Plutarco Védico isbn 978-85-906438-0-7
Simão = Vishnu
Simão = Vishnu
Plutarco
em suas Vidas Paralelas é largamente citado pelos historiadores
mostrando o paralelismo indoeuropeu, de imagens, acontecimentos,
fatos, que são ocidentais e orientais, com o ritual do campo de
Kurukshetra repetindo-se vedicamente por todo o mundo. Segue o
paralelismo entre Vishnu e Simão primeiro na excelência e depois na
morte e numa terceira citação em seguida. Por
fim os famosos três passos de Vishnu, o som primordial mesmo com
suas três letras, AUM, OM, tem seu equivalente na vida de Simão.
Os três passos lembram que há um caminho, estrada, via.
Satapatha
Brahmana XIV, 1,1
1.
“Os deuses Agni, Indra, Soma, Makha, Vishnu e Todos os Deuses,
exceto os dois Asvins, realizam uma sessão sacrifical.
2.
O lugar deles para veneração divina era Kurukshetra. Daí o Povo
dizer que Kurukshetra é o lugar dos deuses, de veneração divina :
daí onde quer que em Kurukshetra alguém se estabeleça, pensa,
‘Este é um lugar de veneração divina’; pois foi o lugar dos
deuses para veneração divina.
3.
Eles estavam sentados pensando, ‘Possamos atingir excelência !
Possamos tornar-nos gloriosos ! Possamos tornar-nos comedores de
comida !’ E do mesmo modo as pessoas atualmente sentam pensando, ‘
‘Possamos atingir excelência ! Possamos tornar-nos gloriosos !
Possamos tornar-nos comedores de comida !’
4.
Eles falaram, ‘Quem quer de nós que, através da austeridade,
fervor, fé, sacrifício e oblações, circundar o fim do sacrifício,
será o mais excelente de nós e estará no meio de todos nós.’
‘Assim seja,’ eles disseram.
5.
Vishnu primeiro o atingiu e tornou-se a mais excelente dos deuses ;
daí as pessoas dizerem, ‘Vishnu é o mais excelente dos deuses.’
6.
Agora aquele que é este Vishnu é o sacrifício : e aquele que é
este sacrifício é aditya distante ( o Sol ). Mais, realmente,
Vishnu foi incapaz de controlar aquela glória dele ; e mesmo agora
nem todos controlam sua glória.
7.
Pegando seu arco, junto com três flechas, deu um passo. Permaneceu,
descansando sua cabeça na extremidade do arco. Sem ousarem atacá-lo,
os deuses sentaram ao redor dele.
8.
Então as formigas disseram – estas formigas sem dúvida eram do
tipo upadika ( n. do tr. : isto é, uma certa espécie de formiga que
supõe-se encontra água onde quer que cave. ) - ‘O que daremos
àquele que roer a corda do arco ?’ -’Daremos prazer do alimento
e ele encontraria água mesmo no deserto : assim daremos todo prazer
do alimento.’ - ‘Assim seja,’ elas disseram.
9.
Tendo ido bem para debaixo dele, elas roeram sua corda de arco.
Quando cortou, a extremidade saltando separada, cortou fora a cabeça
de Vishnu.
10.
Ela caiu com ( o som ) ‘ghrin’ ; e caindo tornou-se o Sol
distante. E o resto ( do corpo ) estirado deitado com a parte de cima
para o leste. E porquanto caía com ( o som ) ‘ghrin’, Gharma (
foi chamado ) ; e porque ficou estirado ( pra-vrig ) daí Pravargya (
toma seu nome ) ( n. do tr. : isto é, o gole, copo, de leite quente
)”.
Plutarco,
Vida de Simão ( Cimón )
VIII.
“… pareceu excessiva a honra que se prestou ao nome de Simão,
por que nem Temístocles nem Milcíades alcançaram tanto … por que
então estimavam tanto as façanhas de Simão : não seria por acaso
porque os outros dois caudilhos só trataram de rechaçar os inimigos
para não ser por eles subjugados e debaixo do mando deste puderam
ofendê-los e fazendo-lhes a guerra em seu próprio país adquiriram
possessões e estabeleceram colônias … estabeleceram-se também em
Sciro tomando-a Simão … Sabedor que ali o antigo Teseu, filho de
Egeu, fugindo de Atenas, havia sido traidoramente morto pelo rei
Licomedes, fez diligência para descobrir seu sepulcro, porque tinham
os atenienses um oráculo que mandava se trouxessem para a cidade os
restos de Teseu e o venerassem devidamente como a um herói ; porém
ignoravam onde jazia porque os scirenses não mostravam e não
deixavam averiguar. Encontrando pois então a cova, a força da mais
extraordinária diligência, pôs Simão os ossos em sua nave e,
adornando-lhes com esmero, os conduziu para a cidade depois de uns
oitocentos anos, com o quê lhe estimou ainda mais o Povo. Em memória
deste sucesso se celebrou uma contenda de trágicos que se fez
célebre porque tendo apresentado Sófocles, que ainda era jovem, seu
primeiro ensaio, como o arconte Apsefión, devido a brigas e e
altercações entre os espectadores, não tinha sorteado os juízes
da contenda, quando Simão se apresentou com seus colegas no teatro
para fazer ao deus as libações prescritas pela lei, não os deixou
sair mas tomando-lhes juramento os fez sentar e julgar sendo dez o
número um de cada tribo ; assim esta contenda se fez muito mais
importante pelo dignidade mesma dos juízes. Venceu Sófocles e se
diz que Ésquilo sentiu tanto e o levou com pouco comedimento que
não foi mais muito o tempo que viveu em Atenas, tendo-se mudado, por
aquele desgosto, para a Sicília onde morreu e foi enterrado nas
imediações de Gela”.
XVIII
“… Quando tudo estava arrumado e as tropas já embarcadas, teve
Simão um sonho. Apareceu uma cadela muito furiosa que ladrava para
ele e do ladrido saía uma mistura de voz humana que dizia :
Aproxima-te,
porque hás de ser amigo
meu
e destes meus ternos cachorrinhos.
