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O encontro da imagem de Ajanta, Índia, com seu texto nos Jatakas
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“Ó Patala, pelo Ganges...etc.” - Esta história o Mestre contou quando morava em Jetavana relativa a um certo menino. Ele era, dizem, filho de um dono de casa em Savatthi, com apenas sete anos de idade, e hábil em reconhecer pegadas. Bem, seu pai querendo testá-lo foi sem ele saber para a casa de um amigo. O garoto, sem perguntar onde seu pai havia ido, rastreando suas pegadas, veio e ficou diante dele. Então o pai perguntou um dia, “ Quando eu sai sem te dizer, como você soube onde eu havia ido ?” “Meu querido pai, reconheci tuas pegadas. Sou hábil nisto.” Então o pai, para prová-lo, saiu de casa após o café da manhã e indo para a casado vizinho, dela passou para outra e desta terceira casa novamente retornou para a sua e depois foi para o portão Norte e saindo por ele circundou a cidade da direita para a esquerda. E indo para Jetavana ele saudou o Mestre e sentou para escutar a Lei. O menino perguntou onde seu pai estava e quando disseram, “Não sabemos”, rastreando as pegadas do seu pai, começando pela casa do vizinho fez o mesmo caminho que seu pai fizera para Jetavana e após saudar o Mestre, permaneceu na presença de seu pai e quando questionado por ele como soube que ele estava ali, disse, “Rastreei tuas pegadas e segui tua trilha até aqui.” O Mestre perguntou, “Irmão Leigo, o quê dizes ?” Ele respondeu, “Vossa Reverência, este garoto é hábil no conhecimento de rastros. Para testá-lo vim para cá de tal e tal modo. Não me encontrando em casa, seguindo minhas pegadas, ele chegou aqui.” “Não há nenhuma maravilha,” disse o Mestre, “em reconhecer pegadas no chão. Sábios antigos reconheciam pegadas no ar,” e sendo questionado, ele contou uma história do passado.
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Certa vez no reinado de Brahmadatra, rei de Benares ( Varanasi ), sua rainha após cair em pecado foi questionada pelo rei e tomando juramento ela disse, “Se pequei contra ti, me tornarei uma Yaksha fêmea com a face como de égua.” Após sua morte ela se tornou uma Yaksha com face de égua e morava em uma caverna de pedra numa vasta floresta aos pés de uma montanha, e costumava pegar e devorar as pessoas que frequentavam a estrada que levava do Leste para a fronteira Oeste. Após servir Vessavana ( o senhor dos Yakshas ) por três anos, é dito que ela teve licença para comer pessoas em uma certa área com trinta léguas de comprimento e cinco léguas de largura. Bem, um dia um rico, saudável e belo brahmin, acompanhado por um largo séquito, subia aquela estrada. A Yaksha, vendo-o, com um alto riso investiu contra ele e todos os seus ajudantes fugiram. Com a velocidade do vento ela pegou o brahmin e o jogou em suas costas e entrando na gruta, através do contacto com o homem, sob a influência da paixão ela concebeu afeição pelo brahmin e ao invés de devorá-lo fez dele seu marido e eles viveram harmoniosamente juntos. E daí em diante a Yaksha onde quer que capturasse pessoas, também pegava as roupas, arroz, óleo e semelhantes e servindo-o com variadas comidas ela mesma comia a carne da pessoa. E sempre que ela saía, com medo dele escapar, ela fechava a entrada da caverna com uma pedra pesada antes de partir. E enquanto eles estavam assim vivendo amigavelmente juntos, o Bodhisatva passando de sua existência anterior foi concebido no útero da Yaksha pelo brahmin. Após dez meses ela deu a luz a um filho e cheia de amor pelo brahmin e seu filho, ela alimentava-os. Logo, quando o garoto estava crescido, ela colocava-o também dentro da caverna com seu pai e fechava a porta. Bem, um dia o Bodhisatva sabendo que ela