A NATUREZA DA ARTE BUDISTA, Ananda Coomaraswamy
“Ele não trouxe para a existência a si mesmo em imagens apresentadas através de nossos sentidos, mas Ele apresenta todas as coisas a nós em tais imagens.”
- Hermes
Trismegistus,
Scott, Hermetica,
I, 159
O
epiteto “Despertado” (Buddha) evoca em nossas mentes ainda hoje
o conceito de uma figura histórica, o descobridor pessoal de
um Caminho ético, psicológico, contemplativo, e
monástico de salvação da infecção
da morte : cujo Caminho estende-se assim em direção a
um Fim último e beatífico, que é variadamente
referido como uma Reversão, Espiração, ou
Livramento, indescritível em termos de ser ou não ser
consideradas como alternativas incompatíveis, mas certamente,
não uma existência empírica nem uma aniquilação.
O Buddha “é” ; mas ele não pode ser “segurado.”
o homem chamado “vindo aqui” (Tathāgata ) ou como o “Despertado”(Buddha) foi “deificado,” e presumimos que elementos milagrosos foram combinados com o núcleo histórico e introduzidos nas representações com propósitos edificantes. Dificilmente percebemos que “Budismo” tem raízes que retrocedem por milênios ; e que apesar das doutrinas de Buddha serem no sentido próprio da palavra originais, elas são escassamente novas, em qualquer sentido ; não que isto se aplique com força igual aos problemas da arte Budista, que não são na realidade da arte Budista em particular, mas antes da arte Indiana no seu emprego Budista, e em última análise problemas da arte universalmente. Seria possível, por exemplo, discutir todo o problema do iconoclasmo em termos puramente Indianos; e de fato diremos algo sobre isto, fazendo da natureza e da gênese da imagem antropomórfica o tema principal desta “Introdução.”
( pessoa empírica, Leibseele ) não é meu Espírito,” na me so attā, uma fórmula constantemente repetida em textos Pali. É quase nas mesmas palavras que os Upanisads afirmam que “O quê é outro que o Espírito é uma miséria” (ato anyad ārtam ) e que “ Isto (sua estação ) não é o Espírito, não realmente : o Espírito não é nada que possa ser segurado, nada perecível, etc.” ( sa esa neti nety ātmā agrahyo . . .aśiryah, etc., BU, III, 4, 1 e 9, 26 ). Esta é a maior de todas as distinções, depois da qual não pode haver inteligência do fim último do ser humano ; e encontramos isto insistido, acordadamente, em todas as tradições ortodoxas, por exemplo, por S. Paulo quando ele diz, “A palavra de Deus é rápida e poderosa, e mais aguda que uma espada de dois gumes, cortando mesmo a dividir separando alma de espírito “( Heb. IV, 12).
A noção de um Criador trabalhando per artem, comum aos Cristãos e todas outras ontologias ortodoxas, já implica um artista em possessão de sua arte, a pré-medida ( pramāna ) e providência ( prajñā ) de acordo com a qual todas as coisas serão medidas ; há, de fato, a mais estreita analogia possível entre o “corpo factício” ( nirmāna-kāya )3 ou “medida” ( nimitta ) do Buddha vivente, e a imagem da Grande Pessoa que o artista literalmente “ demarcou “ ( nirmāti ) para ser um substituto da presença real. O Buddha de fato nasce de uma Mãe ( mātr ) cujo nome é Māyā ( Natureza, Arte, ou “Mágica” no sentido de Behmen de “Creatrix”), com um derivação em cada caso de mā , “medir,” cf. prati-mā “imagem,” pramāna, “critério,” e tāla-māna, “iconometria.”3 Há, em outras palavras, uma identificação virtual de uma geração natural com uma intelectual, métrica, e evocativa. 4 O nascimento é literalmente uma evocação ; a Criança é gerada, de acordo com uma fórmula Brāhmana constantemente repetida, “pelo Intelecto com a Voz,” cujo intercurso é simbolizado no rito; os trabalhos do artista, como S. Tomás o exprime, “por uma palavra concebida no intelecto.” Não devemos deixar passar então, que há também uma imagem terceira e verbal, aquela da doutrina, igual em significado com as imagens ao vivo ou em pedra : “Aquele que vê a Palavra me vê “ ( Samyutta Nikāya, III, 120 ). Estas imagens visíveis e audíveis são semelhantes na sua informação, e diferem somente nos seus acidentes. Cada um descreve a mesma essência em uma semelhança ; nenhuma é imitação da outra, a imagem em pedra,por exemplo, não é imitação da imagem ao vivo, mas cada diretamente uma “imitação” ( anukrti, mimesis ) da Palavra não falada, uma imagem do “Corpo da Palavra” ou “corpo de Brahma” ou “Princípio,” que não pode ser representado como ele é por causa da sua perfeita simplicidade.
É o valor imediato de uma imagem servir de suporte de uma contemplação levando a um entendimento da operação exterior e aproxima de Brahman, o Sambhogakāya Budista : é só da operação interior e último Brahman, Dharmakāya Budista, Tattva, Tathatā, ou Nirvāna, que pode ser dito que “Este Brahman é silêncio.”6
( Inferno, IX, 61 ) ; os versos são suficientes para nós. É de outro jeito na arte tradicional, onde o objeto é meramente um ponto de partida e um farol convidando o espectador à execução de um ato direcionado àquela forma por cuja finalidade existe a pintura. O espectador não é tanto para ser “agradado” quanto para ser “transportado” : ver como o artista precisou ter visto antes que tomasse pincel ou cinzel ; para ver o Buddha na imagem antes do que uma imagem do Buddha. É uma matéria de penetração no sentido mais técnico do termo ( cf. Mundaka Up. II, 2,3) : a variedade das cores na apresentação é meramente uma exteriorização conceitual do que é em si mesmo um brilho perfeitamente único – “Justo como ela é um efeito da presença ou ausência de sujeira em uma roupa que a cor é clara ou manchada, assim é o efeito da presença ou ausência de uma penetração no Livramento ( āvedha-vaśān muktau ) que a Gnose é ou clara ou manchada. Isto alude a profundidade dos Buddhas no Plano Sem Manchas em termos de características iconográficas, posturas, e atos ( laksana-sthāna-karmasu ) sendo uma mera pintura em cores no espaço.”7 Ou novamente, e com referência igualmente ao imaginário verbal e visual, o Buddha diz que a expressão metafórica “é aduzida a guisa de ilustração . . . por causa da grande infermidade de crianças . . Ensino como o mestre pintor ou seu pupilo que dispõe suas cores para o bem da pintura, pintura que não será encontrada nas cores, nem no fundo, nem no ambiente. É só para fazê-la atrativa8 às criaturas que a pintura é ideada em cores : o que é literalmente ensinado é impertinente ; o Princípio elude a letra.9 Tomando posição entre as coisas, 10 o quê realmente ensino é o Princípio como entendido pelos Contemplativos : 11 uma reversão espiritual evadindo toda forma de pensamento. O quê ensino não é uma doutrina para crianças, mas para os Filhos do Conquistador. E justo como o que quer eu possa ver de uma maneira diversificada não tem ser real, assim é a doutrina pictórica comunicada em uma maneira irrelevante. O que quer que não esteja adaptado a tais e tais pessoas como para ser ensinado não pode ser chamado um ‘ensinamento’ . . . . Os Buddhas endoutrinam os seres de acordo com sua capacidade mental.”12
Isto
é o mesmo que dizer com S. Paulo, “Os alimentei com leite e
não com carne : pois até este ponto vocês não
foram capazes de aguentá-la, nem são capazes agora” (
I Cor. III, 2) : “Carne forte pertence àqueles que são
de idade adulta “
(
Heb. V, 14 ).
De
que tipo são então, os mais apropriados e eficazes
suportes de contemplação ? Seria dificilmente possível
citar um texto Indiano de autoridade condenando explicitamente o uso
de imagens antropomórficas como distintas das anicônicas.
Há, contudo, uma fonte Budista, a do Kālinga-bodhi
Jātaka,
na qual o que deve ter sido a antiga posição ainda está
claramente refletida. O Buddha é perguntado por que tipo de
imagem, santuário ou símbolo ( cetiya
)14
ele pode propriamente ser representado em sua ausência. A
resposta é que ele pode ser propriamente representado por uma
árvore-Bodhi15
(uma paribhoga-cetiya,
Mhv. I, 69 ) seja durante seu tempode vida ou após a
Espiração, ou por relíquias corporais após
esta Morte ; a iconografia “indicativa” ( uddesika
)
16
de uma imagem antropomórfica é condenada como “sem
fundamento e conceitual, ou convencional “ ( avatthukam
manamattakam ).
