Plutarco Brahmin
Vayu = Timoleon
No Shiva
Purana em seu volume IV, Vaya Vyasasamhita, pg. 1786, há uma descrição de Vayu
: “Vayu o discípulo de Brahma, senhor de autocontrole que percebe tudo
diretamente ; em cujo comando estão sempre os quarenta e nove Maruts ; que
sustenta os corpos de todos os seres vivos incitando-os perpetuamente através
de seus próprios funcionários Prana e os outros ; que está dotado com as oito
glórias ; que suporta o mundo com suas mãos santas ; que nasceu de Akasha ; que
possui as duas qualidades do toque e do som e a quem os filósofos chamam de causa
material do princípio ígneo, do fogo.”
Na
fisiologia antiga além do inspirar e expirar haviam mais três sopros sendo
cinco no total e sendo Prana o principal, como chefe de um exército mesmo daí a
referência aos Maruts, que são sopros, ventos. Os cinco são prana, apana,
vyana, udana e samana. Os dois
primeiros, que são para dentro, se opõe como ação e reação e enquanto prana
sobe, apana desce e vyana se coloca entre estes dois como sopro difuso, por todo
corpo em toda direção. Udana é para fora, expiração e para cima, causa do
crescimento. E samana o sopro da digestão que distribui igualmente (sama) para
todo o corpo os sucos, sumos, da alimentação.
Sísifo,
famoso por sua mitologia, é rei de Corinto, a cidade dos coríntios e filho de
Eólo, o vento, que ajudou Ulisses a voltar para casa prendendo os ventos em
tonéis mas que deviam ficar fechados e os companheiros de Ulisses abriram
todos, pensando ser vinho e espalharam os ventos. Corinto também é de Medeia e Jasão que na
nave Argo viajaram unindo oriente e ocidente: governaram a cidade por um tempo.
Belerofonte que cavalgava Pégaso, é neto de Sísifo. A cidade de Argos está
próxima, junta mesmo. Perseus a governou.
Corinto é também a cidade dos jogos ístmicos (do istmo que une o sul e o
norte da Grécia) em homenagem à nutriz de Dionisos / Baco / Iaco : Ino que com
seu filho Melicertes jogam-se no mar
fugindo da perseguição de Hera: Ino transforma-se em Leucotea, a Tartaruga e
Melicertes é recuperado por um golfinho e vira Palaemon: obra do deus que os
protege.
Tanto na
mitologia de Dionisos quanto na de Perséfone, há a ideia da ressurreição:
Deméter procura a filha desaparecida e a descobre no reino dos mortos, raptada
por Hades, rei dos mortos. A mãe Terra briga para que a filha ressuscite, volte
à vida e consegue: qual semente que morre para poder dar fruto, 30, 60, ou 100,
segundo o evangelho de IHS XTO. Tanto nos mistérios de Elêusis quanto no
cristianismo vemos a imagem da espiga em sua sacralidade: spica a alfa da
constelação de Virgem. Já Dionisos é despedaçado ainda criança pelos Titãs mas
seu coração é salvo pelos deuses e ressuscita.
Já vimos no
capítulo Nícias = Shiva que a história deste último, com seu terceiro olho,
também tem o tema da ressurreição e justamente, qual Perséfone, de uma moça,
Sati, filha de Daksha que ao fazer um sacrifício exclui Shiva e Sati devota
deste incendeia-se, em autocombustão, yoguine mesma, revoltada com o pai, ato
que destrói a sacrifício deste. Ela morre e ressuscita no Himalaia como Parvati
que será esposa de Shiva.
Teria que
haver um Zeus com terceiro olho para consolidar a unidade védica oriente e
ocidente que defendemos, expomos, descobrimos. E ele existe justamente na
acrópole de Argos no monte Larisa: segue a descrição de Pausânias:
“No
pico do Larisa está um santuário sem teto de Zeus Larisaian ; a estátua de
madeira não está mais na base. Mas um santuário interessante de Athena está lá
também. Entre as dedicações está um Zeus de madeira com os dois olhos com os
quais nascemos e também com um terceiro na testa. Eles dizem que este Zeus era
a imagem ancestral que estava no jardim aberto de Príamo filho de Laomedon, e
quando Troia foi tomada pelos Gregos foi para este altar deste deus que ele
fugiu. Quando dividiram os espólios, Sthenelos filho de Capaneus, ficou com a
imagem e assim ela veio a descansar aqui. Pode-se explicar os três olhos deste
jeito: Zeus é rei no céu pelo reconhecimento humano universal e um verso de
Homero também dá ao senhor do mundo subterrâneo o nome de Zeus:
Zeus
debaixo da terra e a grande Perséfone (Il. 9, 457);
enquanto Ésquilo
dá o nome de Zeus ao deus do mar. Então a pessoa que fez esta estátua, quem
quer que tenha sido, fez Zeus com três olhos como um e o mesmo deus que legisla
nestas três esferas.” (II, 24,5).
A morte e a
ressurreição aproximam as duas religiões antigas e aquela da qual a cidade de
Corinto participa é a da ilha da Sicília, terra de Perséfone, penhor de seu
casamento, lugar em que foi raptada, sendo Siracusa fundada por Corinto e
responsável pela liberdade na ilha.
