quarta-feira, 10 de junho de 2015

488 Buddha e Sakra




  ( Imagem de Indra / Sakra / Vasava )


488
Possa cavalo e gado...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre um Irmão relapso. As circunstâncias vão aparecer no Kusa Jataka, número 531. Aqui também o Mestre pergunta - “É verdade, Irmão, que és relapso ?” “Sim, Senhor, é verdade.” “Por qual razão ?” “Por causa do pecado , Senhor.” “Irmão, por quê és relapso depois de juntar-se a uma fé tal como esta que leva à salvação ; e tudo por causa do pecado ? Em dias antigos, antes que Buddha surgisse, sábios que abraçavam a vida religiosa, e mesmo aqueles de fora dela, fizeram um juramento e renunciaram a uma ideia concebida ligada a tentações e desejos !” Assim falando, ele contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como o filho de um grande brahmin magnífico que possuia uma fortuna de oitocentos milhões de dinheiros. O nome que deram a ele era meu senhor Maha Kañcana, Grande Senhor do Ouro. No tempo em que já podia firmar-se nas pernas, outro filho nasceu do brahmin e eles o chamaram meu senhor Upa Kañcana, o Senhor Menor do Ouro. Assim sucessivamente, sete filhos vieram e mais jovem de todos uma filha, que chamaram de Kañcana devi, a Senhora do Ouro.
Maha Kañcana quando cresceu, estudou em Taxila ( Takkasila ) todas as artes e ciências e depois voltou para casa. Então seus pais desejavam estabelecê-lo em uma propriedade própria. “Buscaremos para você,” eles disseram, “uma garota de família adequada que combine contigo e então terás tua própria propriedade.” Mas ele disse, “Mãe e pai, não quero propriedade. Para mim os três tipos de existências ( sensível, corporal e não corporal – kama, rupa, arupa loka ) são terríveis quais fogos, envolvidos em cadeias qual uma prisão, repugnante como um cupinzeiro. Nunca tomei conhecimento dos atos desta espécie, nem mesmo em sonhos. Vocês têm outros filhos,peçam a eles que sejam chefes de família e deixe-me sozinho.” Apesar de pedirem a ele repetidamente, de chamarem os amigos para falar com ele por seus lábios, nada adiantou. Então seus amigos perguntaram : “O quê você deseja, meu bom amigo, pois não ligas nada para os prazeres do amor e os desejos ?” Ele contou a eles como renunciara a todo o mundo. Quando os pais entenderam isto, fizeram proposta semelhante aos outros filhos mas nenhum deles escutou ; nem mesmo a Senhora Kañcana. Logo logo os pais morreram. O sábio Maha Kañcana fez as exéquias de seus pais ; o tesouro de oitocentos milhões ele distribuiu munificentemente para mendicantes e para homens que vagavam pelo mundo ; então tomando consigo seus seis irmãos, sua irmã, um empregado masculino e uma feminina, e mais um acompanhante, fez a grande renúncia e retirou-se para dentro da região dos Himalaia. Lá em um lugar aprazível, próximo a um lago de lótus, construíram um eremitério e viveram uma vida santa comendo frutos e raízes da floresta. Quando entravam na floresta, iam um de cada vez e se alguém encontrasse fruta ou folha chamava os outros : então contando o quê tinham visto ou escutado, apanhavam o que havia – parecia um mercado de cidade. Mas o professor, o asceta Maha-Kañcana, pensou consigo mesmo : “Nós largamos uma fortuna de oitocentos milhões e assumimos vida religiosa e ir gananciosamente procurar raízes e frutos não parece adequado. De agora em diante buscarei eu mesmo os frutos do mato.” Retornando para o eremitério, à noitinha ele reuniu a todos e disse-lhes o quê pensava. “Vocês ficam aqui”, ele disse, “e pratiquem a vida de reclusos, eu buscarei frutos para vocês.” No mesmo instante Upa Kañcana e todos os outros contestaram, “Nos tornamos religiosos sob suas asas, você deve ficar e praticar a vida de recluso. Que nossa irmã permaneça aqui também e a empregada fique com ela : nós oito faremos turnos de catar frutos mas vocês três ficam fora dos turnos.” Ele concordou. Daí em diante estes oito revezavam-se em buscar frutos um de cada vez : os outros cada um recebia sua porção do encontrado e a levava para sua moradia e permanecia em sua cabana de folha. Assim não ficavam juntos sem alguma razão ou causa. Aquele de que era o turno trazia os mantimentos ( havia um recinto ) e o depositando em uma laje de pedra dividia em onze porções ; então soando o gongo pegava sua própria porção e partia para seu lugar de residência ; os outros chegando com o som do gongo, sem correria, mas com toda ordem e cerimônia devida, pegavam cada um sua parte do encontrado e retornava para seu próprio lugar, lá se alimentando e então reassumindo sua meditação e austeridade religiosa. Após um tempo eles juntaram fibras de lótus e as comeram e lá moravam mortificando-se com calor escorchante e outros tipos de tormentos, seus sentidos todos mortos, batalhando para induzir o transe enstático.

