quarta-feira, 15 de maio de 2013

462 Buddha e rei Samvara




                    Pintura de Ajanta, Índia

   462
Tua natureza, monarca poderoso...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre um Irmão que cessou de perseverar. Este, escutamos, era um jovem de família, que vivia em Savatthi. Tendo escutado os discursos do Mestre, renunciou ao mundo. Cumprindo as tarefas impostas pelos seus professores e preceptores, aprendeu de cor(ação) ambas as divisões do Patimokkha. Depois que se passaram cinco anos, ele disse, “Quando eu for instruído no modo de atingir o transe místico, irei morar na floresta.” Pediu licença então a seus professores e preceptores e se dirigiu para uma cidade na fronteira no reino de Kosala. O povo ficou satisfeito com a postura dele e fez uma cabana de folhas e lá permaneceu. Durante a estação chuvosa, zeloso, dedicado, esforçando-se na busca extenuante, empenhou-se pelo transe místico durante três meses : mas não conseguiu produzir nem um traço deste. Então pensou : “Verdadeiramente sou mais dedicado às condições mundanas dentro das quatro classes de pessoas ensinadas pelo Mestre ! O quê tenho a ver com viver na floresta ?” Então disse a si mesmo, “Retornarei a Jetavana e lá contemplando a beleza do Tathagata e escutando seu discurso melífluo, passarei meus dias.” E assim relaxou na perseverança ; e partindo chegou com o passar do tempo em Jetavana. Seus professores e preceptores, amigos e conhecidos questionaram-no por ter vindo. Ele informou e o reprovaram por isto, perguntando porque o fizera, o levaram a presença do Mestre. “Por quê Irmãos,” disse o Mestre, “trazes aqui um Irmão contra a vontade ?” Eles responderam, “Este Irmão veio para cá porque largou de se empenhar.” “É verdade isto que dizem ?” perguntou o Mestre. “Sim, Senhor,” disse o homem. Falou o Mestre, “Por quê cessastes de perseverar, Irmão ? Para a pessoa preguiçosa e fraca, nesta religião não há altos frutos, nem santidade : apenas aqueles que fazem esforços extenuantes a realizam. Em dias há muito tempo passados você era cheio de força, hábil em aprender : e deste jeito, apesar de ser o mais novo de todos os cem filhos do rei de Benares, perseverando firme nos conselhos dos sábios você obteve o Parassol Branco.” Assim falando, ele contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o mais novo de seus cem filhos foi chamado Príncipe Samvara. O rei deixou seus filhos a cargo cada um com um cortesão separado, com as instruções de ensiná-los cada um com o quê deveria aprender. O cortesão que instruiu o Príncipe Samvara era o Bodhisatva, sábio, estudado, preenchendo o papel de pai para o filho do rei. Quando um dos filhos terminava o estudo, o cortesão o trazia para o rei ver. O rei dava a cada um deles uma província e o deixava ir.
Quando o Príncipe Samvara acabou todos os estudos, ele perguntou ao Bodhisatva, “Caro padre, se meu pai me enviar para uma província, o quê faço ?” Ele respondeu, “Meu filho, quando uma província for oferecida a você, deves recusar e dizer, Meu senhor, sou o mais novo de todos : s'eu for também, não haverá ninguém a teus pés : permanecerei onde estou, a teus pés.” Então um dia, quando Príncipe Samvara o saudou e estava de pé em um dos lados, o rei perguntou a ele, “Bem, meu filho, terminou teu aprendizado ?” “Sim, meu senhor.” “Escolha uma província.” “Meu senhor, haverá vazio a teus pés : deixe-me permanecer aqui a teus pés e em nenhum outro lugar !” O rei ficou satisfeito e consentiu.
Após isto ele ficou lá aos pés do rei ; e novamente perguntou ao Bodhisatva,”O quê mais devo fazer, padre ?” “Peça ao rei,” disse ele, ”um parque velho.” O príncipe obedeceu e pediu um parque : com os frutos e flores que lá cresciam fez amizade com as pessoas poderosas da cidade. Novamente ele perguntou o quê fazer. “Peça licença ao rei, meu filho,” disse o Bodhisatva, “para distribuir esmola dentro da cidade.” Assim ele fez e sem negligenciar qualquer pessoa distribuiu comida e trocados pela cidade. Novamente pediu conselhos ao Bodhisatva e após solicitar o consentimento do rei, distribuiu comida dentro do palácio para os empregados, para o exército e para os cavalos sem omitir ninguém : para mensageiros que vinham de países distantes ele designou alojamento e e o que segue, para mercadores fixou taxas, tudo que tinha que ser arranjado ele fazia sozinho. Então, seguindo o conselho do Grande Ser, fez amigos com todos, os de dentro e os de fora, em toda a cidade, os súditos do reino, estrangeiros, por sua atração os dobrou a ele como se fossem de ferro : por todos eles era caro e amado.
Quando no tempo devido o rei jazia em seu leito de morte, os cortesãos perguntaram a ele, “Quando estiveres morto, meu senhor, para quem devemos dar o Parassol Branco ?” “Amigos,” disse ele, “todos meu filhos têm direito ao Parassol Branco. Mas vocês podem dá-lo a quem agradar vossas mentes.” Então após a sua morte e com as exéquias já realizadas, o sétimo dia se reuniram e disseram : “Nosso rei mandou-nos dar o Parassol a quem agradar nossas mentes. Aquele que desejamos é Príncipe Samvara.” Acima dele portanto levantaram o Parassol Branco com suas grinaldas douradas, escoltado por seus parentes.
O Grande Rei Samvara mantendo-se fiel ao conselho do Bodhisatva reinou em retidão.
Os outros noventa e nove príncipes escutaram que o pai deles morreu e que o Parassol fora levantado sobre Samvara. “Mas ele é o mais novo de todos,” disseram eles ; “o Parassol não pertence a ele. Vamos levantar o Parassol sobre o mais velho de todos.” Juntaram forças e enviaram uma carta para Samvara, mandando que resignasse o Parassol ou lutasse ; e então cercaram a cidade. O rei contou a novidade para o Bodhisatva e perguntou a ele o quê fazer agora. Ele respondeu : “Grande Rei, não deves lutar com teus irmãos. Divida o tesouro que pertence a teu pai em cem porções e envie para teus irmãos noventa e nove delas com a mensagem, 'Aceite esta parte do tesouro do teu pai pois lutar contigo não irei '.” E assim ele fez.
Então o mais velho de todos os irmãos, chamado Príncipe Uposatha, reuniu os outros e disse a eles, “Amigos, não há ninguém capaz de superar o rei ; e este nosso irmão mais novo, apesar de ter sido nosso inimigo não permanece tal : ele nos envia sua riqueza e recusa-se a lutar conosco. Bem, não podemos todos levantar o Parassol ao mesmo tempo ; vamos levantá-lo sobre um apenas e que este seja o rei ; de modo que quando o virmos devolveremos o tesouro real para ele e retornaremos para nossos próprios países. Em seguida todos estes príncipes levantaram o cerco à cidade e entraram nela, não mais como inimigos. E o rei disse a seus cortesãos que dessem boas vindas a eles e os enviou ao encontro dos príncipes. Os príncipes com uma grande comitiva entraram a pé e subindo os degraus das escadas do palácio e usando de toda a humildade com o grande rei Samvara, sentaram em assento mais baixo. Rei Samvara sentava-se debaixo do Parassol Branco em um trono : era grande sua magnificência e pompa ; o lugar para onde ele olhava, tremia e chacoalhava. Príncipe Uposatha vendo a magnificência do poderoso rei Samvara, pensou consigo mesmo, “Nosso pai, cogito, sabia que Príncipe Samvara seria rei após sua morte e por isto deu-nos províncias e para ele nada deu ;” então dirigindo-se a ele, repetiu três estrofes :