Responsável
pela liberdade porque a ilha foi escolhida pela Academia de Atenas de Platão no
séc. IV a.C. como o lugar para um governo filosófico. As cartas de Platão para
Dionísio, o jovem e para Dion, ambos de Siracusa, sobreviveram a destruição do
tempo e ainda podem ser lidas. O primeiro entendeu em parte o ideal filosófico
e o segundo entendeu tudo e conseguiu implantar este ideal na capital e na ilha
conforme vemos na ‘vida de Dion’ de Plutarco que explicitamente diz que a
vitória de Dion era a vitória da Academia de Atenas, de tanto que ele estava
imbuído, unido a esta. Mas houve traição que, diz-se, foi traição a própria
deusa padroeira da ilha e Dion foi executado e a sua família jogada no mar
igual a mitologia de Dionísio: haveria portanto uma aproximação entre a
mitologia e a história, a ideal religioso e o filosófico que não estão
distantes, muito pelo contrário.
A ilha é tomada
por várias tiranias que a partir de Siracusa espalham-se e cabe a Corinto
salvá-la. Embaixadores são enviados e Timoleon é o general escolhido para
defender a liberdade na terra da deusa mãe que morta precisa ressuscitar,
receber novamente o espírito da liberdade. O sopro, espírito, pneuma (gr.),
ruah (hebr.), deve aparecer de algum modo na Vida de Timoleon, de Plutarco de
modo a unificar as duas histórias, mitologias. E aparece na conclusão
explicando as obras de Timoleon no cap., paragr., XXXV seguindo a citação:
“Desenraizou pois Timoleon as tiranias e deu fim às guerras... a ilha
tornou-se aprazível e Agrigento e Gela repovoaram-se e antigos cidadãos
voltaram. Assim buscando não somente segurança e repouso depois de tais
agitações, aos que nela se estabeleciam mas proporcionando muitas outras coisas
e dando-lhes alento foi de seus
cidadãos visto e venerado como fundador. O mesmo era o sentimento de todos em
relação a ele e nem no término de uma guerra nem na formação de uma lei nem no
estabelecimento de uma colônia nem uma ordenação de um governo parecia ter-se
acertado se ele não intervinha e se como aperfeiçoador de uma obra não
contribuía a adorná-la somando certa graça que sobressai e como que divina.”
Plutarco
portanto está ciente do paralelismo e em negrito vemos a comparação com Vayu
justamente o alento, sopro, vento, espírito que na carta aos Coríntios, s.
Paulo tanto ressalta junto com a ideia de hierarquia que em várias camadas,
de-graus, níveis, ranks, estratos, carismas, sacramentos e virtudes formam o
corpo, humano também, imagem da Igreja. Tanto Plutarco quanto s. Paulo,
contemporâneos e conterrâneos, porque escreveram em grego, têm consciência de
Corinto e sua história. Segue a citação de s. Paulo nas suas cartas aos
Coríntios para entendermos a ideia de espírito em questão:
3,16s Não sabeis que sois um templo de Deus e que o
espírito de Deus habita em vós ? Se
alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é
santo e este templo sois vós.
6,19s Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do
E.S. (Espírito Santo) que está em vós e que recebestes de Deus ? ... e que
portanto não pertenceis a vós mesmos ?
Alguém pagou alto preço pelo vosso resgaste; glorificai portanto a Deus
em vosso corpo. // em 7,23.
12,4s Há diversidade de dons mas o Espírito é o
mesmo; diversidade de ministérios mas o Senhor é o mesmo ; diversos modos de
ação mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de
manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um o Espírito dá mensagem de
sabedoria, a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro o
mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda o único e mesmo Espírito concede o dom
das curas; a outro poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o
discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda
o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito que isso tudo realiza,
distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz. Com efeito o corpo é um e não obstante tem
muitos membros mas todos os membros do corpo apesar de serem muitos, formam um
só corpo. Assim acontece com Cristo. Pois fomos todos batizados num só Espírito
para ser um só corpo, judeus e gregos, escravos e livres e todos bebemos de um
só Espírito. O corpo não se compõe de um só membro mas de muitos. Se o pé
disser: ‘Mão eu não sou logo não pertenço ao corpo’ nem assim deixará de fazer
parte do corpo. E se a orelha disser: “Olho eu não sou logo não pertenço ao
corpo’ nem assim deixará de fazer parte do corpo. Se o corpo todo fosse olho
onde estaria a audição? Se fosse todo ouvido onde estaria o olfato? Mas Deus
dispôs cada um dos membros do corpo segundo a sua vontade. Se o conjunto fosse
um só membro, onde estaria o corpo? Há
portanto muitos membros mas um só corpo. Não pode o olho dizer à mão: ‘Não
preciso de ti’; nem tampouco pode a cabeça dizer aos pés: ‘Não preciso de vós’.
(...) Ora vós sois o corpo de Cristo e sois os seus membros, cada um por sua
parte. E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar,
apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, doutores Vem a seguir
os dons dos milagres, das curas, das assistências, do governo e o de falar
diversas línguas. Porventura são todos apóstolos? Todos profetas? Todos
doutores? Todos realizam milagres? Todos têm o dom de curar? Todos falam
línguas? Todos as interpretam? ”. (segue
hino à Caridade).
Na segunda carta
aos Coríntios 3,17 há mais : “Pois o Senhor é o Espírito e onde se acha o
Espírito do Senhor aí está a liberdade.”
A
linha que por dentro de todas as contas, as mantêm unidas em um colar, o sopro
vital em suas diferentes fases que listamos acima, tem sua analogia com os
diferentes níveis que constituem a Igreja, em que a imagem do Barco, Nave,
também se inclui com seus diferentes membros constituindo esta hierarquia. Ou
como n’ Arca de Noé o mundo mesmo em seus três andares, níveis, degraus. A
mesma disputa entre as partes do corpo que s.Paulo ressalta aparece nos
Upanishads entre os sentidos e o sopro, prana, para saber quem é o principal.