Sendo
difícil e obscura esta visão, Astífilo de Posidonia, que era
adivinho e muito conhecido de Simão, disse que aquilo significava
sua morte, explicando-lhe desta maneira : O cachorro é o inimigo
daquele a quem ladra e de um inimigo nunca se faz um melhor amigo que
na morte ; a mistura da voz designa um inimigo medo ( da Média ),
porque o exército dos medos se compõe de gregos e bárbaros. Depois
deste sonho, estando ele mesmo sacrificando a Baco, dividiu o
sacerdote a vítima e o sangue coagulado foram levando pouco a pouco
umas formigas e colocando junto ao dedão do pé de Simão, sem que
ele percebesse por algum tempo ; porém, exatamente quando viu, veio
o sacerdote mostrando-lhe o fígado sem cabeça. Contudo não podendo
cancelar a expedição seguiu adiante e enviando sessenta naves ao
Egito navegou com todas as demais. Venceu a armada do rei …
Preparados assim por Simão os princípios de grandes combates e
mantendo-se com sua esquadra nas mediações de Chipre,enviou
mensageiros ao templo de Amon, a inquirir do deus certo oráculo
obscuro ; pois ninguém sabe ao certo para que foram enviados. Nem
tampouco o deus lhes deu oráculo algum mas no momento de
aproximarem-se mandou que regressassem os da consulta pois tinha já
consigo a Simão. Escutando isto os mensageiros baixaram ao mar e
quando chegaram ao campo dos gregos, que estava no Egito, souberam
que Simão estava morto e contando os dias que passaram próximo ao
oráculo reconheceram ter acontecido a morte do caudilho com o dizer
que já estava com os deuses.”
Segue
a comparação : os Asvins são os Gêmeos.
Satapatha
Brahmana XIV, I, 18 s
18.
“Bem, Dadhyañk Atharvana conhecia esta pura essência, este
Sacrifício, - como esta cabeça do Sacrifício é colocada
novamente, como este Sacrifício torna-se completo.
19.
Ele então escutou de Indra, ‘Se você ensinar este ( mistério
sacrifical ) para alguém, cortarei fora tua cabeça.’
20.
Bem, os Asvins escutaram isto, -’Verdadeiramente Dadhyañk
Atharvana conhece esta pura essência, este Sacrifício, - como esta
cabeça do Sacrifício é colocada de novo, como este Sacrifício
torna-se completo.’
21.
Eles foram até ele e disseram, ‘Nós dois vamos nos tornar teus
pupilos.’ -’O que vocês desejam aprender ?’ ele perguntou. -
‘Esta essência pura, este Sacrifício, - como esta cabeça da
Sacrifício é colocada novamente, como este Sacrifício torna-se
completo,’ eles responderam.
22.
Ele disse, ‘Indra me falou dizendo, ‘Se você ensinar isto para
alguém, cortarei fora tua cabeça;’ portanto temo que ele
realmente corte fora minha cabeça : não posso aceitar vocês de
pupilos.’.
23.
Eles disseram, ‘Nós protegemos você dele.’ - ‘Como vocês me
protegeriam ?’ ele respondeu. - Eles disseram, ‘Quando você nos
tiver recebido como pupilos, ós cortaremos fora tua cabeça e
guardamos em algum lugar ; então buscamos uma cabeça de cavalo e a
colocamos em você : como esta você nos ensinará ; e quando você
tiver nos ensinado, então Indra cortará fora aquela cabeça tua ; e
nós buscaremos tua própria cabeça e a colocaremos em você
novamente.’ - ‘Assim seja,’ ele respondeu.
24.
Ele então os recebeu (como seus pupilos ); e quando ele os tinha
recebido, eles cortaram fora a cabeça dele e a guardaram em um lugar
; e buscando a cabeça do cavalo, eles a colocaram nele : com esta
ele os ensinou ; e quando ele os tinha ensinado, Indra cortou fora
aquela cabeça dele ; e tendo buscado sua própria cabeça, eles a
colocaram nele novamente.
25.
Portanto é relativo a isto que o Rishi disse ( Rig V, I, 116,12 ),
‘aquele Dadhyañk Atharvana, com uma cabeça de cavalo, de qualquer
modo transmitiu para vocês dois a doce doutrina :’ -
‘Irrestritamente ele transmitiu isto,’ é o quê isto significa.”
Plutarco,
Vida de Simão
XVI.
