sábado, 30 de novembro de 2019

[ n. do tr.: Ganesha = Pelópidas ]



                                                           Plutarco Bramin

Ganesha = Pelópidas


Continuando o Shiva Purana em seu volume 2 temos as histórias dos filhos de Parvati / Shiva : Kartikeya e Ganesha em Rudrasamhita Kumarakanda seção IV que vai do capítulo I ao XXI. Cada um tem sua história mas é dito que cresceram juntos, educaram-se juntos. Ganesha nasce do resto de epiderme de Parvati que o coloca de porteiro da residência e impede Shiva de entrar : ela se sente desprotegida, invadida no seu banheiro de tomar banho e coloca um porteiro próprio. Parvati diz :

XIII, 25 “Ó caro, escute minhas palavras. Trabalhe como meu porteiro a partir de ho-je. Você é meu filho. Você é meu. Não é de outro jeito. Não há outro que me pertença.
26 Ó bom filho, sem minha permissão, ninguém, de modo nenhum, deve entrar em meu apartamento. Te digo o fato.”

E Shiva tentando entrar é expulso da própria casa com Ganesha batendo nele com um bastão. E Shiva fica de fora. Seus Ganas em seguida, seus membros, seguidores, foram lá na porta enfurecidos e disputam, discutem, com Ganesha, os Parsadas de Shiva, pari-shad ( assembleia, audiência, companhia, sociedade ). Mas Ganesha fica firme com seu bastão e sem medo não deixou seu posto, repreendendo, reprimindo, censurando, os Ganas de Shiva que acabam por retornar para Ele e informam o que aconteceu. Shiva esbraveja e xinga os Ganas de eunucos e os obriga a voltar para a porta e tirar Ganesha.
Os Ganas retornam uma segunda vez. Começam a falar e enquanto falam Ganesha pega o bastão e furioso começa a bater neles e expulsá-los e reclamando voltam para Shiva que está a um Krosa do monte Kailasa. Shiva os ridiculariza, a eles todos, chamando-os de tratantes impotentes, que professam ser heróis mas não são de fato, mandando que batessem em Ganesha e que ele fosse retirado.
Eles voltam uma terceira vez. E nesta vez Parvati manda uma mensageira ver o quê está acontecendo na portaria, a briga de porteiros pois os Ganas são porteiros de Shiva. A mensageira vê e relata para ela tudo o que estava acontecendo e ela, Parvati, pensa, medita, um pouco a respeito do problema e decide confirmar, dar força a Ganesha, enviando recado pela mensageira que fala com ele e confirma a proibição expulsando novamente os porteiros de Shiva que retornam para Ele e permanecem reclinados, abaixados, humilhados. Shiva briga novamente com eles e diz : 58 “Vão dizer que sou subserviente a minha esposa. Esta guerra deve ser lutada de todos os jeitos”.
Os Ganas então retornam uma quarta vez equipados com todas as armas para a porta do palácio de Shiva. Um exército contra um garoto, menino, palavra que aparece várias vezes aqui.

XV, 12 “Nandin veio primeiro e segurou uma de suas pernas e a puxou. Bhrngin correu então e pegou a outra das pernas.
13 Antes que os Ganas de Shiva tivessem tempo de puxar suas pernas Ganesha bateu nas mãos deles e libertou suas pernas.
14 Ele então pegou uma grande barra de ferro e permanecendo na porta esmagou os ganas.” Houve ferimento de todo tipo e eles são expulsos novamente, retornando para Shiva.

Neste momento todos os deuses, Narada, Vishnu, Brahma, etc, vão para junto de Shiva que fala rindo para Brahma :
27 “Ó Brahma escute. Um garoto está de pé na entrada da minha casa. Ele é bem forte. Tem uma vara na mão. Ele me impede de entrar em casa.
28 Ele bate com bastante habilidade. Ele destruiu muitos dos meus Parsadas. Ele derrotou com força meus Ganas.
29 Ó Brahma, você somente deve ir lá. Este menino forte deve ser propiciado. Ó Brahma, deves fazer tudo para controlá-lo.”

Todos retornam então para a porta uma quinta vez mas Ganesha puxa a barba e o bigode de Brahma e pegando o porrete de ferro faz os deuses todos saírem correndo. Shiva irado dá ordens aos deuses Indra e outros, aos Ganas liderados pelo seis-faces Kumara / Kartikeya, duendes, fantasmas, e espíritos que jogassem todas as armas contra Ganesha mas as armas falharam efetivamente. E todos ficaram muito surpresos.

XV, 44 “Enquanto isto, a deusa, a mãe do universo, de conhecimento especial, veio a saber o inteiro ocorrido e ficou bastante furiosa.
45 Ó sábio, a deusa criou duas Saktis ( Uma é o terrível aspecto da Deusa personificado qual Kali, Candi e Bhairavi, a outra uma bela forma amarela chamada Durga com várias mãos e montada num tigre em aspecto feroz e ameaçador ) lá e então para ajudar seu próprio Gana.
46 Ó grande sábio, uma Sakti assumiu uma forma feroz e permaneceu lá de boca aberta ampla, larga, qual caverna de montanha escura.
47 A outra assumiu a forma de relâmpago. Ela tinha muitos braços. Era uma terrível e pesada deusa pronta para punir o fraco, ruim.
48 As armas atiradas pelos deuses e Ganas foram pegos na boca e jogados de volta para eles.
49 Nenhuma das armas dos deuses foi vista ao redor do porrete de ferro de Ganesha. Este feito maravilhoso foi realizado por eles.
50 Um único garoto agitou e chacoalhou um vasto exército impassível da mesma maneira que a melhor das montanhas ( monte Meru ) agitou o oceano de leite anteriormente.”

Aqui a cena se compara com o batimento do mar de leite com o Meru ( ou Mandara ) de pilão e Vishnu de tartaruga segurando por baixo o mundo e os deuses & titãs / suras & asuras / anjos & demônios, juntos batem o mar de leite para retirar, prover, ganhar, amrita / ambrosia, o néctar celeste e outras riquezas, tesouros. Shiva fica com o pescoço azul porque assume para si o veneno produzido pela operação. Durante este processo todo de produzir riquezas uma grande batalha se dá entre os dois lados mas Vishnu sae vencedor.

Quanto a luta com Ganesha ela continua :

XV, 55 “Enquanto as ninfas excelentes vieram com flores e pasta de sândalo nas mãos. Você e os outros deuses que estavam ansiosos para ver a luta que aconteceu lá. Ó sábio excelente, o excelente caminho do firmamento estava inteiramente cheio delas.
56. Vendo está batalha elas ficaram muito surpresas. Tal batalha nunca tinha sido vista por elas antes.
57 Com a terra e os oceanos tremendo e como resultado da violenta batalha mesmo as montanhas caíram.
58. O céu girou com as estrelas e os planetas. Tudo estava agitado. Os deuses fugiram. Os Ganas também fizeram o mesmo. ”

Os deuses chegam a conclusão que ele só pode ser vencido por engano, ilusão, trapaça e o próprio Shiva lutando perde o tridente quando Ganesha bate na mão dele. Pega então o arco Pinaka e este também vai para o chão.