Esta
insistência de falar sobre o Espírito aos Coríntios é porque a cidade é de
Eólo, o vento, Sísifo seu filho, Belerofonte seu neto: na acrópole de Corinto
como em outras da região, havia a ‘hipocrene’, fonte, rio nascido, dos pés de
Pégaso o cavalo alado, nela Atena o domesticou e selou. O castigo mesmo,
famoso, de Sísifo é imposto como pena por ter esta água abundante regando sua
cidade. Esta fonte chama Peirene de onde a etimologia da palavra ‘perene’ posto
que ainda hoje àgua jorra e flui das ruínas desta cidade grega. Na Samaria a
samaritana junto ao poço de Iacó pede a IHS que lhe dê àgua viva e IHS lhe diz
em resposta: ‘Deus é espírito’.
Dá para
fazer o paralelo Iesus / Iason (Jesus / Jasão), onde a nave Argos com todos os
heróis gregos, Heracles incluso, seria a Igreja, Barco, Nave. Nela estava o velocino, tosão, pele do
carneiro de ouro que levou, salvou, voando pelos ares, Frixus e Helles, caindo
esta última no mar justamente no Helles-ponto, Frixus chegando e sacrificando o
carneiro na Media, terra da Medeia que volta junto levando o velocino de ouro
com a nave Argo; volta com todos do oriente para o ocidente. Os coríntios, a
quem s.Paulo prega, têm esta mitologia na cabeça, nas estátuas, nas
histórias.
A ideia é
de que os ventos, sopros, vayus, com Prana como sopro chefe, formam a
fisiologia humana, as partes do sopro, segundo a ciência antiga. Nesta mesma
ciência antiga, este prana, espírito, segundo os oito acessórios da Yoga (oito
partes, oito faculdades, oito membros) deve ser controlado, direcionado, para
que a mente entre em samadhi, transe: desde já, àgua que jorra, dos pés de
Pégaso ou do poço de Iacó / Iaco.
No Yoga Sutras
de Patañjali temos em seu capítulo primeiro a dissertação sobre isto, qual
seja, o estado de transe, samadhi, que permite à mente entender, compreender
todos os níveis da realidade, estado que necessariamente deve ser atingido para
a realização, a libertação, a iluminação, a meta desta ciência antiga. Esta
ciência não é necessariamente experimental, empírica, materialista, mas é
essencialmente espiritual: a meta do conhecimento não é uma realização
material, experimental e daí existente mas realiza-se espiritualmente.
Os oito
acessórios, membros, partes, faculdades, da Yoga são: yama, nyama, asana,
pranayama, pratyahara, dharana, dhyana, samadhi : os cinco primeiros exteriores
e os três últimos interiores compondo uma unidade, os três últimos, chamada
samyama : concentração, meditação e transe (ou contemplação)
respectivamente.
Yama é
restrição: não matar, não roubar, não mentir, não cobiçar.
Nyama é
observância, de limpeza, contentamento, purificação, estudo e ‘fazer do Senhor
o motivo de todas as ações’ ‘samadhi siddhi Ishvara pranidhanat’ a consecução do
transe fazendo do Senhor o motivo de todas as ações (II, 45) - os outros
membros acessórios, partes, não ficam inúteis, sem uso, com o transe atingido
mas ‘a mesma coalhada que serve ao ser humano serve também ao sacrifício’
significando isto que os outros acessórios são condições e preparativos para
esta consecução.
Asana é
postura, as posturas da hatha yoga que todos fazem; ‘postura é quando não há
mais movimento do corpo e assim cessa a perturbação dos pares de opostos’ frio
e calor, tristeza e alegria, etc.
Pranayama é o
controle da respiração; tatah ksiyate prakasa avaranam então é destruído o que
cobre a luz (II,52) – ‘pelo panorama máyaco do desejo, a Essência, que é
luminosa por natureza, é coberta, e o mesmo é direcionado para o vicio’, com
pranayama, esta cobertura, véu, é destruída. Dharanasu cha yogyata manasah, e a
aptidão da mente para a concentração (II,53).
Pratyahara/Abstração é aquela pela qual os sentidos não entram em
contato com seus objetos e seguem a natureza da mente (II,54).
Dharana/Concentração é a permanência da mente, Desah-bandhah Chittasya
Dharana (III,1), ‘Concentração significa a mente tornar-se ligada em tais
lugares como a esfera do umbigo, a lótus do coração, a luz no cérebro, a ponta
do nariz, a ponta da língua, e outras tais partes do corpo’. Mas a permanência pode
ser também estar ligada no monossílabo sagrado que é o nome de Deus mesmo, AUM
ou em outro tema de concentração.
Dhyana/Meditação é a continuação do esforço mental para entender, Tatra
pratyaya ekatanata dhyanam (III,2), ‘meditação é a continuidade, i.e., o fluxo
imutável, do esforço mental para entender o objeto de meditação’ – vemos aqui
nossa água que corre, flui, contínua, em uma direção única, ekatanata.
Samadhi/Contemplação ‘o mesmo quando brilhando com a luz do objeto
apenas e destituído, como se fosse, de si mesmo’ (III,3) - é o transe. ‘Treta
ekatra samyamah, os três juntos são samyama’ (III,4) – concentração, meditação
e transe. ‘Tad jayat prajña lokah, atingindo isto vem a visibilidade do
conhecimento’ (III,5) atingindo este samyama vem a visibilidade do
conhecimento-em-transe. Este samyama, que vemos aqui confunde-se com prajña, é
o fluxo imperturbável, imutável, o transe água viva.