“Foi desde o princípio partidário de Lacedemônia e de dois
filhos gêmeos que teve de Clítor, segundo diz Estesímbroto, a um
pôs o nome de Lacedemônio e a outro Eleo, pelo que Péricles muitas
vez lhe jogou na cara sua origem materna ; … Contribuíram muito
com seus adiantamentos os lacedemônios, que já então estavam em
contradição com Péricles e queriam este jovem com mais poder e
autoridade em Atenas. Isto viram ao princípio com gosto os
atenienses, não tirando pouco partido da benevolência dos
lacedemônios para com ele ; porque no começo do seu crescimento e
quando começavam a tomar parte nos assuntos dos outros povos aliados
uns dos outros, não lhes viam mal as honras e obséquios feitos a
Simão, posto que entre os gregos tudo se manejava a seu arbítrio,
sendo afável com os aliados e muito aceito pelos lacedemônios. Mas
depois quando já se fizeram os mais poderosos viram com maus olhos
que Simão permanecesse contudo, não ligeiramente apaixonado pelos
lacedemônios ; porque ele mesmo também celebrando para tudo os
lacedemônios antes dos atenienses, especialmente quando tinha que
repreendera estes ou exitá-los para alguma coisa, tomou o costume,
segundo se refere Estesímbroto, de dizer-lhes : “Poucos são assim
os lacedemônios !” Com o quê granjeou certo ciúme e desprezo de
parte de seus concidadãos. Porém de todas a calúnia mais poderosa
contra ele teve esta origem : No ano quarto do reinado de Arquidamo,
filho de Zeuxidamo, em Esparta, devido a um terremoto maior que todos
aqueles de que antes havia memória, em todo o território dos
lacedemônios se abriram muitas brechas e estremeceu o Taigeto,
alguns de seus montes se aplanaram. A cidade mesma tremeu toda e fora
cinco casas, todas as demais derrubou o terremoto. No pórtico, na
ocasião estava cheio, exercitando-se nele um tempo os moços e
jovens, se diz que pouco antes do tremor apareceu uma lebre e que os
jovens, ungidos como estavam pela moçada, se puseram a correr atrás
dela e a persegui-la e enquanto isso caiu o ginásio sobre os moços
que haviam ficado, morrendo ali todos ; a seu sepulcro ainda se dá
atualmente o nome de Sismatia, devido ao terremoto. Previu logo
Arquidamo o que ia acontecer e vendo que os cidadãos se dedicavam a
recolher de suas casas o mais precioso, mandou que a trombeta fizesse
sinal de que vinham inimigos para que a toda pressa acudissem armados
a sua presença. Isto só foi então o quê salvou Esparta porque de
todos os campos vieram correndo os ilotas para acabar com os que se
salvaram dos espartanos ; porém estando em ordem de batalha se
retiraram para seus povoamentos sendo contudo bem claro que iam
fazer-lhes guerra por terem atraído não poucos vizinhos e vir já
também contra Esparta os messênios. Enviam pois os lacedemônios
para Atenas de embaixador, para pedir auxílio, a Periclidas, de quem
disse comicamente Aristófanes que “sentado diante dos altares,
todo pálido, com uma roupa púrpura, pedia por compaixão um
exército.” Opunha-se Efialtes e com o maior empenho rogava que
se negasse socorro e não se restabelecesse uma cidade rival de
Atenas mas que se a deixasse no solo para ser pisado seu orgulho ;
porém disse Crítias que Simão, antepondo o bem dos lacedemônios
ao crescimento de sua pátria convenceu ao Povo e saiu para
auxiliá-los com muita infantaria. Ion nos conta que a principal
razão com que moveu os atenienses, foi exortá-los a que não
deixassem cocha a Grécia nem que a cidade ficasse sem parelha”.
Antes
de tudo se Simão = Vishnu, Péricles = Indra e Aristides = Agni
Plutarco,
Vida de Péricles
VIII
“… ainda que se diga quedos primores com que adornou a cidade e
outros que de sua autoridade no governo e nos exércitos, lhe veio
que o chamassem Olímpio : bem que nada de estranho havia que todas
estas coisas houvessem contribuído naquele homem insigne a gloriosa
denominação. Mas as comédias contemporâneas lançaram então
muitas vozes sérias ou ridículas contra ele ; de seu modo de falar
mostram haver originado principalmente o tal apelido porque diziam
dele que trovejava, que lançava centelhas e que levava na língua um
raio tremendo quando falava em público”.
Plutarco,
Vida de Aristides
XX.
“Depois destes sucessos não concordavam os atenienses em conceder
a honra de valor aos lacedemônios, nem lhes permitiam levantar
troféus, estando por muito pouco que de repente se arruinasse toda
aquela felicidade dos gregos, estando como estavam sobre as armas,
não fora Aristides, exortando e persuadindo a seus colegas,
especialmente Leócrates e Mirônides, alcançou e obteve deles que
se deixasse a decisão para os outros gregos ( da Anfictionia
delphica cujas pernas , irmãos gêmeos, são as duas cidades maiores
). Deliberando pois estes propôs Teógiton de Megara que a honra de
valor deveria se dar a outra cidade se não se queria que incendiasse
uma guerra civil e como com esta proposta se pôs de pé Cleócrito
de Corinto, logo fez crer que ia pedir o prêmio para os coríntios
porque depois de Esparta e Atenas era Corinto uma da cidades de mais
fama ; mas fez a favor de Platea uma admirável proposta que agrado a
todos porque aconselhou para acabar com a disputa se desse a honra de
valor para os plateenses com cuja preferência ninguém se
incomodaria ; assim foi que prontamente outorgou Aristides para os
atenienses e em seguida Pausanias para os lacedemônios.
Reconciliados deste modo, separaram do botim oitenta talentos para os
de Platea com os quais reedificaram o templo de Minerva, lavraram sua
estátua e adornaram o templo com pinturas que ainda no dia de hoje
se conservam frescas. Levantaram troféus separadamente : de uma
parte os lacedemônios e de outra os atenienses ; porém quanto a
sacrifícios, havendo consultado Apolo Pítio lhes deu em resposta
que construíssem a ara de Júpiter ( Diu-pater ) Libertador e que se
abstivessem de sacrificar até que, apagado o fogo de todo o país,
como contaminado pelos bárbaros, o acendessem puro no altar comum de
Delphos ( a anfictionia delphica propriamente com o nome das 31
cidades escritos na coluna da trípode ). Os magistrados pois dos
gregos enviaram de Povo em Povo, para que todas as casas apagassem os
fogos e em Platea tendo se oferecido Euquidas para ir com toda a
diligência pegar e trazer o fogo de Deus, marchou para Delphos. Lá
lavou o corpo, fez aspersões, corou-se de louros e tomando da ara o
fogo foi correndo para Platea e chegou antes do pôr do Sol, tendo
andado naquele dia mil estádios. Saudou a seus concidadãos e
imediatamente caiu ao solo e daí há pouco expirou. Recolheram os de
Platea seu cadáver e o sepultaram no Templo de Diana Euclia pondo
por inscrição este tetrâmetro
De
Sol a Sol Euquidas correndo
Foi
e veio de Delphos em um mesmo dia.
E
o sobrenome de Euclia dão a Diana porém alguns dizem que Euclia foi
filha de Hércules e Mirtis, filha de Menécio e irmã de Pátroclo
que tendo morrido donzela é tida em veneração pelos beócios e os
larcos porque sua ara e sua estátua se vêm colocadas em todas as
praças e fazem sacrifícios as noivas e noivos”.
O
ritual em Kurukshetra repete-se então.
A
cabeça da Lebre e a cabeça do Cavalo pode se comparar ?
