quarta-feira, 8 de setembro de 2010

415 Buddha e rainha Mallika


                         Pintura de teto em Ajanta, Índia

415
“Serviço feito ...etc.” - O Mestre contou este conto enquanto residia em Jetavana, relativo a rainha Mallikā. Ela era a filha do chefe dos fazedores de grinaldas, guirlandas, de Savatthi, extremamente bela e muito boa. Quando estava com dezesseis anos de idade, ela ia para um jardim de flores com outras garotas levando três porções de mingau sem sal na cesta de flores. Quando deixava a vila, viu o Abençoado entrando, difundindo radiância e cercado pela assembléia de Irmãos : e ela levou para ele as três porções de mingau sem sal. O Mestre aceitou, estendendo sua tigela real. Ela tocou os pés do Tathagata com sua testa e tomando sua alegria como objeto de meditação, permaneceu de pé em um lado. Observando-a o Mestre sorriu. O Venerável Ananda ficou imaginando porque o Tathagata sorrira e perguntou a ele. O Mestre contou a razão, “Ananda, esta garota será ho-je a rainha principal do rei de Kosala através do fruto destas porções de mingau.” O garota foi para o jardim de flores. Naquele mesmo dia o rei de Kosala que lutava com Ajatasatru, fugiu derrotado. Quando ele vinha em seu cavalo, escutou o som dela cantando e sendo atraído por ele dirigiu-se para o jardim. O mérito da garota estava maduro : então quando ela viu o rei, se aproximou sem fugir e tomou as rédeas pelo freio do cavalo. O rei do alto do cavalo perguntou a ela se era casada ou não. Escutando que não era, ele desmontou e estando cansado devido ao sol e ao vento descansou um pouco no colo dela : então a fez montar e com um grande exército entrou na cidade e a levou para a casa dela. À tardinha ele enviou uma carruagem e com grande honra e pompa a levou da casa dela, colocando-a em uma pilha de jóias, ungindo-a e a fazendo rainha principal. A partir dali ela era a mais querida, amada e devotada esposa do rei, possuidora de empregados fiéis e dos cinco encantos femininos : e ela era a favorita dos Buddhas. Espalhou-se por toda a cidade que atingiu tal prosperidade porque havia dado três porções de mingau para o Mestre.
Um dia começaram uma discussão no Salão da Verdade : “Senhores, rainha Mallikā ofertou três porções de mingau para os Buddhas e como fruto disso, no mesmo dia ela foi ungida rainha : grande realmente é a virtude dos Buddhas.” O Mestre chegou, perguntou e soube o tema da conversa dos Irmãos : ele disse, “Não é estranho, Irmãos, que Mallika tenha se tornado rainha principal do rei de Kosala apenas oferecendo três porções de mingau ao Buddha onisciente : por quê ? É devido a grande virtude dos Buddhas : sábios antigos ofereceram mingau sem sal nem óleo a paccekabuddhas e devido a isto atingiram na vida futura, seguinte, a glória de ser rei em Kasi, trezentas léguas extensa” : e assim ele contou um conto antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu em uma família pobre : quando cresceu ganhava a vida trabalhando por salários para um certo homem rico. Um dia ele conseguiu quatro porções de mingau sem sal em uma loja, pensando, “Isto dará para o almoço” e assim seguiu para seu trabalho no campo. Vendo quatro paccekabuddhas dirigindo-se para Benares em coleta de ofertas, ele