Plutarco Védico
( isbn 978-85-906438-0-7 ; à venda no Kindle )
Pirro = Varuna
( isbn 978-85-906438-0-7 ; à venda no Kindle )
Pirro = Varuna
Esta
equação resolve os vários problemas da expressão simbólica na
‘Vida de Pirro’ de Plutarco : Pirro = Varuna : temos o ‘rajanya’
de Pirro mesmo, sua aspersão a rei dos macedônios, com a
conseguinte perda de toda a energia em sua expedição a Itália que
Plutarco ressalta por várias vezes ; o irmão, parente próximo,
Neoptólemo que quase fica com o título ; o ‘sautramani’,
sacrifício dos três bichos quando da aspersão que refere-se a
purificação e ao restabelecimento da energia, força perdida; os
laços que tenta impor a Fabrício romano, a riqueza, o elefante e o
médico por fim, mas que são desfeitos ; a fala, a palavra enquanto
aço afiado, a lei mesma do Eácida filho de Zeus irmão de Minos o
legislador por excelência ; a relação pai-filho no princípio e
fim na travessia do rio e na morte pela telha ; a questão do dedão
do pé que curava as pessoas doentes do baço e que teria, ele o
dedão, sobrevivido incólume nas cinzas do corpo incinerado do herói
– é o próprio Pequeno Polegar ; enfim comecemos pelos textos
sobre Varuna que temos :
Satapatha
Brahmana V, 4, 3, 1-2 : “1. Norte do ahavaniya ele
coloca cem ou mais de cem, vacas daquele parente dele. A razão
porque faz isto é esta : 2. Quando Varuna foi consagrado ( rei ),
sua energia, seu vigor, saiu dele. Provavelmente a essência ( seiva
da vida ) das águas coletada com as quais o aspergiram, tirou fora
sua energia, seu vigor. Ele o encontra no gado e porque o encontra
nele, o gado torna-se objeto de respeito. E tendo-o encontrado no
gado, novamente toma para si mesmo sua energia, seu vigor. E de modo
semelhante este um – esta energia não saiu dele mas faz isto
pensando, ‘Este Rajasûya é a consagração de Varuna e Varuna fez
isto’.
V,
4, 3, 11 : “Agora por quê para no meio das vacas do seu parente, -
o quê quer que seja retirado do homem, seja fama, ou qualquer coisa,
isto passa para seu parente mais importante ; - esta energia, ou
vigor, ele agora toma de volta do seu parente para si mesmo : isto é
porque ele para no meio das vacas do seu parente.
V,
4, 5, 1 : “Bem, quando Varuna foi consagrado, seu brilho saiu dele
– brilho significado vigor : este Vishnu, o Sacrifício, foi ele
que saiu dele, - provavelmente aquela essência das águas coletada
com as quais ele foi ungido naquela ocasião, retirou seu brilho.”
V,
5, 4, 1 : o Sautramani os três animais sacrificados um cabrito
marrom para os Asvins pois os Asvins são marrons. Uma ovelha com
tetas pendentes para Sarasvati e um touro toma-se para Indra Sutraman
( bom protetor)( segue a história do filho de Tvasthtri, Vishvarupa
( Todas- formas ), cujas três cabeças Indra cortou pois não
gostava delas, e que como com Varuna resultou que perdesse sua
energia,vigor, sendo então curado pelos Asvins, como já relato,
antes, daí o sacrifício Sautramani e no texto seguinte se repete
com Vritra).
V,
5, 5 1. Ele prepara um bolo em doze potes para Indra e Vishnu. Bem
por quê esta oferta. Antigamente tudo aqui estava dentro de Vritra,
para entender, o Rig, o Yagus e o Sâman. Indra desejava jogar o raio
nele. 2. ele disse para Vishnu, ‘Jogarei o raio em Vritra e fiques
do meu lado !’ -”Assim seja!’ disse Vishnu, ‘Permanecerei do
teu lado : jogue-o !’ Indra mirou o raio nele. Vritra ficou com
medo do raio levantado. 3. Ele disse, ‘Há aqui uma fonte de força
: darei-a a ti ; mas não me bata !’ e deu a ele as fórmulas
Yagus. Ele Indra mirou-o uma segunda vez. 4. Ele disse, ‘Há aqui
uma fonte de força : darei-a a ti mas não me bata !’ e deu a ele
os Rig-versos. Ele o mirou uma terceira vez. 5. ‘Há aqui uma fonte
de força : darei-a a ti mas não me bata !’ e deu-lhe os hinos
Sâman. Por isto espalham o sacrifício do mesmo jeito ainda ho-je
com estes três Vedas, primeiro com as fórmulas Yagus depois com os
Rig-versos e então com os hinos Sâman ; pois assim ele Vritra
deu-os a ele. 6. E aquilo que foi o assento de Vritra, seu retiro,
que ele esmigalha, pegando-o e despedaçando-o [ paralelo em III, 2,
1, 25-28 Yagña ( o sacrifício ) desejava Vâk ( a fala ) pensando,
‘Possa casar com ela !’ Ele uniu-se a ela. 26. Indra então
pensou consigo mesmo, ‘Certamente um grande monstro brotará desta
união de Yagña e Vâk : devo me cuidar senão podem me vencer’.
Indra ele mesmo tornou-se um embrião e entrou dentro daquela união.
27. Bem quando ele nasceu após o tempo de um ano, pensou consigo
mesmo, ‘Verdadeiramente tem grande vigor este útero em que
estivesse contido : devo me cuidar que nenhum grande monstro nasça
dele depois de mim e me vença. !’ 28. Tendo-o pegado e apertado
forte, ele o despedaçou e colocou na cabeça do Yagña ( sacrifício
); - pois o antílope preto é o sacrifício : a pele preta do cervo
é o mesmo que o sacrifício e o chifre preto do cervo é o mesmo que
aquele útero. E porque foi apertando-o todo e pressionando que Indra
despedaçou o útero por isto o chifre é amarrado apertado na
extremidade da roupa; e como Indra tornou-se um embrião, broto
daquela união assim é ele o sacrificante, após se tornar um
embrião nascido daquela união de pele e chifre.’ ] : aquilo
tornou-se esta oferta. E porque a ciência dos Vedas que descansava
naquele retiro era, por assim dizer, tripla ( tridhatu ), por isto
esta é chamada Traidhatavi.