Primeiramente o artigo de Ananda Coomaraswamy, Sobre lebres e sonhos
in ‘What’s civilization ?’, Ed. Golgonooza, Ipswich, 1989,
confirma a hipótese : olhando o Jataka 316 em que a Lebre lança-se
ao fogo do sacrifício em oferta e a frase de Arato, Phainomena,
epígrafe do artigo, que lembra o movimento astronômico das
constelações da Lebre e do Cão : ‘a Lebre a quem o Cão
persegue, numa corrida sem fim’ : ela entra no jardim do hortelão
para pegar a comida da vida mas o cão a vê e corre atrás dela e a
corrida tem seu desfecho na porta estreita em que a lebre perde o
rabo mas escapa em novo nascimento com o alimento sagrado: o mesmo
que no galinheiro a raposa gorda fica presa depois de comer três
dias : ‘estreita é a porta, apertado o caminho.’ Segue um
trecho deste artigo em que Coomaraswamy comenta o livro do dr.
Layard, The lady of the hare, Faber & Faber, London, 1945 :
“
Tivesse Dr. Layard conhecido
o importante trabalho de Karl von Spiess, no ´Die
Hasenjagd´ publicado em
´Marksteine des Volkskunt, i.e. o
Jahrbuch fur historiche Volkskunde, V, VI, Bd. 1937, pp 243 - 267,
ele poderia ter penetrado ainda mais
profundamente o significado da Lebre. Mais especialmente em conexão
com os contrários, os pares de opostos, os quais ele discute nas
páginas 46 a 69 e alude em algum outro lugar. Porque o simbolismo da
Lebre está muito estreitamente relacionado com o das Simplegades1,
um motivo arquetípico que se distribui por todo mundo notadamente
Americano, Céltico e Hindu assim como Grego. Já a muito se
reconhece que as Simplegades, ou as `Rochas que batem´, são os
batentes da Janua Caeli
a Porta do Sol e porta do Mundo do Chandogya
(VIII.6,5,6) e Maitri
(VI.30)
Up.
onde estes portões são uma entrada para o sábio mas uma barreira
para o tolo. Nas palavras de Karl von Spiess, “Além das ´Pedras
que batem´ no Outro mundo está a Maravilha da Beleza, a Planta e a
Água da Vida”, e naquelas de Whitman ‘tudo espera, não sonhado
naquela região, aquela terra inacessível’ uma terra da qual ´não
há retorno´ por qualquer necessidade ou operação de causas
mediatas (ananke, karma)
mas somente como ‘Os que se movem na vontade’ (kamacarin)
.
Os batentes da porta, que também é a auto-operada,
automática Mandíbula da Morte, são os pares de opostos, ou
contrários (enantia, dvandvau)
aos quais nossos gostos nos atrai e dos quais nossos desgostos nos
repele e da tirania de quem o peregrino busca escapar (dvandvair
vimuktah sukhaduhkhair-sanjñai gaccanti padam avyayam, Bhagavad
Gita, XV. 5 ). É destes
contrários, como Nicolas de Cusa disse, que a parede
do Paraíso é construída; quem quer que entre deve passar pelos
batentes do altíssimo espírito da razão (‘Eu sou a porta das
ovelhas; por mim ...’), quer dizer entre as Rochas que Batem, pois
nas palavras dos Upanishads, ‘não há entrada lateral aqui no
mundo’. Daí porque também tantos ritos são realizados ‘dawn
and dusk’ no amanhecer ou no entardecer ‘quando não é nem noite
nem dia’, e por meios que são não descritivos, por exemplo ‘nem
úmido nem seco’. É de fato, deste ponto de vista apenas, que pode
ser entendido porque a palavra Indiana para theosis, deificação
(brahma-bhuti,
literalmente ‘tornando-se Brahma’; no Budismo, sinônimo do
atingir o estado de Buda, o estado de ‘amplamente desperto’) é
também denotação de crepúsculo (samadhi,
literalmente ´síntese´, ou estado de estar ‘em samadhi’).
O perigo de ser esmagado pelos contrários, novamente, é a razão
de carregar-se a noiva pela soleira da nova casa, o Noivo
correspondendo ao Psicopompo que leva a alma através da soleira do
outro mundo onde ambos irão ´viver felizes para sempre´. O caminho
é ´estreito´ realmente justo porque os contrários ´batem´,
fazendo contato imediato e incessante. Por exemplo, se nós
considerarmos os contrários passado e futuro , o caminho repousa
evidentemente através do eterno agora sem duração, um momento do
qual a experiência empírica é impossível e ela ‘não dá tempo’
no qual percebê-la; ou usando símbolos espaciais, o caminho repousa
através do ponto não dimensional que separa todo aqui de lá, e
´não nos deixa lugar´ através do qual passar; ou se os termos são
éticos, então o caminho é um que demanda espontaneidade e
inocência transcendendo o ´conhecimento do bem e mal´ e que não
pode ser definido em termos de valores de virtude e vício que se
aplica a todo comportamento humano. Assim ele somente está
qualificado a passar através do meio do Sol que virtualmente já
passou; logicamente e humanamente falando o caminho é um impasse; e
não é nenhuma maravilha que todas as tradições falem de um deus
Guia, deus Porta e Psicopompo que leva ao caminho e abre as portas
para aqueles que querem voluntariamente seguir.
Em
todas as histórias daquelas, do termo folclórico ´Porta ativa´
seja Esquimó, Céltica ou Grega, encontramos aquela parte, a parte
´de trás´ , ou ´apêndice´ , da pessoa ou veículo, nave ou
cavalo no qual a jornada é feita, é cortado fora é deixado para
trás. Assim, no caso dos heróis Irlandeses, a portícula do Castelo
Doutro mundo , cai tão rapidamente que corta as roupas e as esporas
das costas do cavaleiro e derruba e divide seu cavalo do qual a parte
de trás é perdida e já que o caminho para dentro é ambos o que é
Imortal e Desconhecido , é claro que o que é cortado fora é a
parte mortal do entrante, a pessoa conhecida ou personalidade que
nunca foi, por que sempre foi trocando e nunca conheceu um agora ou
escapado da teia lógica de alternativas polares.”