pensou, “Tenho estas quatro porções de mingau ; e s'eu ofertasse-as a estes homens que vão para Benares em coleta de ofertas ?” Então ele se aproximou e saudou-os dizendo, “Senhores, tenho estas quatro porções de mingau na mão : ofereço-as a vocês : prego, aceitem-nas, bons senhores e assim ganharei mérito que permanecerá para meu bem e felicidade.” Vendo que eles aceitavam, ele espalhou areia, arranjou quatro assentos e esticou folhas e ramos para eles : e depois sentou os paccekabuddhas em ordem ; trazendo água numa cuia de folha, derramou-a como donativo e então colocou as quatro porções de mingau nas quatro tigelas com saudações e palavras, “Senhores, em consequência disto, que eu possa não nascer em uma família pobre ; que esta possa ser a causa para que eu atinja onisciência.” Os paccekabuddhas comeram e depois agradeceram e partiram para a gruta Nandamula. O Bodhisatva, enquanto saudava, sentiu a alegria da associação com paccekabuddhas e depois que eles partiram saindo da vista dele e ele foi para o trabalho, ele lembrou-se deles sempre até sua morte : como fruto disto ele nasceu no útero da rainha principal de Benares. Seu nome era príncipe Brahmadatra. A partir do tempo apenas que aprendera a andar, ele viu claramente pelo poder do recolhimento de tudo que fizera em vidas passadas, como o reflexo de sua própria face em um espelho claro, que nascera ali naquele estado porque ofertara quatro porções de mingau para os paccekabuddhas quando era empregado e estava indo para o trabalho naquele mesma cidade. Quando cresceu, aprendeu todas as artes em Takkasila ( Taxila ) : retornando, seu pai ficou agraciado com as realizações que mostrava e indicou-o para vice-rei : depois, com a morte do pai, tornou-se rei. Então casou com a filha do rei de Kosala extremamente bela e fez dela sua rainha principal. No dia do seu festival – para-Sol, eles decoraram toda a cidade como se fora a cidade dos deuses. Ele foi ao redor da cidade em procissão ; depois subiu ao palácio que estava decorado e em um estrado estava o trono com o para-Sol branco ereto sobre ele ; lá sentando olhou vendo embaixo todas aquelas pessoas que permaneciam ajudando, de um lado os ministros de outro os brâmanes e donos de casa resplendentes em beleza em roupas variadas, de outro o povo com diferentes presentes nas mãos, de outro tropas de garotas dançarinas chegando ao número de dezesseis mil reunidas como ninfas nos céus em vestimenta completa. Olhando para todo este esplendor encantador ele se lembrou de seu estado anterior e pensou, “Este para-Sol branco com guirlanda dourada e plinto, pedestal, de ouro maciço, estes muitos milhares de elefantes e carruagens, meu grande território pleno de jóias e pérolas, abundante em riquezas e grãos de todos os tipos, estas mulheres como ninfas celestes em todos seu esplendor, que é todo meu, é devido apenas a uma oferta de quatro porções e mingau dadas aos paccekabuddhas : ganhei tudo isto por causa deles” : e assim lembrando a excelência dos paccekabuddhas ele claramente declarou sua ação anterior, de mérito. Enquanto pensava nela todo seu corpo foi cheio de felicidade. Felicidade fundiu seu coração e no meio da multidão ele pronunciou duas estrofes em alegre canção :-