‘Vayu dotado com
as oito glórias’, conforme vimos acima na citação do Shiva purana, seria então
Vayu dotado com estes oito acessórios, partes, membros.
De djhanas e
samadhi, Buddha fala bastante nos Nikayas todos (diga-se de passagem,
traduzidos para o português por Michael Beisert e acessível gratuitamente em
acessoaoinsight.net na internet que junto com os Jatakas, vidas passadas de
Buddha em vidasdebuddha.blogspot.com compõe bastante texto canônico buddhista
gratuito, livre, de graça, na rede: nada custa). E a descrição tanto de Buddha
quanto de Patañjali, é de um fluxo imperturbável, fluxo imutável, qual água que
flui.
Em Chandogya Upanishad VII,1: “Apesar do
mundo estar amarrado apertado por todos os lados pelos fortes laços do desejo
que são paradoxalmente tão delicados quanto as fibras de caule de lótus, é ao
mesmo tempo seguro e suportado por Prana que é não apenas imanente no mundo
como uma linha em contas mas também o
envolve por fora. É este Prana que é conhecido
como Prajñatma por conta da suposta identificação da upadhi de prana como
prajña com o Atman ...”.
Texto que comprova nossa tese de aproximar prana e
prajña.
Recorrendo a
Ananda Coomaraswamy, o grande historiador da primeira metade do séc. XX, temos:
“No Rig-Veda o ato da criação é referido sob nenhum aspecto mais fundamental do
que aquele da soltura das Águas (apah)
que foram confinadas dentro de profundezas ocas (kha) da rocha ou Montanha (asmi,
adri, budhna, himavat) onde Vrtra as segura. Quando as Águas são
figurativamente chamadas de Vacas, então a Montanha é o curral de pedra no qual
elas estão aprisionadas. A soltura, libertação, das Águas ou das Vacas é também
o Encontro da Luz Escondida. A Rocha é do mesmo modo o lugar de nascimento de
Agni (RV II,12,3) e deste lugar ele consegue seus cavalos ctônicos (budhnya) e outros tesouros (RV VII,6,7 e
X,8,3). O poço inexaurível, aí, jorra o Rio da Vida, Saraswati...” (cf. Rig
Veda I,56,5 ; I,62,3 ; I,130,3 ; II,12,3 ; II,15,3 ; IV,3,11 ; V,41,12 ; X,89,4
; X,113,4). “Se fosse necessário justificar a designação de Saraswati ou as
vezes Asmanvati (obviamente um nome essencial da corrente, fluxo, que flui da
Rocha, asmano hy apah prabhavanti,
SB, IX,1,2,4 = srnvantu apah...adreh RV
V,41,12), como o Rio da Vida (ou no plural quando as sete irmãs são
mencionadas) pode haver referência a tais expressões como ‘ as Águas molharam
(ensoparam)(sarayanta) as terras
gastas (dhanvani), RV IV,17,2 – o
tema do Graal – e mais especificamente ‘A ti, Saraswati, angélica, pertence
toda vida angélica, conceda-nos progênie ( toc
visva... RV II,41,17); novamente a qualidade da maternidade é
constantemente atribuída a todos ou qualquer dos ‘Rios’.” (pg 118). Imagem da criação e a libertação do rio da
vida junto da árvore da vida.
Mais
adiante o mesmo autor diz : “A palavra ‘giri’ (A.A.II,1,8) traduzida acima por
‘garganta’(n.) leva a si mesma a uma exegese mais ampla. Keith a traduz por
‘lugar de esconder’ (de Brahma) e em uma nota diz muito acertadamente que ‘é
chamado ‘giri’ porque ‘prana’ está engolido e escondido pelos outros sentidos’
(nota: Os ‘outros sentidos’ (vista, ouvido, etc.)
identificados com o giri de Brahma são extensões ou envios, remessas, (Mund.
Up. II,1,8 ; Kaus. Up. III,5) do Sopro central (pranah) ou espírito (atman)
do qual eles se originam e para o qual eles retornam...). Em uma nota em A.A.
II, 2,1, ele adiciona, ‘O sol e prana são usualmente identificados, um sendo a
representação ‘adhidaivatam’, o outro a ‘adhyatman’. O primeiro atrai a visão,
o último impele o corpo’. É de fato dentro de nós que a deidade está
‘escondida’ (...) lá que o Védico ‘rsayah’
buscado pelos seus rastros, lá no coração que o ‘Sol escondido’ (...) é para
ser ‘encontrado’, ‘pois este em nós mesmos está escondido (...) estas deidades
(os sopros); (...) com ‘giri’ (radical gir,
‘engolir’) comparar ‘grha’ (radical grah,
‘agarrar’); ambos implicam lugares fechados, refúgios, um ser dentro de alguma
coisa. Ao mesmo tempo ‘giri’ é ‘montanha’; e ‘garta’ (da mesma raiz) ambos
‘assento’ e ‘grave’ (túmulo)( pode-se ser engolido por ambos). As semânticas
são paralelas no ger. Berg, ‘montanha’ e seus cognatos Eng. barrow, (1) monte e
(2) ‘monte fúnebre’, ‘burgh’ cidade, ‘borough’ e finalmente ‘bury’ ; cf. Skr.