Henri
Jeanmaire, “Couroi et Courètes,
essai
sur l’education spartiate et sur les rites d’adolescence dans
l’antiquité hellénique”, Lille, France, 1934, também
confirma a tese pois mostra porque o resgate dos ossos de Teseu é a
realização de todo sacrifício e como por toda a Grécia há uma
iniciação em que o mistagogo, o iniciador, tem cara de bicho posto
que situado na Mãe Natureza, no deserto, na floresta, o lugar fora
do mundo das pessoas, para-oikia ( paróquia, do lado-casa ) para
onde são levados meninos e meninas, por quarenta dias, ou quinze, em
penitência e arrependimento, antes de voltarem e se tornarem
cidadãos plenos, iniciados. No
ritual deste afastamento para o mundo selvagem repete-se uma disputa
como a de IHS no deserto por 40 dias durante a Quaresma : ‘os
demônios O espicaçavam e os anjos O protegiam’ onde aparece
inclusive as três tentações da serpente do paraíso que desta vez
não tem sucesso. As crianças, jovens, adolescentes, que vão se
tornar adultos iniciados passam ritualmente por esta prova, literal,
entre dois partidos, dois lados, duas forças. A comparação com a
luta entre deuses e titãs se estabelece posto que argila, gesso,
fuligem, cobre o rosto dos titãs que comungaram da carne de Dionisos
salvo o coração : são fulminados pelo raio de Zeus
e de suas cinzas são feitos os seres humanos. A
esta luta original somos remetidos, transportados.
Francis
Vian mostra em sua obra esta luta entre deuses & titãs na arte
greco-romana,
tema amplamente difundido.
Os
espartanos armados em pleno terremoto esperando o inimigo,
aproxima-se, enquanto cena, de Pausanias querendo iniciar a guerra em
Platea com
um sacrifício mas os lídios arrebatam a oferta, acontecimento
descrito
em Plutarco, Vida de Aristides, XVII “… estando Pausanias
sacrificando e fazendo orações a pouca distância da formação,
chegaram de repente alguns lídios com o objetivo de arrebatar as
ofertas e não tendo armas Pausanias e os que o ajudavam, os
afastaram com varas e chicotes e que agora em imitação daquela
investida, se repetem todo ano os golpes e açoites que se dão nos
jovens sobre a ara e a pompa da procissão dos lídios.” Cf
também Plutarco, Vida de Simão, I, em que aparece pessoas
com o rosto coberto
de fuligem
assaltando
Queronea,
sua cidade
: o autor
se
remete a este,
velho
homem feito de argila e que disputa, assalta, luta, na existência,
vida
. No Satapatha Brahmana, que vemos está próximo em seu conteúdo,
aparece muitas vezes este confronto original :
II,
2, 2, 8 s : “Bem os deuses e os Asuras, ambos brotaram de
Prajapati, estavam brigando uns com os outros. Ambos eram desalmados
pois eram mortais e o quê é mortal é desalmado. Entre estas duas
classes de seres que eram mortais,Agni apenas era imortal ; e foi
através dele,
o imortal, que ambos viviam. Bem quem quer dos deuses que eles os
asuras matassem, era realmente morto.
9.
Com isto os deuses foram diminuindo. Eles seguiram rezando e
praticando austeridades, esperando que pudessem ser capazes de vencer
seus inimigos, os mortais asuras. Eles contemplavam este Agnyadheya (
fogo consagrado ) imortal.
10.
Eles disseram, ‘Vamos, coloquemos este elemento
imortal em nossa mais íntima alma ! Quando tivermos colocado o
elemento imortal em nossa alma mais íntima e nos tornado imortais e
invencíveis, venceremos nossos inimigos mortais’”.
I,
1, 2, 3 : “Pois os deuses quando estavam realizando o sacrifício,
temiam perturbação da parte dos Asuras e Rakshas : daí por este
meio ele os expele de lá, na abertura mesma do sacrifício, aos
maus espíritos, os Rakshas.” Cf I, 1, 4, 16.
I,
8, 1, 16 : “Naquele tempo Manu tornou-se apreensivo pensando,
‘Esta parte do meu sacrifício – isto é, este idâ representando
a oferta doméstica – é certamente a mais fraca : os Rakshas não
devem danificar meu sacrifício neste lugar’. De
acordo com isto ( a manteiga retirada do idâ e esfregada nos lábios
) ele a promoveu ( a idâ para um lugar seguro pensando ), ‘antes
que os Rakshas venham ! Antes que os Rakshas venham !’” .
Repete-se em seguida o refrão desta corrida.
III,
2, 1, 18 : “Bem, os deuses e os asuras ambos brotaram de Prajapati,
entraram ambos na herança de seu pai Prajapati : os deuses receberam
a Mente e os asuras a Fala. Com isto os deuses entraram no
sacrifício e os asuras na fala ; os deuses lá
( no céu ) e os asuras aqui ( na terra ).” Como
a Palavra é mulher os devas acabam por seduzi-la e levá-la para o
sacrifício.
V,
1, 1, 1 : “Certa vez os deuses e os asuras ambos brotaram de
Prajapati, brigavam entre si. E os asuras, arrogantes, pensavam, ‘Em
quem devemos fazer ofertas ?’ continuaram ofertando para as
próprias bocas. Eles nada alcançaram por causa da arrogância mesma
: daí que ninguém seja arrogante pois arrogância é causa de
ruína.
2.
Mas os deuses continuaram fazendo ofertas uns para os outros.
Prajapati ofertou ele mesmo para eles : assim o sacrifício tornou-se
deles e realmente o sacrifício é a comida dos deuses.” Cf.
V, 2, 4, 7 ; VI, 3, 1, 29 ; VI, 3, 3, 24s.
IX,
2, 3, 2 : “Naquele tempo, como os deuses estavam se aprontando para
realizar este sacrifício, os asuras, inimigos traidores, tentaram
atingi-los do sul, dizendo, ‘Vocês não sacrificarão ! Vocês não
realizarão o sacrifício !’ … 8 : “Os deuses e os asuras ambos
brotaram de Prajapati e estavam disputando as regiões e os deuses
arrancaram
as regiões dos asuras e no mesmo modo o sacrificante agora arranca
estas regiões do seu rival odioso.” Paralelos ( // ) em 13 e 23
repetindo como um refrão.