Serviço feito a altos Buddhas
Nunca, dizem, é contado barato :
Oferta de mingau, sem sal, seco,
Me fez colher este prêmio.

Elefante, cavalo e gado,
Ouro, milho e toda a terra,
Tropas de garotas em forma divina :
Ofertas as trouxeram para as minhas mãos.

Assim o Bodhisatva em sua alegria e delicia no dia de sua cerimônia do para-Sol, cantou uma canção de alegria em duas estrofes. A partir daquele momento foi chamada a canção favorita do rei e todos a cantavam – as garotas dançarinas do Bodhisatva, seus outros dançarinos e músicos, seu povo no palácio, o povo da vila e aqueles do círculo de ministros.
Após passar um longo tempo, a rainha principal ficou ansiosa em saber o significado da canção mas não ousava perguntar ao Grande Ser. Um dia orei ficou agraciado com alguma qualidade dela e disse, “Senhora, te dou um dom ; aceite um presente.” “Está bem, ó rei, aceito.” “Que devo te dar, elefantes, cavalos ou semelhantes ?” “Ó rei, devido a tua generosidade não preciso de nada, não tenho necessidade de nada disso : mas se desejas me dar um dom, dê-me contando o significado de tua canção.” “Senhora, que necessidade tens de tal dom ? Aceite outra coisa.” “Ó rei, não tenho necessidade de nada mais : é isto que eu aceitaria.” “Bem, senhora, te direi mas não como um segredo a ti somente : enviarei um tambor ao redor de todas as doze léguas de Benares, farei um pavilhão em jóias à porta do meu palácio e levantarei um trono também em jóias : nele sentarei no meio de ministros, brahmins e outro povo da cidade, e as dezesseis mil mulheres e lá contarei a história.” Ela concordou. O rei fez tudo isso e então sentou no trono no meio de uma grande multidão, como Sakra ( Indra ) no meio da companhia dos deuses. A rainha também com todos seus ornamentos colocou um cadeira dourada de cerimônia e sentou em um lugar apropriado ao lado dele e olhando meio de lado ela disse, “Ó rei, me conte e explique, como se fazendo a lua elevar-se aos céus, o significado da canção de alegria que cantastes em felicidade deliciosa” ; e assim ela falou a terceira estrofe :-

Glorioso e reto rei,
Há muito tempo cantaste uma canção
Em excessiva alegria de coração :
Prego, compartilhe comigo a causa.

O Grande Ser declarando o significado da canção falou quatro estrofes :-

Esta a cidade mas a ocupação era diferente, em minha vida passada :
Empregado era de outro, assalariado, mas honesto.

Indo da cidade para o trabalho, vi quatro ascetas,
De porte calmo e sem paixões, perfeitos na lei moral.

Todos meus pensamentos foram para aqueles Buddhas : enquanto eles sentavam debaixo d'árvore,
Com minhas mãos trouxe para eles mingau, oferta piedosa.

Tal o ato virtuoso de mérito : veja ! O fruto que colho ho-je -
Todo o estado real e riquezas, toda a terra sob meu domínio.

Quando ela escutou o Grande Ser assim explicar inteiramente o fruto de seu ato, a rainha disse alegremente, “Grande Ser, se discernes tão visivelmente os frutos de oferta caridosa, de ho-je em diante tome uma porção de arroz e não coma até que tenha dado a sacerdotes e brahmins retos” ; e ela falou uma estrofe em louvor do Bodhisatva :-

Coma, ofertas devidas lembrando,
Colocando para girar a roda do direito :
Fuja da injustiça, poderoso rei,
Com retidão controle teu reino.

O Grande Ser, aceitando o que ela disse, falou a estrofe :-

Ainda faço daquela estrada minha própria
Andando no caminho reto,
Onde os bons, bela rainha, vão :
Santos são agradáveis a minha vista.

Após dizer isto, ele olhou para a beleza da rainha e disse, “Bela senhora, falei inteiramente meus bons atos em tempos anteriores mas entre todos estas senhoras não há nenhuma como tu em beleza e graça charmosa : através de que ato atingiste esta beleza ?” E ele falou uma estrofe :-

Senhora, como uma ninfa celeste,
À multidão das garotas ultrapassas :
Devido a que ato de graça foi dado
Prêmio de beleza tão divina ?

Então ela contou o ato virtuoso feito em vida passada e falou as duas últimas estrofes :-

Fui antes uma empregada escrava
Na corte real de Ambattha,
À modéstia entreguei meu coração,
À virtude e as boas falas.

Numa tigela de Irmão mendicante
Coloquei certa vez oferta de arroz ;
Caridade preencheu minha alma :
Tal o ato e olhe ! o fruto.

Ela também, é dito, falou com conhecimento acurado e lembrança das vidas passadas. Então ambos plenamente declararam seus atos passados e a partir daquele dia eles construíram seis salas de caridade, nos quatro portões e no centro da cidade e na porta do palácio e agitando toda a Índia fizeram grandes ofertas, mantiveram as obrigações morais e os dias santos e no final de suas vidas tornaram-se destinados ao céu.
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No final da lição, o Mestre identificou o Jataka : “Naquele tempo a rainha era a mãe de Rahul(a) e o rei era eu mesmo.”



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