havia saído removeu a pedra e deixou seu pai sair. E quando ela perguntou na sua volta quem removera a pedra, ele disse, “Eu removi, mãe : não podemos ficar sentados na escuridão.” E por amor à sua criança ela não disse outra palavra. Bem, um dia o Bodhisatva questionou seu pai dizendo, “Querido pai, tua boca é diferente da da mamãe ; qual a razão ?” “Meu filho, tua mãe é uma Yaksha e vive de carne humana mas você e eu somos pessoas.” “Se é assim, por quê vivemos aqui ? Venha, iremos para os lugares das pessoas.” “Meu caro garoto, se tentarmos escapar tua mãe nos matará.” O Bodhistava tranquilizou seu pai e disse, “Nada temas, querido pai ; que você retorne ao mundo das pessoas será meu encargo.” E dia seginte quando sua mãe havia saído, ele pegou o pai e fugiu. Quando a Yaksha retornou e não os viu, correu com a velocidade do vento e os pegou e disse, “Ó brahmin, por quê foges ? Há algo que queiras aqui ?” “Minha querida,” ele disse, “não fique irada comigo. Teu filho me levou embora com ele.” E sem outra palavra, devido a seu amor pelo filho, ela os confortou e retornando para sua residência, ela os trouxe de volta após um vôo de alguns dias. O Bodhisatva pensou, “Minha mãe deve ter uma esfera limitada de ação. Suponhamos que eu pergunte a ela os limites espaciais sobre os quais a autoridade dela se estende. Depois eu escaparia ultrapassando-os.” Então um dia sentado respeitosamente ao lado de sua mãe ele disse, “Querida mãe, aquilo que pertence a mãe é herdado pelos filhos ; diga-me agora qual os limites de nosso território.” Ela disse a ele todos os limites, montanhas e semelhantes em todas as direções e apontou para seu filho todo o espaço, trinta léguas em extensão e cinco léguas em largura e disse, “Considere este tanto, meu filho.” Após um lapso de dois ou três dias, quando sua mãe tinha ido para a floresta, colocou seu pai nos ombros e correndo com a velocidade do vento, com as indicações dadas por sua mãe, alcançou a margem de um rio que era o limite. A mãe também, quando retornando sente falta deles, persegue-os. O Bodhisatva carregava seu pai no meio do rio e ela veio e ficou na margem e quando ela viu que eles haviam ultrapassado os limites de sua esfera de ação, ela parou onde estava e gritou, “Meu querido filho, venha para cá com teu pai. Em que os ofendi ? Em que aspectos as coisas não estão boas para vocês ? Volte meu senhor. “ Assim ela implorava e suplicava ao filho e ao marido. Então o brahmin atravessou o rio ( de volta ). Ela pediu a seu filho também e disse, “Querido filho, não haja deste modo : volte para cá.” “Mãe, somos pessoas : você é uma Yaksha. Não podemos morar para sempre contigo.” “E você não voltará ?” “Não, mãe.” “Então se você se recusa a voltar – já que é doloroso viver no mundo das pessoas e aqueles que não têm nenhum ofício não vivem – sou hábil no 'lore' ( conhecimento, como em folk-lore ) da pedra filosofal : com o poder dela, podes seguir em um intervalo de doze anos os passos de alguém que partiu. Isto se mostrará um meio de vida para ti. Pegue meu filho este encanto, charm, inestimável.” E apesar de tomada de tristeza, devido ao amor por seu filho, ela deu a ele o encanto. O Bodhisatva, ainda em pé no rio, dobrou suas mãos no modo tartaruga e pegou o encanto e saudando sua mãe gritou, “Adeus, mãe.” A Yaksha disse, “Se você não volta, meu filho, não posso viver,” e então ela bateu no próprio peito e direto triste por seu filho seu coração quebrou, parou e ela caiu morta no chão. O Bodhisatva, quando entendeu que sua mãe estava morta, chamou seu pai e foram e fizeram uma pilha funeral e queimaram o corpo. Após as chamas apagarem ele fez ofertas de várias flores coloridas e com lamentações e choros voltou com seu pai para Benares.