Será visto que as palavras correspondem àquelas do
Brāhmana como citados acima : manamattakam
= manomatam.
Antes
de perguntarmos como pode acontecer que uma imagem antropomórfica
fosse aceita finalmente, devemos eliminar certas considerações
estranhas ao problema. Deve ser entendido, em primeiro lugar, que
apesar do problema iconoclástico estar presente, foi um
problema de conveniência, e sem referência a qualquer
suposta possibilidade de uma localização real17
ou fetichismo que o advento da imagem pode ser dito ter sido
“adiado,” e também como uma matéria de conveniência
que a imagem seja realizada quando uma necessidade foi sentida por
dela ; e em segundo lugar, que o recurso a um imaginário
antropomórfico de nenhum modo implica qualquer interesse
naturalístico ou humanístico como aqueles que levaram a
subordinação da forma a figura na arte Européia
após a Idade Média ou na arte Grega após o sexto
século a.C. A questão da localização
foi fundamentalmente mal entendida. Se é praticamente verdade
que “a onipresença do Espírito está
onde ele age ou onde nós esperamos
por ele” ( Bouquet, The
Real Presence,
p.84), é igualmente verdade que este “onde” é onde
quer que
haja colocado um centro ou convenientemente estabelecida uma imagem
ou outro símbolo : o símbolo pode mesmo ser
transportado de um lugar para outro. Não que o Espírito
esteja portanto em um lugar mais que em outro ou possa ser
transportado, mas que nós e nossos suportes de contemplação
( dhiyâlamba
)
estamos necessariamente em algum lugar ou outro. Se o uso do símbolo
é para funcionar como uma ponte mediando entre o mundo de
posição local e um “mundo” que não pode ser
atravessado ou descrito em termos de tamanho, é
suficientemente evidente que a ponta de cá de tal ponte deve
estar em algum lugar, e de fato onde quer que nossa edificação
comece: o procedimento é do conhecido para o desconhecido ; é
a outra ponta da ponte que não tem posição.
Por
fetichismo entendemos uma atribuição ao símbolo
de valores tangível fisicamente que realmente pertence a seu
referente ; ou em outras palavras uma confusão de forma real e
essencial. É um fetichismo desse tipo que os textos Budistas
desprezam quando empregam a metáfora do dedo apontando a lua,
e o ridículo do homem que não pode ver nem querer nada
a não ser o dedo. A abordagem estética moderna faz
fetiche dos trabalhos de arte tradicionais precisamente neste
sentido. Nossa própria atitude é realmente tão
naturalmente e obstinadamente fetichistíca que ficamos
chocados de encontrar e não querendo acreditar que é
tido como dado no Budismo que “aqueles que consideram as imagens de
barro, não honram a argila enquanto tal, mas sem olhar para
elas a este respeito, honram os Imortais designados” (
amarasamjñã,
Divyâvadāna, Cap.
XXVI ). Platão do mesmo modo distingue “imagens sem alma”
dos “ Deuses animados” que elas representam ; “e ainda
acreditamos que quando veneramos as imagens, os Deuses são
gentis e dedicados a nós “( Leis,
931 A). Assim na prática Cristã “honra é
paga, não às cores ou a arte, mas ao protótipo”
(S. Basílo, De
spir. sanct. C.
18, citado na Hermeneia
de Athos ), e “fazemos imagens dos seres sagrados para comemorá-los
e honrá-los”
(Epifânio, fr. 2), cf. Plotino, Enéadas
IV, 3, 11 “ Que coragem é incorporar o incorpóreo !
Contudo, o ícone nos conduz ao reminiscência intelectual
dos Celestiais ” (Ant.
Pal. I, 33 ).
Em
relação ao segundo ponto será suficiente dizer
que “antropomórfico” no sentido no qual esta palavra é
apropriada a imagens Indianas não importa “naturalmente” ;
a imagem de Buddha não é em nenhum sentido um retrato,
mas um símbolo ; nem realmente existem quaisquer imagens
Indianas de qualquer deidade que não proclamam por sua
constituição mesma que “Isto não é a
semelhança de uma pessoa” ; a imagem é destituída
de qualquer semblante de estrutura orgânica ; não é
um reflexo de qualquer coisa que é fisicamente visto, mas uma
forma ou fórmula inteligível. Mesmo os canons de
proporção diferem dos deuses e homens.18
Mesmo
no momento presente sobrevive na Índia um largo uso e
artefatos geométricos ( yantra
) ou outros símbolos anicônicos como os suportes
escolhidos de contemplação. Se em última análise
o intelectual sempre preferiu o uso de símbolos abstratos e
algébricos ou vegetais ou teriomórficos ou mesmo
naturais, pode-se só lembrar da posição de
Dionísio, para quem parecia semelhantemente mais adequado que
as verdades divinas devessem ser expostas por meio de imagens tipos
menos e não mais nobres neles mesmos ( o mais nobre tipo e si
sendo o da humanidade) : “Pois então,” como S. Tomás
segue, “é claro que estas coisas não são
descrições literais de verdades divinas, que poderiam
estar abertas a dúvida tivessem elas sido expressas sob a
figura de corpos mais nobres, especialmente por aqueles que não
podem pensar em nada mais nobre que corpos” ( Sum.
Teol. I,
1, 9). O quê Buddha antecipou não era que a a figura em
pedra pudesse ser venerada literalmente enquanto tal, mas que ele
pudesse vir a ser pensado como ser humano, quem negava de si mesmo
que era “um homem, ou um deus, ou um daimon,” como um entre
outros e não tinha de fato “tornado-se ninguém.”
Ele prognosticou precisamente tal interpretação
humanística da “vida” como aquela que levao acadêmico
moderno que tenta desengajar um “núcleo histórico”
pela eliminação de todos “elementos míticos,”
e a repudiar qualquer atribuição de onisciência a
ele a quem a designação “Olho do Mundo” era
apropriada. É justo aquele “que não pode pensar em
nada mais nobre que corpos “19
que nos tempos modernos descobriram na Deidade incarnada, Cristã
ou Budista, nada a não ser o homem ; e a estes só
podemos dizer que esta “sua humanidade é um impedimento
tanto quanto eles agarram-se a ela com prazer mortal” ( Eckhart ).
A
posição iconolatra desenvolvida na Índia do
começo da era Cristã em diante está
aparentemente em contradição com aquilo que foi
inferido do Kālingabodhi
Jātaka.
É, contudo, a posição iconoclasta, aquela da
arte “Mazdaeana” e “ Nórdica” de Strzygowski, que
ainda determina a natureza abstrata e simbólica da imagem
antropomórfica e pode ser dito que conta para o fato que um
desenvolvimento naturalístico nunca aconteceu na Índia
até a idéia de representação ser
emprestada da Europa no século dezessete. O fato que os
Sukranitisāra
condena o retrato ao mesmo tempo que exalta a feitura de imagens
divinas, ilustra muito bem como a consciência Indiana está
consciente do que é chamada “a ignomínia implícita
na arte representacional” – uma ignomínia estreitamente
relacionada àquela de uma obsessão pelo ponto de vista
histórico, ao qual na Índia é sempre preterido
pelo mítico. Os paralelos entre o desenvolvimento artístico
Indiano e Cristão são tão próximos que
ambos podem ser descritos nas mesmas palavras. Se, como Dr. Rowland
20
justamente ressalta, “Com as esculturas de Hadda e a decoração
contemporânea dos monastérios em Jaulian (Taxila), a
escola Gandhara, propriamente chamada, está no seu fim.
Contra correntes de influência de oficinas da Índia
Central e Oriental quase transformaram a imagem de Buddha Indo-Grega
na norma ideal para a representação de Sakyamuni que
prevaleceu em Mathura e Sarnath e Ajanta,” o que só pode
acontecer porque foi sentido um senso de inadequabilidade do que
seria um estilo humanístico ; uma idéia do “tipo de
Buddha” tinha sido formada, “mas o ideal Helenístico de
representação, o naturalismo vulgar, cristalizado, sem
fundamento, de um milênio, foi incapaz de alcançá-la.
Daí a excessiva raridade [na Índia propriamente] do
tipo Grego de Cristo [ Buddha], e a pronta substituição
pela Semítica [Indiana].”21
Um outro paralelo pode ser indicadonos efeitos do iconoclasma
Europeu na natureza da arte Bizantina – “O principal resultado da
controvérsia foi a formulação de uma rígida
iconografia, que é suficiente para prevenir, de uma vez por
todas, qualquer deslise em direção a um naturalismo sem
sentido. A pintura, a representação humana, foi
designada daí em diante como uma ilustração da
Realidade, e como um veículo das emoções humanas
mais profundas. . . . Nesta elevação da arte a sua
função mais alta, apesar de ao preço da
liberdade do artista, a defesa da iconodulia també teve seu
lugar, levou a controvérsia a alto nível filosófico
. . . Isto era o principal da disputa iconódula : as pinturas,
como estátuas para Plotino [ IV, 3, 11 ] , eram um meio
efetivo de comunicação com o universo extra-terrestre.
