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“Em
grande hoste...etc.”- Esta história o Mestre contou quando
alojava-se no bosque do cervo Maddakucchi, sobre Devadatra. Quando
Devadatra jogou uma pedra e um fragmento dela cortou o pé do
Abençoado, houve grande dor nisto. Numerosos Irmãos reuniram-se
para ver o Tathagata. Quando o Abençoado viu o Povo reunido, disse a
eles, “Irmãos, este lugar está cheio : haverá uma grande
aglomeração. Vamos agora, carreguem-me numa liteira para
Maddakucchi.” Assim então os Irmãos fizeram. Jivaka curou o pé
do Tathagata. Os Irmãos sentados diante do Mestre falavam sobre isto
: “Senhores, Devadatra é pecador e pecadores são todos do seu
povo ; o pecador acompanha o pecado.” O Mestre perguntou, “O quê
estão conversando Irmãos ?” Eles disseram. Ele disse, “Foi
assim antes e esta não é a primeira vez que Devadatra o pecador
acompanha o pecado.” Então contou-lhes uma história do passado.
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Certa
vez, um rei chamado Pañcala reinava na cidade de Uttara-Pañcala. O
Grande Ser nasceu como o filho do rei dos Papagaios, em um bosque de
paineiras que crescia no alto planalto no coração da floresta :
eram dois irmãos. Subindo esta montanha havia uma vila de ladrões,
onde habitavam quinhentos ladrões : ao seu sopé estava um
eremitério com quinhentos sábios.
Na
estação em que os papagaios estavam trocando as penas um remoinho
de vento carregou um dos papagaios e ele caiu na vila de ladrões
nomeio das armas dos ladrões : e porque caiu lá, eles o chamaram
Sattigumba ou Lança assobiante. O outro papagaio caiu no eremitério
entre as flores que cresciam num lugar arenoso devido ao que o
chamaram Pupphaka, Pássaro flor. Sattigumba cresceu entre os
ladrões, Pupphaka com os sábios.
Um
dia o rei em bravos arreios, à cabeça de uma grande companhia,
dirigiu sua carruagem esplêndida para caçar o cervo. Não distante
da cidade, ele entrou em um bosque bonito com uma rica colheita de
flores e frutos. E disse, “Se alguém deixar o passar a seu lado,
responderá por isto !” Então ele desceu da carruagem e se
cobriu, de pé, arco nas mãos na cabana designada para ele. Os
batedores bateram os arbustos para começar o jogo. Um antílope
levantou-se e procurou uma saída ; ele viu um vazio ao lado do rei,
passou por ele e escapou. Todos perguntaram quem deixou o antílope
passar. Foi o rei ! Escutando isto ele foram e fizeram piada dele.
O rei em sua auto estima não tinha estômago para a brincadeira.
“Agora pegarei o cervo !” gritou ele e subiu na carruagem. “Toda
velocidade !” ele disse para o auriga e saiu perseguindo o cervo.
Tão rápido foi o rei que os outros não conseguiram acompanhá-lo :
rei e auriga, estes dois sozinhos, continuaram até o meio-dia mas
não encontraram o cervo. O rei então retornou ; e vendo próximo à
vila dos ladrões uma clareira aprazível, desmontou, banhou-se e
bebeu e saiu do rio. Então o auriga trouxe um tapete da carruagem
e o abriu debaixo da sombra de uma árvore ; o rei deitou nele, o
auriga sentou a seus pés, esfregando-os : o rei cochilava e
acordava. O Povo da vila dos ladrões, todos ladrões mesmo, tinham
saído para a floresta para presenciar o rei : assim na vila não
ficou ninguém a não ser Sattigumba e o cozinheiro, um homem chamado
Patikolamba. Naquele momento Sattigumba saindo da vila e vendo o rei
pensou, “E se matássemos aquele sujeito lá que dorme e tomássemos
seus ornamentos !?”
Então
ele retornou para Patikolamba e contou-lhe tudo a respeito.
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Para
explicar isto o Mestre recitou cinco estrofes :
Com
uma grande hoste o rei de Pañcala saiu para caçar o cervo ;
Fundo
na floresta extraviou-se o monarca e próximo ninguém havia.
Olhem,
dentro da floresta ele vê um abrigo que ladrões fizeram,
Sai
um Papagaio e em seguida esta cruéis palavras pronuncia :-
Um
jovem dirigindo um carro, com joias muitas,
E
em seu cenho uma coroa dourada brilha vermelha como o Sol !
Ambos
rei e auriga dormem lá em pleno meio-dia :
Venha
vamos espoliá-los de seus bens e levá-la rápido embora !
Está
quieto como na profunda meia-noite : ambos rei e auriga dormem :
Seus
bens e joias peguemos e guardemos,
Matemo-los
e empilhemos galhos em cima numa pilha.
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Assim
falou, o homem saiu e olhou e vendo que era o rei amedrontou-se e
recitou esta estrofe :
Por
quê Sattigumba, estás louco ? Que palavras são estas que escuto ?
Reis
são como fogueiras em chamas e muito perigosos de se aproximar.
O
pássaro respondeu em outra estrofe :
Fala
de tolo, Patikolamba, esta ; e tu és doido, não eu :
Minha
mãe nua ; por quê desprezar a vocação de que vivemos ?
[
a glosa, escoliasta, lembra aqui que a mãe nua significa que está
vestida apenas com roupas de ramos d’árvore conforme hábito de lá
e então ]
Acorda
o rei agora e escutando conversarem na linguagem humana percebendo o
perigo recita a seguinte estrofe para acordar seu auriga :
Levante-se
rápido amigo auriga e atrele a carruagem :
Busquemos
outro abrigo já que não gosto deste papagaio.