Foi dito ao rei, “Um jovem hábil em rastrear pegadas está na porta.” E quando o rei mandou ele entrar ele entrou e saudou o rei. “Meu amigo,” ele disse, “sabes algum ofício ?” “Meu senhor, seguindo os rastros de alguém que furtou uma propriedade qualquer doze anos atrás, posso pegá-lo.” “Então entre a meu serviço,” disse o rei. “Servirei o Senhor por mil dinheiros ao dia.” “Muito bem, meu amigo, me servirás.” E o rei fez com que se lhe pagasse mil dinheiros por dia. Bem, um dia o capelão da família disse ao rei, “Meu senhor, porque este jovem nada faz com o poder de sua arte , não sabemos se tem alguma habilidade ou não : vamos testá-lo agora.” O rei prontamente consentiu. E os dois fizeram saber aos guardiães dos vários tesouros e tirando as jóias mais valiosas desceram do terraço e depois de tatear o caminho três vezes ao redor do palácio, colocaram uma escada no alto da parede e desceram para fora do muro. Depois entraram no Salão da Justiça e após sentarem lá voltaram e novamente colocando a escada no muro desceram por ele para a cidade ( mercado ). Chegando na borda de um tanque, o rodearam três vezes solenemente e então largaram o tesouro dentro do tanque e subiram de volta para o terraço. Dia seguinte houve um tumulto e as pessoas diziam,“Tesouro do palácio foi roubado.” O rei fingindo ignorância chamou o Bodhisatva e disse, “Amigo, um tesouro muito valioso foi roubado do palácio : devemos rastreá-lo.” “Meu senhor, para alguém hábil de seguir rastros de roubos e recuperar tesouros furtados de doze anos atrás, nada há de maravilhoso em recuperar propriedade furtada após uma única noite e dia. Vou recuperá-lo não se preocupe.” “Então recupere-o amigo.” “Muito bem, meu senhor,” ele disse e em seguida saudando a memória de sua mãe repetiu o encanto e ainda em pé no terraço disse, “Meu senhor, os passos dos dois ladrões são vistos.” E seguindo os passos do rei e do sacerdote ele entrou nos aposentos reais e saindo de lá desceu do terraço e depois de três vezes circundar o palácio aproximou-se do muro. Em pé nele disse, “Meu senhor, começando neste lugar a partir do muro vejo pegadas no ar : tragam-me uma escada.” E tendo colocado uma escada contra o muro , ele desceu por ela, e ainda seguindo os rastros chegou no Salão da Justiça. Então retornando para o palácio colocou a escada contra o muro e desceu por ela para o tanque. Após rodeá-lo andando por três vezes ele disse, “Meu senhor, os ladrões desceram o tanque,” e retirando o tesouro, como se houvera ele mesmo depositado, deu-o ao rei e disse, “Meu senhor, estes dois ladrões são pessoas distintas : através deste caminho eles subiram para o palácio.” O povo estalava os dedos em alto estado de alegria e houve uma grande agitação de panos. O rei pensou, “Este jovem, parece-me, seguindo as pegadas sabe o lugar onde os ladrões colocaram o tesouro mas os ladrões ele não pode pegar.” Então ele disse, “Você logo nos trouxe a propriedade furtada mas será capaz de pegar os ladrões e trazê-los até nós ?” “Meu senhor, os ladrões estão aqui : não estão distantes.” “Quem são eles ?” “Grande rei, quem quiser ser o ladrão pode ser. A partir do momento que recuperaste o tesouro, por quê queres os ladrões ? Não me perguntes sobre isto.” “Amigo, te pago mil dinheiros por dia : traga-me os ladrões.” “Senhor, quando o tesouro está já recuperado para que os ladrões ?” “Para nós, amigo, é melhor pegar os ladrões do que o tesouro.” “Então, senhor, não te direi, 'tal e tal são os ladrões' mas te direi algo que aconteceu muito tempo atrás. Se és sábio, saberás o quê significa.” E com isto ele contou um conto antigo.
