pintura de Ajanta, Índia
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“Quem
te machuca ...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto
residia em Jetavana, como Devadatra seguia querendo matá-lo. Então
o Mestre disse, “Esta não é a primeira vez Irmãos que Devadatra
busca matar-me mas ele fez a mesma coisa antes.” Então ele contou
uma história do passado.
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Certa
vez, no reino Kuru e na cidade de Utttara-pañcala, reinou um rei
cujo nome era Renu. Naquele tempo havia um asceta Maharakkhita que
habitava no Himalaia em companhia de quinhentos outros ascetas.
Enquanto visitava o país para pegar sal e temperos, chegou em
Uttara-pañcala e estabeleceu-se no parque real. Colhendo ofertas com
seu pessoal chegou na porta do rei e o rei vendo os sábios e
agraciado com os modos deles, convidou-os a sentar no magnífico
estrado e deu-lhes comida boa para comer. Ele então pediu que
permanecessem no parque durante a estação das chuvas. Acompanhou-os
até o parque e arranjou os lugares para morar, deu-lhes as coisas
necessárias para a vida religiosa e se despediu deles. Após isto
todos eles passaram a receber a refeição no palácio. Bem, o rei
era sem filhos e desejava filhos mas nenhum filho nascia para ele.
Quando
a estação das chuvas tinha acabado, Maharakkhita disse, “Agora a
região do Himalaia está agradável ; retornemos para lá.’ Então
ele pediu licença ao rei que lhe mostrou todo respeito e bondade e
depois partiu. Durante a viagem, ao meio dia ele deixou a auto
estrada e com seu pessoal sentou na grama macia debaixo da sombra de
uma árvore. Os ascetas começaram a conversar. “Não há um
filho,” diziam, “no palácio para continuar a linhagem real.
Seria uma benção se o rei conseguisse um filho e continuasse a
sucessão.” Maharakkhita escutando a conversa deles, ponderou :
“Terá o rei um filho ou não ?” Ele percebeu que o rei teria um
filho e disse, “Não fiquem ansiosos senhores ; nesta noite,
aurora, um filho dos deuses descerá e será concebido pela rainha
esposado rei. Um asceta shamânico escutou isto e pensou - “Agora
me tornarei íntimo da casa real.” Quando chegou a hora dos ascetas
partirem, ele deitou e fez como se estivesse doente. “Venha,
vamos,” eles disseram. “Não posso,” ele disse. Maharakkhita
entendeu porque o homem ficava deitado. “Siga-nos quando você
puder,” ele disse e com o resto dos sábios seguiu par o Himalaia.
Bem,
o tratante correu de volta tão rápido quanto podia e permanecendo
na porta do palácio enviou mensagem dizendo que um dos ajudantes de
Maharakkhita tinha retornado. Ele foi chamado imediatamente pelo rei
e subindo para o terraço sentou em uma cadeira que lhe mostraram. O
rei saudou-o e sentando em um dos lados questionou sobre a saúde dos
sábios. “Você retornou muito cedo,” ele disse ; “qual a causa
do teu retorno tão rápido ?” “Ó rei poderoso,” ele
respondeu, “quando os sábios estavam todos sentados juntos, eles
começaram a falar como seria grande benção se o rei pudesse ter um
filho e continuar sua linhagem. Quando eu escutei isto, ponderei se o
rei teria um filho ou não ; e por visão divina contemplei um filho
poderoso dos deuses e vi que ele estava já pronto para descer e que
seria concebido pelo sua esposa rainha Sudhamma. Então pensei, se
eles não tomam conhecimento talvez destruam a vida concebida então
devo lhes comunicar ; e assim para te contar a novidade, Ó rei, que
vim. Agora que já falei deixe-me partir novamente.” “Não, não,
amigo,” cotejou o rei, “isto não deve acontecer” ; e altamente
deliciado ele levou o mentiroso para seu parque e designou para ele
um lugar para ficar. Daí em diante ele viveu na corte do rei e
pegava comida lá e seu nome era Dibbacakkhuta, o homem da Divina
Visão.
Então
o Bodhisatva desceu do céu dos Trinta e Três e foi concebido lá ;
e quando nasceu lhe deram o nome de Somanassa Kumara, Príncipe
Delícia e foi criado como um príncipe.