Plutarco,
Vida de Pirro, VII segue a descrição da souvetaurilia,
sautraman, “Não deixou de voltar com Lisímaco mas sim fizeram as
pazes e se reuniram para, sobre as entranhas das vítimas, confirmar
os tratados com juramento. Trouxera-se um cabrito, um touro e um
carneiro e como este morreu por si mesmo a todos causou riso o que
sucedeu ; porém o agoureiro Teodoro proibiu a Pirro que jurasse,
dizendo que aquele prodígio anunciava a morte de um dos três reis;
assim Pirro se afastou da paz por esta causa. … agregava-se a
natural enfermidade dos poderosos, que é a ambição desmedida pela
qual veio a ser entre eles a vizinhança receosa e desconfiada …”.
No
capítulo VIII fala-se de como era tido por ser o melhor capitão por
sua perícia na tática e na habilidade assim como na estratégia e
enquanto outros reis imitavam Alexandre na púrpura, nas guardas, no
torcer o pescoço e no falar alto, ele, Pirro, o representava nas
armas e no esforço seguindo então a descrição de Pirro bondoso
permitindo as injúrias e críticas a si mesmo, próximas, antes de
longe, em lugares distantes.
No
IX fala-se de seus casamentos e no X o comparam a uma águia que é a
metáfora do exército mesmo, como ele mesmo diz - “Por vocês –
lhes disse – sou águia ; como não serei elevado no alto, como com
asas, por vossas armas ?”.
No
XI é eleito rei dos macedônios após o reconhecerem com o
casco-égide ( de aegis (gr.) cabra) de Apolo, Athena : “Tumultuou-se
a maior parte do exército e faziam diligência para ver Pirro.
Justamente quando quando isto sucedeu tinha tirado o casco, capacete
; porém percebendo o quê acontecia o pôs e foi conhecido pelo
penacho que sobressaía e a cimeira que eram uns chifres de bode com
o que houve macedônios que correram até ele pedindo a contrassenha
e alguns se coroaram com ramas de carvalho porque assim tinham sido
visto coroados os que se achavam com Pirro.”
No
XII a perda deste mesmo reino e do XIII – XXI a grande expedição
à Itália em que sucessivamente vemos a perda do vigor, energia,
sendo repetida por Plutarco seja em XV na travessia do mar ou na
guerra mesma :
XV
“Começou pois por enviar em auxílio aos tarentinos a Cíneas que
levou consigo três mil soldados; depois, trazidos de Tarento muitos
transportes para cavalos, naves armadas e toda espécie de barco,
embarcou vinte elefantes, três mil cavalos, vinte mil infantes, dois
mil arqueiros e quinhentos com fundas, fundeiros. Quando tudo estava
pronto se fez vela e estando já no meio da mar Jônio foi arrebatada
violentamente a esquadra por um vento norte que se levantou e o que
era dele mesmo pode, não sem dificuldade e trabalho, ser levado para
a margem e chegado a terra pela indústria e cuidado dos pilotos e
marinheiros ; porém a esquadra se dispersou e se separou. Umas naves
desviadas da Itália correram pelos mares Líbico e Siciliano e a
outras que não puderam dobrar o promontório Yapígio as surpreendeu
a noite e jogando-as a maré para praias desconhecidas e
inacessíveis, se destruíram todas com exceção da do rei. Esta
apesar de apenas batida no costado pelas ondas pode suster-se e
resistir por seu porte e firmeza aos embates do mar; mas quando
começou a soprar e rodeá-la o vento de terra, dano-lhe pela proa,
correu grande risco de abrir-se e despedaçar-se. Assim, o mais
terrível dos males que se tinha presente era entregar-se de novo a
um mar irritado e a um vento que variava e contudo, levantando
âncoras Pirro se lançou mar adentro sendo grande o trabalho e o
empenho de seus amigos e guardas em estar a seu lado. Mas a noite e
as ondas, com forte bramido e violento torvelinho atrapalhava que se
socorressem ; de maneira que com dificuldade no dia seguinte,
aplacado já o vento pode saltar em terra, alquebrado e sem poder se
valer de seu corpo ; porém contrastando pela energia e força de sua
alma com tamanho contratempo. Então os mesapios ( Lecce atual ) em
cuja terra aportou se apressaram com a maior boa vontade a dar-lhe os
auxílios que podiam, procurando recolher as poucas naves que e
haviam salvado, nas quais estavam apenas uns poucos homens dos de à
cavalo, menos de dois mil de infantaria e dois elefantes.”
XVI
perde seu cavalo ;
XVII
empresta seu manto e suas armas para um chamado Megacles e que acaba
vencido ; mas Pirro aparece com rosto descoberto e continua a luta em
que perde seus principais homens ( em 281 a.C. ) : “Eram estes que
perdeu nesta guerra os mais avantajados entre seus amigos e caudilhos
e quem Pirro mais confiava e considerava.” Vemos claramente o
sentido da expressão vitória de Pirro pois venceu os romanos mas
perdeu sua força principal.
XXI
antes de começar a guerra, Pirro consulta a sacerdotisa de Delphos
que diz que ele pode vencer os romanos. Mas ao final Pirro fala : “Se
vencemos os romanos numa só batalha, contudo perecemos sem
recursos.” E com isto retira-se da Itália.
A
parte do parente, irmão, vemos no capítulo V quando da morte de
Neoptólemo o tirano seu homônimo que querendo matar a Pirro e pegar
seu título acaba morto, tudo acontecendo dentro de casa, no Epiro.
Pirro = Neoptólemo o filho de Aquiles, neto de Eáco, filho de Zeus.