Tua natureza, poderoso monarca, certamente nosso pai conhecia :
Os outros príncipes ele honrou mas a ti nada deu.

Foi durante a vida do rei ou quando um deus para o céu foi,
Que vendo seu próprio benefício, os parentes deram consentimento ?
Diga, por que poder, Ó Samvara, estais acima da tua família :
Por quê teus irmãos unidos não te tomam o lugar ?

Escutando isto, Rei Samvara repetiu seis estrofes para explicar seu próprio caráter :

Porque, Ó príncipe, nunca de má vontade dou aos grandes sábios o que convém :
Pronto a prestar-lhes honra devida, diante dos pés deles caio.

Sem inveja e apto a aprender toda conduta adequada e reta,
Sábios sabidos cada um bom preceito ensina no qual se delicia.

Escuto os mandamentos destes grandes sábios inteligentes :
Meu coração está inclinado à boa intenção, não desprezo conselho algum.

Tropas de elefantes, aurigas, guarda real, infantaria -
Não pego dinheiro do soldo diário mas pago a todos seus salários.

Nobres grandes e conselheiros sábios são encontrados juntos comigo ;
De comida, vinho, água ( jactam disto ) Benares abunda.

Assim mercadores prosperam e de muitos reinos vêm e vão,
E eu os protejo. Agora a verdade, Uposatha, sabes.

Príncipe Uposatha escutou este relato do caráter do rei e repetiu duas estrofes :

Então esteja acima de seus parentes e amigos e legisle com retidão,
Tão sábio e prudente, Samvara, deves abençoar teus irmãos.

Tuas pilhas de tesouro teus irmãos defenderão e estarás
Salvo de teus adversários como a pessoa de Indra de seu arqui inimigo.

Rei Samvara fez grande honra a todos seus irmãos. Eles permaneceram com ele um mês e meio ; e então disseram a ele, “ Grande Rei, partiremos e veremos se há algum bandido perambulando em nossas províncias ; toda a felicidade para a tua legislação !” Foram embora cada um para sua província. E o rei viveu com os conselhos do Bodhisatva e no fim dos seus dias foi preencher as hostes celestes.

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O Mestre, tendo terminado este discurso, adicionou, “Muito tempo atrás, Irmão, seguiste as instruções e por quê agora não sustentas teus esforços ?” Então ele declarou as Verdades e identificou o Jataka : ( na conclusão das Verdades este Irmão foi estabelecido na fruição do Primeiro Caminho :) “Naquele tempo este Irmão era o grande rei Samvara, Sariputra era o Príncipe Uposatha, os Anciãos e Anciãos secundários eram os outros irmãos, o séquito de Buddha eram os seguidores deles e eu mesmo era o cortesão que aconselhava o rei.”

     

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