XVI, 31 “Assim por muito tempo os dois heróis Vishnu e Ganesha lutaram um com o outro.
32. Novamente o primeiro dos heróis, o filho de Parvati pegou seu porrete de poder sem rival relembrando Shiva e atingiu Vishnu com ele.
33 Atingido assim com este golpe insuportável ele caiu no chão. Mas se levantou, rapidamente e lutou com o filho de Parvati.
34. Segurando esta oportunidade, a deidade portadora do Tridente chegou lá e cortou fora a cabeça dele com seu tridente.
35 Ó Narada, quando a cabeça de Ganesha foi cortada, os exércitos dos deuses e ganas ficaram parados.”

Parvati ficou muito irada e criou Saktis que destruíssem os deuses e outros :

XVII, 16. “Karalis ( a Terrível ), Kubjakas ( a corcunda ), Khañjas ( a manca ), Lambasirsas ( a cabeça-grande ) inumeráveis Saktis pegaram os deuses com suas mãos e jogavam-los em suas próprias bocas.” ...
20. “Somente quando a deusa Parvati for agraciada pode haver alívio ; não de outro jeito, mesmo com nosso máximo esforço.
21 Mesmo Shiva que é um expert em diferentes esportes e está nos iludindo agora, parece triste como um homem ordinário, comum.”

A deusa disse : 42-43. “Se meu filho reganhar sua vida não haverá mais aniquilação. Se arranjarem para ele um status honroso e posição entre vocês como oficial presidente chefe, talvez possa haver paz no mundo. De outro modo vocês nunca serão felizes.”

46. Escutando o quê os deuses disseram, Shiva falou assim - “Deve ser feito concordemente para que possa haver paz sobre todos os mundos.”
47 “Vocês devem ir em direção norte e o primeiro indivíduo que encontrarem cortem fora a cabeça dele e coloquem-na no corpo.”
48. Então eles realizaram as ordens de Shiva e agiram concordemente. Trouxeram o corpo sem
cabeça de Ganesha e o lavaram.
49. Prestaram homenagem a ele e partiram rumo ao norte. Foi um elefante de presa única que eles encontraram.
50-51. Eles pegaram a cabeça e ajeitaram no corpo. Após juntá-la, os deuses inclinaram-se para Shiva, Vishnu e Brahma e falaram - “O que foi ordenado por você foi realizado por nós. Que a tarefa deixada incompleta realize-se agora.”
52 Então os Parsadas brilharam alegremente. Após escutarem estas palavras eles esperaram ansiosamente o que Shiva diria.
53. Então Brahma, Vishnu e outros deuses falaram após inclinarem-se para o senhor Shiva que é livre dos efeitos nocivos dos atributos.
54. Eles disseram : - “Já que todos nós nascemos da tua brilhante Energia que esta Energia entre dentro dele pela recitação de mantras Védicos.
55. Falando isto, eles juntos aspergiram água santa invocando os mantras sobre aquele corpo após lembrar Shiva.
56. Imediatamente após o contato d’água santa o garoto ressuscitou para a vida e junto com consciência. Como Shiva queria o garoto acordou como de um sonho.”

Após a ressurreição Ganesha e eleito líder dos ganas ; Shiva disse :

XVIII, 29. “Ó filho de Parvati, estou agraciado, não há dúvida disto. Quando estou agradecido o universo inteiro o está também. Ninguém será contra isto.
30. Já que mesmo enquanto garoto você mostrou grande valor enquanto filho de Parvati, você permanecerá brilhante e feliz sempre.
31. Que teu nome seja o de mais auspício em matéria de retirar obstáculos. Seja o oficial presidente de todos os meus Ganas e merecedor de veneração agora”. Segue uma lista grande de modos de venerar Ganesha.
66. “Quando Ganesha foi instalado, todo o universo atingiu paz e normalidade. Houve um grande júbilo. Todas as misérias acabaram. …
70 Quando Parvati ficou livre de fúria, Shiva e Parvati comportaram-se como antes.”

Há o casamento de Ganesha com Buddhi e Siddhi ( Faculdade e Consecução ).

XIX, 7. “O amor e afeição dos pais por seis-faces ( Kartikeya ) e Ganesha aumentou numa extensão qual da lua na metade brilhante do mês.
8. ó sábio celestial, certa vez os amáveis pais Parvati e Shiva tiveram uma conversa e discussão escondida.
9 Eles pensaram que os dois filhos atingiram a idade de casar e como o melhor casamento poderia ser celebrado então.
10 O seis faces senhor Karttikeya era o filho querido deles. Ganesha também era. Pensando assim
eles se preocupavam e se alegravam.
18. O casamento auspicioso será celebrado daquele que primeiro retornar após dar a volta na terra toda.”
Karttikeya parte correndo e Ganesha não ; ficando para trás e chamando os pais e pedindo que sentassem em duas cadeiras rodeou-lhes sete vezes e inclinou-se também sete. Depois disse que tinha dado várias voltas ao redor da terra.

39 “Aquele que venera seus pais e circum-ambula-os certamente terá o fruto do mérito de circum-ambular a terra.
40 Aquele que deixa seus pais em casa e sai em peregrinação incorre em pecado da morte deles.
41. O centro sagrado de um filho consiste nos pés de seus país semelhantes a folhas de lótus. Outros centros sagrados podem ser alcançados somente após longa distância.
42. Este centro sagrado está próximo, facilmente acessível e meio de virtudes. Para um filho e esposa, o centro sagrado auspício está na casa mesma. …
47. Falando assim, Ganesha de excelente intelecto, de grande sabedoria e primeiro entre as pessoas inteligentes ficou em silêncio.”

Ganesha acaba se casando com Buddhi e Siddhi filhas de Visvarupa e tem dois filhos um de cada, Ksema de Siddhi e Labha de Buddhi. Karttikeya quando volta e vê o quê aconteceu fica bravo com os pais e faz voto de celibato ficando no mesmo lugar até ho-je no monte Kraunka próximo de Kailasa.

XXI, 26 Ó sábio, ele foi embora assim. Ainda ho-je ele está lá removendo pecados de todos apenas com sua visão.
27 Desde este dia, Ó sábio celestial, o filho de Shiva, Karttikeya permanece celibatário.
28. Seu nome concede bons auspícios ao mundo. É famoso nos três mundos. Expele todo pecado, é meritório e confere a santidade do celibato.”