22
. . . O que concerne o artista era evocar, através de seus
quadros, não este mundo, mas o outro . . . que ele [o
espectador] deve atingir, através da lembrança destes
eventos, comunhão real durante a vida na terra com o
firmamento do divino arbítrio do qual o Igreja Latina ensinava
somente a expectativa pós-humana.” 23
Estas distinções do ponto de vista Bizantino e Romano
são análogas as diferenças entre o ponto de
vista Mahāyāna e Hinayāna, e mais ou menos entre a arte didática
de Sāñci e as epifanias de Bāmiyān, Ajantā, e Lung-men.
Não
sabemos se a depreciação de uma semelhança
“indicativa” (uddesika)
que citamos do Jātaka pretendia se referir a velha lista de
lakkhanas,
ou as trinta e duas maiores e oitenta menores, peculiaridades
iconográficas da “Grande Pessoa.” Deve ter sido
certamente de acordo com estas prescrições que uma
imagem mental de Buddha foi entretida antes que qualquer outra imagem
fosse feita ; e é certo igualmente que a validade das imagens
mesmas foi sempre tida como descansando sobre uma versão
acurada destas peculiaridades, ou tais como elas pudessem ser
entendidas em qualquer material trabalhado. Para o Budista,
iconografia é arte ; a arte pela qual ele trabalha. A
iconografia é ao mesmo tempo a verdade e a beleza do trabalho
: verdade, porque esta é uma forma imitável de idéias
a ser expressa, e beleza por causa da coincidência da beleza
com acuidade, o Escolástico integratio
sive perfectio,
e no sentido no qual uma equação matemática pode
ser “elegante.” Como uma inscrição Chinesa o
coloca, “Esculpi uma beleza maravilhosa . . . todas as
peculiaridades iconográficas foram dispostas sublimamente “
( Chavannes, loc.
cit.,
I, 1, 448 ). Na visão tradicional da arte não há
beleza que possa
ser separada de inteligibilidade ; nenhum esplendor que não o
splendor
veritatis.
A
autenticidade e herança legítima das imagens de Buddha
são estabelecidas pela referência ao que são
tidos como supostos originais criados durante a vida de Buddha mesmo,
e seja real ou virtualmente pelo Buddha mesmo, de acordo com o quê
foi dito acima com respeito a uma manifestação
iconométrica. As capacidades do artista exercitar em níveis
empíricos de referência não são
suficientes para a operação dual de imaginação
e execução ; o Buddha “não pode ser
apreendido” ; o que é requerido não é uma
observação, mas uma visão. Deve-se lembrar de
fato que certas imagens Cristãs são vistas de modo
muito semelhante como “não feita com as mãos” (
αχειροποίητοι
). Do presente ponto de vista é de nenhuma importância
que as lendas das primeiras imagens não possam ser
interpretadas como registro de fatos históricos : o que é
importante para nós é que a autenticação
das imagens mesmas não é histórica mas ideal. Ou
o artista é transportado a um céu para tomar nota lá
da aparência do Buddha, e depois usar este modelo (
Hsüan-tsang,
Buddhist Records of the Western World,
Beal, I, 235 ), ou o Buddha mesmo projeta a “sombra” ou esboça
sua semelhança (nimitta
),
que os pintores não conseguem pegar, mas preencherão
com cores e animarão24
com a adição de “palavras” escritas, de modo que
tudo é feito “como prescrito” ( yathā
samdistam, Divyâvadāna, Cap.
XXVII); ou finalmente, a imagem é feita por um artista que,
após o trabalho ter sido feito, revela ele mesmo ter sido de
fato ofuturo Buddha Maitreya ( Hsüan-tsang,
loc. cit., II,
121 ).
Interpretada
assim, a iconografia não pode ser mais pensada como um produto
sem fundamento de realização ou idealização
convencional, mas torna-se uma verificação ; a forma
não é de invenção humana, mas revelada e
“vista” no mesmo sentido que as encantações Védicas
são pensadas como tendo sido reveladas e “ouvidas.” Não
pode haver distinção em princípio de visão
para audição. E como nada pode ter sido dito
inteligivelmente a menos que em certos termos, assim nada pode ser
dito ter sido revelado a menos que em alguma forma.25
Tudo que podeser pensado como anterior a formulação é
sem forma e à semelhança de nada ; o significado e seu
veículo só podem ser pensados quando concriados. E isto
implica que qualquer validade anexada ao significado está
anexa também aos símbolos nos quais ele é
expresso ; se o último é de alguma maneira menos
inevitável que o primeiro, o significado pretendido não
será transmitido, mas traído.
Duramente
precisamos adicionar que todo que está dito no parágrafo
precedente tem a ver com a arte no artista, que já é
uma expressão em termos, ou idéia em uma forma
imitável, e é válida irrespectivamente se ou não
qualquer palavra mimética é realmente falada
audivelmente ou qualquer imagem reallmente feita em pedra ou tinta ;
se não é historicamente verdadeiro que nenhuma imagem
tangível de Buddha foi feita antes do começo da era
Cristã, é igualmente certo que uma imagemessencial não
feita pelas mãos foi concebida, e mesmo verbalmente
estabelecida, em termos dos trinta e dois maiores e oitenta menores
peculiaridades da “Grande Pessoa” ; quando a primeira imagem
estava para ser feita, já existia os “determinados meios de
operação.” Se por fim o artista faz uma figura
correspondente em pedra ou tinta, ele estava apenas fazendo o que o
imaginador Indiano sempre fez, e de acordo com tais instruções
familiares como aquelas do Abhilaśitârthacintāmani,
onde o pintor é dito “Colocar na parede o que foi visto em
contemplação” ( tad
dhyātam bhittau niveśayet ).
Mesmo para Sr. Foucher, que sustenta que as primeiras estátuas
de Buddha são aquelas da escola de Gandhāra26
e o produto de uma colaboração entre o artista
Helenístico e o patrão [patron]
Indiano Budista, a prescrição ou conceito do trabalho
a ser feito era Indiana ; o artista Helenístico executando
apenas a operação servil, o patrão Indiano
permanecendo responsável pelo livre ato de imaginação.
Os escultores de Mathurā por outro lado, têm no comando deles
não somente a imagem visual da “Grande Pessoa” como
definida nos textos Pali, mas também a tradição
de tipos eretos dos colossais Yaksas dos últimos séculos
a.C. , e para a figura sentada também uma tradição
da qual o começo deve anteceder os tipos Śiva
da cultura do vale do Indus do terceiro milênio a.C. A imagem
de Buddha entrou em existência porque foi sentida uma
necessidade dela, e não porque uma necessidade foi sentida por
“arte.”
A prática de uma arte não
é tradicionalmente, como é para nós, uma
atividade secular, ou mesmo uma matéria de “inspiração”
afetiva, mas um rito metafísico ; não é somente
as primeiras imagens que são formalmente de origem
superhumana. Nenhuma distinção pode ser desenhada
entre arte e contemplação. Ao artista primeiro de tudo,
requer-se que remova-sede níveis de apercepção
[intuição] humano para celestiais ; neste nível
e estado de unificação, não mais tendo em vista
qualquer coisa externa a ele mesmo, ele vêe entende, quer dizer
torna-se, o quê ele representará depois em material
trabalhado. Esta identificação do artista com a forma
imitávelda idéia a ser expressa é insistida
repetidamente nos livros Indianos, e responde à premissa
Escolástica como estabelecida nas palavras de Dante, “Nenhum
pintor pode pintar uma figura, se ele não tiver primeiro que
tudo feito a si mesmo tal como a figura deve ser.”
Este
último artista não está, então, imitando
o estilo ou aspecto visual das imagens primeiras, as quais ele pode
nunca ter visto, mas sua forma ; a autenticidade das imagens últimas
não depende de um saber acidental (tal como com que nosso
“Gótico moderno” é construído) em um
retorno à fonte em um sentido bem outro. É justo isto
que é tão bem expresso na lenda da imagem de Buddha de
Udāyana, que é dito ter voado através do ar para
Khotān27
e então estabelecido a legitimidade da linhagem da iconografia
Chinesa e da Ásia Central28.