O filho de Aquiles vinga o pai e mata Páris com o arco de Héracles
guardado por Filoctetes em Lesbos, história contada na tragédia
homônima de Sófocles e que segundo Vernant e Vidal-Naquet ( cf
bibliografia ) é um relato das iniciaçõe efébicas ou crípticas,
por iniciar o jovem cidadão na fase adulta da vida : Pirro /
Neoptólemo teria inventado a pírrica quando na noite em que saíram,
os gregos, do cavalo e mataram os troianos em suas casas : a
referência é Eurípedes, Andrômaca, 1135; Luciano, De saltatione,
9; Ateneu, XV, 630. “Uma dupla denominação é uma lembrança de
provações de adolescente, onde o iniciado recebe um novo apelido,
nome, como símbolo da ruptura com a infância e de acesso a uma vida
superior. Valores análogos se ligam ao nome que tomam os religiosos
pronunciando seus votos.” ( Marie Delcourt, pg 34 cf. bibliografia
). Segue a mesma autora : “No sexto Pean de Píndaro, que data
provavelmente de 490, Apolo decide recusar uma velhice feliz ao homem
que matou o velho Príamo refugiado no altar de fogo. E como
Neoptólemo se desentende com os serviçais do templo em relação a
partilha das vítimas, o deus o mata – entendemos que o faz ou
deixa fazer – em seu santuário, Delphos, próximo do largo umbigo
da Terra. … O carrasco se chama Machaireus e seu pai Daitas : Porta
machado filho de Festim. Todos os dois aparecem na literatura
satírica e anticlerical que ralha com os Délficos ávidos de
banquetes … deve-se somar que a delphique makaira, o machado
ritual, era um símbolo da rapacidade clerical e mesmo da avareza em
geral … enfim, não é curioso encontrar a lenda de um Pirros morto
por um Machaireus quando um conselho pitagórico recomenda ‘mè tò
pỹr tè makaira mokleuein’, não atiçar o fogo com um machado,
espada ; símbolo sexual. Estrabão e Pausânias dizem que Pirro foi
saquear Delphus daí a morte. Píndaro silencia sobre isto.” ( pgs
37-40 ).
O
túmulo de Neoptólemo / Pirro em Delphos é descrito por Pausânias
em seu ‘Guia da Grécia’ ( cf. bibliografia ) que conta esta
história toda e faz referência a um ditado sobre sua morte : “o
quê uma pessoa faz volta para ela”. A pedra que Rhéa deu a Cronos
para engolir substituindo Zeus bebê está próxima daí falar-se
de umbigo do mundo, o ômphalus de Delphos, onde Apolo sentado
pronunciava seus oráculos imagem que vai se tornar sinônimo de
palavra oracular em grego ‘omphé’, verbo que tem este sentido,
definição. O ômphalus é uma pedra-túmulo : abaixo dele estaria
enterrada a serpente Python morta por Apollo, ela todo ano recebe
óleo em festividades que rememoram o acontecido e constitui a
liturgia da iniciação dos adolescentes ( meninos e meninas ) da
Amphictionia grega ( da união dos povos gregos que derrotou Tróia
povos cujos nomes estavam escritos em coluna no templo mesmo de
Delphos ). O ritual chama Stepterion e é descrito por Plutarco em De
musica, XIV, p. 1136; Quest. Grec. XII; Def. Orac., XV; por Estrabão,
VIII, p.422; e Elien,Hist. Var.., III, 1 : “Uma cabana de madeira é
levantada lá no pátio, de nove em nove anos, não é apenas um
buraco como uma toca de serpente mas é a imitação da morada de um
tirano ou rei e o ataque é feito em silêncio sobre ela durante o
quê é chamado Doloneia ... Com tochas acesas acompanham um garoto
cujos pais ainda vivem e quando já colocaram fogo na cabana e virado
a mesa, eles fogem sem olhar para trás pelas portas do santuário.
Finalmente as vagâncias e a servidão do garoto e as purificações
que acontecem em Tempé faz-se suspeitar que houve uma grande
poluição e algum ato ousado. Eles vão até Tempé entregando-se a
purificações e voltam a Delphos pela rota Pythias, coroados de
louros sagrados. Seu ‘architheore’, provavelmente o ‘amphithales’
da primeira noite, leva um ramo de oliveira. Os antigos interpretavam
o Stepterion como uma comemoração do combate de Apollo contra
Python, cuja morte o deus expiou se exilando e servindo Admeto
durante um ano.” Ou seja Apollo desce do céu para expiar,
purificar, seus pecados ao matar a serpente e a mesma expiação,
purificação repete-se ritual e liturgicamente. Este exílio
iniciático é um noviciado com provas que são o exílio ( phygé
), corridas vagabundas ( plánai ), a servidão ( latréia ),
escondimentos ( krýpseis ). Tanto Henri Jeanmaire ( p. 394 ) quanto
Marie Delcourt ( p. 109 ) ( cf. bibliografia ) mostram que o mesmo
ritual de liturgia purificadora, por incrível que pareça, repete-se
em Atenas com a história de Teseu em Creta conquistando a liberdade
e a democracia. Jeanmaire lembra a ‘Confessio de S. Cypriani’ (
AA. SS. Set VII p. 222 ) que estabelece uma relação entre a
iniciação dos jovens infantes e a representação do combate contra
Python : Cipriano foi dedicado a Apollo quando criança.
A
Doloneia, Dolonia, é um episódio noturno da Ilíada que
reproduziria a iniciação de Neoptólemo por Ulisses relata na peça
de Sófocles, ‘Filoctetes’.
Pausânias
descreve a pintura de Polygnoto ( pg 474 ) : “Polygnotos fez
Neoptólemo o único grego ainda massacrando troianos porque toda a
pintura foi encomendada para ficar acima do túmulo de Neoptólemo.
Homero dá ao filho de Aquiles o nome Neoptólemo em toda sua poesia
mas a Cipria diz que ele era chamado Pirro ( vivaz, enérgico, ruivo
) por Licomedes e Neoptolemos ( jovem soldado ) por Phoinix porque
Aquiles era ainda bem jovem quando Neoptolemos começou a batalhar.
Há um altar na pintura com um menino pequeno assustado segurando
nele ; uma couraça de bronze descansa no altar. Este tipo de couraça
era raro no meu tempo mas a usavam na antiguidade. Há duas peças de
bronze, uma encaixando no tórax e nos músculos do estômago e a
outra protegendo as costas ; eram chamadas ‘buracos’, ‘côncavos’
: uma entrando na frente a outra atrás e você as junta com as
fivelas.”
Esta
pintura existia na época de nosso Pirro do séc.III a.C. e por isto
podemos entender o capítulo III de Plutarco em sua Vida de Pirro :
“Tendo-se salvado e evitado a perseguição desta maneira [ o
capítulo II fala da passagem de Pirro bebê pelas águas, plena de
significados simbólicos também ] se dirigiram para a Iliria para a
casa do rei Glaucias e estando ele sentado com sua esposa, puseram a
criança no solo no meio deles. Começou o rei a sentir temor de
Casandro [ rei da Macedônia ( 357-297 a.C. ) filho de Antípatro.