Ele
levantou-se rápido e colocou a parelha, junta, e então recitou uma
estrofe :
O
carro está atrelado, Ó poderoso rei, atrelado e pronto ali :
Ponha
o pé dentro, Ó Rei ! E vamos buscar abrigo em outro lugar.
Logo
que estava dentro, voaram fora rápidos como o vento os puro-sangues.
Quando Sattigumba viu a carruagem partindo, tomado de excitação
repetiu duas estrofes :
Onde
foram todos os companheiros que assombram este lugar ?
Pañcala
foge embora, saindo porque não o viram.
Sairá
à vontade com vida ? Peguem lança, arco. Azagaia :
Olhem,
Pañcala foge ! Ó não deixem ele fugir !
Assim
ele esbravejava, agitando-se para cá e para lá : enquanto isto no
devido curso o rei chegou no eremitério dos sábios. Naquela hora os
sábios tinham todos ido catar raízes e frutos e somente o Papagaio
Puppha [ sic ] foi deixado no eremitério. Quando viu o rei, foi
encontrá-lo e dirigiu-se com cortesia.
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Então
o Mestre recitou quatro estrofes para explicar :
O
papagaio com seu bico vermelho cortes e corretamente disse,
Bem-vindo,
Ó Rei ! Bonne chance te dirige direto para cá !
És
poderoso e glorioso : que errância te traz aqui, prego ?
Folhas
de ‘tindook’ e de ‘pyal’ e doce ‘kasumari’,
Apesar
de pequenas e poucas, pegue o melhor que temos, Ó Rei, e coma.
[
Glosa: Diospyros embryopteris e Buchanania latifolia
são nomeados.]
E
esta água fria de uma cova alta escondida na montanha,
Ó
poderoso monarca, tome dela, beba, se for tua vontade.
Estão
todos catando na floresta aqueles que querem viver aqui :
Levante-se,
Ó Rei, e pegue : não tenho mãos para oferecer.
O
rei agraciado com as corteses palavras, respondeu com um par de
estrofes :
Nunca
houve um papagaio engaiolado tão bom ; um pássaro bastante correto
:
Mas
o outro papagaio de lá falou muitas palavras cruéis.
‘Ó,
não deixem-no ir embora vivo, Ó venham e matem ou amarrem !’
Ele
gritava : busco este eremitério e segurança aqui encontro.
Assim
respondeu o rei, Puphaka pronunciou duas estrofes :
Somos
irmãos, Ó poderoso Rei, alimentados por uma mesma mãe,
Criados
ambos juntos na mesma árvore, alimentados em pastos diferentes.
Pois
Sattigumba foi para os ladrões, eu vim para os sábios ;
Aqueles
ruins, estes bons e daí que nossos modos não são os mesmos.
Ele
então explicou as diferenças em detalhes, repetindo um par de
estrofes :
Lá
feridas e laços, traição, engano e mesquinharia giram,
Assaltos
e atos de violência : tal o ensino que aprendeu.
Aqui
auto-controle, sobriedade, gentileza, o reto e o verdadeiro,
Abrigo
e bebida para os estranhos : estavam ao meu redor enquanto cresci.
Em
seguida declarou a Lei para o rei nas seguintes estrofes :
A
quem quer que, bom ou mau, uma pessoa preste honras,
Viciado
ou virtuoso, esta pessoa o segura abaixo de suas tendências.
Como
um camarada que alguém admira, como um amigo escolhido,
Tal
se tornará a pessoa que mantém a seu lado, no fim.
Amizade
faz o semelhante, e toque infecta toque, descobrirás isto verdadeiro
:
Envenene
a flecha e não muito depois a aljava estará envenenada também.
O
sábio evita má companhia, por temer o toque infectado :
Envolva
peixe estragado em gordura e logo a gordura federá tanto quanto.
E
aquele que mantém companhia do tolo, tal se tornará logo.
Doce
incenso envolvido com folha, a folha vai cheirar doce igual.
Igualmente
logo crescerão sábios aqueles que sentam aos pés dos sábios.
Por
esta similitude o sábio deve conhecer seu próprio benefício,
Que
ele evite má companhia e com os retos caminhe :
Céu
espera o reto mas o ruim está destinado ao ínfero abaixo.
O
rei ficou agraciado com esta exposição. Então os sábios
retornaram também. O rei saudou-os dizendo, “Sejam gentis senhores
e venham e tomem residência nos meus terrenos, e persuadiu-os a
aceitarem o convite. Quando ele chegou em casa novamente, proclamou
imunidade a todos os papagaios. Os sábios foram lá também e o
visitaram. E o rei lhes deu seu parque para que vivessem e cuidou
deles enquanto viveu. Quando ele foi preencher as hostes celestes,
seu filho teve o parassol real aberto sobre si e ele também cuidou
dos sábios e e assim seguiu por sete gerações de reis todos
bondosos em ofertas. E o Grande Ser morou na floresta até que passou
de acordo com seus atos.
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Quando
esta lição estava terminada, o Mestre disse, “Assim Irmãos vocês
vejam que Devadatra manteve má companhia antes como mantém agora.”
Então ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era
Sattigumba, seus seguidores eram os ladrões, Ananda era o rei, os
seguidores do Buddha eram os sábios e eu mesmo era o Papagaio
Pupphaka.
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