Stupa, (1) cume, elevação e (2) monte fúnebre. Nós somos então, a ‘montanha’ na
qual deus está ‘enterrado’ justo como numa igreja ou stupa e o mundo mesmo, são
Seu túmulo e a ‘caverna’ (nota grande sobre os poderes da alma enterrados qual
branca de neve e os sete anões) na qual Ele desce para nosso despertar (MU II,
6). O que tudo isto leva a ter em mente, que ambos os Maruts e os brotos de
Soma são equacionados com os ‘sopros’ (SB IX,3,1,7 etc), é a probabilidade que
giri no Rigveda apesar de traduzível por ‘montanha’ é realmente antes ‘caverna’
(guha) que ‘montanha’ e ‘giristha’
‘na montanha’ antes de sobre ela...” (pg. 385s).
Temos, portanto,
estabelecida que a imagem d’água que jorra do monte, livre, de presa, contida,
que estava, é imagem do ser humano atingindo o transe enstático, extático,
chamado também de insight místico, samyama, samadhi, após o controle da
respiração e da abstração dos sentidos, pranayama e pratyahara respectivamente.
E assim o fluir do rio Saraswati, o fluir da contemplação, da meditação.
A citação do
Shiva Purana acima diz que Vayu ‘nasce de Akasha’. Este último seria o quinto
elemento, o éter, ou espaço, comum na cosmologia oriental e ocidental síntese
de todos os elementos. Novamente
recorramos a Ananda Coomaraswamy para entendermos o que é esta origem do sopro,
espírito, no éter - segue a citação:
“Kha,
do grego Khaos, é geralmente ‘cavidade’ e no Rigveda particularmente o buraco
no cubo da roda através do qual o eixo roda (Monier-Willians). A.N. Singh
mostrou conclusivamente que no uso matemático Indiano, corrente durante os
primeiros séculos do Cristianismo, ‘kha’ significa ‘zero’; Suryadeva,
comentando sobre Aryabhata, diz que, ‘os ‘khas’ referem-se a vazios (khani sunya upa laksitam)... assim
Khadvinake entende os dezoito lugares explicados por zeros’. Entre outras
palavras que denotam zero estão sunya,
akasha, vyoma, antariksha, nabha, ananta e purna. Somos imediatamente
atingidos pelo fato que as palavras sunya,
‘vazio’ e purna, ‘plenum’, tem uma
mesma referência; a implicação sendo que todos os números estão virtualmente ou
potencialmente naquilo que é sem número; expressando isto como uma equação
temos que 0 = x-x, é aparente que zero está para número como possibilidade está
para atualidade. Novamente, o emprego o termo ‘ananta’ com a mesma referência implica uma identificação do zero
com infinito; o começo de todas as séries sendo assim o mesmo que seu fim. Esta
ideia última, devemos observa, encontra-se já na literatura metafísica antiga,
por exemplo, RV IV, 1,1, onde Agni é descrito como ‘escondendo ambos os seus
fins, términos’ (‘guhamano anta’);
AB, III,43, ‘o Agnistoma é como uma roda de charrete, sem fim (‘ananta’)’ ; JUB, I,35,’O Ano é sem fim
(‘ananta’), seus dois términos (‘anta’) são Inverno e Primavera... assim
também o canto é sem fim (‘anantam saman’).”
(pg 249)
Mais adiante o mesmo
autor continua : “O cubo da roda então, ‘kha’ ou ‘nabli’, da roda do mundo é
visto como receptáculo ou fonte de toda ordem, ideias formadoras e bens : por
exemplo, II,28,5, rdhyama te varuna khan
rtasya, ‘possamos, Ó Varuna, ganhar o teu eixo, cubo, da Lei’ ; VIII, 41,6
onde Trita Aptya ‘todos os oráculos (kavya)
estão colocados como que no cubo dentro da roda (‘cakre nablir iva’)’; IV,28, onde Indra abre os cubos ou rochas
fechados ou escondidos (apihita...khani no
verso 1, apihitam asna no verso 5) e
assim liberta os Sete Rios da Vida. Em V,32,1, quebra e abre a Fonte da Vida (‘utsam’), isto é novamente um
esvaziamento para fora dos vazios (‘khani’)
onde os dilúvios encadeados são libertados. De acordo com uma formulação
alternativa, todas as coisas são pensadas ‘ante principium’ como fechadas
dentro e ‘in principio’ como procedendo de, um chão comum, rocha ou montanha (budhna, adri, parvata, etc) : este chão,
é pensado como uma ilha descansando dentro do mar indiferenciado da
possibilidade universal (X,89,4...). Isto significa que a priori espaço não
dimensionado (kha, akasha,etc) está
na base e é a mãe do ponto, antes deste último ter uma origem independente; e
isto de acordo com a ordem lógica de pensamento, que procede da potencialidade
ao ato, do não ser para o ser. Este chão ou ponto é, de fato, a ‘rocha das
idades’ (asmany anante, I,130,3; acyutam, VI, 17,5). Aqui ‘ante principium’
Agni descansa oculto (guhan santam,
I, 141,3,etc) como Ahi Budhnya, ‘no chão do espaço, escondendo ambos seus
términos’...”. (pg 252).