Foi ferrenho inimigo de Alexandre Magno e inclusive se suspeita que o
envenenou ( ano 323 a.C. ) ] que era inimigo dos Eácidas e ficou
bastante tempo em silêncio consultando a si mesmo. Com isto Pirro,
indo engatinhando até ele por impulso próprio lhe pegou o manto com
as mãos e levantou-se ficando de pé nos joelhos mesmo de Glaucias,
primeiro se pôs a rir e depois ficou com o semblante triste, como de
quem roga e está em aflição, prorrompendo em choro. Alguns dizem
que não se colocou aos pés de Glaucias mas que levantou-se na ara
dos deuses e que se colocou de pé segurando nela com as mãos, o que
Glaucias teve como um grande prodígio [ não é a imagem da pintura
?! ]. Fez pois a entrega de Pirro a sua esposa encarregando-a de
criá-lo com seus filhos ; e reclamando-lhe daí a pouco os inimigos,
não o entregou, ainda que Casandro o oferecesse duzentos talentos, e
quando já tinha doze anos o acompanhou ao Epiro com tropas e o fez
ser reconhecido rei. [ mas e a couraça ? Vemos em Satapatha Brahmana
V, 3, 5, 25 que a roupa de iniciação pertence a Varuna e é disto
que se trata pois a couraça é a roupa de iniciação do soldado que
não veste mais seus membros sua roupa natural mas a roupa de Varuna.
] Resplende no semblante de Pirro a dignidade régia, sobressaindo
mais, contudo, o temível que o majestoso. Não tinha o número de
dentes que os outros mas acima tinha um osso apenas unificado, no
que, como linhas retas, estavam aqueles desenhados. Diz-se que tinha
a a virtude para curar aos que padeciam do baço, sacrificando um
galo branco e apertando suavemente como pé direito o doente que
devia estar deitado ; e ninguém era tão pobre ou desvalido que não
participara desta graça se se apresentava a pedi-la. Tomava como
prêmio um galo depois da sacrifício e o estimava muito. Diz-se
também que o dedão do pé, o polegar, tinha igualmente uma virtude
divina, de modo que queimado o corpo depois da morte, o dedo se
encontrou ileso e intacto do fogo. Mas disto falaremos depois.”
Pirro
= Pequeno Polegar : não vimos os Vedas no útero de Vritra ? Indra
mesmo dentro do útero igual ao Pequeno Polegar tradicional ? Henri
Jeanmaire em seu livro ( cf. bibliografia ) está com toda a razão :
a criança iniciando-se na vida adulta com provas e purificações é
o Pequeno Polegar em seus sucessivos úteros. Gaston Paris, ‘O
Pequeno Polegar e a Ursa Maior’ em que ele precisa conduzir o carro
da constelação do polo norte, imagem que o aproxima de Phaeton
conduzindo e caindo com o carro do sol : de Phaeton fala o capítulo
I da Vida de Pirro de Plutarco que foi o primeiro a reinar no Épiro
vindo com os Pelasgos. Depois vieram Deucalião e Pirra que
sobreviveram ao Dilúvio numa arca. Marie Delcourt ( cf bibliografia
) disserta largamente sobre estas duas purificações pelo fogo e
pela água que teriam sido contemporâneas sendo que Phaeton teria
caído na Etiópia depois foi para o Épiro. Lembra a doutrina
estóica dos cataclismos pelos elementos, tipo de Sodoma e Gomorra ;
a doutrina de Heráclito do fogo imortal que julgará e condenará
todas as coisas. Enfim que a purificação pelos elementos aparece
quando “Anchises fala a Enéas de uma alma ígnea que deve ser
purificada pelos três elementos, ar, água, fogo. Os mistérios
procuravam simbolicamente esta regeneração que serviria de prelúdio
a uma imortalidade feliz” ( p. 88 ).
René
Guénon em ‘O simbolismo da cruz’ fala sobre a serpente ( cf.
bibliografia ) ; “Tomando o simbolismo da serpente enrolada ao
redor d’árvore constatamos que esta figura é exatamente a da
hélice traçada ao redor do cilindro vertical da representação
geométrica que estudamos. Àrvore simbolizando o ‘eixo do mundo’,
como dissemos, a serpente figurará pois o conjunto dos ciclos da
manifestação universal ( daí a imagem do yin/yang ); e, com
efeito, efetivamente o percurso dos diferentes estados é
representado, em certas tradições,como uma migração do ser dentro
do corpo desta serpente ( daí a figura do ouroboros a serpente
mordendo a própria cauda : ‘quem quiser ser o primeiro seja o
último e o servo de todos’, etc. ). Como este percurso pode ser
visto seguindo dois sentidos contrários, seja no sentido ascendente,
para os estados superiores, seja no sentido descendente, para os
estados inferiores, os dois aspectos opostos do simbolismo da
serpente, um benéfico e outro maléfico, se explicam por eles mesmos
( daí a imagem do caduceu de Hermes que é também hindu ). (…)
Podemos ver um aspecto em que a serpente figura o encadeamento do ser
à série indefinida dos ciclos de manifestação – é o samsâra
buddhista, a rotação indefinida da ‘roda da vida’ da qual o ser
deve se libertar para atingir o Nirvana. O apego à multiplicidade é
também, em certo sentido, a ‘tentação’ bíblica, que afasta o
ser da Unidade central original e impede de atingir o fruto da
‘árvore da vida’ ; e é bem por ela, efetivamente, que o ser
está submetido á alternância das mutações cíclicas, isto é, ao
nascimento e morte. Este aspecto corresponde exatamente ao papel da
serpente ( ou do dragão que lhe é então equivalente ) como
guardião de certos símbolos de imortalidade do qual defende a
aproximação : é assim que vemos enrolada na árvore dos pomos de
ouro do jardim das Hespérides ou da castanheira da floresta da
Cólquida na qual está suspensa a ‘pele do carneiro de ouro’ ; é
evidente que estas árvores não são outra coisa que formas da
‘árvore da vida’ e que consequentemente representam ainda o
‘eixo da mundo’”.