Certa vez, senhor, um certo dançarino chamado Patala vivia não longe de Benares, Varanasi numa cidade à margem do rio. Um dia ele entrou em Benares com sua esposa e após ganhar dinheiro cantando e dançando nofinal da festa ele procurou um pouco de arroz e bebida forte. No caminho para sua cidade chegou à amrgem do rio e sentou contemplando o refrescante fluxo da corrente para beber sua bebida forte. Quando estava bêbado e inconsciente de sua fraqueza, disse, “Amarrarei meu grande violão no pescoço e descerei para dentro do rio.” E ele pegando sua esposa pela mão entrou no rio. Àgua entrou no bojo do violão e o peso o fez começar àfundar. Quando sua esposa o viu se afogando, o largou no rio e ficou na margem. O dançarino Patala emergia e submergia e sua barriga inchou d'água engulida. A esposa então pensou , “Meu marido morrerá : pedirei a ele uma música e cantando-a no meio do povo ganharei minha vida.” E dizendo, “Meu senhor, afundas n'água : dê-me apenas uma música e ganharei a vida com ela.” , ela falou a estrofe :
Ó Patala, pelo Ganges levado,
Famoso e hábil em dança de roda e canto de ave,
Patala, viva ! Enquanto és carregado,
Cante-me, prego, de música um pedaço.
Então o dançarino Patala disse, “Minha querida, como te darei um pedaço de música ? Àgua que é a salvação do povo está me matando ,” e falou a estrofe :
Onde se aspergem as almas oprimidas com dor
Morro direto. O refúgio se mostra minha perdição.
O Bodhisatva explicando a estrofe disse : “Senhor, assim como àgua é o refúgio do povo também o são os reis. Se perigo surgem deles, quem evitaria tal perigo ? Este, senhor, é um assunto secreto. Contei uma história inteligível ao sábio: entenda-a, senhor.” “Amigo, não entendo história esotérica como esta. Pegue os ladrões e tragam-los para mim.” Então o Bodhisatva disse, “Escute então senhor, e entenda.” E ele contou então outro conto.
“Meu senhor, anteriormente em uma vila do lado de fora da cidade de Benares, um oleiro usava pegar argila para sua olaria e constantemente a pegando no mesmo lugar, cavou um poço fundo dentro de uma gruta de montanha. Bem, um dia enquanto ele estava pegando argila, uma tempestade fora de época se espalhou e deixou cair chuva pesada e a inundação subiu e derrubou um dos lados do poço e quebrou a cabeça do oleiro. Lamentando-se em voz alta ele falou esta estrofe :
Aquela que faz as sementes crescerem, sustentando as pessoas,
Esmagou minha cabeça. O refúgio se mostra minha perdição.
“Pois assim como a poderosa terra, senhor, que é refúgio do povo, quebrou a cabeça do oleiro, do mesmo modo quando um rei, que como a poderosa terra é o refúgio de todo mundo, levanta-se e finge de ladrão, quem pode evitar o perigo ? Podes, senhor, reconhecer o ladrão escondido debaixo desta história ?” “Amigo, não queremos sentidos obscuros. Diga, 'Aqui está o ladrão' e e pegue-o e me entregue.”
Ainda protegendo o rei e sem dizer em palavras, 'És tu o ladrão', ele contou ainda outra história.
Nesta mesma cidade, senhor, a casa de um certo homem estava em chamas. Ele ordenou que outra pessoa entrasse na casa e trouxesse para fora sua propriedade. Quando este último estava dentro da casa e trazia os bens para fora, a porta fechou. Cego com a fumaça e incapaz de encontrar a saída e atormentado com o fogo que se espalhava, ele permaneceu dentro se lamentando e falou esta estrofe :
Aquele que destrói o frio e tosta os grãos,
Consome meus membros. O refúgio se mostra minha perdição.
“Um homem, ó rei, que como o fogo foi o refúgio do povo, roubou as jóias. Não me pergunte sobre o ladrão.” “Amigo, apenas me traga o ladrão.” Sem falar ao rei que ele era o ladrão, contou ainda outra história.
Certa vez, senhor, nesta mesma cidade um homem comeu em excesso e foi incapaz de digerir a comida. Louco de dor e lamentando falou esta estrofe :
Comida que sustenta a vida de incontáveis brahmins
Me mata direto. O refúgio se mostra minha perdição.
“Alguém, que como o arroz, senhor, foi o refúgio do povo, roubou a propriedade. Quando esta é recuperada, por quê perguntar sobre o ladrão ?” “Amigo, se podes, traga-me o ladrão.” Para fazer o rei compreender ele contou ainda outra história.
Anteriormente, senhor, nesta mesma cidade um vento soprou e quebrou os membros de um homem. Lamentando ele falou esta estrofe :
Vento que em Junho sábios rezando ganhariam,
Quebraram meus membros. O refúgio se mostra minha perdição.