Outra
referência, desta vez dos Upanishads, BU (Brhradanyaka Upanishad) III,7s quando
Yajñavalkya (o grande autor do Satapatha Brahmana) responde a Uddalaka Aruni
conhecido como Gautama. Segue a citação:
“Certa vez, o Gandharva questionou Patañcala se ele conhecia bem aquele
Sutra (Linha) que segura todos os seres e todos seus nascimentos presente e
futuro, como uma linha que mantem juntas as contas de uma guirlanda. ‘Não
senhor, não conheço este sutra’ respondeu o kapya. (...) ‘Vayu é este Sutra;
pois por seu poder são seguros todos os seres e seus nascimentos. Daí porque, Ó
Gautama, quando uma pessoa morre, isto é, quando Vayu a deixa, todos seus
membros se tornam sem força. Sendo sutil igual akasha, ele é o suporte da terra
e dos outros seres: ele é mesmo o ‘Lingadeha’, o corpo sutil consistindo dos
cinco elementos, dez órgãos dos sentidos, prana e antahkarana; resumindo ele
consiste em ambos o cosmos e o acosmos. (...). Há, Ó Yajñavalkya, o mundo
celestial acima na parte de cima do hemisfério qual ovo que forma este
universo; abaixo no hemisfério inferior deste há a terra; e entre as duas
metades há a região intermediária. Agora, diga-me o que é aquilo no qual tudo
que está acima, abaixo e no meio assim como também tudo que aconteceu no
passado, está acontecendo no presente e acontecerá no futuro está inteiramente
contido’. Yajñavalkya respondeu, ‘Tudo isto que você descreveu, Ó Gargi, não é
outro que o Sutra sobre o qual já te falei. Como a terra n’água, ele está
contido no não manifesto Akasha e reside lá apenas, durante todos os três
tempos, isto é durante os períodos de originação, continuação e dissolução.’”.
Em
IV,1 e 3 continua: “Prana significa portanto que a divindade de Vayu (vento) é
o corpo de pranas (órgãos dos sentidos) e que akasha é o suporte dele.” E segue
uma bela passagem sobre samsara: “Consistente com isto, foi então explicado que
justo como as aparências de uma serpente, uma miragem e da prata estão super
impostas a corda, ao deserto e à concha, respectivamente, do mesmo modo o
conjunto do samsara está super imposto ao Atman por conta das upadhis do
antahkarana, etc, devido à ignorância.”
Há ainda
uma última citação em CU (Chandogya Upanishad) IV,10 :
“Então
aproximando-se Upakosala, lhe disseram que Prana é Brahman, ‘ka’ é Brahman e
‘kha’ é Brahman. (...) ‘ka’ significa felicidade que dura apenas por um momento
e ‘kha’ que significa akasha é um elemento inconsciente. (...) justo como o
adjetivo ‘azul’ na frase ‘lótus azul’ exclui todas as lótus vermelhas, assim
‘kha’ como adjetivo de ‘ka’ exclui outros tipos de felicidade que são causadas
pelo contato da mente com os sentidos e seus objetos. Portanto entenda que o
que chamamos de ‘kha’ é o mesmo que ‘ka’. Do mesmo modo quando ‘ka’
(felicidade) se torna o adjetivo de ‘kha’ (akasha) ele exclui o akasha
inconsciente do conteúdo de ‘kha’. Isto significa que quando a felicidade está
alojada no (não consciente) akasha, ela é Brahman; ou, o que é a mesma coisa,
quando o não elemento, não inconsciente akasha (kha) é suportado por felicidade
(ka) ele é Brahman. Aqui pode-se dizer que se ambas as afirmações significam
uma e a mesma coisa, uma delas apenas “ou ‘ka é kha’ ou ‘kha é ka’” será
suficiente. A outra afirmação é supérflua. Mas, como é demonstrado acima,
devemos excluir portanto ambos os prazeres sensíveis empíricos assim como o
akasha inconsciente (...)”. No Grego
mantem-se a comparação pois Chaos, espaço escancarado (que em latim fará hio,
de onde hiato), boquiaberto, abismo, também significa nobre, venerável,
formando o radical de Chara, alegria, prazer, de onde vem Chariatides e a
Caridade mesma.
Ainda em Yoga sutras III,40 é dito que em akasha reside todos os poderes
de escutar e todos os sons e a ausência de obstrução é uma indicação também de
akasha, que é provado a tudo penetrar, tudo permear.
Este
processo fisiológico e espiritual estaria contido dentro da Vida de Timoleon de
Plutarco que teria consciência do paralelismo com o deus védico Vayu chamando a
ambos de alento, apropriadamente, como vimos antes. A linha, sutra que junta
todas as contas de uma guirlanda, colar, aparece de algum modo? Sim aparece.
Primeiro no capítulo VIII quando vemos as sacerdotisas de Prosérpina/Perséfone
seguindo a expedição em um barco próprio só delas. À noite rasga-se o céu e
aparece sobre a nave principal uma grande coluna de fogo resplendente e que se
fixou no ponto da Itália para onde se dirigiam, levantada uma tocha, qual dos
mistérios e seguindo o mesmo curso, o fogo do céu indicando que as deusas
protegiam a expedição. A coluna de fogo
é a linha, sutra, que atravessa toda a realidade do corpo, mundo, sendo o
princípio/fim de todas as coisas. A mesma coluna não guiava Israel/Iacó/Iaco
pelo deserto?
A segunda vez que
aparece a linha é no capítulo XII logo em seguida quando já desembarcados em
Adrano acontece das armas do templo da cidade se mexerem sozinhas e a estátua
onde elas se apoiavam suar, soltar suor, automatismo atribuído a estátuas e
armas comum na antiguidade; o automatismo aconteceu quando Timoleon correndo, junto
com os seus, para enfrentar o inimigo, ao invés de parar para descansar abraça
o escudo e continua a correr sem descansar e ganha a batalha por isto. É o
Prana principal, o sopro primeiro seguido dos outros sopros em seguida: o
abraçar o escudo no peito, na região da caixa toráxica indica isto. O
automatismo é a linha: Pinóquio de Collodi divulgou o tema: somos marionetes
manipuladas por Deus. Uma linha nos puxa para cima e por ela somos arrastados a
fazer a vontade de Deus.