O
mesmo autor em ‘O rei do mundo’ diz o seguinte : “Voltemos ao
termo hebraico Luz e às suas múltiplas significações : comumente
significa ‘amêndoa’ ( e também designa ‘amendoeira’
designando por extensão àrvore e o fruto ) ou ‘núcleo’ [ a
‘mandorla’ ‘amêndoa’ da tradição iconográfica cristã ],
como se sabe, o núcleo é o que existe de mais interior, de mais
oculto, de mais fechado, donde a ideia de ‘inviolabilidade’.
Dá-se também este nome a uma partícula corpórea indestrutível,
representada simbolicamente como um osso muito duro, ao qual a alma
permanece unida depois da morte até a ressurreição.Tal como o
núcleo contém o germe e o osso a medula , Luz contém em si os
elementos virtuais necessários à restauração do ser ; … sendo
imperecível ( em sânscrito o termo akshara significa ‘indissolúvel’
e por consequência ‘imperecível’ ou ‘indestrutível’;
designa a sílaba elemento primeiro e germe da linguagem e aplica-se
por excelência ao monossílabo ‘Om’ que é dito conter, em si a
essência do triplo Veda ) Luz é no ser humano o ‘núcleo da
imortalidade’, tal como o lugar designado pelo mesmo nome é a
‘morada da imortalidade’. … Luz é situada na extremidade
inferior da coluna vertebral, o que podendo parecer imediatamente
estranho, se compreende melhor se estabelecermos uma comparação com
o quê a tradição hindu diz da força chamada kundalini ( kundalini
significa enrolado em forma de anel ou espiral ; este enrolamento
simboliza o estado embrionário e ‘não desenvolvido’.) que é
uma forma da shakti considerada como imanente ao ser humano. Esta
força é representada sob a forma de uma serpente enrolada sobre si
mesma, numa região do organismo sutil que corresponde precisamente a
extremidade inferior da coluna vertebral; pelo menos assim acontece
no ser humano normal, mas, pelo efeito de determinadas práticas,
tais como a da hatha yoga, ela acorda, desenvolve-se e eleva-se
através das ‘rodas’ ( chakras ) ou ‘lótus’ ( kamalas )
correspondentes aos diversos plexus, até atingir a região
correspondente ao ‘terceiro olho’, o olho frontal de Shiva. Este
estágio representa a restituição ao ‘estado primordial’ em que
o ser humano recupera o ‘sentido da eternidade’ e através do
qual alcança aquilo a que já chamamos imortalidade virtual. Até
lá, continuamos ainda num estado humano ; numa fase posterior, a
kundalini atinge finalmente a coroa da cabeça ( brahmarandhra ) - é
está última fase que corresponde a conquista efetiva dos estados
superiores do ser. Pode-se pois concluir desta comparação que a
localização de Luz na parte inferior do organismo se refere
unicamente à condição de ‘homem pecador’...” .
Não
só o dedão do pé / Pequeno Polegar explica-se como também
explica-se a morte de Pirro pela telha relata em Plutarco, Vida de
Pirro, XXXIV, o último capítulo – sim, a morte pela telha que uma
velha anciã jogou do telhado em Argos ( ele ia bater no filho dela )
pegando-o sem a coroa e matando-o, é esta passagem pelo
brahmarandhra, pela coroa da cabeça, e sim, as outras etapas da vida
do Eácida são as diferentes fases da vida humana descritas por R.
Guénon até que finalmente ele se liberta. O terceiro olho seria seu
cavalo atingido e morto de frente em Esparta quando atacava a cidade
anteriormente, morto por uma saeta, flecha, de Creta.
Citemos,
cotejemos, Ananda Coomaraswamy, sobre o tema em ‘Atmayajña’, pg
401 : “Vimos que a conquista de Ahi-Vritra, a morte e o
alimentar-se do Dragão, não é que o domínio do si-mesmo pelo
Si-mesmo ; e que a oferta-ao-fogo é símbolo e deve ser o fato desta
conquista. ‘Aquele que faz a oferta-de-fogo ( agnihotram )
despedaça a armadilha da cobiça, corta fora ilusão e desfaz a
raiva’ ( MU VI. 38 ).” ( // ‘Nirvana é destruir luxúrias,
destruir raivas, destruir ilusões.” ) e pg 399 : “E
verdadeiramente os que compreenderam isto anteriormente se abstêm de
fazer uma real oferta de fogo ( agnihotram na juhuvam cakrub ). Deste
mesmo ponto de vista que o Buddha ( S. II, 106 etc ; M. I, 77 ) …
pronuncia ‘Não empilho lenha para altar de fogo ; acendo uma chama
dentro de mim ( ajjhatam = adhyatmikam ), o coração lareira ( the
heart the hearth ), a flama nele o si-mesmo dominado ( atta sudanta,
S.I. 169; i.e. saccena danto, S.I. 168 = satyana dantah ).”
O
dragão, serpente, então é a alma sensível que é destruída.
Vimos no começo a destruição da casa de Vritra, que se repete no
ritual iniciático de Delphos / Atenas de destruir a cabana de
madeira e virar a mesa. A caverna, o ‘ventre’ de Vrtra, é a
‘matriz de Brahma’ a partir da qual todas as coisas são
produzidas em princípio, i.e., todo começo : “… o Pai e o
Filho, o Dragão e o Herói Solar, ainda que aparentemente em
oposição são secretamente unidos, são um e consubstanciais” (
A. Coomaraswamy, Angels and Titans, pg 74 ). “A tentação de
Naciketas por Mrtyu, Yama, em nosso texto [ Katha Upanishad onde é
relata a história de Naciketas que desce ao reino do mortos e é
tentado pela Morte, história que se repete com Varuna e seu filho
Bhrigu em Satapatha Brahmana XI, 6, 1 e com Sunasepa junto de Varuna,
em história relata ritualmente no rajasuya mesmo ] corresponde a
tentação de Mara em J. I, 63 ( oferta da soberania universal ) e J.
I, 78 (filhas de Mara ) e a Mateus IV, 8, 9 ‘te darei todas estas
coisas, se...’ e a tentação da ‘serpente’ no Gênesis. O
Tentador ( seja Amor ou Morte, Satan ou Serpente ) é sempre um e o
mesmo Pai Titã de quem procede Agni que dá adeus em rV X, 12, 3-4 e
o Tentado sempre o ‘Ser Humano’ solar (…) O caráter
virtualmente idêntico das três tentações,aquelas do Buddha, do
Cristo e de Naciketas empresta, dá apoio adicional à visão que
Katha Upanishad é a história não tanto especificamente de um
‘sacrifício humano’ mas dos acordos do Ser Humano Universal com
a Morte ; ou se desejarmos evitar esta conclusão, é manifesto pelo
menos que a transação de Naciketas com a Morte é um ‘tipo’ de
conquista da Morte pelo Ser Humano Universal, no mesmo sentido que o
sacrifício de Abraão é ‘tipo’ do sacrifício do Filho do
Homem.”