O
falso asceta em um canto do parque costumava plantar vegetais, ervas
e raízes e os vendendo no mercado de ervas & raízes ele juntou
muita riqueza. Quando o Bodhisatva tinha sete anos de idade, houve
uma rebelião na fronteira. O rei saiu para apaziguá-la, deixando o
asceta Dibbacakkhuka encarregado do príncipe, com ordens de não
negligenciá-lo. Um dia o príncipe saiu para ver o asceta. Ele o
encontrou com ambos os mantos amarelos, o de baixo e o de cima,
amarrados no alto, segurando um jarro d’água em cada mão e
aguando as plantas. “Este falso asceta,” ele pensou, “ao invés
de fazer os deveres ascéticos faz trabalho de jardineiro.” Então
perguntou - “O que estás fazendo jardineiro mundano ?” assim o
envergonhou e o deixou sem saudar. “Agora fiz deste sujeito um
inimigo,” pensou o homem. “Quem sabe o quê ele fará ? Devo dar
um fim nele de uma vez.”
Próximo
do tempo em que o rei retornava, este sujeito derrubou seu banco de
pedra para um lado, fez em pedaços seu pote d’água, espalhou
grama por sua cabana, esfregou óleo em todo seu corpo, foi para a
cabana e ficou deitado no catre, enfaixou a cabeça e o resto
também,fazendo como se estivesse em grande sofrimento. O rei
retornou e fez a volta pela cidade no sentido horário. Mas antes de
entrar em sua própria casa foi visitar seu amigo Dibbacakkhuka. De
pé na porta da cabana, ele viu tudo em desordem e entrou cogitando
qual seria o problema. Lá estava o sujeito prostrado. O rei esfregou
os pés dele, repetindo a primeira estrofe :
Quem
te machucou ou te desprezou ?
Por
quê tu sofres amargamente
Os
pais de quem agora devem se lamentar?
Quem
está aqui prostrado no chão ?
Com
isto o impostor levantou-se resmungando e disse a segunda estrofe :
A
ti alegro-me em ver,
Ó
Rei, apesar de ausente longamente !
Teu
filho, que veio até mim,
Fez
este mal sem qualquer provocação minha.
A
ligação com os versos seguintes é clara : eles estão colocados
em devida sucessão.
Alô,
Executores !
Ajudantes,
tomem suas espadas e vão,
Batam
em Príncipe Somanassa até a morte,
Tragam
aqui sua nobre cabeça !
Lá
está o príncipe lamentando,
Suplicando
graça com as mãos juntas :
‘Poupem-me
por enquanto e levem-me
Vivo
para ver o Rei !’
Eles
escutaram seu pedido e para o Rei levaram, os ajudantes, o filho.
Ele
viu de longe o pai e para ele disse :
‘Deixe
que teus homens peguem a espada e matem,
Apenas
me escute antes, peço !
Ó
grande monarca ! Diga-me isto -
O
que fiz de incorreto ?’
O
rei respondeu, “Alto escalão cai bem baixo : teu erro é muito
grande,” e explicou nesta estrofe :
Água
de manhã e à tarde ele carrega,
Cuida
do fogo sem descanso.
Como
ousas chamar este santo homem
Mundano
? Responda se podes !
“Meu
senhor,” disse o príncipe, “se chamo um mundano de mundano, que
erro foi cometido ?!” e repetiu uma estrofe :
Ele
possui árvores e frutos,
E,
meu senhor, todos os tipos de raízes,
Cuida
deles com atenção ininterrupta :
Então
ele é mundano, declaro.
“E
esta é a razão,” ele continuou, “porque chamo a ele mundano. Se
não acredita em mim, enquira no mercado de ervas & raízes nos
quatro portões.” O rei fez o inquérito. Eles disseram, “Sim,
compramos dele vegetais e todo tipo de frutos.” Quando descobriram
seu negócio de produtos verdes, ele contou tudo. O pessoal do
príncipe foi para a cabana do sujeito e descobriram um saco de
rúpias e pequenas moedas, o preço do alimento plantado, que
apresentaram para o rei. Então o rei soube que o Grande Ser era sem
culpa e disse uma estrofe :
Verdade
era que árvores e raízes
Ele
possuía, com muitas frutas,
Cuidando
com atenção incessante,
Mundano,
como tu declaraste.
Então
o Grande Ser pensou, “Enquanto um tolo ignorante como este é da
corte do rei, a melhor coisa para fazer é ir para o Himalaia e
abraçar a vida religiosa. Primeiro proclamarei seu pecado diante da
assembleia aqui reunida e então ho-je mesmo irei e me tornarei
religioso.” Então com uma saudação à assembleia ele gritou,
Escute
Povo enquanto falo,
Povo
do campo e da cidade, todos :
Pelo
conselho deste tolo, o Rei
pessoas
sem culpa para a morte levaria.
Isto
dito, ele pediu licença para partir na estrofe seguinte :
Você
uma árvore forte e espalhada,
Sou
um broto, rebento, fixado em ti,
Aqui
te implorando, curvando baixo,
Licença
para largar o mundo e ir embora !
As
estrofes seguintes dão a conversação entre o rei e seu filho.
Príncipe,
goze de sua própria riquezas
E
ascenda ao trono Kuru.