“Assim, senhor, o perigo surgiu do refúgio. Entenda esta história.” “Amigo, traga-me o ladrão.” Para fazer o rei entender ele contou ainda outra história.
Certa vez, senhor, junto aos Himalaias crescia uma árvore com ramos bifurcados, moradia de pássaros incontáveis. Dois destes galhos esfregavam-se um no outro. E daí surgiu fumaça e fagulhas de fogo caiam. Vendo isto o chefe dos pássaros pronunciou esta estrofe :
Chamas surgem d'árvore onde descansamos :
Espalhem-se, pássaros. O refúgio se mostra nossa perdição.
“Pois justo como, senhor, àrvore é o refúgio dos pássaros, do mesmo modo o rei é o refúgio do seu povo. Se ele finge ser ladrão, quem evitará o perigo ? Note isto, senhor.” “Amigo, apenas me traga o ladrão.” Então ele contou ao rei mais uma história.
Em uma vila de Benares, senhor, no lado oeste da casa de um nobre havia um rio cheio de crocodilos selvagens e nesta família havia um único filho, que com a morte do pai cuidava da mãe. Sua mãe contra sua vontade trouxe para casa uma filha de nobre para ser esposa dele. No começo ele mostrou afeição pela sogra mas depois quando abençoada com numerosos filhos e filhas dela mesma, passou a querer se livrar dela. Sua própria mãe vivia na mesma casa. Na presença de seu marido procurava todo tipo de falta na sogra para colocá-lo contra ela,dizendo, “Não consigo suportar mais tua mãe: você tem que matar ela.” E quando ele respondia, “Matar é um assunto sério : como posso matá-la ?” ela dizia, “Quando ela dormir nós a pegamos com cama e tudo a a atiramos aos crocodilos no rio. Os crocodilos então darão fim nela.” “E onde está tua mãe ?” ele disse. “Ela dorme no mesmo quarto que tua mãe.” “Então vá e coloque uma marca na cama em que ela está deitada, amarrando uma corda.” Ela fez isto e disse, “Coloquei uma marca na cama.” O marido disse, “Espere um tempo ; deixe as pessoas irem para a cama primeiro.” E ele deitou fingindo que tinha ido dormir e e depois foi e amarrou uma corda na cama da sogra dele. Depois acordou a esposa e eles juntos a levantaram, com cama e tudo, e a atiraram no rio. Os crocodilos então a mataram e a comeram. Dia seguinte ela se deu conta do que aconteceu com sua própria mãe e disse, “Meu senhor, minha mãe está morta, agora vamos matar a sua.” “Muito bem então,” ele disse, “faremos uma pilha fúnebre no cemitério e a jogaremos no fogo e a matamos.” Então o marido e a esposa a levaram enquanto ela dormia para o cemitério e a deixaram lá. O marido disse então para a esposa, “Você trouxe fogo ?” “Esqueci m meu senhor.” “Então vá e pegue.” “Não tenho coragem, senhor, e se você for não ficarei aqui sozinha : vou junto.” Quando eles já tinha ido, a velha senhora acordou com o vento frio e descobrindo-se no cemitério, ela pensou, “Eles querem me matar : foram pegar fogo. Não sabem como sou forte.” E ela colocou um cadáver na cama e cobriu com uma roupa e correu e se escondeu numa caverna na montanha naquele mesmo lugar. O marido e a esposa trouxeram fogo e acreditando que o cadáver era da velha o queimaram e foram embora. Um certo ladrão havia deixado seu saque nesta caverna na montanha e voltando para pegá-lo ele viu a velha mulher e pensou, “Esta deve ser uma Yaksha : meu saque foi tomado por duendes,” e ele foi buscar um exorcista. O médico pronunciou um encantamento e entrou na gruta. Então ela disse a ele, “Não sou uma Yaksha : venha vamos gozar deste tesouro juntos.” “Como posso crer nisto ?” “Coloque tua língua na minha língua.” ele fez isto e ela mordeu um pedaço da língua dele e a deixou cair no chão. O médico exorcista pensou, “Esta é certamente uma Yaksha,” e ele gritou e saiu correndo com o sangue pingando da língua. Dia seguinte a velha mulher colocou roupa limpa e pegou o o pacote com o saque contendo todo tipo de jóias e foi para casa. A nora vendo-a perguntou, “Onde, mãe, conseguiste isto ?” “Minha querida, todos que são queimados em pilha de madeira neste cemitério recebeu a mesma coisa.” “Minha querida mãe, também posso conseguir isto ?” “Se se tornares como eu, receberás.” Então sem dizer uma palavra a seu marido, em seu desejo por muitos ornamentos para vestir, ela foi lá e queimou-se a si mesma. Seu marido dia seguinte sentiu falta dela e disse, “Querida mãe, nesta hora do dia e sua nora ainda não veio ?” Então ela o censurou dizendo, “Uuu ! És mau, como podem os mortos voltar ?” E ela pronunciou esta estrofe :
Uma donzela bonita, com guirlanda na cabeça,
Fragrante de óleo de sândalo, por mim foi levada
Uma noiva feliz para dentro da minha casa a reinar :
Ela levou-me para fora. O refúgio se mostrou minha perdição.