“Voar através dos ares” é sempre uma técnica
implicando independência da posição local e
habilidade para atingir qualquer plano desejado de apercepção
: uma forma ou idéia é “alada” precisamente naquele
sentido em que o Espírito está onde quer que ele opere
e entretenha-se, e não pode ser uma propriedade privada. O
que a lenda nos conta não é que uma imagem de pedra ou
madeira voou através dos ares ; ela nos conta contudo, que o
artista Khotanese viu o que o artista de Udāyana viu, a forma
essencial da primeira imagem : aquela mesma forma que o artista de
Udāyana similarmente viu antes de retornar a terra e tomar o cinzel
ou pincel.
Uma
distinção deve ser então bem claramente
desenhada entre um procedimento arcaico, que envolve não mais
que operação servil de cópia, e a repetição
entretida de uma e a memsa forma ou idéia em uma maneira
determinada pelo modo ou constituição do que conhece,
que é a operação livre do artista cujo estilo é
seu próprio. A distinção é aquela entre
uma escola de arte acadêmica e uma tradicional, a primeira
sistemática, a última consistente. Que “Arte fixou
limites e determinou meios de operação” sustenta uma
imutabilidade da idéia em sua forma imitável – que o
sol, por exemplo, é sempre
um símbolo adequado da Luz das luzes, mas não é
de nenhum modo uma contradição do outro dito
Escolástico que diz “Para ser expressa propriamente, uma
coisa deve proceder de dentro, movida por suas formas.” É
porque há uma renovação
sem fim do ato imaginativo, que a operação interior do
artista é propriamente chamada de “livre” ; e a evidência
desta liberdade existe no fato da sequência estilística
sempre observável na arte tradicional, seguir de geração
em geração ; é o acadêmico que repete as
formas “clássicas” que age como um papagaio. O artista
tradicional está sempre expressando, não realmente sua
“personalidade” superficial, mas ele mesmo, tendo feito de si
mesmo aquilo que ele expressa, e literalmente devotando-se
ao bem do trabalho a se feito. O que ele tem que dizer permanece o
mesmo. Mas ele fala na linguagem estilística de seu próprio
tempo ; e fosse de outro jeito permanceria ineloquente, pois, para
repetir as palavras do Lankâvatāra
Sutra
já citadas, “O que quer que não esteja adaptado a
tais e tais pessoas como deve para ser ensinado, não pode ser
chamado um ‘ensino.’”
Não
é somente o artista, mas também o patrão que
devota-se,
não apenas pelo presente da sua “substância” para
pagar o custo da operação, mas também em um
sentido ritual, simbólico, e espiritual, justo como o Cristão
que não é meramente um espectador da Missa, mas
participa no que promulgado, sacrifica a si mesmo. É mérito
do Monsieur Mus reconhecer pela primeira vez que os valores
essenciais do sacrifício Védico são herdados e
sobrevivem na iconolatria tardia ; o patrão real, por exemplo,
doa precisamente seu próprio peso em ouro para ser feita uma
imagem, cuja imagem é também feita ao mesmo tempo de
acordo com um canon ou proporção determinado e emprega
como módulo uma medida tirada de sua própria pessoa ;
e quando a imagem está feita, oferece por ele e sua família,
a serem redimidos posteriormente a um grande preço. É
justo do mesmo jeito que a estátua do patrão é
literalmente construída no altar Védico, e que o
sacrificante ele mesmo é oferecido sobre o altar – “Aquele
fogo sacrifical sabe que ‘Ele veio para dar a si mesmo a mim’”
( paridām
me,
SB, II, 4, 1, 11). Como o Senhor Mus expressa-o, “ É, de
fato, bem sabido que a construção do fogo do altar é
um sacrifício pessoal velado. O sacrificante morre,
e é só sob está condição que ele
alcança o céu : ao mesmo tempo, esta é apenas
uma morte temporária, e o altar, identificado com o
sacrificante, é seu substituto. Livremente reconhecemos um
significado análogo na identificação do rei com
o Buddha, e em particular na manufatura de estátuas na qual a
fusão de personalidades é materialmente efetuada. É
menos uma questão de apoteose que de devotio.
O rei dá a si mesmo ao Buddha, projeta sua pessoa nele, ao
mesmo tempoque seu corpo mortal torna-se ‘traço’ terreno
do seu modelo divino . . . A atividade artística da Índia,
como indicamos, sempre exibiu o traço do fato que o primeiro
trabalho de arte Brahmânico foi um altar em que o patrão,
ou em outras palavras o sacrificante, estava unido com sua deidade”
( Mus, BÉFEO,
1929,
*92, *94). Se a deidade assume uma forma humana é para que o
homem por seu lado possa aplicar a semelhança da divindade, o
que ele faz metafisicamente e como se para antecipar sua futura
glorificação. A inadequação da veneração
de qualquer princípio outro que si mesmo ou a essência
espiritual própria é fortemente enfatizada nos
Upanisads ; e deve ser chamado um princípio estabelecido do
pensamento Indiano que “Só tornando-se Deus pode alguém
venerá-Lo” (devo
bhutva devam yajet ) :
é só para alguém que pode dizer “Eu sou a Luz,
Ti mesmo” que a resposta é dada, “Entre tu, pois o que
você é eu sou, e o que sou, tu és” (Jaiminiya
Up. Brāhmana, III, 14). 29
O trabalho de arte é um rito devocional.
Se
o artista e patrão originais são assim devotados a e
literalmente absorvidos na idéia do trabalho a ser feito, o
qual o artista executa e pelo qual o patrão paga, temos também
de considerar a natureza do ato a ser executado por aqueles outros
por cujo bem o trabalho também foi feito entre os quais
podemos contar nós mesmos : a inscrição do
doador quase sempre indica que o trabalho foi realizado não
para o benefício do doador apenas ou de seus ancestrais, mas
também para “todos os seres.” Isto será mais que
uma matéria de mera “apreciação estética”
: nosso julgamento deve envolver uma reprodução, se é
para ser a “perfeição da arte,” quer dizer uma
consumação em uso. Ou, colocando em outras palavras, se
é por suas idéias que julgamos como as coisas devem
ser, isto é válido tanto post
factum como
a
priori.
De modo a entender o trabalho devemos nos situar onde o patrão
e o artista se situaram e fazer como eles fizeram ; não
podemos depender das meras reações de “nossos
terminais nervosos não inteligentes.” O julgamento de uma
imagem é uma contemplação, e enquanto tal só
pode ser consumada em uma assimilação. É
requerida uma transformação de nossa natureza. É
no mesmo sentido que Mencius disse que pegar os verdadeiros sentidos
das palavras requer não tanto um dicionário ou um
conhecimento de epistemologia mas uma retificação da
personalidade. O Amitāyur-Dhyāna
Sutra
é explícito : se você perguntar como
alguém contempla o Buddha, a resposta é que você
terá feito isto só quando as trinta e duas maiores e as
oitenta menores características ( i.e. da iconografia )
tiverem sido assumidas no seu coração : é seu
próprio coração que torna-se o Buddha e é
o Buddha (SBE. XLIX, ii, 178 ). É do mesmo jeito que as
palavras de uma inscrição em Lung-men são
entendidas : “É como se o cume da montanha tivesse sido
alcançado e o rio seguido para sua fonte : a fruição
é consumada, e descansa-se no Princípio “ (
Chavannes, loc.
cit.,
p. 514 ). As superfícies estéticas não são
de nenhum modo valores últimos, mas um convite a uma pintura
da qual os traços visíveis traçam somente uma
projeção e a um mistério que evade a letra do
mundo falado.
O
leitor pode estar inclinado a protestar que estamos falando de uma
religião antes de arte : dizemos, ao contrário, de uma
arte religiosa. Pode-se falar de uma “redução da
arte a teologia” ( Boaventura ) justo porque na síntese
tradicional arte plástica é, tanto quanto qualquer
forma literária, uma parte da arte de conhecer Deus. A
experiência estética realizada empaticamente, e a
experiência cognitiva realizada intuitivamente podem ser
logicamente distintas, mas são simultâneas no ser humano
sagrado ou integral que não apenas sente mas também
entende. Não é que o valor da beleza esteja minimizado,
mas que a beleza ocasional do artefato está referida a uma
causa formal na qual ele existe mais eminentemente ; há uma
transubstanciação da imagem, na qual nada é
tirado do participante, mas algo adicionado.
Tudo
que foi dito acima aplica-se tanto à narrativa literária
da “vida” de Buddha como a representação
iconográfica de sua “aparência” ; justo como a
última não é um retrato mas um símbolo,
assim a primeira não é um registro de fatos mas um
mito. A iconografia sobrenatural é uma parte integral da
imagem, como são os milagres da vida ; ambos são
elementos essenciais antes de acréscimos acidentais e
extrínsecos introduzidos a bem de “efeito.”