Celibatário também o era Epaminondas que cresceu e educou-se junto com Pelópidas em Tebas do séc IV a.C. ambos libertando toda a Grécia da tirania espartana que dominava então em mar e terra :

“Tão brilhante empresa, que no valor dos que a executaram e no bom sucesso com que a coroou a Fortuna, se comparou com a de Trasíbulo ( que libertou Atenas de Esparta ) foi irmã desta qualificada entre os gregos, pois não é fácil designar outros que subjugando com apenas a ousadia e intrepidez os poucos aos muitos e os desvalidos aos poderosos, houvessem sido causa para suas respectivas pátrias de maiores bens ; ainda que a esta reuniu maior glória a extraordinária mudança que produziu nos negócios da Grécia ; por quanto a guerra que acabou com a grandeza de Esparta e aos lacedemônios privou da superioridade e domínio por terra e mar, pode dizer-se que teve princípio naquela noite em que Pelópidas, não com tomar uma fortaleza, uma praça ou uma cidadela, sendo apenas um dos doze que voltaram, desatou e cortou, se nos é permitido usar desta metáfora, os laços de dominação lacedemônia, tidos por indissolúveis e indestrutíveis.” Plutarco, Vida de Pelópidas, cap. XIII. O verso 31 do Shiva purana sobre Ganesha tirar obstáculos aparece aqui.

Epaminondas = Kartikeya e Pelópidas = Ganesha. O problema é que apesar de existir a Vida de Epaminondas de Plutarco ela está perdida, escondida, não revelada assim como a de Scipião e a de Hércules. Mas fala-se bastante de Epaminondas na de Pelópidas tendo os dois vividos sempre juntos e unidos harmonicamente em oposição as brigas conflitos de duplas outras, p.ex., Nícias / Alcebíades, Péricles / Simão, Aristides / Temístocles. Neste cap. IV Plutarco compara os dois : Pelópidas preferia os exercícios do estádio enquanto Epaminondas aos da doutrina. “ … : assim nos momentos livres o primeiro se empregava na luta e na caça e o segundo em ouvir os sábios e formar-se para sê-lo. Mas entre tantos títulos para a glória que concorreu para ambos, nenhum reputam os homens de juízo por tão admirável como o quê em meio de tantos combates, de tantas expedições e de tantos negócios da República, a amizade deles desde o princípio até o fim se tivesse conservado sempre sem desgosto e sem quebra. … ( segue fala das duplas de chefes que brigavam, contendiam, disputavam ). A causa certa desta união foi a virtude pela qual não buscavam com seus atos aplausos ou riquezas, coisas as quais por natureza é inerente uma obstinada e ressentida inveja, senão que, amando-se reciprocamente desde o princípio com um amor sagrado, dirigiam de comum acordo suas expedições e seus triunfos pelo prazer de ver sua pátria elevada por ambos a maior grandeza e esplendor.”

O ritual iniciático dos nascidos da Terra ( Parvati ), que morrem e ressuscitam, ritual da ressurreição mesmo, repete-se, aparece, na história de Pelópidas, descendente de Pélops, que também em sua história, Pélops, morre e ressuscita, mil anos antes de seu descendente, Pelópidas em Tebas, ou seja séc. XIV a.C. na que veio a chamar-se ilha de Pélops, Peloponeso, onde os nascidos da terra, auto-ctones, espartoi, são seus descendentes, os da casa de Menelau ( Atreu & Tiestes, Agamemnon ) em Micenas, na Lacedemônia. Mas em Tebas que fica próxima contemporaneamente, espartoi, nascidos da terra, auto-ctones, são os que Cadmo semeou com os dentes de dragão : nasceram dos dentes semeados na terra. Um dos filhos de Pélops, Crisipo, é levado por Laio ( pai de Édipo ) para Tebas e morre, some, é levado para o céu. Por isto que a Sphinx assola Tebas em seguida com sua questão, charada. A cidade de Pélops, Olímpia ( e perto Pisa ) onde realiza-se os jogos olímpicos e comemora-se a festa do bisavô de Hércules e Teseu, Pélops, relaciona-se desde o princípio com a Tebas de Cadmo e Harmonia e mil anos antes de Pelópidas e Epaminondas.

O mesmo acontecimento, a morte do filho, acontece com Pélops, sendo ele mesmo o filho que é oferecido aos deuses cozido em pedaços em um caldeirão pelo próprio pai, Tântalo, que recebendo os deuses para uma refeição comete tal ato para saber se os deuses comerão ou não : apenas Deméter come o ombro esquerdo que depois foi substituído por um de marfim, os outros deuses percebem e não comem. Pélops então é colocado de volta no caldeirão e ressuscitado com o osso do ombro novo feito de marfim. Aqui a imagem aproxima dramaticamente Pélops e Ganesha porque este tem uma presa, dente, apenas e justamente no lado esquerdo como o marfim mesmo no ombro de Pélops. Com esta presa Ganesha teria escrito o Mahabharata ditado por Vyasa em Takkasilla / Taxila ( no Paquistão atual ) dois mil anos antes do marfim do ombro de Pélops dar aos gregos a vitória em Tróia junto com o arco de Filoctetes.

Eventualmente Pélops casando com Hipodâmia ao vencer uma corrida de carros acaba se tornando o primeiro herói olímpico e sua morte e ressurreição comemorada em toda olimpíada em templo próprio. Com comunhão alimentícia junto sendo ele mesmo a comida afinal de contas e com isto como já falamos em Plutarco Védico vê-se a proximidade dos mistérios gregos antigos com o cristão, segundo expôs o mistagogo d. Odo Casel em suas obras no princípio do século XX, onde a epístola de s.Paulo aos romanos parece o melhor exemplo 3,22 ; 5,15; 6, 2s ; 8,1 :

“não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus é na sua morte que fomos batizados ? Porque pelo batismo nós fomos sepultados com ele na sua morte para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova.”

O ritual tanto hindu quanto grego funcionavam da mesma maneira que o cristão.

O mesmo acontece em toda cidade-estado grega cada uma com seu herói, personagem e seu deus : “Archémoros, filho de Licurgo, rei de Nemeia, herói dos jogos nemeios ; o jovem Palemon, filho de Athamas, heróis dos jogos isthmicos; o couros Androgeu Eurigaios pelos jogos em Athenas ; Jacinto em Amicleia ; sem falar de Python em Delphos ; rito da imortalidade mais exatamente de acesso à vida divina, praticado por Thétis em relação a Aquiles, por Deméter com Demophonte, por Medeia sobre seus próprios filhos ; mito de segundo nascimento, de ressurreição iniciática ; que aparece também em Dionisos / Zagreus” ( Jeanmaire, H., pg. 417 ).