E
aqui podemos voltar para Plutarco, Vida de Pirro, II sobre a
travessia do rio que Pirro bebê precisou enfrentar. O historiador
francês Jean Gagé escreveu quatro artigos intitulados ‘Pyrrhus e
a influência religiosa de Dodona na Itália primitiva’ ( cf.
bibliografia ) : lendo estes artigos entendemos porque comparar Pirro
= Varuna justamente porque Tarento, Crotona, o sul da Itália em
geral e a Sicília são Magna Grécia ainda nesta época depois
tornam-se latinas, Crotona é destruída : Pitágoras de Crotona é
exilado e sua ordem perseguida ou transferida para Roma mesmo.
Euclides e Arquimedes podemos dizer são contemporâneos de Pirro : é
o apogeu da cultura da Magna Grécia ( é o lado Mitra do Varuna
Pirro ) : além destes três houve Alcmeon de Crotona, Filolau de
Crotona, Arquitas de Tarento, Lisis de Tarento, etc. Arquimedes ao
descobrir o peso específico dos metais está descobrindo a tabela
periódica dos elementos. A geometria de Euclides ainda está em
todas as salas de aula apesar de toda álgebra moderna. Pitágoras
mesmo ‘fala como da Pítia’ é fundador desta ordem religiosa
científica e que como já vimos é tradicional semelhante as do
oriente contemporâneas, unidas a elas, tese que explicitamente
defendemos. J. Gagé não fecha os olhos para Numa estudando em
Crotona pitagórica, muito pelo contrário mostra a semelhança de
doutrina do segundo rei de Roma ( que construiu legislativamente a
cidade ) com Pitágoras e o oriente de modo geral seja no
vegetarianismo, seja no silêncio, seja na transmigração d’alma,
seja no estar plenamente atento ( a plena atenção ), seja na
unidade com a natureza para produzir o conhecer, o céu, as aves, o
rio, as árvores, o vento, etc : a pedra que é o centro do mundo, o
rio, fonte, que sai dela, a árvore da vida, os pássaros do céu. É
assim que J. Gagé interpreta o capítulo II da Vida de Pirro como um
acontecimento simbólico : o bebê perseguido chega a margem do rio
fugindo, as águas estão turbulentas, os que o carregam precisam
falar com os que estão na outra margem, escrevem numa cortiça
explicando tudo, lançam-na amarrada em uma pedra para dar impulso ao
tiro da flecha, quando os do outro lado entendem cortam troncos e
fazem uma ponte “… e fez a causalidade que o primeiro que passou
para o outro lado e pegou o menino chamava-se Aquiles.” Ou seja
pai de Pirro, Aquiles; ponte entre pai e filho. J. Gagé vê na
cortiça que boia, flutua, e ao mesmo tempo livro, lugar de escrever,
um ente simbólico presente no nome de Crotona, cortona, e em
‘cortumio’ de Varro, L.L. VII, 9, cor + tueri : intuir de
coração.
Vejamos
A. Coomaraswamy, ‘Some Pali Words’, Samudda ( como ‘adhivacanam’
de ‘nibbana’ ). No buddhismo como no brahmanismo, o ‘caminho’
do Peregrino considerado como uma viagem ( ‘yana’ neste sentido )
pode se relacionar a três caminhos diferentes no fluir do rio da
vida e da morte. A jornada é ou subindo a corrente para a fonte
d’água ; ou através das águas para a outra margem ; ou descendo
a corrente para o mar … Mais familiar é o simbolismo da ‘outra
margem’ a ser alcançada de várias maneiras seja com balsa, um
barco, ponte ou passagem, em conexão com o qual encontramos uma
grande variedade de termos tais como tara, tarana, tiram, tirtha,
tratr, etc derivando de ‘tr-’, ‘atravessar’ ( nota : ‘tirtha’
é ‘lugar de travessia’ ; ‘tirthankara’ virtualmente sinônimo
de ‘pontifex’, pontífice, que faz ponte. Tara é salvadora e
também ‘estrela’, cf. a Virgem como Stella Maris. Tratr é
barqueiro ou salvador. Tarana é ‘travessia’ ; daí ‘avatarana’,
‘cruzando de volta’, i.e. a ‘descida’ de um Salvador. Tiram é
‘travessia’ em S. 5, 24 onde temos ‘Poucos são os mortais que
alcançaram a outra margem.” Nosso termo latino ‘terminus’ é
cognato. Neste caso as Águas a serem atravessadas são
especificamente o Rio da Morte ( M. 1, 225-7 ; DhA 2, 275, etc) ou
como mais completamtne explicado em S. 4, 174-5 o Grande Dilúvio de
Água ( maha udakammavo ) é o dilúvio da vontade, nascimento,
opinião e ignorância ( kama, bhava, ditthi, avijja ), a Margem de
Cá representa ‘encorporamento, encorporação’ (sakkaya ), a
Margem de Lá ‘nibbana’ e o “Brahman que atravessou e alcançou
o outro lado e permanece em solo firme” ( tinno paramgato thale
tithati brahmano ) é o Arahat. A fórmula de atravessar para a
margem outra segura ocorre repetidamente no contexto buddhista e
brahmanista igualmente, de modo que exemplos mais não precisa. A
metáfora de um ‘barco’ salvador ( Pali e Skr. Nava )está
preservada em nossa ‘nave’ ( de uma igreja ). ( … ) Este valor
de ‘samudda’ ( mar ) em S. 5, 39-40 encontramos “como rios
tendem, inclinam e gravitam para o mar” ( samudda-ninna, -pona,
-pabhara ) igualmente o Oferente que cultiva o Nobre Caminho Óctoplo
“… inclina, tende, gravita para Nibbana” ; similarmente S. 5,
134 // S. 4, 179-180. As palavras -ninna, -pona, -pabbhara ou seus
equivalentes ‘mutatis mutandi’ ocorrem em outros lugares
notavelmente na bem conhecida metáfora dos caibros que convergem em
direção e descansam no telhado do domo e á assim que os poderes
d’alma convergem em direção e descansam em samadhi ( M. 1,
322-323, Mil. 38, etc ).” Ou seja explicação da morte pela telha
à qual soma-se outros três relatos de arhats elevando-se nos ares e
fazendo a saída da casa quebrando através da ‘kannika’, do
telhado : Jataka 424, Jataka 31, Jataka 418 e principalmente Jataka
396 onde o Bodhisatva explica em uma parábola : a ‘kannika’ e os
caibros são como o rei e os seus ministros e amigos. Se não houver
‘kannika’, os caibros não permanecerão, se não houver caibros,
não há nada para suportar a ‘kannika’ ; se os caibros quebram a
‘kannika’ cai ; justo o mesmo no caso de um rei e seus ministros
( pg 236, O simbolismo do Domo, A. Coomaraswamy ; na pg 205 o eixo do
mundo no chão da lareira onde foi pregada a cabeça da serpente e
subindo até o alto da chaminé : a morte de Neoptólemo em Delphos
).