Não
temos intenção de explicar os milagres por uma análise
psicológica, nem propomos considerar a arte em seus aspectos
meramente afetivos. Em relação a historicidade dos
milagres,há, claro, uma divergência fundamental entre as
posições racionalista e tradicional. A demonstração
real de um efeito mágico abalaria toda a filosofia
racionalista : sua “fé” seria destruída se o sol
parasse ao meio-dia ou um homem andasse na água. Para o
tradicionalista por outro lado, mágica é uma ciência,
mas uma ciência inferior acerca da qual ele não sente
curiosidade ; a possibilidade de procedimento mágico é
verdadeira, mas vista apenas como ilustração, e de
nenhum modo como prova, dos princípios aos quais o exercício
de poderes depende.
Importa
muito pouco do presente ponto de vista qual destas posições
assumimos. Racionalista e Fundamentalista caem juntos no buraco de
uma interpretação exclusivamente literal. Realmente
discutir a historicidade ou possibilidade de um dado milagre está
bem fora do ponto principal, que é o do significado. Podemos,
contudo, ilustrar por um exemplo evidente como o ponto de vista
racionalista, mais que o ponto de vista crédulo, pode inibir o
entendimento da verdadeira intenção do trabalho. O
Sukhāvati-Vyuha
fala dos Buddhas como “cobrindo com suas línguas o mundo nos
quais eles ensinam” ; justo como no RV, VIII, 72, 18 a língua
de Agni – a voz
sacerdotal - “toca o céu.” O que Burnouf tem a dizer em
relação a isto é quase inacreditável :
“Este é um exemplo da estupidez que pode resultar da adição
de sobrenatural . . . Falar de uma língua que se projeta, e
como clímax do ridículo também falar de um vasto
número de professores assistentes que fazem o mesmo que a
presença de Buddha, é um vôo da imaginação
com paralelo raro na superstição Européia.
Pareceria que os Budistas do Norte foram punidos por seu gosto do
maravilhoso com o absurdo de suas próprias invenções.”
30
Vejam
lá o cretinismo científico em toda sua beatitude !31
Contraste, contudo, com o que S.Tomás de Aquino tem a dizer
em uma conexão similar : “A língua de um anjo é
chamada metaforicamente o poder do anjo, pelo qual ele manifesta seu
conceito mental . . . A operação intelectual de um anjo
abstrai do aqui
e agora
. . . Assim na linguagem angélica, distância local não
é impedimento” ( Suma
Teológica,
I, 107,1 e 4 ).
Aludimos
acima ao “vôo pelos ares “ da imagem Udāyana de Buddha da
Índia ao Khotān, cuja imagem se tornou de fato, como
Chavannes observa, o protótipo de muitas outras modeladas na
Ásia Central. Repetimos, em primeiro lugar, que, a existência
mesma de uma “imagem de Udāyana” feita em vida de Buddha é
da mais alta improbabilidade. Em segundo lugar, o quê se quer
realmente dizer por “vôo aéreo” e “desaparecimento”
? A expressão Sânskrita comum para “desaparecer” é
antar-dhānam gam,
literalmente “ir-interior-posição.” No Kālingabodhi
Jātaka (No. 479),
vôo pelos ares depende de uma “investidura do corpo em roupas
de contemplação “( jhāna
vethanena ).
Como Sr. Mus muito acertadamente ressaltou em outra conexão,
“Todo o milagre resulta pois de uma disposição
íntima” ( BÉFEO
, 1929, p. 435 ). Não está envolvida aqui então
uma matéria de translocação física, mas
literalmente uma de concentração ; o de atingir um
centro que é onipresente, e não um movimento local.
Isto é totalmente uma matéria de “ser no Espírito”
como esta expressão é usada por S. Paulo : aquele
Espírito ( ātman
) de quem é dito que “Sentado, ele vai a todo lugar, deitado
ele vai a toda parte “( KU, II, 21 ).32
De que importância em tal contexto pode ser uma discussão
da possibilidade ou imposssibilidade de uma levitação
ou translocação real ? O quê está
implicado na designação “o que se move (n)a vontade”
( kāmâcārin
)
é a condição de alguém que estando no
Espírito não precisa mais mover-se de modo algum de
modo a estar em algum lugar. Nem qualquer distinção
pode ser feita entre o intelecto possível e as idéias
que ele entretem in
adaequatione rei et intellectus :
falar de uma onipresença intelectual é falar de uma
onipresença das formas ou idéias que não têm
existência objetiva fora do intelecto universal que as
entretêm. A lenda não se refere a transferência
física de uma imagem material, mas a universalidade de uma
forma imutável que pode ser vista, tanto pelos contemplativos
Khotaneses quanto pelos Indianos ; onde o historiador da arte veria o
que é chamado a “influência” da arte Indiana na Ásia
Central, a lenda assevera uma imaginação independente
da mesma forma. Será visto que não tínhamos em
vista explicar o milagre ; mas indicar que a maravilha é
aquela da disposição interior e que o poder de vôo
aéreo não é nada como o do aeroplano, mas tem a
ver com a extensão da consciência a outros níveis
de referência que os físicos, e de fato, ao “cume do
ser contingente.” 33
[ naval ] de Nārâyāna, o fundamento central da Divindade deitada à superfície das águas, e levando em sua flor a figura de Brahmā ( com o qual o Buddha é virtualmente identificado ), a universalidade deste simbolismo é suficientemente evidente no Ramo de Jessé e na representação simbólica da Theotokos Cristã pela rosa. A expressão “rosa dos ventos,” carta de compasso, e quant’ è la larghezza di questa rosa nell’ estreme foglie ( Paradiso, XXX, 116 – 117) ilustra a correspondência da rosa e da lótus nos seus aspectos espaciais, cf. Maitri Up. VI, 2 onde as pétalas da lótus são os pontos do compasso: quer dizer, direções do espaço indefinido. Duramente precisamos dizer que a universalidade e consistente precisão de um simbolismo adequado não impede uma adaptabilidade a condições locais e não dependem da identificação de espécies botânicas. 35
A natureza de um simbolismo adequado dificilmente pode ser melhor estabelecida do que nas palavras “O sentido parabólico (Skr. parôksa ) está contido no literal (Skr. pratyaksa) .” Por outro lado, “As formas sensíveis, nas quais havia de princípio uma balança polar do físico e metafísico, têm estado mais e mais esvaziadas de conteúdo no seu caminho de descida até nós ; assim dizemos, Isto é um ‘ornamento’ “ ( Andrae, Die ionische Säule, p. 65 ). Torna-se então, uma questão de restauração do significado às formas que passamos a pensar como meramente ornamentais. Não podemos levantar aqui os problemas da metodologia simbólica, exceto para dizer que o que temos que evitar mais é uma interpretação subjetiva, e desejar mais uma realização subjetiva. Para os significados dos símbolos devemos confiar nos fundamentos explícitos dos textos de autoridade, em uso comparativo, e naqueles que ainda empregam os símbolos tradicionais como a forma costumeira de seus pensamentos e conversação diária.39
XX, 1).
NOTAS
1
Elementos de Iconografia Budista,
Cambridge, 1935. “Some sources of
Buddhist Iconography,” B. C. Law
Festschrift, 1945.
2 Falar de um evento como
essencialmente mítico não é de nenhum
modo negar a possibilidade, mas antes assegurar a necessidade de um
acidental, i.e., evento histórico ; é neste
sentido que as natividades eterna e temporal estão
relacionadas. Dizer, “deve-se consumar o quê foi dito pelos
profetas” não é para levantar uma suspeita
narrativa, mas só para referir o fato a seu princípio.
Nossa intenção é apontar que a verdade mais
eminente do mito não se levanta ou cai pela verdade ou erro
da narrativa histórica na qual o princípio é
exemplificado.
3 A expressão nirmāna-kāya
evidentemente é derivada de Jaiminiya Br. III, 261-3.
Aqui os Devas empreendem uma sessão de sacrifício, mas
antes de fazer isto propões rejeitar “o que quer que esteja
cru em nosso Espírito ( tad yad esām kruram ātmana
āsit, i.e., quaisquer que sejam suas possibilidades de
manifestação física ), e demarcá-lo” (
tan nirmāmakai, i.e., modelá-lo ). De acordo com
isto, “eles o demarcaram ( nirmāya ) e colocaram o quê
foi assim rejeitado
( sammārjam ) em duas tijelas (
śarāvayoh, i.e., céu e terra ) . . . Daí
nasceu o Deva suave . . .
foi na verdade Agni que nasceu . . . Ele
disse, ‘ Porque vocês me fizeram nascer ? ‘ Eles
responderam, “Para continuar vigiando” ( aupadrastrāya,
cf. S.B. III, 4, 2, 5 aupadrastā, e Sāyana no RV X,
27, 13, āloka karanāya ). Aqui então a encorporação
de Agni nos mundos já é um nirmāna-kāya. Que
Agni é para vigiar corresponde por um lado a concepção
Védica do Sol como o “Olho dos Vedas,” e por outro a
Buddha como “Olho do Mundo” ( cakkhum loke ) nos textos
Pali ; e a Cristo como θεού . . . όμμα ( Anth. Pal. I,
19.). Cf. meu artigo “Nirmāna-kāya” em JRAS., 1938.