IX,
5, 1, 12 : “Os deuses e os asuras, ambos brotaram de Prajapati
receberam a herança de intelecto, fala – verdadeira e mentirosa,
ambos verdade e mentira : ambos falavam a verdade e ambos falavam a
inverdade ; e realmente, falando igual, eram iguais.
13.
Os deuses abandonaram a inverdade e seguraram firme a verdade e os
asuras abandonaram a verdade e seguraram firme a inverdade. …
19.
Eles prepararam a oferta de iniciação. Mas os asuras tomaram
conhecimento disto e disseram, ‘Tendo preparado o sacrifício, os
deuses agora espalham a verdade : vamos pegar lá o quê é nosso !’
… Os deuses espiando os asuras retiraram o sacrifício e começaram
a fazer outra coisa. Eles ( os asuras ) saíram fora pensando, ‘Eles
estão fazendo outra coisa.’” Paralelos em 20, 21, 22, 23 como um
refrão sendo que no última estrofe o sacrifício acontece e os
asuras saltam para baixo, pulam para baixo : o tema do salto aparece
largamente no livro Henri Jeanmaire posto que relato a estes rituais
e especialmente a Egeu e Teseu.
IX,
5, 9, 3 : “Bem, os deuses e os asuras, ambos brotaram de Prajapati,
estavam brigando – era pelo sacrifício mesmo, por Prajapati, que
estavam brigando, dizendo, ‘Nosso ele será ! Nosso ele será !”
IX,
5, 5, 1 : “Bem quando os deuses estavam passando para cima para o
mundo celeste, os Asuras envolveram-los em escuridão. Eles falaram,
‘Verdadeiramente por nada a não ser uma sessão sacrifical pode se
dispersar esta escuridão : bem então realizemos uma sessão
sacrifical !’”
III,
6, 3, 8 : “Então ofereceu a segunda oblação para o Ligeiro (
Pequeno Polegar ) com,’ Possa o Ligeiro graciosamente aceitar a
manteiga, salve ! Pois ele falou naquele tempo, ‘Verdadeiramente,
temo os rakshas : façam-me ser muito pequeno para seu dardo mortal,
de modo que os maus espíritos não me machuquem no caminho ; e
atravessando-me na forma de uma gota, pois a gota é ligeira.’ E
concordemente, tendo-o feito muito pequeno para o dardo mortal , o
levaram em segurança na forma de gota, por medo dos rakshas pois
gota é ligeira : por isto ele oferece a segunda oblação para o (
Pequeno Polegar ) o Ligeiro.” Henri Jeanmaire em seu livro também
fala largamente do Pequeno Polegar seja de Perrault, seja dos Grimm e
aqui temos novamente uma referência que ajuda a entender e comprovar
que ele estava certo ao relacionar o antigo ritual grego com esta
história tradicional. O estar no útero, ou na barriga, é imagem
também largamente presente no Satapatha Brahmana sendo que a antiga
pele negra de antílope, no lugar de um tapete, é este principal
lugar em que o ser humano é gerado, cresce e nasce : o lugar do
sacrifício mesmo e do altar.
VI,3,
1, 29 : “Eles estavam no lado sul ; pois os deuses naquele tempo
temiam que os rakshas os inimigos pudessem atingir o sacrifício no
sul. Eles viram o raio, Sol longíquo ; pois esta cavalo é realmente
o Sol distante ; e através do raio eles afastaram os rakshas, os
inimigos do sul e espalharam este sacrifício em um lugar livre de
perigo e maldade. …”. Enfim o raio.
A
comparação pode continuar com os parágrafos de Plutarco referentes
ao tempo de Saturno, Cronos, próprio da época de Simão e
Aristides. O fato de Simão morar com a irmã Elpinice.
Enfim,
quando IHS diz para a mulher siro fenícia “Mulher, grande é tua
fé !” uma vez que a fé em questão fala de cachorrinhos que
comem migalhas da mesa de seus senhores no caso Abrãao, Isaac e Jacó
e os profetas não seriam os mesmos cachorrinhos do sonho de Simão ?
Charles
Renel, L’évolution d’un mythe : Asvins et Dioscures, Lyon, 1896,
encerra o assunto dando todas as respostas a respeito deste
restabelecimento da cabeça do sacrifício pelos Asvins : a expressão
litúrgica que Paul Regnaud, Les Premieres formes de la religion et
de la tradition dans l’Inde et la Grece, Paris, 1894, tão bem
explicitou e que Renel segue, foi, sabe-se lá por que cargas d’água,
esquecida pela historiografia contemporânea. A contrariedade
original mostra-se então com água fogo, libação chama, e claro
prenúncio do carne sangue, pão vinho.
Cf http://vidasdebuddha.blogspot.com.br/2008/06/133-vejam-em-tua-fortaleza.html
Não
poderiam faltar os famosos três passos de Vishnu referente a
história de Vamana, Vishnu, criança, pequeno, humilde, mendicante,
pedindo três passos de terra para Bali que na soberba da riqueza do
seu sacrifício concede : com um passo toma a terra, com outro o céu
e faltando espaço Bali não consegue cumprir o que prometera e
Vishnu retoma a posse do céu entregando de volta a Indra sendo Bali
expulso. Os Upanishads dissertam largamente sobre estes três passos
aos quais o Satapatha Brahmana também se refere. Eles são o som
original as três letras AUM, OM, representando os três mundos,
terra, céu e a atmosfera no meio, e também aos três estados,
vigília, sonho e sono profundo : corpo, psique, espírito. É
próximo da shemah, ‘ouve...’, : ‘amarás o senhor teu deus de
todo o teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito’ : a
manifestação, o estado sutil e o não manifesto, o indiferenciado,
o espírito. Mas claramente indicam uma vez que passos são que há
um caminho, via, estrada.