Há
mais ocorrências orientais na ‘Vida de Pirro’ de Plutarco : a
famosa conversa entre Pirro e Cinéas o sofista seu porta-voz em que
lhe questiona sobre até quando conquistar, guerrear, depois de Roma
e a Itália, a Sicília, Cartago e África, etc se não era melhor
sentar e ficar dentro do próprio reino. Plutarco mesmo já falara da
doença que é a cobiça como vimos. E o tema repete-se neste
capítulo XIV : o XV já mostramos é a travessia fatídica. Esta
conversa acontece nos Jatakas 467 e 228 e neste último as cidades
das conquistas são a do Mahabharata, que como mostra G. Dumèzil é
o imaginário da ‘Vida de Publícola’ de Plutarco, o fim da
monarquia e a instalação da república com os heróis do
Mahabharata, p. ex. no cap. XIV, Horácio Cocles, o caolho na ponte,
seria Dhrtarastra / Odin – a mesma figura aparece na Vida de Pirro
cap. XIX, a do velho cego que entra no Senado e lembra aos romanos
sua valentia : Cinéas diria então que o Senado parecia uma reunião
de reis. Deste ‘samraja’ fala Bharata no Ramayana para não fazer
o ‘rajasuya’, sarga LXXXIII já no final do épico :
“A
esta ordem de Rama, aquele que o karma que não desmerecia, o
guardião chamou aos dois jovens príncipes e voltou a informar disto
seu Amo. Este vendo perto de si Bharata e Lakshmana, abraçou as dois
e logo lhes disse : “Cumpri lealmente a missão sem igual do
Duas-vezes-nascido. Agora quero, também, rodear a lei de sua defesa,
oh! Filhos de Raghú !A lei é indestrutível e imutável de tal modo
sua barreira é formidável, a meu juízo, e proclamar a lei é
destruir todos os males. Acompanhado de vocês, que sois outro eu
mesmo, desjo proceder ao importantíssimo sacrifício da consagração
real pois isto é um dever imprescritível. Foi através da oferta do
rajasuya, que Mitra, açoite de seus inimigos, por meio desta rica
oferenda, deste belo sacrifício, chegou a qualidade de Varuna. E
Soma, tendo oferecido também o rajasuya, segundo a lei, que conhecia
a fundo, conseguiu nos três mundos um renome e um posto duradouros.
Neste dia, o que convém mais, pensem nisto comigo; o quê agora é
útil e vantajoso para o porvir, dí-me-lo, sinceramente.”
Assim
falou Raghava, Bharata, orador hábil, fazendo o anjali, lhe dirigiu
esta resposta : “Em ti reside o dever supremo, irmão, querido ; é
em ti que toda a Terra encontra apoio ; em ti aninha a glória, herói
dos grandes braços, de valentia sem medida. Os soberanos do Mundo,
tais os Imortais Prajapati, te consideram todos assim como nós, o
protetor poderoso do Universo. Os filhos te olham como a um pai, Ó
valoroso príncipe ! Hás chegado a ser a salvação da Terra e
também dos seres vivos, Raghava. Como poderias tu, Senhor, cumprir
um sacrifício deste gênero, em que aparece a exterminação em este
mundo das raças principescas ? Estes guerreiros, Oh rei !, que
chegam a ser heróis na Terra, seria sua destruição total e isto
causa a universal reprovação. Oh tigre os guerreiros ! Oh tu que
por causa de tuas virtudes não tens igual em quanto ao poder, não
destruas o Mundo, que te está submetido inteiramente !”
Quando
ouviu a Bharata falar deste modo, suave como o amrita, Rama, herói
leal, sentiu uma alegria sem igual. E deu esta resposta àquele que
aumentava a felicidade de Kaikeyi : “estou contente, estou
encantado com o quê acabas de dizer, Ó herói irreprovável !
Estas palavras firmes, conforme o dever, que proferistes, Ó tigre
dos heróis!, são a salvaguarda da Terra. O propósito que eu tinha
de proceder ao grandíssimo sacrifício do rajasuya, a ele renuncio
graças a teu excelente conselho, Ó virtuoso Bharata ! Um ato
prejudicial ao Mundo, os sábios não devem realizá-lo ; por outro
lado, uma boa palavra ainda que vinda de uma criança, sabe-se
acolhê-la, Ó irmão maior de Lakshmana ! Por conseguinte, sigo teu
conselho, que é bom, que é judicioso Ó valoroso príncipe.” O
épico então conta a história de Vrtra e do sacrifício do cavalo,
o ‘aswamedha’ que então realizam no lugar do ‘rajasuya’.
O
principal contudo é a atualidade do tema no Evangelho de s. João
2-3, onde o evangelista fala da primeira Páscoa de IHS em Jerusalém,
fala de IHS virando a mesa, quebrando a casa toda, da purificação
pela água e pelo fogo, do nascer de novo uma segunda vez, do filho
do homem que desceu do céu, da serpente regeneradora, etc :
“Estando
próxima a Páscoa dos judeus, IHS subiu a Jerusalém, no templo
encontrou os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os
cambistas sentados. Tendo feito um chicote de cordas, expulsou todos
do Templo com as ovelhas e com os bois ; lançou ao chão o dinheiro
dos cambistas e derrubou as mesas e disse aos que vendiam pombas :
“Tirai isto daqui ; não façais da casa do meu pai uma casa de
comércio.” Recordaram-se seus discípulos do que está escrito :
‘O zelo por tua casa me devorará’ [ Elias perseguido cf. Livro
dos Reis ].