4
A origem do nome da mãe de Buddha, Māyā ( Μαία,
Μήτις, Sofia ), pode ser antecedido até Lalita
Vistara, XXVII, 12 através AV. VIII, 9, 5 a RV, III, 29, 11,
“ Este, O Agni, é teu ventre cósmico, donde tu
brilhou para fora . . . Medido na mãe ( yad amimita mātari
) - Mātariśvān,” cf. X, 5-3, “ Tendo medido fora o
Bebê” ( mitvā śiśum ).
5 Observe, em conexão com
isto, que em João I, 3-4, o Latim quod factum est
representa o Grego ό γέγονεν (Skr. jātam ), cf.
Filo, Aet. 15, έργον δέ καί γέγενον. “ O
ensino de nossa escola é que qualquer coisa sabida ou nascida
é uma imagem. Eles dizem que em gerando seu Filho unigênito
o Pai está produzindo sua própria imagem” ( Eckhart,
Evans ed. I, 258).
É do mesmo ponto de vista, das
doutrinas das idéias , que para S. Tomás, “Arte
imita a natureza (i.e., Natura naturans, Creatrix universalis,
Deus ) em sua maneira de operação” (Sum.
Teol. I, 117, I c) : e que Agostinho “ se apoia mais
nitidamente (i.e., que Plotino mesmo) sobre a origem mesma da
natureza ( i.e., Natura naturata ) e das obras de arte,
origem em Deus” ( Svoboda, K., L’Esthétique de
Saint Augustin et ses sources, Brno, 1933, p. 115).
6
Um dito tradicional cotejado por Sankara em Brahma Sutra, III,
2, 17. Cf. a frase Hermética “Somente então você
o verá, quando você não puder falar dele ; pois
o conhecimento dele ‘silêncio profundo, e supressão
de todos os sentidos” ( Hermes, Lib. X,
5, Scott, Hermetica,
I, 191). Justo como para os
Upanisads o Brahman último é um Princípio “
acerca do qual mais questões não podem ser
perguntadas” (BU, III,6.), assim o Buddha consistentemente se
recusa a discutir a quididade do Nibbāna. Nas palavras de
Eriugena, “Deus não sabe o quê Ele mesmo é,
porque Ele não é nenhum o quê,” e de
Maimónides, “Afirmando qualquer coisa de Deus, você
está se separando Dele.” Os Upanisads e o Budismo não
oferecem exceção à lei universal do emprego
lado a lado da via affirmativa e da via remotionis.
Não há nada de peculiarmente Indiano, e ainda menos
peculiarmente Budista, na visão que não podemos saber
o quê nos tornaremos, o quê “ O olho não viu,
nem o ouvido escutou” ( I Cor. II, 9). Enquanto isso a função
da imagem corporal, verbal, ou plástica, ou em qualquer outro
sentido simbólica, é mediatória. Ver também
meu “Vedic Doctrine of Silence,” Indian Culture, 1937,
III, 539 f.
7 Mahāyāna Sutrâlamkārā
de Asanga, IX, 35, 36, Lévi, Sylvain, Paris, 1907 e 1911, I,
39, 40 e II, 77,78. M. Sylvain Lévi não entendeu bem
laksana-sthāna ; a referência é a iconografia
descritiva de arte narrativa e visual. Dr. Kramrisch ( A Survey
of Painting in the Deccan – pp. 27 e 203, nota 31 ) errou o
sentido da passagem : “pintar com cores no espaço” é
uma expressão proverbial implicando “tentar o impossível”
ou “esforço feito em vão,” como por exemplo em
Majjhima Nikāya, I, 127, onde é indicado que um homem
não pode pintar em cores no espaço, porque “espaço
é sem forma ou indicação.” O que Asanga está
dizendo é que pensar qualquer representação do
Princípio transcendental como ele é nele mesmo não
é mais que um sonho ocioso ; a representação
tem um valor meramente temporal, comparável àquele da
balsa ética na bem conhecida parábola ( Majjhima
Nikāya, I, 135 ).
[ Monges, eu vos ensinarei o dhamma a
parábola da balsa para transpor, não para reter.
Ouvi-a, prestai bem atenção, e eu falarei. É
como um homem,’monges, que realizando uma viagem avistasse uma
grande extensão de água ; a margem de cá
repleta de perigos e de terrores, a margem de lá segura e sem
terrores ; mas pode suceder que não haja barco para
atravessar, não haja ponte, para passar do não-além
ao além. Vem-lhe ao espírito que para passar dos
perigos desta margem à segurança da outra ele deve
fabricar uma balsa de bambus e paus, de galhos e folhagens, de modo
que batendo braços e pernas e fiando-se nesta balsa, ele
poderia atravessar com segurança até a margem de lá.
Tendo feito assim, tendo passado ao lado de lá ele diz que a
balsa foi muito útil, e ele se pergunta de deve continuar seu
caminho trazendo-a ligada à cabeça e aos ombros. Que
pensais disto, monges ? ]
É, contudo, como os sādhanas o
expressam, contra um fundo de “espaço no coração”
que a pintura que “não está nas cores” deve
ser imaginada ; justo como também para Sankarâcārya
a “pintura do mundo” ( o cosmo inteligível visto no
speculum aeternum ) está “pintada pelo Espírito
na tela do Espírito.” E porque a pintura era imaginada
assim, como uma aparência manifesta contra uma base infinita,
apintura ( de Amida, por exemplo ) pintada em cores reais e em
telas levantadas contra um fundo análogo de extensão
indefinida.
8 Karsanârthāya : a
noção coincide com o conceito Platônico e
Escolástico da qualidade de concentração
da beleza. Cf. Rumi, Mathnawi I, 2770, “ A aparência
sorridente da pintura é para seu bem ; demodo que por meio
daquela pintura a realidade possa ser estabelecida.”
9 “Elude” é precisamente
o s’asconde sotto de Dante. “ A linguagem não se
atém a verdade ; mas a mente ( νούς = manas ) tem
forte poder, e quando ela vai na direção da linguagem,
chega à verdade” ( Scott, Hermetica, I, 185).
10 I.e., tendo nascido, e
consequentemente em usar figuras materiais, falar parabolicamente,
etc.
11 Tattvam yoginām : RV. X. 85,
4, “De quem os Brahmans entendem com Soma, ninguém
nunca provou, ninguém prova aquele que habita na terra”e
AB. VII, 31, “É metafisicamente ( paroksena ) que
ele obtém a bebida do Soma, ele não é
literalmente ( pratyaksam ) partilhado.”
13
“Este tipo de coisa não pode ser ensinada meu filho ; mas
Deus , quando ele assim quer, o recorda em nossa memória “(
Hermes, Lib. XIII, 2, Scott, Hermetica,
I, 241 ).
14 Cetiya, caitya, são
geralmente derivados de ci , empilhar, originalmente usado
em particular conexão com a edificação de um
fogo de altar ou pilha funeral, e isto não é sem
relação com o fato a ser discutido abaixo que a imagem
de Buddha realmente herda os valores do altar Védico. Mas
como o Jātaka mesmo torna claro, uma caitya não é
de nenhum modo necessariamente uma stupa, nem qualquer coisa
construída, mas um substituto simbólico de algum tipo,
a ser visto como o Buddha em sua ausência : e deve ser
assumido pelo menos uma conexão hermenêutica de ci
, edificar, com as raízes proximamente relacionadas ci
e cit , olhar, considerar, saber e pensar de ou contemplar ;
é, por exemplo, neste sentido que cetyah é
usado no RV, VI, 1,5, “ Tu, Ó Agni, nosso meio de
atravessar, será-conhecido-como eterno refúgio
e pai e mãe dos seres humanos,” cujos epitétos todos
além disso foram aplicados também ao Buddha; em SB.
VI, 2, 3, 9 é explícito que citi ( plataforma,
√ci ) é assim chamado por ter sido ‘visto em
meditação’ ( cetayamāna, √cit). Os
fogos “dentro de vocês,” dos quais os fogos dos altartes
externos são apenas suportes, são “empilhados
intelectualmente,” ou “empilhados com sabedoria” (
manasācitah, vidyācitah, √ci , SB, X, 5,3,3,12 ).