Segue
o parágrafo de Plutarco, Vida de Simão, XII e XIII em que alude a
estes três passos e fala realmente que Simão seguia passo a passo
ao grande rei, os persas, expulsando-os, os ‘bárbaros’, da
grande Grécia n’Ásia. É nesta vitória sobre os persas em 470
a.C. que estes últimos, com a derrota, resolveram não se aproximar
do mar e de barcos, da costa, a distância de uma corrida de cavalo :
“Simão
que como destro atleta em um dia em que havia saído vencedor em dois
combates, não obstante ter excedido com a batalha campal o triunfo
de Salamina e com a naval o de Platea ainda somou outro troféu a
estas vitórias ; pois sabendo que as oitenta galeras fenícias, que
não tiveram parte no combate, tinha aportado a Hidro, se dirigiu
para lá sem detenção ; e como seus comandantes não tivessem
notícia positiva das forças principais, mas estando em dúvida e na
incerteza, sendo por isto maior a surpresa, perderam todas as naves e
a maior parte do soldados pereceram. De tal modo abateram estes
sucessos estes sucessos o ânimo do rei ( dos persas ), que combinou
aquela paz tão afamada de não aproximar-se jamais do mar da Grécia
a uma distância de uma corrida de cavalo e de não navegar dentro
das ilhas Cianeas e Quelidônias com nave grande e de proa de bronze,
ainda que Calístenes sustente que o bárbaro não fez tal tratado ;
mas nas obras manteve o que se disse, devido ao medo daquela derrota,
ficando a tanta distância da Grécia que Péricles com cinquenta
galeras e Efialtes com apenas trinta, navegaram por aquela região
das Quelidônias sem que os bárbaros oferecessem a vista nem sequer
um barco. Cratero porém, em sua coleção de decretos, inseriu o
tratado como tendo acontecido realmente e ainda se diz que os
atenienses erigiram por motivo dele a ara da paz e que a Calias,que
havia sido o embaixador, encheram de distinções. Vendidos os
despojos que então se tomaram, teve o Povo fundos para muitas coisas
e edificou o muro da cidadela que mira o Sul, tendo o Povo
enriquecido com estas expedições. Soma-se a isto que as largas
muralhas chamadas Pernas, ainda que foram terminadas depois,
começaram então e que a fundação com houvesse encontrado terreno
pantanoso e mole , foi firmada com toda a segurança por Simão que
fez secar os pântanos com muita argila
e
pedras muito pesadas, dando e aprontando para isto os bens
necessários. Foi o primeiro a embelezar a cidade com estes lugares
de recreio e entretenimento, pelos quais houve tanta paixão depois,
porque plantou árvores na praça e na Academia que antes carecia de
água e era um lugar inteiramente seco, deu-lhe um rego, rio,
convertendo-a em um bosque e a adornou com corredores espaçosos e
desembaraçados, e com passeios em que se gozava de sombra,
sombreados.”
Plutarco
em sua Vida de Teseu, XXXII, explica que Academo que dá nome a
Academia posto que dono do terreno fora das muralhas, foi quem
restituiu Helena, a filha de Dzeus, aos Dióscuros, seus irmãos
gêmeos, como Clitemnestra mesma era gêmea dela ( nasceram de dois
ovos de Cisne ), quando Teseu a raptou ainda criança. Ela ficou com
Aetra a mãe de Teseu que a acompanhou, a ela Helena, até Tróia. A
Academia, lugar da religião da philosophia, do amor, da sabedoria,
que fez ressoar para a eternidade as falas de Sócrates, nos escritos
de Platão, é apropriadamente a terceira conquista deste terceiro
passo, espiritual e indiferenciado. Atendo ao lugar mesmo pensemos no
‘Fedro’ de Platão, no jardim do lado de fora da muralha da
cidade de Atenas em que Fedro e Sócrates descalços ( lembra-se
então que Sócrates sempre estava descalço ) como em solo sagrado
conversam e discutem sobre a Palinodia (palin-ode, ao contrário /
inverso/ para trás / arrependido – canto, ode ) de Helena, o
perdão de Stesícoro e sua cura : este poeta cantara a deusa que
nascera do Cisne, má, ruim e por isto ficou cego, sem vista e
arrependido, convertido, em metanoia, canta-a boa e virtuosa e com
isto recupera a visão, vista : Sócrates no diálogo purifica-se
também dizendo que cantou errado e se corrige cantando certo : fala
d’asas d’alma, do ser alado que é àlma elevada aos coros das
Musas todas, do céu do Olimpo, alma qual carro puxado por cavalos,
um branco outro preto, um de tendência ascendente e outro de
tendência descendente, um corporal, sensível, carne e outro
espiritual, penitente, sangue – a carne cortada, arrancada, tirada.
Rédeas da mente entregue ao Auriga ( buddhi, discernimento, vijnana
) conduzem o carro adequadamente, impedem a guerra entre os cavalos
de tendências diferentes do conjunto que é o carro / alma. Alma
cae na terra e esquece que veio do céu.
Contudo,
conforme a doutrina apresentada nos Upanishads os três passos
existem enquanto um quarto estado, enquanto o conjunto único dos
três elementos, três letras, três estados, três mundos : a
unidade mesma é um quarto. Então a esta referência de Plutarco aos
três passos deve corresponder os três parágrafos anteriores aos
respectivos três aspectos, estados, etc. E isto acontece : o
primeiro passo no parágrafo VIII quando da descoberta do corpo de
Teseu que já reproduzimos aqui, o segundo no parágrafo seguinte o
IX e o terceiro no X e XI em seguida. Vejamos o IX :
“Escreve
Ion que sendo ele ainda moço, fez uma refeição com Simão quando
ele veio de Atenas desde Quio com Laomedonte e que tendo sido pedido
que Simão cantasse, como não o houvesse feito sem graça, os
presentes o louvaram como mais urbano que Temístocles, por este ter
respondido em caso semelhante que não tinha a prendido a cantar nem
nem tocar e o que ele sabia era fazer uma cidade grande e rica. Daí
como era natural caiu a conversa sobre as façanhas de Simão e como
se fizessem memória das mais significativas, disse que se passou a a
referir ao mais conhecido dos seus estratagemas ; porque tendo tomado
os aliados muitos cativos dos bárbaros em Sesto e em Bizâncio,
encarregaram ao mesmo Simão o repartimento ; e ele tinha colocado
de um lado os cativos e de outro os objetos e adornos que tinham, do
que os aliados tinham se queixado, tendo por desigual esta divisão.