Este historiador neste seu livro aproxima esta morte iniciática seguida de uma ressurreição e toda a cultura envolvida nas festas e comemorações do acontecimento mítico, com as provas reais, praticadas, por todos os cidadãos, jovens, crianças, para iniciarem na vida adulta : “ A sociedade grega antiga resulta de associações formadas sobre a base de categorias de idade que se distinguem pelos nomes de paides, epheboi, neoi, gerontes.” ( pg 464); “as companhias formadas por guerreiros sobre a base de classes de idades ou de ritos de agregação tiveram por todo lado e bastante normalmente aspecto de confrarias de carácter religioso.” ( p. 569 ). “A criptia junto com outros instituições do mundo grego largamente difundidas, o auto controle, a penitência, a prova de resistência, o exercício = ascese, não poder se deixar ver quando vagando pelas montanhas, ficar sozinho e sem ajudantes, sem provisões, durante um ano, dormindo sobre a terra ou palha, aprendizagem das necessidades da vida militar : a criptia enquanto prova final da sequência de provas dos éfebos, irenes, mellirenes. Sequência de iniciações da juventude, adolescência.” ( pg. 551s). Esta sequência de provas mostra-se nas várias vezes que o garoto, menino Ganesha precisa enfrentar os ganas de Shiva.

Por conclusão a ‘Vida de Pelópidas’ de Plutarco mostraria então esta sequência de provas que segue da libertação da Cadmeia até a libertação de toda a Grécia pois a Grécia elencada em Delphos na coluna do santuário são várias cidades juntas reunidas em fraternidade igualdade e liberdade. 12. E para entender este ensinamento temos que “No Brahmavaivarta purana está dito que Ganesha era Krishna mesmo originalmente na forma humana. Sani foi até ele enquanto criança. A cabeça da criança em consequência separou-se e foi embora para Goloka. O elefante Airavata tinha então um filho na floresta. Sua cabeça foi removida e fixada na criança. Assim vemos que Ganesha que é o mesmo que Vighnesvara é considerado tendo nascido de Parvati de ambos Shiva e Parvati e também sustenta ser Krishna em outra forma. Ele é identificado com Parabrahman e com Brahmanaspati ou Brihaspati em outro lugar.” ( Gopinatha Rao, pg 46 ). O ensinamento é o ensinamento de Krishna dado, escrito, ensinado no Mahabharata que teria sido escrito por Ganesha conforme Vyasa falava em Takkasilla / Taxila usando a presa única, daí o nome de Ekadanta, como caneta, lápis.

Em dois momentos Krishna canta seus ensinamentos e justamente antes de duas grandes batalhas sendo a primeira a principal relata no livro e a segunda quando da soltura do cavalo ritual do Aswameda no final dos acontecimentos e do livro. As duas canções cantadas são para Arjuna, sendo a primeira o famoso Bhagavad Gita e a segunda Anugita, resumo da canção primeira. Neste segundo momento Arjuna fala :

“Arjuna disse “Ó poderoso em armas, tua grandeza tornou-se conhecida por mim quando aproximava-se a batalha. Ó filho de Devaki ( Kesava, Madhava, Vasudeva, todos nomes de Krishna ), tua forma também, enquanto Senhor do universo, então tornou-se conhecida por mim. O quê teu ser santo me disse naquele momento, Ó Kesava, através da afeição, foi tudo esquecido por mim, Ó chefe de homens, em consequência da inconstância da minha mente. Repetidamente, contudo, estava curioso sobre o assunto destas verdades. Tu novamente, Ó Madhava, vais voltar para Dwaraka logo.’ Vaisampayana continuou, ‘ Assim escutando ele, Krishna de poderosa energia,
aquele primeiro dos oradores, abraçou Phalguna ( Arjuna ) e respondeu para ele como segue : ‘ Vasudeva disse, “Te fiz escutar verdades que são tidas como mistérios. Partilhei, para ti, verdades que são eternas. Verdadeiramente, discursei para você sobre Religião em sua verdadeira forma e sobre todas as regiões eternas. É bastante desagradável para mim escutar que você , por loucura, não recebeu o que eu partilhei. A lembrança de tudo que te disse naquela ocasião não me ocorrerá agora. Sem dúvida, Ó filho de Pandu, tu és destituído de fé e teu entendimento não é bom. É impossível para mim,Ó Dhananjaya, repetir em detalhe tudo que disse naquela ocasião...” ( Aswamedha parva pg. 23 ).

Assim enquanto no primeiro discurso a devoção de Arjuna por Krishna entende-se por estarem os dois juntos no carro de guerra em plena batalha ( que diga-se de passagem não teve nenhuma pessoa morta por Krishna / Kesava / Madhava / Govinda / Hrishikesa / Vasudeva, vários nomes da mesma Pessoa, que apenas dirigiu o carro e não matou nenhum dos hum bilhão e seiscentos milhões de mortos e assim em determinado momento um guerreiro famoso joga uma clava, porrete, poderoso que jamais retornaria sem atingir o alvo apenas e unicamente se o alvo fosse inocente e o porrete, clava, retorna nos ares e mata seu dono, aquele que o jogou, atirou, arremessou ), no segundo vemos que já fora do carro e com o entendimento fraco do guerreiro, o discurso coloca a devoção dentro da relação Brahmana e sua esposa que o escuta, kshetrayna e kshetra, corpo e alma, mente e entendimento, dentro da mesma pessoa. Os ensinamentos são os ensinamentos mesmo da Sankhya ( de Kapila ) e da Yoga e diz-se explicitamente que ambas são uma coisa só. Ensinamentos que acabam por mostrar a Pessoa mesma de Vishnu / Krishna, a natureza universal para além da individual. Percebe-se que os acontecimentos da Vida de Pelópidas seguem em suas imagens a doutrina tradicional, a philosophia perene e que assim explicam também por seu lado a sequência de vezes que se combate, briga, disputa na porta da casa de Shiva / Parvati.

Uma das primeiras imagens e que salta aos olhos é a d’ ‘os Sete contra Tebas’ relata em tragédia famosa de Ésquilo ; as tragédias de Sófocles continuam a contar a história da cidade importante. Com certeza porque Dionisos é filho de Sêmele, a Lua, filha de Cadmo e Harmonia de Tebas. A imagem é a da cidade com sete portas tendo um guarda em cada porta – imagem dos sentidos, sensos, cada porta um sentido: visão, audição, olfato, paladar, tato, mente o sexto sentido e entendimento sendo o sétimo. As ‘pessoas’ que se batem nas portas são os órgãos e a função – os olhos e o que se vê, os ouvidos e o quê se ouve, o nariz e o que se cheira, o tato e o que se toca, a língua e o que se prova. Estácio em latim no século IV reescreve ‘os Sete contra Tebas’ e expõe esta imagem sendo por isto que guia Dante Aleghieri, antes de Virgílio, em sua caminhada, viagem.