Cf. “Cetiya” em HJAS, 4, 1939, p. 138, com mais referências,
e “Prāna- citi” em JRAS, 1943.
A assimilação do ci com
cit , em relação com uma operação
cujo propósito principal é “levantar” novamente o
sacrificante mesmo, “integral e completamente,” tem um paralelo
notável no desenvolvimento semântico de “edificar”
; o “edifício” sendo originalmente uma lareira (aedes)
e os cognatos Gk. e Skr. raízes αίθω e idh,
“acender” . A lareira, que é tanto um altar quanto
um “fogão,” estabelece a casa ( como em SB. VII, 1, 1, 1
e 4). Então justo como aedes torna-se “casa,”
assim também “edificar” é em um sentido mais geral
“construir” ; o significado “construir espiritualmente”
preservando os valores sagrados originais da lareira. Paralelo,
também, a “edificar” e idh é o Pali
samuttejati, lit. “colocados no fogo,” por meio de um
discurso “edificante” (D. II, 109, etc.) ; sem dúvida
com a referência última ao “Agnihotra Interno” no
qual o coração torna-se a lareira ( SB, X, 5, 3, 12 ;
SA. X ; S. I, 169 ).
15 Isto não é, claro,
uma posição exclusivamente Budista. Os Vedas já
falam de um Grande Yaksa
( Brahman ) movendo nas águas em um
brilho feroz no centro do universo à semelhança de uma
Árvore ( AV. X, 7, 32 ) e este Arbusto Ardente, a Figueira
Única, é chamado nos Upanisads de “alguém
Despertado” ( eka sambodhayitr ), e suporte perene da
contemplação de Brahman
( dhiyâlamba, Maitri Up. VII, 11
). No Sānkhāyana Aranyaka, XI, 2 o Brahman espirante está
“Como se fosse uma grande árvore verde, ereto com as
raízes misturadas.”
16 Cf. meu Elementos de
Iconografia Budista, pp. 4-6. Verto uddesika por
“indicativo”em vista da discussão do Professor de La
Vallée Poussin em JHAS, II, 281 – 282 : da passagem que ele
cita do Yogaśāśtra de Asanga é claro que a uddiśya
significa “indicativo de Buddha” ; os exemplos dados de tais
símbolos indicativos são “stupa, construção
ou santuário antigos ou modernos.” Se foi somente mais
tarde que uddesika cetiya veio a significar também
“imagem de Buddha”
( tathâgata patimā ), isto
significaria que o Jātaka não abarca todas as imagens de
Buddha : alternativamente, imagens de Buddha devem ter sido
desaprovadas com outros símbolos indicativos, como
“arbitrários.” O sentido pejorativo de anudissati,
“indicar” deve ser notado em D.II, 354. A teia resultante,
que as imagens de Buddha eram, ou ignoradas, ou condenadas, é
suficiente para nosso propósito, a demonstração
do traço de uma atitude originalmente anicônica.
A posição iconaclasta Budista é
curiosamente como a de Sextus Empiricus ( Adv. Dogm. II, 146
ff ) que distingue sinais “comemorativo” ( υπομνηστικόν
) de “indicativo” ( ενδεικτικόν ) e rejeita o
último, no nível que os primeiros são, ou eram,
vistos em íntima associação com as coisas as
quais eles nos lembram, enquanto para os últimos jeito de
demonstrar que eles significam o que eles dizem significar. Deve-se
honrar a memória do professor humano que estava, mas estava e
ainda está somente no Dhamma, sua Doutrina, em que ele pode
realmente ser visto ; cf. a estória do excessivo apego a
forma visível de Buddha, citado abaixo, Cap. XII. Ao mesmo
tempo não devemos deixar passar que enquanto Sextus Empiricus
é um “cético,” mesmo no sentido moderno, o Budista
não é um “niilista.”
17 A questão é ao
mesmo tempo de localização e temporalidade. Em
devoções pessoais Indianas modernas é típico
fazer uso de uma imagem de argila temporariamente consagrada, e
descartada após uso quando a Presença é
dispensada ; no mesmo modo a igreja Cristã tornou-se a casa
de Deus especialmente só depois da consagração,
e se formalmente desacralizada pode ser usada para qualquer
propósito secular sem ofensa. O rito, como a Natividade
temporal, é necessariamente um evento ; o evento temporal
pode ter acontecer em qualquer lugar,justo porque sua
referência é a uma onipresença intemporal. De
qualquer modo, não é uma questão de contradição
como entre um “Deus extenso no espaço” ( Bouquet, loc.
cit., p. 52 ) e uma presença especial em um dado ponto
no espaço : extensão no espaço é já
uma localização no mesmo sentido que processão
é um movimento aparente. De um Deus, “em quem vivemos e
movemos e temos nosso ser” não podemos dizer que ele está
no espaço como nós estamos, mas antes que ele é
o “espaço” em que nós estamos. Mas todas as
Escrituras empregam uma linguagem em termos de espaço,
adaptada a nossa capacidade ; não é somente a imagem
visual que deve ser estilhaçada se isto é para ser
evitado. O iconoclasta nem sempre percebe todas as implicaçòes
de seu ideal : que não pode ser dito de ninguém que
ainda sabe quem é, que todos seus ídolos foram
quebrados.
18
A imagem em tinta ou pedra, “indicativa” de Buddha, é
tanto uma imagem de ( e tão pouco da natureza de ) Deus
“cuja imagem ela é” como é a imagem em carne ou em
palavras : cada um é “um Deus sensível na semelhança
do Deus inteligível” ( εικών τού νοητού
[θεού] θεός αισθητός), Platão, Timeu,
92 : não precisamos nos retrair da identificação
implicada de aparinibbuto Tathâgata com ο κόσμος
ούτος, no sentido que o universo é seu corpo.
19
Uma antecipação remarcável do ponto de vista da
Renascença. “Eventos que virão lançam suas
sombras atrás.” “Através da familiaridade
com os corpos pode-se muito facilmente, apesar de com muita dor,
vir a acreditar que todas as coisas são corpóreas.”
( S. Agostinho, Contra academicos XVII, 38 ) ; alguém
pode, como Plutarco disse, estar tão preocupado com o “fato”
óbvio de modo a não perceber a “realidade,”
confundindo Apolo com Helius ( Moralia 393 D, 400 D, 433 D),
“ o sol que todos os homens vêem” com “ o Sol que poucos
conhecem com a mente”
( Atharva Veda X, 8, 14 ) .
20
Art Bulletin,
XVIII, 400.
21 Adaptado de Byron e Rice, The
Birth of Western Painting, p. 56, com adição de
palavras em chaves.
22 “ Nestes esboços, meu
filho, desenhei uma semelhança ( εικών ) de Deus para
você, tanto quanto isto é possível ; e se você
contemplar esta semelhança com os olhos do coração
( καρδίας οφθαλμοίς, ‘ayn-i-qalbi ),
então, meu filho, acredite-me, você encontrará o
caminho da elevação ; ou antes, a visão mesma o
orientará no seu caminho” ( Hermes, Lib.IV, 11 b,
Scott, Hermetica, I, 157) ; cf. Ascl. III,
37 f.
23 Byron e Rice, loc. cit.,
pp. 67, 78. Foi, contudo, em ambos os casos antes uma matéria
de reconhecimento e endosso de uma iconografia e simbolismo solar
universal mais antigo e originalmente nem Cristão nem
Budista, do que invenção de uma iconografia ad hoc.
24 Dizemos deliberadamente
“animada” porque a inscrição de um texto essencial
( usualmente a fórmula Ye dharmā, etc.), ou a
moldura de um texto escrito dentro do corpo de metal ou madeira de
uma imagem, implica uma eloquência ; e é bem mais
literal que se supõe que as palavras de uma inscrição
Chinesa, “O artista pinta uma semelhança falada” (
Chavannes, loc. cit., p. 497 ), deve ser entendida. Temos que
alterar bem pouco as palavras de Buddha, “Aquele que vê a
Palavra, me vê” para fazê-los ler “Aquele que vê
minha Imagem, ouve minha Palavra.”
25 Devemos evitar uma distinção
artificial de “termos” para “formas.” O símbolo
pode ser verbal, visual, dramático, ou mesmo alimentar ; o
uso de material é inevitável ; não é o
tipo de material que importa. É com perfeita lógica
que o Budista trata igual a imagem visual e verbal : “Como poderia
a Personalidade Luminosa ser demonstrada de outro modo que por uma
representação de cores e peculiaridades iconográficas
? Como poderia o mistério ser comunidcado sem um recursoa
linguagem e dogma ? “ As figuras esculpidas de Buddhas e
Bodhisattvas “ fornecem meios aos homens sábios de
elevarem-se a perfeição da verdade “( inscrições
chinesas, Chavannes, loc. cit., pp. 501, 393 ).
