quinta-feira, 6 de setembro de 2012

[ n. do tr.: hoc age ]




               Pintura de Ajanta, Índia

[ n. do tr. : É dito claramente nesta história de Mah' Osadha no jataka 350 quando da solução dos enigmas :

Assim ele tornou clara a resposta, como se fizesse o sol elevar-se no céu ; e escutando isto, a deusa mostrou metade de seu corpo na abertura do para-Sol e disse com voz doce, 'A questão está bem resolvida !' Ela então presenteou o Grande Ser com uma caixa preciosa cheia de perfumes e flores divinas e desapareceu.”

        Esta aparição na abertura do para-Sol repete-se na resolução dos outros três enigmas. É a deusa mesma que quer Osadha de volta à corte como vimos no jataka 364. Ao mesmo tempo as respostas dos enigmas são dadas debaixo do parassol. Como entender tudo isso ?

Ananda Coomaraswamy mais uma vez nos ajuda em seu artigo 'O simbolismo do domo' – é a mesma abertura no alto de construções com domo. Na realidade Coomaraswamy não se refere a este jataka mas a outros dois o de número 181 e o de número 522, onde Bodhisatva Asadisa e Bodhisatva Jotipala respectivamente, devem com seus arcos e flechas atingir igualmente este ponto central no alto, como um alvo. E ele lembra justamente, por incrível que pareça, o mesmo templo do Capitólio em Roma antiga que já nos referimos e que também tinha esta mesma abertura e debaixo da qual os presságios e enigmas eram pronunciados assim como suas respostas. Vejamos Ovídio em Fastos, II, 667 falando deste templo de Termino ( o limite, a beira, entre dois mundos, que separando e unindo vizinhos era representado por todo lado ):

Quer tosca pedra, ó Término, te embleme ; quer tronco informe, pela mão de antigos enterrado no chão, sempre és deidade. ( segue encontro e bródio ( lanche ) dos vizinhos que nas fronteiras se encontravam e libavam tudo às chamas ). Salve ó Termino sacro ! Ó tu que extremas bairros, cidades, reinos ! Cada campo fora sem ti um campo de batalha. Manténs, desambicioso, insubornável, as herdades em paz das leis à sombra ...
Capitolino Júpiter que o diga que invencível te achou quando, ao fundar-se-lhe a área do templo, ao passo que os outros numes para dar-lhe lugar retrocediam, tu só, qual no-lo conta anosa fama, ousaste resistir, ficar, ter parte no templo sublime com adorações a Jove ; e inda lá ( porque nada alfim t'ensombre ) sobre ti ao ceú livre é rota a abóbada ...
( para que nada seja visto acima dele senão as estrelas, tem o telhado do templo sua pequena abertura, exiguum foramen ) .

É Numa que constrói este templo e Plutarco em sua Vida de Numa completa a referência sobre este lugar único. Primeiro na consagração mesma de Numa que desde já teria sido educado junto com Pitágoras na Itália de então além de ser casado com a Ninfa Egéria e venerar as Musas em particular Tácita, o silêncio. Comecemos pelo parágrafo VI e depois passemos para o XIV :

VI. Logo que chegaram na praça, o que naquele tempo era por turno inter-Rei, Espurio Necio,deu aos cidadãos os cálculos para votar e todos votaram ; trouxeram-lhe então as insígnias reais, porém mandou que se detivessem porque não se dava por satisfeito até receber o reino também das mãos dos deuses. Congregando, pois, aos áugures e aos sacerdotes, subiu ao Capitólio, ao que então os romanos chamavam de colina Tarpeia. Ali o presidente dos áugures, cobrindo-o e virando-o para o Sul e posto de pé diante dele tocava-lhe coma mão a cabeça, fazendo orações ferventes e humildes : e dirigindo a vista a todas as partes, examinava o quê era que pronunciavam os deuses por meio de presságios ou prodígios. Apoderou-se então de toda a praça e seu imenso povo um incrível silêncio, estando todos em grande expectativa e como pendentes do que ia acontecer, até que as aves deram faustos agouros e voaram retas. Vestindo deste modo a púrpura real Numa, desceu da colina para onde estava o povo...

XIV. Depois que regulou os sacerdócios edificou junto ao templo de Vesta o que chamou de Régia, Casa ou Palácio Real e ali passava a maior parte do tempo ocupado nas coisas sagradas ou instruindo os sacerdotes ou entretido com eles nas investigações das coisas tocantes à divindade ... Nas grandes festas e geralmente em todas as procissões sacerdotais, iam certos ministros pela cidade avisando do repouso e que cessasse todo trabalho ; porque assim como se diz dos pitagóricos que não consentiam se adorasse ou orasse aos deuses de passagem, senão indo de casa preparados e dispostos, da mesma maneira cria Numa que os cidadãos não deviam ouvir ou ver de passagem e sem propósito nada do pertencente à religião mas desembaraçados de outro cuidado e aplicando seus sentidos, como na obra principal, maior, a que tinha por objeto a piedade ; para o quê se preparava as ruas de modo que estivessem livres de ruídos, alvoroços e vozes que costumavam acompanhar os trabalhos indispensáveis e manuais. Conserva-se ainda hoje certo vestígio quando no momento que o cônsul se ocupa em entender as aves ou em sacrificar, gritam os ministros : hoc age ; expressão que significa faz o quê fazes e com ela se excita atenção e a compostura aos que estão presentes.
( em tradução livre : agora ages )

Ovídio em suas Metamorfoses fala de Egéria esposa de Numa e de como ao morrer transforma-se em um rio ao mesmo tempo que da terra levanta-se, forma-se, um corpo humano que passa a andar e pronunciar presságios : seria Tagete o primeiro a ensinar o povo etrusco a adivinhar os acontecimentos futuros. Tanto Ovídio quanto Plutarco são unânimes em aproximar Numa e Pitágoras ( o quê o primeiro foi na política o segundo foi na filosofia ) : o vegetarianismo, a transmigração d'alma, a constituição de ordem religiosa ( com postulado, noviciado, silêncio, voto de pobreza, passagem para a classe dos esotéricos, ascese, contemplação, as diferentes classes de discípulo, morte simbólica e a leitura comum ), os sacrifícios incruentos, a ausência de estátuas ( elas surgiram depois )na representação dos deuses, a ideia de Deus invisível, juntam o Para-Sol branco oriental e o templo romano.

Ananda Coomaraswamy aproxima ainda a mesma imagem de um domo com abertura, do foramen do crânio humano com sua sutura nomeado brahmarandhra : no Evangelho o camelo que passa pelo buraco /olho da agulha revelaria este mesmo corpo cósmico de Deus. Não à toa depois que este mesmo templo romano é destruído pelos galos no séc IV a. C. , ao reconstruí-lo encontram um crânio humano e o fogo de Vesta.
Aqui cabe lembrar que em Takkasila ( Taxila ) falava-se o grego fluentemente na antiguidade a.C : Oriente e Ocidente juntos desde sempre.

 Este artigo encontra-se em Plutarco Védico, isbn 978-85-906438-0-7 ] 






Um comentário:

ze disse...


Cabe lembrar aqui a fórmula na Regra de s. Bento : tacita mentis, mente silenciosa, já que nela canta-se todo dia. Seria um cessar o diálogo interno diria d. Juan.