No capítulo XI
anterior temos uma imagem de akasha, o suporte do sopro, o princípio/fim de
todas as coisas: a palma da mão para cima é o princípio, começo, origem,
enquanto a palma da mão para baixo é o fim, término, destruição. Um cartaginês
ameaça Andrômaco, aliado dos gregos, com estes gestos das mãos mas nada
consegue. A imagem é a mesma dos Upanishads na citação de Yajñavalkia com o Ovo
em seus dois hemisférios superior e inferior e uma região intermédia - céu,
terra e atmosfera – akasha, o éter, o espaço, estaria por dentro e por fora,
antes e depois do surgimento do mundo, ovo.
Outras imagens do
akasha, éter, aparecerão como no capítulo XVI quando em Adrano em um sacrifício
num templo, dois inimigos o querem assassinar mas um deles é morto por um
terceiro e o vivo conta tudo: “maravilharam-se com a destreza com que a Fortuna
move umas coisas por meio de outras e reunindo-as e combinando a todas, desde
longe se serve das que parecem mais distantes e não tem nada de comum entre si,
fazendo com que o fim de umas seja o princípio de outras.” Então foi
considerado homem sagrado que realizava a vontade dos deuses, vingador da Sicília.
O que prova que o que fizeram a Dion e sua família está na mente do Povo, sua
morte e ressurreição qual outro Dionisos, morte da liberdade destruída,
sufocada e apagada pela tirania.
Os capítulos
de XIII-XV tratam do destino de Dionisio, o jovem que fica do lado dos gregos e
de Timoleon, entregando a acrópole para os coríntios enquanto os cartagineses
ficam com a cidade baixa. Dionisio vai para Corinto e fica vivendo numa taberna
como a mais simples das pessoas simples: fala-se então muito da roda da fortuna
que eleva as pessoas para o mais alto e depois as faz descer para o mais baixo.
Seria um dos sopros com o pessoal da acrópole e os que chegam de barco formando
outro sopro (capítulos XVII-XIX).
A tomada da
Siracusa é um passeio em que se vê a falta de obstáculo que caracteriza o
akasha e sua permeabilidade, tudo permeando, por fora e por dentro, conforme as
referências anteriores – segue citação do capítulo XXI : “Timoleon se apresenta
dia seguinte e dividido em três partes o exército, ocupa Siracusa; de maneira
que quando em Corinto se duvidava se a armada havia aportado, no mesmo momento
receberam a notícia da chegada e da vitória; tão prosperamente ocorreram os
sucessos e tanto se agradou a fortuna em somar a presteza ao brilhantismo
daquelas façanhas.”
No capítulo
anterior, XX, temos o último sopro, samana, da digestão, quando em trégua e paz
nas belas praias de Siracusa soldados gregos de ambos os lados pescam enguias e
comem juntos, colocando dúvidas em Magón cartaginês, este foge sem lutar:
quando chega em Cartago o crucificam.
No XXII-XXIV
vemos que Siracusa então está uma ‘terra gasta’, desolada pelas construções dos
tiranos e por suas estátuas; diz-se então que a queda de Dion foi por ter
preservado ambos, razão de seu insucesso enquanto Timoleon chama os siracusanos
para as destruírem, aplanarem e levantarem prédios públicos significando que a
liberdade está acima do despotismo, com as estátuas sendo julgadas e leiloadas.
A praça pública então está tomada de animais selvagens de tão abandonada que
estava – é esta terra que será tomada pelo rio da vida que sai da árvore da
vida no meio do monte da vida. O repovoamento a partir de Corinto é anunciado
por toda a Grécia e Ásia terminando com as tiranias na Sicília e com os tiranos
indo para a metrópole Corinto. Aqui
estamos na abstração e na concentração prontos para entrar em samadhi, transe,
samyama e em seu fluxo imutável, o que acontece nos capítulos seguintes.
No
capítulo XXV alguma passagem de Plutarco indica que Timoleon está fora de si
neste momento, entrando em transe, em samadhi, em samyama? Sim, Plutarco diz
que dizia-se que Timoleon delirava.
Os cartagineses vieram em massa com um exército de 70.000 infantes,
cartagineses, é dito, de Amílcar e Asdrúbal, chegam junto do rio
Cremiso/Crimeso e trava-se a batalha com Timoleon saindo de Siracusa com apenas
5.000 infantes e o general tinha então 70 anos: estava doido? Perdeu os
sentidos? Está fora de si? Entrou em transe?
No XXVI
acontece então o episódio d’Árvore da vida: “Subiam um monte, do alto do qual
veria-se os inimigos, quando encontraram um carreto de aipos / salsão. Os
soldados acharam mal sinal, pelo uso de coroar por piedade os monumentos dos
mortos com aipo e daí o provérbio de quem está gravemente enfermo que está
pedindo aipo. Querendo pois afastá-los de semelhante superstição e dissipar sua
desconfiança, parando a marcha falou Timoleon: “Que antes da vitória a coroa
lhes vinha por si mesma às mãos deles porque os coríntios coroam com aipo
àqueles que vencem nos Jogos Ístmicos, tendo esta planta por uma insígnia
sagrada e própria de seu país.” Pois então era de aipo a coroa dos jogos
Ístmicos como agora o é a dos nemeos (de Nemeia) e não muito antes havia sido
de pinho.” Todos os soldados então se coroam e aparecem duas águias, uma
segurando uma serpente e outra gritava alto. Imagem de dhyana, jhana,
meditação, com a coroa sagrada na cabeça
justificando plenamente a tese.