Segue várias falas de Vasudeva / Krishna em que os sentidos são como portas e há morte nestas portas com o conflito entre o órgão e a função, o ouvido e o ouvido, a vista e a vista ( substantivo e verbo ), etc ; a morte é a restrição dos sentidos partilhados, entregues, no fogo da devoção :

“O Santo ( Krishna ) disse, - ‘Este imperecível ( sistema de ) devoção eu declarei para Vivaswat ; Vivaswat declarou-o para Manu ; e Manu comunicou-o para Ikshivaku. Descendo assim pelas gerações, os sábios Reais vieram a conhecê-lo. Mas, Ó castigador de inimigos, por ( um lapso de ) um longo tempo esta devoção tornou-se perdida para o mundo. O mesmo ( sistema de ) devoção é hoje declarado por mim para ti, pois tu és meu devoto e amigo, ( e ) isto é um grande mistério.’ (…) “Outros, por meio de sacrifício, oferecem sacrifícios para o fogo de Brahma ( largando toda ação ). Outros oferecem ( como libação sacrifical ) os sentidos, dos quais ouvir é o primeiro, para o fogo da restrição. Outros ( novamente ) oferecem ( como libação ) os objetos dos sentidos dos quais som é o primeiro para o fogo dos sentidos ( nota : oferecer os sentidos no fogo da restrição significa restringir os sentidos para a prática da Yoga. Oferecer os objetos dos sentidos significa não-apego a
estes objetos ). Outros ( novamente ) oferecem todas as funções dos sentidos e as funções dos sopros vitais para o fogo da devoção pela auto-restrição inflamada pelo conhecimento. ( nota : suspendendo as funções da vida pela contemplação ou Yoga ).” ( pg 63, Bhisma parva )

“A pessoa devota, que sabe a verdade, pensando - nada faço – quando vendo, escutando, tocando, cheirando, comendo, movendo, dormindo, respirando, falando, excretando, abrindo o olho ou fechando ; ela percebe que são os sentidos que estão engajados nos objetos dos sentidos. Aquele que renunciando apego engajado em ações, resignando-os por Brahma, não é tocado pelo pecado como a folha de lótus ( não é tocada ) pela água. Aqueles que são devotos, jogando fora apego, realiza ações ( atingindo ) pureza de si mesmo, com o corpo, a mente, o entendimento e mesmo os sentidos ( livres de desejos ). Aquele que possui devoção, renunciando a fruto da ação, atinge a mais alta tranquilidade. Aquele, que não possui devoção e está apegado ao fruto da ação, está preso pela ação realizada por desejo. O si mesmo encorporado restringido, renunciando todas as ações pela mente, permanece tranquilo dentro da casa de nove portas, nem agindo ele mesmo nem causando ( nada ) a agir. ( nota : Telang traduz Pura ( casa ) por cidade, claro, considera-se o corpo tendo dois olhos, dois ouvidos, duas narinas, uma boca, e duas aberturas para excreção. ). … Aquele cuja mente não está apegada aos objetos externos dos sentidos, obtêm aquela felicidade que está em si mesmo ; e concentrando sua mente na contemplação de Brahma, ele goza uma felicidade que é imperecível. Os gozos nascidos do contato ( dos sentidos com seus objetos ) são produtores de tristeza. … absorção em Brahma … absorção em Brahma … restrinja os sentidos, a mente e o entendimento, tende a intenção da emancipação e quem está livre de desejo, temor e ira está emancipado realmente.” ( Bhisma parva pg 65 )

“Jogando fora ( este ) corpo, aquele que parte, parando todas as portas, confinando a mente dentro do coração, colocando seu próprio sopro de vida chamado Prana entre as sobrancelhas, permanecendo em contínua meditação, pronunciando esta única sílaba OM que é Brahman e pensando em mim, atinja o objetivo mais alto. ( nota : todas as portas, i.e., os sentidos. Confinando a mente centro do coração, i.e., retirando a mente de todo os os objetos externos. ).” ( idem, pg 72 )

“ O Brahmana disse, ‘Em conexão com isto é citada a seguinte história antiga. Entenda tu
de que tipo é a instituição dos dez Hotris ( sacerdotes sacrificantes ). O ouvido, a pele, os dois olhos, a língua, o nariz, os dois pés, as duas mãos, o órgão genital, o duto de baixo e a fala, - estes, ó bela, são os dez padres sacrificantes. Som e toque, cor e gosto, cheiro, fala, ação, movimento e descarrego da semente vital da urina e dos excrementos, são as dez libações. Os pontos cardeais,
Vento, Sol, Lua, Terra, Fogo, Vishnu, Indra, Prajapati e Mitra – estes ó bela, são os dez (sacrificais ) fogos. Os dez órgãos ( de conhecimento e ação ) são os padres sacrificantes. As libações, ó bela, são dez. Os objetos dos sentidos são o combustível que é jogado nestes dez fogos assim como a mente,
que é a colher e os bens ( i.e., os atos bons e maus os sacrifícios).” ( Aswamedha parva pg. 38 )
“O Brahmana disse, ‘Em conexão com isto é citada a antiga história, ó bendita, do que é a instituição dos sete padres sacrificantes. O nariz, o olho, a língua, a pele, e o ouvido de número cinco, a mente e o entendimento – estes são os sete padres sacrificantes que permanecem distintos
um do outro. Habitando no espaço sutil, eles não percebem um ao outro. Tu, ó bela, saiba que estes padres sacrificantes são sete por natureza’.” ( idem, pg 41 ).
“O que quer que seja pensado pela mente, o que quer seja pronunciado pela palavra, o que quer que seja escutado pelo ouvido, o que quer que seja visto pelo olho, o que quer que seja tocado (pelo sentido) do tato, o que quer que seja cheirado pelo nariz, constitui oblações de manteiga clarificada ( ghee ) que deve ser toda, após a restrição dos sentidos com a mente somando seis, derramada dentro do fogo de altos méritos que queima dentro do corpo, i.e., a Alma.” ( idem, pg. 46)
É a famosa ‘porta estreita’, imagem evangélica inclusive e que assim como acontece na história de Tebas com os filhos de Édipo, acontece também com Pelópidas na mesma Tebas, no cap. XI da Vida de Pelópidas quando disfarçados, doze dos cidadãos entram na cidade e confrontam os espartanos invasores tendo a briga acontecido nas portas das residências dentro já da cidade. Uns disfarçados de mulheres atacam uma sala de festas com banquete em que esperavam justamente as mulheres e outros atacam residências. Neste capítulo por duas vezes fala-se da claridade, da luz, revelando quem são realmente : como a alma revela para a mente / intelecto qual a verdade das qualidades dos sentidos ( cf. Santi parva parte II pg. 48 e Aswamedha parva pg. 35 ). Pelópidas seria a alma e ele vai atrás de Leontidas : “Leontidas pelo ruído e modo de correr, conjecturou o que era e levantou-se tomando a espada ; mas não ocorreu-lhe apagar as luzes, com o que nas trevas teriam se batido uns contra os outros ; assim estando tudo iluminado foi visto por eles. Adiantou-se para a porta do dormitório e a Quefisodoro, que foi o primeiro a entrar, deixou no chão. Caído este, trava peleja com o segundo que era Pelópidas, sendo esta embaraçosa pela estreiteza da porta e pelo cadáver de Quefisodoro, que também estorvava ; vence ao fim Pelópidas e havendo dado conta de Leontidas, marcha correndo com os seus em busca de Hipates.”

