntos. Colocarei isto na forma de uma pergunta para meus sábios ; aqueles que não entenderem banirei do reino e se algum adivinhar, o declararei sábio incomparável e prestarei toda honra. Ho-je não dá tempo ; mas a-manhã quando vierem para junto de mim, farei a pergunta.” Dia seguinte quando os sábios vieram para junto dele, fez a pergunta com estas palavras :

Dois inimigos naturais, que nunca antes no mundo poderiam aproximar-se sete passos um do outro, tornaram-se amigos inseparáveis. Qual a razão ?

Após isto adicionou outra estrofe :

Se ho-je antes do meio dia não puderes resolver esta questão,
banirei vocês todos. Não preciso de pessoas ignorantes.

Bem, Senaka estava sentado no primeiro assento, o sábio ( mah'Osadha ) no último ; e pensou o sábio consigo mesmo, “Este rei é muito lento de raciocínio para ter pensado esta questão por si mesmo, ele deve ter visto algo. Se conseguir um dia de prazo resolverei o enigma. Senaka com certeza encontrará um meio de adiar por um dia.” Os quatro outros sábios nada conseguiam enxergar sendo como homens emum quarto escuro : Senaka olhou para o Bodhisatva para ver o quê ele faria, o Bodhisatva olhou para Senaka. Pelo jeito que Mah'Osadha olhou Senaka percebeu seu estado de mente ; percebeu que mesmo este homem sábio não entendeu a questão, não poderia responder ho-je mas queria um dia de prazo ; ele realizaria este desejo. Então riu alto para ganhar confiança e disse, “O quê, senhor, você banirá todos nós se não pudermos responder tua questão ?” “Sim, senhor.” “Sabes que é uma questão espinhosa e que não podemos resolvê-la ; mas dê um pouco de tempo. Uma questão difícil não pode ser resolvida no meio da multidão. Vamos meditar nela, e depois explicá-la a ti. De modo que , dê-nos uma chance.” Assim ele falou confiando no Grande Ser e então recitou estas duas estrofes :

Em uma grande multidão, onde há um grande barulho de gente reunida, nossas mentes são distraídas, nossos pensamentos não podem se concentrar e não podemos resolver o enigma. Mas sozinhos, calmos em pensamentos, separados, iremos e vamos ponderar sobre o assunto, em solitude agarrando-se a ele então o resolveremos para ti, Ó senhor dos homens.

O rei, exasperado como estava na fala, disse, ameaçando-os, “Muito bem, meditem sobre e me digam ; se não resolverem, banirei vocês.” Os quatro sábios deixaram o palácio e Senaka disse aos outros, “Amigos, uma questão difícil esta que o rei nos colocou ; se não a resolvermos, tememos por nós mesmos. Portanto alimentem-se bem e reflitam cuidadosamente.” Após o quê foram cada um para sua própria casa. O sábio por seu lado levantou-se e procurou a Rainha Udumbara e disse a ela, “Ó rainha, onde ficou o rei ho-je e ontem ?” “Andando para cima e para baixo no grande corredor, bom senhor, e olhando para fora pela janela.” “Ah,” pensou o Bodhisatva, “ele deve ter visto algo lá.” Então foi para o lugar e olhou para fora e viu os afazeres do bode e do cachorro. “O enigma do rei estava resolvido !” ele concluiu e foi para casa. Os três outros não descobriram nada e foram até Senaka que perguntou, “Resolveram o enigma ?” “Não mestre.” “Se é assim, o rei banirá vocês ; o quê farão ?” “Mas você descobriu ?” “Na realidade não, não eu.” “Se você não pode resolver, como nós poderíamos ? Rugimos feito leões diante do rei e dissemos, Deixe-nos pensar que resolveremos ; e agora que não podemos, ele ficará irado. Que faremos ?” “Este enigma não é para nós resolvermos : sem dúvida o sábio o resolveu de cem modos diferentes.” “Então vamos até ele.” Foram todos os quatro até a porta do Bodhisatva e mandaram avisar de sua chegada e entraram e falaram polidamente com ele ; permanecendo em um lado perguntaram ao Grande Ser, “Bem, senhor, pensaste no enigma ?” “Se eu não tivesse pensado, quem o faria ? Claro que pensei.” “Então nos diga.” Ele pensou consigo mesmo, “S'eu não dizer o rei os banirá e me honrará com as sete coisas preciosas. Mas não deixemos que estes tolos pereçam - direi a eles.” Então os fez sentarem em lugares baixos e levantarem suas mãos em saudação e sem dizer o que o rei realmente viu, compôs quatro estrofes e ensinou uma para cada um deles na língua Pali, para recitarem quando o rei perguntar e os mandou saírem. Dia seguinte eles foram para juto do rei e sentaram onde lhes foi indicado e o rei perguntou a Senaka,”Resolveste o enigma, Senaka ?” “Senhor, s'eu não soubesse quem o poderia ?” “Diga-me então.” “Escute, meu senhor, “ e ele recitou a estrofe como lhe foi ensinada :

Jovens mendigos e jovens príncipes gostam e se deliciam com carne de carneiro ; carne de cachorro não comem. Ainda assim pode haver amizade entre carneiro e cachorro.

Apesar de Senaka recitar a estrofe não sabia o significado ; mas o rei sabia porque ele viu a coisa. “Senaka descobriu,” ele pensou ; e então se virou para Pukkusa e questionou-o. “O quê ? Não sou sábio ?” perguntou Pukkusa e recitou a estrofe que lhe foi ensinada :

Eles tiram a pele do carneiro para cobrir as costas do cavalo mas pele de cachorro não usam para cobrir : ainda assim pode haver amizade entre carneiro e cachorro.

Nem ele entendeu a matéria mas o rei pensou que ele entendia porque vira a cena. Então ele perguntou a Kavinda que também recitou esta estrofe :

Chifres torcidos tem um carneiro, o cachorro não tem nenhum ; um come grama, outro come carne : ainda assim pode haver amizade entre carneiro e cachorro.

Ele descobriu também,” pensou o rei e passou para Devinda ; que como os outros recitou a estrofe que lhe fora ensinada :

Gramas e folhas come o carneiro, o cachorro nem grama nem folhas ; o cão comeria uma lebre ou um gato : ainda assim pode haver amizade entre carneiro e cachorro.

Em seguida o rei questiona o sábio : “ Meu filho, você entendeu este enigma ?” “Senhor, quem mais pode entendê-lo de Avici a Bhavarga, do mais baixo ínfero ao mais alto céu ?” “Diga-me então.” “Escute, senhor” ; e ele esclareceu seu conhecimento do fato recitando estas duas estrofes :

O carneiro, com oito meias patas em seus quatro pés, oito cascos, sem ser observado, traz carne para o outro e este leva grama para ele. O chefe de Videha, o senhor dos homens, em seu terraço contemplou com seus próprios olhos o intercâmbio de alimentos ofertados de cada um para o outro, entre 'au-au' e 'mé-mé'.

O rei, sem saber que os outros tem seu conhecimento através do Bodhisatva, ficou deliciado em pensar que os cinco haviam descoberto o enigma cada um por suaprópria sabedoria e recitou esta estrofe :

Não é pouco ganho ter pessoas tão sábias em minha casa. Um assunto profundo e sutil, expuseram em nobres falas, homens inteligentes !

Então disse a eles, “O bem com o bem se paga” e disse a seguinte estrofe :


Para cada um dou uma carruagem e uma mula, para cada um uma rica cidade, bem rica, estas dou a todos os sábios, deliciado com suas nobres palavras.”

    

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