Os
judeus interpelaram-no dizendo : “Que sinal nos mostras para agires
assim ?” Respondeu-lhes IHS : “Destruí este templo e em três
dias euo levantarei.” Disseram-lhe os judeus : “Quarenta e seis
anos foram precisos para construir este templo e tu o levantarás em
três dias ?” ele porém falava do templo do seu corpo. Assim
quando ele ressuscitou dos mortos seus discípulos lembraram de que
dissera isto e creram na Escritura e na palavra dita por IHS.
Nicodemos
vai à noite até IHS e este lhe diz : “Se após a primeiras
angústias de um segundo nascimento o homem mortal não é engendrado
uma segunda vez ele não pode ver o reino eterno da corte celeste.”
Nicodemos manifestou sua surpresa ; “Como após a velhice com
cabelo branco um homem pode sofrer a provação de um novo nascimento
?” IHS para ensiná-lo respondeu :
“Se
o homem purificando seu corpo por banhos regeneradores não recebe do
Espírito divino e da água uma segunda e nova origem, imagem
espiritual do nascimento que tem da mulher, este homem não pode
conhecer a celeste recompensa preparada na eternidade sem fim. Pois
tudo aquilo que possui entranhas humanas sobre a terra, criado por
uma carne mortal, é carne humana ; mas aquele que é divino,
purificado pela água do banho no Espírito nascido de si-mesmo (
autogonoio ), é espírito vivificante e por uma lei fora da geração,
torna-se germe espontâneo [ o núcleo da imortalidade ] de um novo
nascimento. Não vos espanteis deste mito inspirado por Deus, quando
vos digo que é necessário recomeçar a carreira da vida pela
renovação da Água. O Espírito que se agita sob um esforço
invisível, sabe soprar onde ele quer e vós escutais de perto o
barulho de sua voz, a quem Deus faz atravessar os ares para chegar a
suas orelhas ; mas seus olhos não percebem nem de onde ela vem, nem
para onde ela vai. Tal é a imagem de todo homem que o Espírito há
engendrado por uma chama líquida e não por um grão de
poeira.” Ele disse e Nicodemos respondeu : “ Como tudo isso ode
ser ?” E XTO replicou com seu oráculo divino ( theskelon omphén )
: Sois mestre em Israel e ignoras isto ?! O sentido vos escapa e vós
não sabeis mais o que quero dizer. Em verdade, em verdade ( amén,
amén ) recebeis ainda este sólido testemunho : aquilo que sabemos
ser a verdade cheia de divinos oráculos ( omphés ) falamos alto e
semeamos de nossos lábios verídicos nos ouvidos rebeldes dos seres
humanos ( ouata dysmaka photon [ photo, luz, serve em grego para
designar o ser humano, como um fogo uma casa nos tempos coloniais ;
ouata é igual a ouvido ]). Ora tudo aquilo que meus olhos viram no
meu Pai, o mestre dos céus, nós ensinamos por uma palavra que tem
ciência e é digna de fé. Mas o espírito intratável dos mortais
indóceis não recém meu testemunho fiel ; e se, quando disser
qualquer coisa das vãs obras terrenas seus ouvidos permanecem
totalmente incrédulos, vosso espírito inexperiente acreditará
quando escutar falar dos elementos celestes e invisíveis, se contar
do exército que voa e das obras do céu ? Jamais mortal pisou com
seus pés aéreos os inacessíveis contornos dos céus, senão o
divino filho único do homem, que desceu do alto, sua morada, para
encadear sua forma imortal à carne, ele que reside no palácio
estrelado de seu Pai e habita o firmamento eterno ( aiônios ethéra
). E como na beira do caminho sobre uma rocha deserta Moisés elevou
a serpente maléfica aos humanos ( óphin delémona photôn [
novamente photo igual a ser humano ; ophin, ofídio ] ) que o havia
mordido e a colocou em uma forma fictícia em anéis de bronze, assim
o filho do homem é o mortal, a serpente, exaltado deve aparecer a
face humana, para acalmar os sofrimentos maus que os consomem, afim
de que aquele que o recebe na condição de uma fé sincera, goze da
paz da vida que será a glória humana no curso da eternidade
indestrutível ( ou longas barbas enroladas na eternidade inabalável
).
Pois
o rei dos céus amou este mundo inconstante e diverso ao ponto de dar
ao universo inteiro o Verbo seu filho único, benfeitor dos mortais,
afim de que aquele que o receber, renunciando a mobilidade da sua
crença e curvando voluntariamente sua cabeça sob uma inabalável
fé, entre no coro eterno da vida celeste e habite uma casa
imperecível na floresta do paraíso. Não, Deus não deu ao mundo o
verbo filho do pai para julgar o mundo antes do tempo mas para
ressuscitar ( anastéseie ) a raça humana toda inteira que sucumbia.
Assim pois aquele que o apazigua pela submissão de um coração
constante e que jogando aos ventos dos ares sua incredulidade cega,
se fortalece na fé, não é julgado ; mas aquele que tendendo (
titaínon ) para a carne humana um olhar de razão esfacelada, ousa
abrir a boca para se opor a Deus, este é julgado, porque não
admitiu a fé em sua alma rebelde a persuasão e que não há mudado
de pensamento, nem crido no nome do rei bem amado, filho altíssimo
de deus pai. Tal é a sentença que mereceu já antes este mundo
inato. Pois a luz ( phéggos cf. pháos, phaíno ) veio do céu para
a terra e a geração volúvel dos homens preferiu a obscuridade a
seu brilho ; esta raça desejou menos a luz que as trevas porquê
suas obras são equívocas. Todo homem, em efeito, que comete
iniquidades dignas da noite, odeia voluntariamente a luz e não anda
nunca para ou ao seu lado, temendo que sua luminosidade revele as
obras que realizou, dissimulando-as sob um misterioso silêncio.
Aquele ao contrário que se consagra todo inteiro e sinceramente à
verdade avança por si mesmo para manifestar os atos que executa pela
vontade de Deus.”
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