Estes doze que entram disfarçados em Tebas salvam a cidade conforme o cap. XII da Vida de Pelópidas segue relatando, reunindo os exilados, desterrados, armando os habitantes que ainda estavam lá, pegavam armas dos pórticos das armas trazidas em triunfos e combinavam com os lanceiros e fazedores de espadas que haviam. “Ao raiar do dia vieram os desterrados em estado de peleja e o povo concorreu em imenso número à assembleia pública. Introduziram nela, Epaminondas e Górgidas, a Pelópidas e os seus, rodeados de sacerdotes que lhes davam coroas e exortavam os cidadãos a vir em auxílio da pátria e dos deuses. A assembleia toda com este espetáculo se pôs de imediato em pé com algazarra e regozijo, recebendo-os como a pais e libertadores.” Chamam-los de deuses porque a Cadmeia, cidade construída por Cadmo com a ajuda dos ‘nascidos da terra’ e dos deuses, foi a primeira cidade a receber os deuses todos do Olimpo na cerimônia de casamento de Cadmo e Harmonia, filha de Ares e Afrodite :
“Este foi o primeiro casamento mortal em que os Olimpianos compareceram. Doze tronos dourados foram colocados para eles na casa de Cadmo, que ficava no lugar do atual mercado de Thebas ; e todos eles trouxeram presentes. Afrodite presenteou Harmonia com o famoso colar feito por Hefesto – originalmente foi presente de amor de Zeus para Europa irmã de Cadmo – que conferia beleza irresistível para quem o usasse. Athena deu a ela um robe dourado, que similarmente conferia dignidade divina a quem vestisse e também um jogo de flautas ; e Hermes uma lira. O presente de Cadmo para Harmonia foi outro robe rico ; e Electra, mãe de Iasion, ensinou a ela os ritos da Grande Deusa ; enquanto Deméter assegurou a ela uma próspera colheita de cevada deitando com Iasion em um campo três vezes arado durante as celebrações. Os Thebanos ainda mostram o lugar onde as Musas tocaram flauta e cantaram nesta ocasião e onde Apolo tocou a lira.” ( Graves, pg. 198 ). A alma imortal dentro do corpo dos sentidos de modo que cada sentido, órgão função, estaria relacionado a um dos 12 deuses conforme vemos em Aswamedha parva nas pgs 38 e 69.

No Capítulo VIII quando os doze ainda estão disfarçados na casa de Carón chega um mensageiro da parte dos espartanos chamando Carón para falar. Este se exalta pois podem pensar que ele os está traindo e como gesto de confiança entrega o filho em penhor a Pelópidas, no meio dos doze, para que fizessem o que quisessem com ele, o filho, se o pai os traísse ou enganasse. Alguns choraram com a cena e todos se mostraram ofendidos de tamanha falta de confiança. “Mas Carón não condescendeu que se libertasse o filho, dizendo que não poderia haver para ele vida ou saúde mais gloriosa que morrer livre de afronta com seu pai e com tais amigos.” Esta entrega de um filho a
Pelópidas acontece mais duas vezes na Vida de Pelópidas e parece se remeter, se referir, ao ritual mesmo que a história de Pélops proclama. Georges Dumézil dissertando sobre as características do brahmin / flamin lembra : “O flamem dialis é ‘tomado’ ( captus ) pelo Estado e extraído do poder paternal ; o grande pontífice, após o ter ‘pego’, o apresenta ao deus e por meio dos augures, pede a concordância de deus ( inauguratio ). A lenda indiana de Sunahçepa, que funda em direito a superioridade dos brahmanes sobre todos os outros homens, mostra também o jovem brahmane comprado pelo rei ao pai que o vende a apresenta à concordância do deus...”. ( p.26 ). A criança, igual Ganesha, apresentado à sociedade, iniciando-se e enfrentando todas as provas. Ganimedes filhode Tros rei deTróia também sendo levado para o Olimpo. Mas o sistema mesmo da devoção, bhakta, amor, que une Krishna /Arjuna no mesmo carro ou um homem & a esposa ou o entendimento & a mente com os sentidos, o amor sagrado que une Pelópidas & Epaminondas.

Mas bhakta, devoção, tem significado próprio : “Está então claro o suficiente que o Nirukta e Brhad Devata estão inteiramente certos em dizer que os deuses são participantes ( bhakta ) na divina Essência ou espiração ; mesmo a fraseologia dos mantras Védicos é retida pelos expositores. A referência a ‘participação’ leva-nos a considerar o védico Bhaga, posteriormente Bhagavan. Bhaga não é um nome pessoal mas antes uma designação geral do poder ativo em qualquer de seus aspectos, como ‘Livre Doador’ ou ‘Partilhador’, que faz seus bhaktas participarem em suas riquezas. (…) Bhaga é de fato, referido por justaposição como o ‘Dispensador ( Repartidor, Distribuidor )’ ( vibhaktr, RV V, 46-6 ); e bhaga é ‘parte ( participação)’ ou ‘distribuição / repartição’, como em II, 17,7 (…) I.68.2, onde em um louvor dirigido a Agni, os vários ( visve, sc devah ) deuses são ditos ‘participarem na deidade’ ( bhajanta desatvam ); VII.81.2 tem uma oração àurora, ‘Que possamos ser associados na participação’ ( sam bhaktena gamemahi ). Destas passagens é suficientemente evidente que bhaga e vibhaktr são o distribuidor ou doador, que entrega a si mesmo ou sua substância ; sambhaja, o participante que partilha da doação ; bhaga, bhaksa e bhakta a parte que é dada ou indicada para as deidades pelo sacrificante ( I.91.1, pitaro… devesu ratnam abhajanta dhirah ), [ e tipicamente por Agni como sacerdote sacrificante ( hotr ), ‘Leve tu graciosamente para os deuses a parte ( bhagam ) deles da oblação’ ( X, 51, 7 ) : Ita missa est ! ]. No último caso o sacrificador ou sacerdote sacrificante é o vibhaktr, e a substituição de bhakta pelo Védico vibhaktr não introduz nova concepção. Bhakti implica devoção porque todo doar pressupõe amor : não segue que bhakti deva ser traduzido por ‘amor’. É verdade que bhakti-marga é também prema marga, o passivo ‘Caminho do Amor’, distinto de jñana marga, o ativo ‘Caminho da Gnosis’ ; ( … ) Devemos traduzir bhakti marga como ‘Caminho da Dedicação’ ou ‘Caminho da Devoção’ antes de ‘Caminho do Amor’. É verdade do mesmo modo que ‘participação’ implica ‘amor’, e ‘viceversa’, já que um amor que não participa no amado não é de nenhum modo ‘amor’ mas antes ‘desejo’. Amor e participação são contudo logicamente concepções diferenciadas, cada uma tendo sua própria parte na definição do ato devoto ; e quando as duas expressões são confundidas em uma tradução equívoca, não apenas estas nuances de significado se perdem mas ao mesmo tempo a evidência da continuidade do pensamento védico para o último fica escondida e um problema irreal é evocado.” ( Coomaraswamy, pg. 289, Perceptions ) Ou seja a devoção e a partilha, a parte partilhada, distribuída as potências da alma pelo entendimento, qual Krishna ensinando Arjuna, Narayana Nara. E estes dois caminhos ( vida ativa e vida contemplativa )também são ensinados por Krishna – Bhisma parva pg 72 :