Pela glória de suas virtudes o trono de Sakra tremeu. “Estão estes libertos do desejo apenas,” disse ele, “ou eles são sábios ? São sábios ? Descobrirei agora.” Então através de seu poder sobrenatural por três dias ele fez que a porção do Grande Ser desaparecesse. No primeiro dia, não vendo sua parte, ele pensou, “Minha parte deve ter sido esquecida.” No segundo dia, “Devo ter algum pecado : é um modo respeitoso de me lembrar disto.” No terceiro, “Por quê será que não me dão uma porção ? Se houver pecado em mim, saberei.” Então à noitinha ele soou o gongo. Todos reuniram-se e perguntaram quem soara o gongo. “Fui eu, meus irmãos.” “Por quê, bom mestre ?” “Meus irmãos, que trouxe a comida três dias atrás ?” Um deles se levantou e disse, “Eu trouxe,” levantando-se com todo o respeito. “Quando fizeste a divisão separaste uma parte para mim ?” “Sim mestre a porção do mais velho.” “E quem trouxe comida ontem ?” Outro se levantou e disse “Eu trouxe” , e esperou respeitosamente. “Lembraste de mim ao fazer a divisão ?” “Separei a parte do mais velho para você.” Então ele disse, “Irmãos, este é o terceiro dia que estou sem nenhuma porção. No primeiro dia quando não vi nenhuma, pensei, sem dúvida aquele que fez a divisão esqueceu de mim. No segundo dia pensei que havia algum pecado em mim. Mas ho-je decidi que se pecado houver, saberei e daí reuni vocês ao som do gongo. Vocês me dizem que separaram para mim estas porções de fibras de lótus : não comi nenhuma delas. Devo descobrir quem as roubou e comeu. Quando alguém abandona o mundo e todos as luxúrias dele, furtar é inconcebível, seja não mais que um talo de lótus.” Quando eles escutaram estas palavras , gritaram, “Oh, que crueldade !” e todos ficaram muito agitados.

Bem, a deidade que habitava numa árvore ao lado do eremitério, àrvore principal da floresta, saiu e sentou no meio deles. Havia também um elefante, que foi incapaz de ficar apaziguado com o treinamento e quebrando a cerca que estava preso escapou para a floresta : de tempos em tempos costumava vir e saudar o bando de sábios e agora ele veio também e permaneceu do lado. Havia também um macaco, que era usado para brincar com as serpentes e que escapu das mãos do encantador de serpentes para a floresta : e morava no eremitério e naquele dia também saudou o bando de ascetas e permaneceu do lado. Sakra, decidido a testar os ascetas, estava lá também em forma invisível junto deles. Naquele momento o irmão mais novo do Bodhisatva, o recluso Upa Kañcana, levantou-se de seu assento e saudando o Buddha, com uma saudação ao resto da companhia, disse o seguinte : “Mestre, separando-me dos outros posso me limpar de tal culpa ?” “Você pode, irmão.” Ele então permanecendo de pé no meio dos sábios disse, “ Se comi estas tuas fibras, sou isto e mais isto”, fazendo um juramento solene nas palavras da primeira estrofe :

Possa cavalo e gado ser dele, prata, ouro,
Uma esposa amorosa, estes ele preciosamente segure,
Que possa ter filhos e filhas muitas,
O brahmin que furtou tua porção de comida.

( O significado é que a pessoa cujo coração está nestas coisas sente dor em separar-se delas e assim está despreparada para morrer de um ponto de vista buddhista. O verso portanto é uma maldição )

Com isto os ascetas colocaram as mãos em seus ouvidos, gritando, “Não, não, senhor, este juramento é muito pesado !” E o Bodhisatva também disse, “Irmão, teu juramento é muito pesado : você não comeu a comida, sente no teu catre.” Ele tendo assim feito seu juramento e sentado, levanta-se o segundo irmão, e saudando o Grande Ser, recita a segunda estrofe para limpar-se da culpa :

Que ele possa ter filhos e roupas à vontade,
Mãos cheias de sândalo e guirlandas,
Seu coração seja apegado à luxúria e ao desejo,
O brahmin que furtou tua porção de comida.

Quando ele sentou, os outros, cada um na sua vez, pronunciaram sua própria estrofe expressando seus sentimentos :

Possa ter plenitude, ganhando ambos fama e terras,
Filhos, casas, tesouros, tudo a seu comando,
Possa ele não entender o passar dos anos,
O brahmin que furtou tua porção de comida.

Que seja conhecido como poderoso chefe guerreiro,
Como rei dos reis estabelecido em trono de glória,
A terra e seus quatro cantos, tudo seu,
O brahmin que furtou tua porção de comida.

Seja ele um brahmin, com paixão descontrolada,
Com fé nas estrelas e em dias de sorte,
Honrado com a gratidão de monarcas,
O brahmin que furtou tua porção de comida.

Um estudante no conhecimento Védico aprofundado,
Que todos as pessoas reverenciam a santidade,
E venerado pelo Povo
O brahmin que furtou tua porção de comida.

Tenha uma cidade como presente de Indra,
Rica, escolhida, possuidora de todos os quatro bens,
E possa morrer com paixões descontroladas,
O brahmin, que furtou tua porção de comida.