“Como a nora, senhor, está para a sogra, do mesmo modo o rei é refúgio para seu povo. Se perigo surge então que pode alguém fazer ? Note isto senhor.” “Amigo, não entendo as coisas que tu me dizes : apenas me traga o ladrão.” Ele pensou, “Protegerei o rei,” e ele contou ainda outra história.
Antigamente, senhor, nesta mesma cidade um homem em resposta a suas preces teve um filho. Com o seu nascimento o pai estava cheio de alegria e felicidade com o pensamento de ter tido um filho e o agradava. Quando o garoto estava crescido, o casou com uma esposa e logo ele mesmo estava velho e não podia mais trabalhar. Então seu filho disse, “Você não pode mais trabalhar : deves ir para outro lugar,” e o levou para fora de casa. Com grande dificuldade ele se manteve vivo com esmolas e lamentando pronunciou esta estrofe :
Aquele por cujo nascimento ansiei, e não esperei em vão,
Me leva para fora de casa. O refúgio se mostrou minha perdição.
“Justo como um pai de idade, senhor, deve ser cuidado por um filho capacitado,assim também todo o povo deve ser protegido pelo rei e este perigo agora presente surgiu do rei, que é guardião de todas as pessoas. Saiba, senhor, deste fato que o ladrão e tal e tal.” “Não entendo isto, fatos são fatos : ou me traga o ladrão ou você mesmo deve ser o ladrão.” Deste jeito o rei repetidamente questionava o jovem. Então o jovem disse ao rei, “Gostaria,senhor, realmente que o ladrão fosse pego ?” “Sim,amigo.” “Então proclamarei no meio de uma assembléia, tal e tal são os ladrões.” “Faça isto, amigo.” Escutando estas palavras ele pensou, “Este rei não me deixa protegê-lo : então pegarei o ladrão.” E quando o povo se reuniu, ele se dirigiu a eles e falou estas estrofes :
Que o povo da cidade e do campo juntos deem ouvidos,
Olhem ! Àgua está em chamas. Da proteção vem o medo.
O reino saqueado podem bem reclamar do rei e do sacerdote ;
De agora em diante protejam a si mesmos. O refúgio se mostra perdição.
Quando escutaram o quê ele disse, o povo pensou, “O rei, apesar de ter que proteger as pessoas, atira a culpa em outro. Após ter com suas próprias mãos colocado o tesouro no tanque, ele continuou procurando o ladrão. Que no futuro ele não finja mais de ser ladrão, matemos este rei ruim.” E assim se levantaram com porretes e bastões nas mãos e bateram no rei e no sacerdote até morrerem. E ungiram o Bodhisatva e o colocaram no trono.
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O Mestre, após relatar esta história ilustrou as Verdades, dizendo, “Irmão Leigo, não há nada de maravilhoso em reconhecer pegadas no chão : sábios antigos reconheciam-nas nos ares,” e ele identificou o Jataka :- na conclusão das Verdades o Irmão leigo e seu filho atingiram a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele dias o pai era Kassapa e o jovem hábil em pegadas era eu mesmo.”
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