“Esta mesma reunião de criaturas, brotando de novo e de novo, dissolve no advento da noite, e brota novamente, Ó filho de Pritha (Arjuna), quando o dia vem, constrangida (pela força da ação, etc.). Há contudo outra entidade, não manifesta e eterna, que está além deste não manifesto e que não é destruída quando todas as entidades são destruídas. Chamam-na de meta mais alta atingindo a qual não se tem que retornar. Este é meu assento Supremo. Este Ser Supremo, Ó filho de Pritha, Ele dentro de quem está todas as entidades e por quem tudo isto é permeado, é para ser atingido por reverência não direcionada para nenhum outro objeto. Te direi os tempos, Ó touro da raça Bharata, nos quais os devotos partindo ( desta vida ) vão, nunca mais retornando ou retornando ( deva yana & pithr yana ). O fogo, a luz, o dia, a quinzena luminosa (da lua), os seis meses ( em que o Sol caminha para ) o solstício norte, partindo daí, as pessoas conhecendo Brahma vão através deste caminho para Brahma. Fumaça, noite, também a quinzena escura (da lua) (e) os seis meses ( em que o Sol caminha ) para o solstício norte, (partindo) através deste caminho, o devoto atingindo a luz lunar, retorna. O brilhante e a escuridão, estes dois caminhos, são considerados eternos ( dois caminhos ) do universo. Por um, (se) vai nunca retornando ; pelo outro, se (indo)
volta. Sabendo destes dois caminhos, Ó filho de Pritha, nenhum devoto é iludido. Portanto, em todo tempo,esteja dotado de devoção.”

O tempo aqui pode ser unido ao espaço

“ Se o morto não segue a rota dos deuses, ele segue então a via dos Pais. Os Pais são só
mortos, mas os mortos permanecidos mortos ; eles não rejeitaram o mal ( Sat. 2,1,3,4 ). O lugar deles é misterioso ; “eles vivem no terceiro mundo a partir daqui”. Eles são incorporais ; estes são os espíritos. Situado entre os deuses e os homens, eles correspondem logicamente, no sistema de equivalências dos Brahmanas, seja às estações( Sat. 2,6,1,32 ) que é o degrau intermediário entre o ano, símbolo do tempo e da vida divina, e o dia, símbolo da existência efêmera e da vida humana ; seja as regiões do ar situadas entre a terra dos homens e o céu dos deuses.” ( pg 98, Levi, S. ) Os três mundos e os dois caminhos.


O capítulo XV da Vida de Pelópidas ainda fala da relação Pai-Filho na medida que os espartanos são pais dos tebanos na arte da guerra e que no ter que fazê-la em várias frentes acabam aprendendo esta arte da qual os espartanos são especialistas : “Por isto é famoso que o espartano Antalcidas disse a Agesilao na ocasião deste se retirar ferido : ‘Veja que prêmio te dão os tebanos por havê-los ensinado a lutar e guerrear contra sua vontade !’ E seu mestre não era na verdade Agesilao mas os que oportunamente e com muita conta lançavam aos tebanos como uns cachorros contra os inimigos para acostumá-los e fazê-los gostar e ter prazer nas vitórias não muito arriscadas ; do que Pelópidas levou a principal glória : pois desde a primeira vez que o elegeram general, todos os anos lhe conferiam o mando supremo ou bem como caudilho da corte sagrada ou bem como beotarca, presidiu sempre os negócios até sua morte.”

Esta coorte sagrada é a coorte dos amadores e amados descrita no capítulo XVIII, após a vitória de Tegiras descrita no capítulo XVI e XVII, onde esta coorte sagrada liderada por Pelópidas vence os espartanos :
XVIII. “A coorte sagrada se diz ter sido Gorgidas o primeiro que a formou com trezentos homens escolhidos, aos quais a cidade dava residência e refeição na cidadela [ Cadmeia ], pelo que se chamavam a si mesmo coorte cívica ; pois ao que parece os daquele tempo davam também o nome de cidade as fortalezas. Alguns são de opinião que este corpo se compôs de amadores e amados, conservando-se em memória certo chiste de Pamenes ; porque dizia que o Nestor de Homero não se fez acreditar ser tático quando ordenou que os gregos formassem por tribos e por curias,
a sua curia se agregue cada curia
e com sua tribo se una cada tribo,
pois o quê devia mandar era que o amante tomasse formação junto ao amado : porque os riscos, os da mesma cúria ou tribo não fazem muita conta uns dos outros, enquanto que a união estabelecida pelas relações de amor é indissolúvel e indivisível ; pois, temendo a afronta, os amantes pelos amados, e estes por aqueles, assim perseveram nos perigos uns pelos outros. Não de deve ter isto por estranho, quando se teme mais a afronta que pode vir dos amantes não presentes que a de quaisquer outros testemunhos, como se viu com aquele que estando caído e para receber o último golpe de seu adversário, lhe rogou que passasse a espada pelo peito, para que se seu amado o visse morto não tivesse motivo de envergonhar-se, crendo-o ferido por trás. Refere-se do mesmo modo que sendo Iolao amado de Hércules, participou também de seus trabalhos e o ajudou neles e diz Aristóteles que em seu tempo ainda faziam sobre o sepulcro de Iolao suas promessas mútuas os amados e os amadores. Era com razão pois que a coorte se chamasse sagrada, quando Platão chama ao amante amigo divino. Diz-se também que esta coorte permaneceu invicta até a batalha de Queronea ( ano 339 a.C. contra Filipe da Macedônia ), depois da qual, reconhecendo Filipe os cadáveres parou no lugar onde haviam caído os trezentos que frente a frente se haviam oposto na passagem estreita às armas inimigas ; e encontrou-os amontoados entre si, o que lhe causou estranheza e quando soube que aquela era a a coorte dos amadores e dos amados, largou a chorar e exclamou : “Estavam em má hora os que puderam pensar que entre semelhantes homens haja podido haver algo repreensível.