Chefe de cidade, seus camaradas ao redor,
Sua alegria em danças e doces sons de músicas ;
Possa o favor do rei acumular-se sobre ele :
O brahmin que furtou tua porção de comida. ( fala do empregado )

Que ela possa a ser a mais bela das mulheres,
Possa o alto monarca de todo o mundo achá-la
A principal entre dez mil na sua mente,
A brahmin que furtou tua porção de comida. ( fala da irmã )

Quando todas as empregadas se juntam
Possa ela sem se inferiorizar sentar em seu assento,
Orgulhosa de seus ganhos e com comida gostosa.
A brahmin que furtou tua porção de comida. ( fala da empregada )

O grande claustro de Kajañgal seja seu cuidado
E possa reparar as ruínas,
E todo dia concertar lá uma nova janela,
O brahmin que furtou tua porção de comida
( fala do espírito d'árvore )

Amarrado em seiscentos laços possa ele ser pego,
Da querida floresta para a cidade trazido,
Castigado com chicotes e açoites, destratado,
O brahmin que furtou tua porção de comida.
( fala do elefante )

Guirlanda no pescoço, brinco de cobre em cada orelha,
Amarrado, que ande na estrada temeroso,
Educado com varas para aproximar-se de serpentes,
O brahmin que furtou tua porção de comida.
( fala do macaco )

Quando os juramentos foram feitos nestas treze estrofes, o Grande Ser pensou, “Talvez ele imaginem que eu esteja mentindo dizendo que a comida não estava lá quando estaa.” Então fez um juramento por si mesmo na estrofe quatorze :

Aquele que jura que a comida se foi, sem ter ido,
Que ele goze de desejo e seus efeitos,
Possa a morte mundana ser por fim seu lote.
O mesmo que vocês senhores, se agora suspeitam.

Quando os sábios fizeram seus juramentos assim, Sakra pensou consigo mesmo, “Nada tema ; fiz estas fibras de lótus desaparecerem de modo a testar estas pessoas e todos fizeram juramentos, desprezando o gesto como se fora muco de cuspe. Agora vou questioná-los sobre por quê desprezam luxúria e desejo.” Esta questão ele colocou ao Bodhisatva na próxima estrofe, após assumir forma visível :

O quê no mundo as pessoas buscam
Aquela coisa que para muitos é amada e querida,
Desejada, prazerosa nesa vida : por quê então,
Não prezam os santos as coisas desejadas pelas pessoas ?

Respondendo a esta questão, o Grande Ser recitou duas estrofes :

Desejos são golpes mortais e cadeias que amarram,
Nestes ambos miséria e medo encontramos :
Quando tentados pelo desejo reis imperiais
Enfastiados fazem coisas vis e pecaminosas.

Estes pecadores fazem surgir pecado, para o ínfero irão
Na dissolução desta estrutura mortal.
Porquê conhecem a miséria da luxúria
Por isto os santos não a louvam mas apenas a condenam.

Quando Sakra escutou a explicação do Grande Ser, muito mexido no coração repetiu a seguinte estrofe :

Eu mesmo para testar estes sábios furtei
A comida, que coloquei próxima ao lago.
Sábios realmente são, puros e bons.
Ó homem de vida santa, contemple teu alimento !

Escutando isto o Bodhisatva recitou a estrofe :

Não somos acrobatas, te divertindo,
Nem parentes, nem amigos teus.
Então, por quê, Ó divino rei, Ó mil olhos,
Pensas que sábios ser tua diversão ?

E Sakra recitou a estrofe vinte, pacificando-o :

Tu és meu professor e meu pai,
Da minha ofensa me proteja agora.
Perdoe este meu erro, Ó sábio sabido !
A sabedoria nunca se enfurece raivosa.

Então o Grande Ser perdoou Sakra, rei dos deuses e de sua parte para reconciliá-lo com a companhia de sábios recitou outra estrofe :

Feliz para os santos foi esta noite,
Quando Senhor Vasava foi visto por nós.
E, senhores, sejam felizes de todo coração ao ver
A comida antes furtada agora restaurada para mim.

Sakra saudou a companhia de sábios e retornou para o mundo dos deuses. E eles fizeram o transe místico e as faculdades transcendentes brotar de dentro deles e tornaram-se destinados ao mundo de Brahma.

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Quando o Mestre terminou este discurso, disse, “ Assim, Irmãos, sábios antigos fizeram juramento e renunciaram ao pecado.” Isto dito, ele declarou as Verdades. Na conclusão das Verdades, o irmão relapso foi estabelecido no fruto do Primeiro Caminho. Identificando o Jataka, ele recitou três estrofes :

Sariputra, Moggaallaana, Punna, Kassapa e eu,
Anuruddha e Ananda eram então os sete irmãos.

Uppalavanna era a irmã e Khujjuttara a empregada.
Satagira era o espírito d'árvore, Citta o empregado,

O elefante era Parileyya, Madhuvasettha era o macaco,

Kaludayi então era Sakra. Agora entendam o Jataka.


  

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