(
na ilustração pintura nas paredes da caverna de Ajanta
dos quatro sábios, Senaka, Pukkusa, Kavinda e Devinda
conversando com o sábio Osadha )
471 Osadha &
Amara (cont.)
Seguem
os números das contas todas: 110, 111, 112, 170, 192, 350,
364, 387, 402, 452, 471, 500, 508, 515, 517, 528 e o próprio
546.
Outro
dia, o rei após o café da manhã andava para cima
e para baixo na longa calçada quando viu através de um
portão um bode e um cachorro tornando-se amigos. Este bode
tinha o hábito de comer a grama atirada aos elefantes do lado
do estábulo deles antes que eles a tocassem ; os guardadores
dos elefantes batiam nele e o afastavam ; e enquanto fugia balindo,
um sujeito correndo rapidamente atrás, bate nas costas dele
com uma vara. O bode com as costas curvadas de dor foi e deitou
junto da grande muralha do palácio , em um banco. Havia um
cachorrro que alimentava-se todos os dias dos restos, ossos, peles,
da cozinha real. Naquele mesmo dia quando o cozinheiro terminou de
preparar a comida e a colocar nas travessas, enquanto limpava o suor
de seu corpo, o cachorro não conseguiu suportar o cheiro da
carne e do peixe e entrando na cozinha, puxou o pano de prato e
começou passou a comer a carne. Mas o cozinheiro escutando o
barulho dos pratos correu para dentro e viu o cachorro : ele fechou
ruidosamente a porta e bateu nele com varas e pedras. O cachorro
soltou a carne da boca e fugiu latindo ; e o cozinheiro vendo-o
correr, correu atrás e o atingiu em cheio nas costas com uma
vara. O cachorro com as costas dobradas e mancando de uma perna
chegou no lugar onde o bode estava deitado. Então o bode
disse,”Amigo, por quê suas costas estão dobradas ?
Sofres de cólica ?” O cachorro respondeu, “Você
também está com as costas curvadas, está tendo
um ataque de cólicas ?” Ele contou a sua história.
Então obode adicionou, “Bem, voltarás à
cozinha novamente ?” “Não, vale tanto quanto minha vida –
Poderás voltar ao estábulo novamente ?” “Não,
mais do que você, vale tanto quanto a minha vida.” Passaram
a cogitar como viveriam. Então o bode disse, “Se
arranjássemos de viver juntos, tenho uma ideia.” “Prego,
diga.” “Bem, senhor, deves ir ao estábulo ; os guardadores
de elefantes não vão te notar, pois ( pensam eles ) que
você não come grama ; trarás miha grama. Irei até
a cozinha e o cozinheiro não me notará pensando que
não como carne e assim te trarei carne.” “Este é
um bom plano”, disse o outro e fizeram uma barganha : o cachorro
foi para os estábulos e trouxe um punhado de grama em seus
dentes e deixou junto do grande muro ; o outro foi para a cozinha e
trouxe para fora um grande pedaço de carne em sua boca para o
mesmo lugar. O cachorro comeu a carne e o bode comeu a grama ; e
então com este artifício viveram juntos em harmonia ao
lado da grande muralha. Quando o rei viu a amizade deles pensou
-”Nunca tinha visto tal coisa antes. Aqui temos dois inimigos
naturais vivendo em amizade juntos. Colocarei isto na forma de uma
pergunta para meus sábios ; aqueles que não entenderem
banirei do reino e se algum adivinhar, o declararei sábio
incomparável e prestarei toda honra. Ho-je não dá
tempo ; mas a-manhã quando vierem para junto de mim, farei a
pergunta.” Dia seguinte quando os sábios vieram para junto
dele, fez a pergunta com estas palavras :
Dois
inimigos naturais, que nunca antes no mundo poderiam aproximar-se
sete passos um do outro, tornaram-se amigos inseparáveis. Qual
a razão ?
Após isto
adicionou outra estrofe :
Se ho-je
antes do meio dia não puderes resolver esta questão,
banirei
vocês todos. Não preciso de
pessoas ignorantes.
Bem, Senaka
estava sentado no primeiro assento, o sábio ( mah'Osadha ) no
último ; e pensou o sábio consigo mesmo, “Este rei é
muito lento de raciocínio para ter pensado esta questão
por si mesmo, ele deve ter visto algo. Se conseguir um dia de prazo
resolverei o enigma. Senaka com certeza encontrará um meio de
adiar por um dia.” Os quatro outros sábios nada
conseguiam enxergar sendo como homens emum quarto escuro : Senaka
olhou para o Bodhisatva para ver o quê ele faria, o Bodhisatva
olhou para Senaka. Pelo jeito que Mah'Osadha olhou Senaka percebeu
seu estado de mente ; percebeu que mesmo este homem sábio não
entendeu a questão, não poderia responder ho-je mas
queria um dia de prazo ; ele realizaria este desejo. Então riu
alto para ganhar confiança e disse, “O quê, senhor,
você banirá todos nós se não pudermos
responder tua questão ?” “Sim, senhor.” “Sabes que é
uma questão espinhosa e que não podemos resolvê-la
; mas dê um pouco de tempo. Uma questão difícil
não pode ser resolvida no meio da multidão. Vamos
meditar nela, e depois explicá-la a ti. De modo que , dê-nos
uma chance.” Assim ele falou confiando no Grande Ser e então
recitou estas duas estrofes :
Em uma
grande multidão, onde há um grande barulho de gente
reunida, nossas mentes são distraídas, nossos
pensamentos não podem se concentrar e não podemos
resolver o enigma. Mas sozinhos, calmos em pensamentos, separados,
iremos e vamos ponderar sobre o assunto, em solitude agarrando-se a
ele então o resolveremos para ti, Ó senhor dos homens.