Disse-lhes então que das duas partes escolhessem a que gostassem
mais porque os atenienses com que deixassem se dariam por contentes.
Aconselhando-lhes pois Herófito de Samos que elegessem antes os
arreios dos persas que os persas mesmos, tomaram os adornos destes,
deixando para os atenienses os cativos ; e então riram de Simão
como de um mal repartidor porque os aliados carregaram colares,
presilhas, braceletes de ouro e com vestidos e roupas ricas de
púrpura, não ficando para os atenienses nada além de corpos mal
cobertos para destinar ao trabalho ; porém logo baixaram da Frígia
e da Lídia os amigos e devedores dos cativos e redimiram,
libertaram, cada um deles por muito dinheiro ; de modo que Simão
proviu de víveres as naves para quatro meses e ainda sobrou do
resgate muito dinheiro para levar para Atenas.” A ideia é que a
riqueza não é do corpo mas este separado a riqueza é da alma mesma
: é clara a separação entre corpo grosseiro e corpo sutil que
caracteriza o segundo passo. E aqui nesta história de Simão este
segundo passo aparece visualmente enquanto uma conversão do olho, da
visão, da vista, da forma de olhar o mundo, um olho interior e não
mais exterior posto que é disto que se trata de olhar para dentro,
para si mesmo : ‘gnoti s’autou’ conhece a ti mesmo, estava
então escrito na porta de Delphus.
O
terceiro passo nos parágrafos X e XI trazem versos antigos que
lembram, como em um som primordial ecoando, a indiferença com a
riqueza, própria de Simão, sua bondade, mão aberta, distribuindo
os bens com todas as pessoas :
“ Rico
já Simão, os viáticos da guerra, que fez os inimigos pagarem, os
gastava melhor com seus cidadãos, porque retirou as cercas de suas
possessões para que os forasteiros e os cidadãos necessitados
pudessem tomar livremente de seus frutos o que gostassem. Em sua casa
havia mesa, frugal sim, porém podia bastar para muitos todo dia ; e
dos pobres podia entrar nela aquele que quisesse, encontrando comida
sem ter que ganhá-la com seu trabalho, para atender apenas aos
negócios públicos. ( seguem os versos lembrando sua bondade ) …
porém o uso que fazia de sua opulência Simão excedia a antiga
hospitalidade e humanidade dos atenienses ; porque aqueles com quem
a cidade justamente se mostra ufana, deram aos gregos as sementes dos
alimentos e os ensinaram o uso das águas das fontes e o modo de
acender o fogo para o serviço das pessoas e este, Simão, erigindo
sua casa como um pritaneo comum para os cidadãos dando gratuitamente
as primícias dos frutos colhidos e tudo quanto de bom produz as
estações do país, para que os forasteiros tomassem e desfrutassem,
reproduziu de certa maneira aquela fabulosa comunhão de bens do
tempo de Saturno / Cronos.” No parágrafo XI vemos os gregos
vivendo em paz sem precisar fazer guerra exatamente como se
estivessem na idade dourada a que se refere o parágrafo anterior que
condiz com o lugar do terceiro passo, lugar da comunhão, da unidade,
da indiferenciação, em que patrão e empregado se encontram qual
iguais, servo e senhor indiferenciados.
Tudo
isto nos permite aproximar para bem perto o diálogo Fedro de Platão,
o Katha Upanishad e o Sermão da Montanha de IHS XTO : o primeiro e o
segundo falam do mesmo carro d’alma sendo que este segundo disserta
sobre os três passos, sobre alcançar esta meta espiritual, Brahman,
Atma, trilhando o caminho e pergunta : pode um cego guiar outro cego
? A mesma pergunta que aparece no terceiro, no sermão da montanha de
Jesus, que traz também a frase : ‘entrai pela porta estreita
porque largo e espaçoso é o caminho que conduz á perdição ;
estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida e são
poucos que o encontram.’ Esta mesma estreiteza, apertado de
caminho aparece no segundo com a imagem da ponte da espada, a
travessia do rio do mundo em cima de uma lâmina afiada.
O
Katha Upanishad é o diálogo entre Naciketas e Yama, deus da morte,
sendo Naciketas um sacerdote iniciante de dezesseis anos que está
batendo na porta da casa da Morte por três dias sem comer nem beber
: Mors Janua Vitae morte porta da vida. A penitência, a cruz, a
morte, na religião. Yama depois de três dias chega e concede três
dons, presentes, a Naciketas que é um mendicante pedindo oferta,
esmola. Os três dons são os três passos sendo o último dom,
passo, Brahman mesmo, a meta, poste, limite, último a ser alcançado.
Vemos também aqui o olho invertido de que falamos a respeito de
Simão, sobre voltar o olhar para si mesmo, para dentro. ‘O cego
que guia outro cego’ seria não entregar as rédeas para buddhi, o
discernimento, vijnana. E as pessoas seriam como árvores com raízes
celestes : justamente como no sermão da montanha onde se discute o
figo e as uvas, o cardo e o espinheiro. AUM = Pai Nosso que é
proclamado no sermão da montanha.
Bibligrafia
além dos livros citados :
Biografos
Griegos, Aguillar, Madrid, 1973
Date,
V. H., Upanishads Retold, 2 vols, MMPublishers, 1999, New Delhi,
Índia.
Guénon,
René, L’Homme et sont devenir selon le Vêdânta, Éditions
Traditionnelles, Paris, 1984.
Coomaraswamy,
Ananda, ‘Notes on the Katha Upanishad’ in Perceptions of the
Vedas, MMPublishers, New Delhi Índia, 2000.
Cf http://vidasdebuddha.blogspot.com.br/2008/06/133-vejam-em-tua-fortaleza.html
1
a nave Argo atravessando as ´Rochas que batem´ soltam antes uma
pomba para passar no contratempo: a pomba perde o rabo. Apolonio de
Rodes.
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