Segue capítulo
XXVII onde a nata dos cartagineses em brancos escudos e armaduras atravessam em
carros o rio, compacta, unida e os estrangeiros das demais nações, empreendiam
a passagem em desordem e confusão. Mirou os inimigos divididos pelo rio e
dividiu o exército mas deu uma parada e gritou muito alto para acertar o ataque
“pareceu que sua voz foi mais forte e penetrante que de ordinário bem fosse
porque naquele conflito e naquele calor se acrescentasse efetivamente a voz ou
porque algum gênio, segundo então muitos o creram, o ajudasse a gritar e
gritasse com ele”. Esta aparição do som
duas vezes seguidas (neste grito e com àguia) é explicada por A. Coomaraswamy :
“As inumeráveis alusões Védicas à descoberta do Sol ou Fogo, perdido nas Águas,
nas Profundezas (guha) ou na Escuridão (tamas) – e.g. Rgveda V,40,6 – se
referem primariamente ao escurecimento da Luz antecedente à Aurora de um
ciclo-do-mundo e à descoberta desta Luz por meio de hinos ou ritos cantados ou
realizados por Anjos ou homens. Naturalmente ritos análogos são realizados e os
mesmos hinos são cantados aurora de cada dia, ou durante um eclipse para o
retorno da luz escondida. Não se deve deixar de ver que as Águas, as
Profundezas e a Escuridão são também as Profundezas do Coração e que para
aquele que entende os mesmos hinos e ritos são meios para a visão interior
daquele Sol Superno do qual o brilho e a escuridão são sem sucessão nem
sujeitas a qualquer acidente do tempo (pg 91).”
Soma-se a isto a proximidade de
akasha com o som com vimos no Yoga sutras.
Segue a imagem
do transe, samadhi, no capítulo XXVIII:
“Aos golpes de
lança aguentaram bem as couraças de ferro e os escudos largos mas depois na
luta com espada, o peso que os cartagineses carregavam os fizeram afundar
n’água porque passa a chover torrencialmente e na cara dos cartagineses e nas
costas dos gregos, relâmpagos sem fim, granizos, estrondos nos céus e nas armas,
vento, chuva espessa, muito barulho não se escuta as ordens, os cartagineses
pesados e os gregos lisos e rápidos, os primeiros se caíam era impossível se
levantar da muita lama. O rio enche e
transborda. Morreu muito cartaginês e não líbio, númida ou espanhol: a batalha
que mais cartagineses morreram.”
No capítulo
XXIX fala-se da distinção dos vencidos: poucos despojos de ferro e bronze e
muito despojo de ouro e prata! Eis o tesouro escondido e liberado. As couraças
mais bonitas foram enviadas para Corinto.
No
capítulo XXXVI (depois do XXXV com a conclusão em que aparece Timoleon como
alento) temos a comparação com Pelópidas, Agesilao e Epaminondas, generalatos
com dificuldades e esforços e o de Timoleon com facilidade e esplendor
adicionados. “Edificou ao lado de sua casa um templo ao Khaos (Acaso, igual a akasha e encontrando neste a sua real
explicação)(sucesso imprevisto) em que fez sacrifício e à casa mesma a
consagrou ao gênio.” Ficou em Siracusa com a família e foi feliz para sempre.
Logo depois esta cidade produziria Arquimedes, o grande cientista.
Yama e
Nyama apareceriam nos capítulos III-VI onde se conta como Timoleon tinha um
irmão tirânico ao qual ele salva numa guerra protegendo-o com seu corpo e este
mesmo irmão ao não largar a tirania é morto por Timoleon o que faz com que a
família e a mãe lhe fechem as portas e assim “vive anos em lugares solitários
passando uma vida infeliz e inquieta nas mais desertas solidões”, o que indica
a purificação e limpeza de modo que diz Plutarco : “Desta maneira se os juízos
não dominam as ações, tomando segurança e força da razão e da filosofia,
flutuam e são facilmente transtornados por qualquer elogio ou repreensão,
destituídos do fundamento do discurso, razão, próprio.” que seria o estudo. É
então que ocorre sua indicação no meio da assembleia “inspirada quiçá por algum
deus.” Neste momento Plutarco compara Timoleon com Focion ateniense e com
Aristides locrio nesta luta solitária para manter a razão e a liberdade.
Bibliografia
Plutarco, Vida de Timoleon, em Vidas Paralelas,
tradução de Antonio Sanz
Romanillos,
Jose Ortiz y Sanz e Jose M. Riaño, Aguilar, Madri, 1973.
Ananda Coomaraswamy, Perceptions of The Vedas, Manohar
& IGNCA, New
Delhi,
Índia, 2000.
Shiva Purana, vol.4, Motilal Barnasidass Publishers, Delhi, 1970, Índia.
Patañjali, Yoga Sutras, com comentário de Vyasa e
glosa de Vachaspati Misra
traduzido por Rama Prasada e introdução de
Rai Bahadur Srisa Chandra
Vasu,
MMPublishers, 1.a edição 1912, 3.a 1982, New Delhi, Índia.
V.H.Date, Upanishads Retold, MMPublishers, 2 vol., New
Delhi, Índia,1999.
René Guénon, L’Homme et son devenir selon le Vedanta,
Ed. Traditionneles, Paris,
1984.
A Bíblia de Jerusalém, Paulus, SP, 1985.
Pausanias, Guide to Greece, 2vol, trad. Peter Levi,
Penguin Books, London,
England, 1979.