Não
deixe o mundo, trazendo
Sofrimento
para ti mesmo – seja Rei !
Que
alegria este mundo pode dar ?
Quando
no céu costumava viver
Lá
onde olhares, sons e cheiros,
Gostos
e toques, o coração ama bem !
Alegrias
celestes e ninfas divinas,
Renunciei
ao que antes era meu.
Com
um Rei fraco como tu
Não
vou ficar mais.
Se
sou fraco e tolo, meu filho,
Isto
que fiz antes perdoe-me.
E
se faço o mesmo novamente
Faça
o que queres, não reclamarei.
O
Grande Ser então repetiu oito estrofes, aconselhando o rei.
Um
ato impensado ou feito sem discernimento
Como
o fracasso de um remédio, o resultado deve ser ruim.
Um
ato pensado, em que persegue-se política cuidadosa,
Como
um remédio com sucesso, o resultado deve ser bom.
O
laico laxo sensual detesto
O
falso asceta um tratante confesso ;
Um
Rei ruim decide um caso sem inquérito ;
Cólera
em um sábio nunca justifica-se.
O
príncipe guerreiro pensa cuidadosamente e dá julgamentos bem
pesados :
Quando
Reis seus julgamentos bem ponderam, vive sua fama para sempre.
(
esta estrofe encontra-se também nos jatakas 332 e 351 )
Reis
devem punir com medida cuidadosa :
Coisas
feitas apressadamente arrepende-se eventualmente.
Existem
boas resoluções no coração,
Sem
tardar arrependimento traz sua pontada amarga.
Aqueles
que agem ações que não trazem arrependimento,
Cuidadosamente
pesando cada coisa singular,
Ganha
o que é bom e faz aquilo que satisfaz
O
são, ganha aprovação do sábio.
‘Alô,
executores !’ tu gritaste,
‘Vão,
busquem meu filho e e matem-no onde encontrarem !’
Onde
eu estava do lado de minha mãe
Eles
me encontraram, cruelmente me arrastando embora.
Uma
tenra nutriz, tratada deste jeito,
Senti
dolorosamente o tratamento cruel.
Liberto
de um destino cruel ho-je
Deixarei
o mundo e não viverei mais nele.
Quando
o Grande Ser discursou assim, o rei disse para sua rainha,
Então
meu jovem filho, Sudhamma, me diz não,
Príncipe
Somanassa, delicado e bom.
Agora
já que não consigo ganhar meu objetivo ho-je,
Você
deve ver se consegue mudar a mente dele.
Mas
ela o incentivou a renunciar o mundo nesta estrofe :
Ó,
seja a vida santa teu prazer, filho !
Renuncie
ao mundo, ao correto agarre-se :
Quem
com todas as criaturas não é cruel com nenhuma,
Sem
culpa para o mundo de Brahma irá por fim.
Então
repetiu a estrofe :
Isto
é uma maravilha que escuto de ti,
Empilhando
sofrimento com sofrimento em cima de mim.
Te
pedi para convencer nosso filho a ficar,
Mas
tu o incentivou ainda mais a afastar-se depressa.
Novamente
a rainha repetiu uma estrofe :
Existem
aqueles que livres do pecado e do sofrimento,
Sem
culpa e que atingem a altura do Nirvana :
Se
o príncipe for do nobre caminho deles
Participante,
segurá-lo é vão.
Em
resposta o rei recitou a última estrofe :
Certamente
é bom venerar o sábio,
Em
quem sabedoria profunda e pensamentos elevados surgem.
(
esta linhas ocorrem no Jataka 391 )
A
rainha escutou as palavras deles e aprendeu seu ensinamento,
Ela
não sente mais nem dor nem apego.
O
Grande Ser então saudou seus pais, pedindo-os que o perdoassem se
estivesse errado e com reverente mesura à assembleia dirigiu seu
rosto para o Himalaia. Quando o Povo voltou, ele, com as deidades que
chegaram lá na forma humana, atravessaram as sete cadeias de
montanhas e chegaram no Himalaia. Em uma cabana de folhas feita pelo
arquiteto celeste Vishvakarma ele entrou na vida religiosa e lá ele
foi servido pelas deidades na forma de uma comitiva de príncipe até
seu décimo sexto ano. Mas o asceta mentiroso foi atacado pela
multidão que bateu nele até morrer. O Grande Ser cultivou as
Faculdades do Ênstase e tornou-se destinado a céu de Brahma.
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Este
discurso terminado o Mestre disse, “Assim Irmãos, ele segue
querendo me matar em dias idos como agora,” e então identificou o
Jataka : ‘Naquele tempo Devadatraera o impostor, Mahamaya era a
mãe, Sariputra era Rakkhita e eu mesmo era Príncipe Somanassa.”
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