O rei,
exasperado como estava na fala, disse, ameaçando-os, “Muito
bem, meditem sobre e me digam ; se não resolverem, banirei
vocês.” Os quatro sábios deixaram o palácio e
Senaka disse aos outros, “Amigos, uma questão difícil
esta que o rei nos colocou ; se não a resolvermos, tememos
por nós mesmos. Portanto alimentem-se bem e reflitam
cuidadosamente.” Após o quê foram cada um para sua
própria casa. O sábio por seu lado levantou-se e
procurou a Rainha Udumbara e disse a ela, “Ó rainha, onde
ficou o rei ho-je e ontem ?” “Andando para cima e para baixo no
grande corredor, bom senhor, e olhando para fora pela janela.”
“Ah,” pensou o Bodhisatva, “ele deve ter visto algo lá.”
Então foi para o lugar e olhou para fora e viu os afazeres do
bode e do cachorro. “O enigma do rei estava resolvido !” ele
concluiu e foi para casa. Os três outros não
descobriram nada e foram até Senaka que perguntou, “Resolveram
o enigma ?” “Não mestre.” “Se é assim, o rei
banirá vocês ; o quê farão ?” “Mas
você descobriu ?” “Na realidade não, não
eu.” “Se você não pode resolver, como nós
poderíamos ? Rugimos feito leões diante do rei e
dissemos, Deixe-nos pensar que resolveremos ; e agora que não
podemos, ele ficará irado. Que faremos ?” “Este enigma
não é para nós resolvermos : sem dúvida o
sábio o resolveu de cem modos diferentes.” “Então
vamos até ele.” Foram todos os quatro até a porta do
Bodhisatva e mandaram avisar de sua chegada e entraram e falaram
polidamente com ele ; permanecendo em um lado perguntaram ao Grande
Ser, “Bem, senhor, pensaste no enigma ?” “Se eu não
tivesse pensado, quem o faria ? Claro que pensei.” “Então
nos diga.” Ele pensou consigo mesmo, “S'eu não dizer o
rei os banirá e me honrará com as sete coisas
preciosas. Mas não deixemos que estes tolos pereçam -
direi a eles.” Então os fez sentarem em lugares baixos e
levantarem suas mãos em saudação e sem dizer o
que o rei realmente viu, compôs quatro estrofes e ensinou uma
para cada um deles na língua Pali, para recitarem quando o rei
perguntar e os mandou saírem. Dia seguinte eles foram para
juto do rei e sentaram onde lhes foi indicado e o rei perguntou a
Senaka,”Resolveste o enigma, Senaka ?” “Senhor, s'eu não
soubesse quem o poderia ?” “Diga-me então.” “Escute,
meu senhor, “ e ele recitou a estrofe como lhe foi ensinada :
Jovens
mendigos e jovens príncipes gostam e se deliciam com carne de
carneiro ; carne de cachorro não comem. Ainda assim pode
haver amizade entre carneiro e cachorro.
Apesar de Senaka
recitar a estrofe não sabia o significado ; mas o rei sabia
porque ele viu a coisa. “Senaka descobriu,” ele pensou ; e então
se virou para Pukkusa e questionou-o. “O quê ? Não sou
sábio ?” perguntou Pukkusa e recitou a estrofe que lhe foi
ensinada :
Eles
tiram a pele do carneiro para cobrir as costas do cavalo mas pele de
cachorro não usam para cobrir : ainda assim pode haver amizade
entre carneiro e cachorro.
Nem ele entendeu
a matéria mas o rei pensou que ele entendia porque vira a
cena. Então ele perguntou a Kavinda que também recitou
esta estrofe :
Chifres
torcidos tem um carneiro, o cachorro não tem nenhum ; um come
grama, outro come carne : ainda assim pode haver amizade entre
carneiro e cachorro.
“Ele descobriu
também,” pensou o rei e passou para Devinda ; que como os
outros recitou a estrofe que lhe fora ensinada :
Gramas e
folhas come o carneiro, o cachorro nem grama nem folhas ; o cão
comeria uma lebre ou um gato : ainda assim pode haver amizade entre
carneiro e cachorro.
Em seguida o
rei questiona o sábio : “ Meu filho, você entendeu
este enigma ?” “Senhor, quem mais pode entendê-lo de Avici a
Bhavarga, do mais baixo ínfero ao mais alto céu ?”
“Diga-me então.” “Escute, senhor” ; e ele esclareceu
seu conhecimento do fato recitando estas duas estrofes :
O carneiro,
com oito meias patas em seus quatro pés, oito cascos, sem ser
observado, traz carne para o outro e este leva grama para ele. O
chefe de Videha, o senhor dos homens, em seu terraço
contemplou com seus próprios olhos o intercâmbio de
alimentos ofertados de cada um para o outro, entre 'au-au' e 'mé-mé'.
O rei, sem saber
que os outros tem seu conhecimento através do Bodhisatva,
ficou deliciado em pensar que os cinco haviam descoberto o enigma
cada um por suaprópria sabedoria e recitou esta estrofe :
Não
é pouco ganho ter pessoas tão sábias em minha
casa. Um assunto profundo e sutil, expuseram em nobres falas, homens
inteligentes !
Então
disse a eles, “O bem com o bem se paga” e disse a seguinte
estrofe :
Para cada
um dou uma carruagem e uma mula, para cada um uma rica cidade, bem
rica, estas dou a todos os sábios, deliciado com suas nobres
palavras.”
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