Pintura de Ajanta, Índia
[ n. do tr. : É dito claramente nesta história de Mah' Osadha no jataka 350 quando da solução dos enigmas :
“Assim
ele tornou clara a resposta, como se fizesse o sol elevar-se no céu
; e escutando isto, a deusa mostrou metade de seu corpo na abertura
do para-Sol e disse com voz doce, 'A questão está bem
resolvida !' Ela então presenteou o Grande Ser com uma caixa
preciosa cheia de perfumes e flores divinas e desapareceu.”
Esta
aparição na abertura do para-Sol repete-se na resolução
dos outros três enigmas. É a deusa mesma que quer Osadha
de volta à corte como vimos no jataka 364. Ao mesmo tempo as
respostas dos enigmas são dadas debaixo do parassol. Como
entender tudo isso ?
Ananda
Coomaraswamy mais uma vez nos ajuda em seu artigo 'O simbolismo do
domo' – é a mesma abertura no alto de construções
com domo. Na realidade Coomaraswamy não se refere a este
jataka mas a outros dois o de número 181 e o de número
522, onde Bodhisatva Asadisa e Bodhisatva Jotipala respectivamente,
devem com seus arcos e flechas atingir igualmente este ponto central
no alto, como um alvo. E ele lembra justamente, por incrível
que pareça, o mesmo templo do Capitólio em Roma antiga
que já nos referimos e que também tinha esta mesma
abertura e debaixo da qual os presságios e enigmas eram
pronunciados assim como suas respostas. Vejamos Ovídio em
Fastos,
II, 667 falando deste templo de Termino ( o limite, a beira, entre
dois mundos, que separando e unindo vizinhos era representado por todo
lado ):
Quer
tosca pedra, ó Término, te embleme ; quer tronco
informe, pela mão de antigos enterrado no chão, sempre
és deidade. ( segue encontro e bródio ( lanche ) dos
vizinhos que nas fronteiras se encontravam e libavam tudo às
chamas ). Salve ó Termino sacro ! Ó tu que extremas
bairros, cidades, reinos ! Cada campo fora sem ti um campo de
batalha. Manténs, desambicioso, insubornável, as
herdades em paz das leis à sombra ...
Capitolino
Júpiter que o diga que invencível te achou quando, ao
fundar-se-lhe a área do templo, ao passo que os outros numes
para dar-lhe lugar retrocediam, tu só, qual no-lo conta anosa
fama, ousaste resistir, ficar, ter parte no templo sublime com
adorações a Jove ; e inda lá ( porque nada alfim
t'ensombre ) sobre ti ao ceú livre é rota a abóbada
...
(
para que nada seja visto acima dele senão as estrelas, tem o
telhado do templo sua pequena abertura, exiguum
foramen
) .
É
Numa que constrói este templo e Plutarco em sua Vida
de Numa
completa a referência sobre este lugar único. Primeiro
na consagração mesma de Numa que desde já teria
sido educado junto com Pitágoras na Itália de então
além de ser casado com a Ninfa Egéria e venerar as
Musas em particular Tácita, o silêncio. Comecemos pelo
parágrafo VI e depois passemos para o XIV :
VI.
Logo que chegaram na praça, o que naquele tempo era por turno
inter-Rei, Espurio Necio,deu aos cidadãos os cálculos
para votar e todos votaram ; trouxeram-lhe então as insígnias
reais, porém mandou que se detivessem porque não se
dava por satisfeito até receber o reino também das mãos
dos deuses. Congregando, pois, aos áugures e aos sacerdotes,
subiu ao Capitólio, ao que então os romanos chamavam de
colina Tarpeia. Ali o presidente dos áugures, cobrindo-o e
virando-o para o Sul e posto de pé diante dele tocava-lhe coma
mão a cabeça, fazendo orações ferventes e
humildes : e dirigindo a vista a todas as partes, examinava o quê
era que pronunciavam os deuses por meio de presságios ou
prodígios. Apoderou-se então de toda a praça e
seu imenso povo um incrível silêncio, estando todos em
grande expectativa e como pendentes do que ia acontecer, até
que as aves deram faustos agouros e voaram retas. Vestindo deste modo
a púrpura real Numa, desceu da colina para onde estava o
povo...
XIV.
Depois que regulou os sacerdócios edificou junto ao templo
de Vesta o que chamou de Régia, Casa ou Palácio Real e
ali passava a maior parte do tempo ocupado nas coisas sagradas ou
instruindo os sacerdotes ou entretido com eles nas investigações
das coisas tocantes à divindade ... Nas grandes festas e
geralmente em todas as procissões sacerdotais, iam certos
ministros pela cidade avisando do repouso e que cessasse todo
trabalho ; porque assim como se diz dos pitagóricos que não
consentiam se adorasse ou orasse aos deuses de passagem, senão
indo de casa preparados e dispostos, da mesma maneira cria Numa que
os cidadãos não deviam ouvir ou ver de passagem e sem
propósito nada do pertencente à religião mas
desembaraçados de outro cuidado e aplicando seus sentidos,
como na obra principal, maior, a que tinha por objeto a piedade ;
para o quê se preparava as ruas de modo que estivessem livres
de ruídos, alvoroços e vozes que costumavam acompanhar
os trabalhos indispensáveis e manuais. Conserva-se ainda hoje
certo vestígio quando no momento que o cônsul se ocupa
em entender as aves ou em sacrificar, gritam os ministros : hoc
age
; expressão que significa faz o quê fazes e com ela se
excita atenção e a compostura aos que estão
presentes.
(
em tradução livre : agora ages )
Ovídio
em suas Metamorfoses
fala de Egéria esposa de Numa e de como ao morrer
transforma-se em um rio ao mesmo tempo que da terra levanta-se,
forma-se, um corpo humano que passa a andar e pronunciar presságios
: seria Tagete o primeiro a ensinar o povo etrusco a adivinhar os
acontecimentos futuros. Tanto Ovídio quanto Plutarco são
unânimes em aproximar Numa e Pitágoras ( o quê o
primeiro foi na política o segundo foi na filosofia ) : o
vegetarianismo, a transmigração d'alma, a constituição
de ordem religiosa ( com postulado, noviciado, silêncio, voto
de pobreza, passagem para a classe dos esotéricos, ascese,
contemplação, as diferentes classes de discípulo,
morte simbólica e a leitura comum ), os sacrifícios
incruentos, a ausência de estátuas ( elas surgiram
depois )na representação dos deuses, a ideia de Deus
invisível, juntam o Para-Sol branco oriental e o templo
romano.
Ananda
Coomaraswamy aproxima ainda a mesma imagem de um domo com abertura,
do foramen do crânio humano com sua sutura nomeado
brahmarandhra : no Evangelho o camelo que passa pelo buraco /olho da
agulha revelaria este mesmo corpo cósmico de Deus. Não
à toa depois que este mesmo templo romano é destruído
pelos galos no séc IV a. C. , ao reconstruí-lo
encontram um crânio humano e o fogo de Vesta.
Aqui
cabe lembrar que em Takkasila ( Taxila ) falava-se o grego
fluentemente na antiguidade a.C : Oriente e Ocidente juntos desde
sempre.
Este artigo encontra-se em Plutarco Védico, isbn 978-85-906438-0-7 ]
Este artigo encontra-se em Plutarco Védico, isbn 978-85-906438-0-7 ]
Um comentário:
Cabe lembrar aqui a fórmula na Regra de s. Bento : tacita mentis, mente silenciosa, já que nela canta-se todo dia. Seria um cessar o diálogo interno diria d. Juan.
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