26 Estamos mais inclinados a
concordar com Dr. Rowland que “a escola Gandhāra entrou em
existência só pouco anters da acessão de
Kanishka no segundo século da era Cristã” ( Art
Bulletin, XVIII, 399 ); assim pois fazendo as imagens de
Gandhāra e aquelas de Mathurā quase contemporâneas ou dando
alguma prioridade à última.
27
Hsüan-tsang, Buddhist
Records,Beal, II, 322.
28 Para uma imagem chamada
“Udāyana’s” em Lung-men, ver Chavannes, loc. cit.,
p.392, e Mus, “Le bouddha paré,”BÉFEO, 1928,
p.249.
29
“ Se então você não se fizer igual a Deus,
você não pode apreender Deus ; pois o semelhante é
conhecido pelo semelhante” (Hermes, Lib. XI,
11, 20b, Scott Hermetica, I, 21).
“Aquele que está unido ao Senhor é um
espírito” ( I Cor. VI, 17). Cf. meu “E
at Delphi,” Rev of Religion, V, 1941.
30
Le Lotus de la Bonne Loi,
ed. 1925, p. 417.
31
Ziegler, Überlieferung, 1936,
p.183. Não se deve surpreender que alguns Indianos
referem-se a academia Européia como um “crime.” Ao mesmo
tempo o acadêmico Indiano moderno é capaz de
banalidades semelhantes. Temos em mente Professor Chattopādhyāya
que considera RV X, 71, 4, onde é uma questão de
ambos, audição e visão, da Voz ( vāc ),
prova de um saber da escrita no período Védico – um
exemplo de miopia intelectual, pelo menos tão densa como a do
Professor Burnouf mesma.
32
Hermes, Lib.
XI, 11, 19 (Scott, Hermetica, I ,221) “ Todos os
corpos estãosubmetidos ao movimento ; mas aquilo que é
incorpóreo é sem movimento, e as coisas situadas nele
não têm movimento . . . Lance sua alma em viagem a
qualquer terra que você escolha, e tão logo você
a lance, ela estará lá . . . ela não se moveu
como alguém que se move de um lugar para outro, mas ela está
lá. Lance-a voando ao céu, e ela não precisará
de asas.” RV, VI, 9, 5 “Mente (manas, νούς ) é
o mais rápido dos pássaros “; PB XIV, 1, 13 “O que
Compreende é alado “( yo vai vidvānsas te paksinah ).
33 “ Pois o ser humano é
um ser de natureza divina . . . o que além disso émais
que tudo, ele sobe ao céu sem deixar a terra ; para uma
distância tão vasta quanto seu poder pode levá-lo
“ ( Hermes, Lib. X, 24, Scott,
Hermetica,
I, 205 ).
34
Para a história do símbolo ver Brown, W. N., Walking
on the Water, Chicago, 1928 ; e tb
Waley, A., The Way and its Power,
London, 1934, p.118. A forma dos preeitos Herméticos,
“Mas da Luz de lá saiu uma Palavra santa ( λόγος =
śabda brahman, uktha ) que estabeleceu-se na substância
da água . . . move, por razão da Palavra espiritual (
πνευματικός = âtmanvai ) que move na superfície
da água “( Hermes, Lib., I, 8 b, Scott, Hermetica,
I, 117, 119 ), apesar de talvez depender de Gênesis, é
especialmente significante no seu uso da expressão
“estabeleceu-se” ; cf. adhitisthati, predicado de ātman
nos Upanisads, passim.
35 Para uma discussão ampla
da lotus ver meu Elementos de Iconografia Budista, Cambridge,
1935. Cf. as representaçòes Egípcias de Hórus
na lotus, da qual Plutarco diz que, “eles não acreditam que
o sol se levanta como um bebê recém-nascido da lotus,
mas eles retratam o sol se levantando desta maneira para apresentar
sombriamente ( αινιττόμενοι ) que seu nascimento
é um acender ( άναψις ) das águas” (
Mor. 355 C), - igual a como Agni nasce.
36 Que “a lótus preenche
desde o começo todo espaço acessível “ é
para Sr. Foucher meramente um fato de iconografia e neste sentido um
“superstição precedente”. As palavras são
verdadeiras contudo neste sentido mais original e mais profundo que
no princípio não havia outro espaço, e
como era no princípio, é agora e deve ser para sempre
: porque a lotus é o símbolo e imagem de toda
extensão espacial, como explicitamente estabelecido em Maitri
Up. VI, 2, “ O que é a lotus e de que tipo ? O que esta
lotus é verdadeiramente no Espaço ; os quatro quartos
e quatro inter-quartos, são suas pétalas
constituintes.” O “precedente” é primeiramente
metafísico e cósmico, e por isso também
iconográfico.
37
As noções de uma “revelação” e
“philosophia perennis” ( “Sabedoria incriada, a mesma agora
como sempre foi, e a mesma que será para sempre,” de
Agostinho, Conf. IX, 10 ) são, claro, anátema
para os acadêmicos modernos. Ele prefere dizer que os hinos
Védicos “contém os rudimentos de uma espécie
de pensamento mais alta do que estes antigos poetas poderiam ter
sonhado . . . pensamento que tornou-se final para todotempo na
Índia, e mesmo fora da Índia”
( Bloomfield, Religion
of the Veda, 1908, p.63). É
verdade que o escritor tem aqui em mente uma evolução
do pensamento, mas como pode o poeta Védico formular
“uma espécie de pensamento mais alta do que ele poderia ter
sonhado” ? É o mesmo que dizer que o ser humano realiza o
que não pode fazer. Mas é improvável que
Bloomfield realmente pretende-se defender uma doutrina de inspiração
verbal !
40
Sentimentalidade e materialismo, se não são sinônimos
em todos os aspectos, coincidem no tema. O homem em busca do
espírito tornou-se o “homem moderno em busca deuma alma,”
de Jung, que descobre . . . espiritualismo e psicologia.
41 Webster, “qualquer processo de
raciocínio por meio de símbolos.”
42 Ver meu “Simbolismo do
Arco-e-flecha,” Ars Islamica, X, 1944. É dito que a
última companhia de arqueiros Franceses foidissolvida por
Clemenceau, que objetou deles possuírem um “segredo.”
43 Para o culto e transubstanciação
de armas, cf. RV,VI, 47 e 75 e SB I, 2,4.
44 O Buddha é algumas vezes
referido como um Nāga. Em Majjhima Nikāya, I, 32, os arhats
Mogallāna e Sāriputra são chamados “um par de Grandes
Serpentes” ( mahānāgā ); ib. I, 144-145, a Nāga
encontrada no topo de um formigueiro ( considerada como se um stūpa
) é chamada uma “significação do monge em
quem os objetivos tolos foram erradicados”; e no Sutta Nipāta,
522, “Nāga” é definida com alguém “que não
se prende a nada e está libertada” ( sabatta na sajjati
vimutto ). Paralelos abundam em solo grego, onde o herói
morto e deificado, é constantemente representado como uma
cobra dentro de uma tumba cônica, e o aspecto ctônico de
Zeus Meilichios é similarmente ofídico.
45 Nâstika, alguém
que pensa ‘Não há nada além deste mundo’”
( ayam loko nâsti para iti māni, Katha Up. II,
6 ), não entendendo que “Não há somente este
tanto, mas outro do que este”( naîtāvad enā anyad asti,
RV, X, 31, 8 ). Se os Budistas eles mesmos algumas vezes foram
vistos como nâstikas, isto foi porque anattā
foi mal interpretado para significar “Não há
Espírito” ; a verdadeira posição Budista é
aquela que é somente no “ que não é o
Espírito “ ( anattā ; na me so attā ),
somente da “vida sob estas condições” que pode ser
dito que “não há nada mais” ( nâparam,
Samyutta Nikāya, III, 118 ). Cf. “Natthika” em HJAS, IV,
1939, p. 149.
46 A natureza e uso das “imagens”
como suportes de contemplação não está
em nenhum lugar mais brevemente ou melhor estabelecido do que na
República 510 D,E ( aquele que usa as formas visíveis
e fala sobre elas não está realmente pensando nela,
mas naquelas coisas as quais elas são a imagem ); uma
passagem que pode ter sido a fonte da fórmula de S. Basílio
bem conhecida, que “o respeito que é pago a imagem é
transferido para seu arquétipo” ( De. Sanctu
Spiritu c. 18, cf. Epiphanius fr. 2 em
Holl, Schriften des Epiphanius ).
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