XIX. Finalmente, a esta intimidade dos amantes não deu origem entre os tebanos, como dizem os poetas, o desgraçado sucesso de Laio [ rapto e morte de Crisipo filho de Pélops ], senão os legisladores, que, querendo mitigar e suavizar desde a juventude o que havia em seu caráter de altivo e indócil, em toda ocupação e jogo quiseram que interviesse a flauta, conciliando (compondo) a música honra e consideração ; e nestes jogos procuraram manter este amor tão proveitoso para temperar com ele os costumes dos jovens. Por isto mesmo que concederam direito de cidadania àquela deusa que se finge nascida de Ares e Afrodite [ Harmonia ], para que o pendencioso e belicoso se unisse com o que participa mais especialmente da persuasão e das graças e resultasse um governo que fosse o mais solícito e mais ordenado, compondo, ajustando, tudo a harmonia. Esta coorte sagrada Górgidas a repartiu na primeira fila e a distribuiu por toda a falange entre a infantaria com o que obscureceu a virtude daqueles varões e não empregou sua força para que obrasse em comum, pois que estava como dissolvida e confundida com os que eram inferiores ; mas Pelópidas, logo que restabeleceu a virtude destes em Tegira, havendo-os visto combater denodadamente ao seu lado já não a dividiu ou dispersou, senão que empregando o corpo reunido a pôs na frente nos combates mais arriscados. Pois assim como os cavalos correm com maior velocidade em carruagens que sozinhos, não porque em maior número rompam mais facilmente o ar, senão porque aviva seu alento a reunião e a incumbência de uns com os outros, acreditava que da mesma maneira os homens valorosos, tomando entre si emulação para as ações brilhantes , se faziam mais úteis e mais ardentes para o que tinham que fazer em comum.”

Colocamos em paralelo esta doutrina do amor / harmonia e a homônima definida antes por Coomaraswamy, a tradicional doutrina ensinada por Krishna da devoção, partilhamento. No Shiva Purana citado acima temos nos versos 44-47 as Saktis de Parvati / Uma, criadas para defender seu gana, Ganesha, duas Saktis : Bhairavi / Kali / Candi de um lado com uma boca enorme qual caverna e outra como uma coluna de luz chamada Durga : dois lados que parecem ser os dois caminhos bhakti marga e jñana marga, vida ativa e vida contemplativa, Marta e Maria sendo Lázaro então o morto e ressuscitado. Há a imagem correspondente desta quinta vez em que disputam nas portas de Shiva / Parvati na Vida de Pelópidas no capítulo XVI, que citamos :
“Pouco mais abaixo destes lagos há um templo de Apolo Tegireo e um oráculo abandonado perto dele, porém que esteve em grande crédito até a guerra dos medos [ persas ], sendo Equecrates o que dava as respostas. A fábula refere que ali foi onde o deus [Apolo] nasceu ; o monte está ali perto se chama Delos e junto a ele terminam as divisões do rio Melas . Atrás do templo nascem duas fontes de águas admiráveis por sua abundância, sua doçura e seu frio, das quais a uma se chama Palmeira e a outra Oliveira até o dia de hoje, deduzindo-se que a deusa teve seu parto, não entre duas árvores mas entre dois riachos. Também está próximo o Ptoon, onde se diz que se assustou por ter aparecido de repente o bode ; e pelo que fez a serpente Pitón e a Tício, também os lugares concorrem a testemunhar o nascimento do deus, mas deixamos já de lado todos os demais indícios, porquanto as conexões da região não colocam a este deus entre os heróis que de mortais por mudança houvessem passado a ser imortais, como Heracles e Dionisos, que com este tipo de mudança perderam por sua virtude o moral e passivo, mas é um dos sempre eternos e não nascidos ; se é que vamos fazer algum juízo sobre estas coisas que fizeram referência os mais sensatos e mais antigos.”

A imagem das duas Saktis de Parvati com Ganesha no meio se repete como as duas árvores / fontes que protegem Apolo, a Terra mesma suportando, amparando o não nascido. Elas são os dois
lados do exército, a coorte sagrada dos 300 de um lado e o resto do exército do outro, a devoção e o entendimento. A imagem de Apolo não nascido, eterno, seria então equivalente à de Vishnu, Krishna, não nascido também, eterno, que aparece na canção do Partilhador, Bhagavat gita, ensinamento da partilha mesma, distribuição, feita pela devoção da mente & sentidos a, pela, inteligência do entendimento, ou determinação do entendimento que explica porque Epaminondas é chamado por Agesilao de ‘homem determinado’. Na descrição de Apolo há até o susto do não- nascido que está em paralelo com o aspecto horrível aterrorizante e assustador das Saktis.

Nesta mesma passagem do Shiva purana se fala do famoso episódio do batimento do mar de leite em que os opostos se encontram, deuses & titãs, suras & asuras, anjos & demônios, com um propósito comum de conseguir a ambrosia deste batimento ; como no ‘uroboros’ a serpente que morde a própria cauda, sendo a serpente a mesma que segura o mar no episódio e que aparece também circundando Àrvore da vida, da ciência do bem / mal no Pardes de Adam/Eva, e no lugar da cidade de Tebas mesma guardando a riqueza do local igual dragão que morto tem seus dentes semeados ; aparece igualmente ao redor da cintura de Ganesha segurando todos os bolinhos sagrados que ele engoliu e que deixou cair de noite : pegou ela , a serpente, que estava pasasndo e amarrou na cintura : ‘quem quer ser o primeiro seja o último e o servo de todos’ ; ‘se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar sua alma irá perdê-la mas quem perder sua alma por causa de mim vai encontrá-la.’ ( Mt 16, 24s) ; ‘eis que deixamos tudo e te seguimos’, etc : IHS é o fruto, a riqueza, o tesouro, e a disputa acontece entre a Alma e o Corpo dos sentidos. Nesta batalha de Tegira os tebanos fugindo e ao mesmo tempo perseguindo os espartanos de repente nas montanhas dão de cara com eles ( cap. XVII ) : “Apenas os viram os que começaram a passar as gargantas das montanhas, quando um correndo em direção a Pelópidas lhe disse : “Demos de cara com os inimigos” ; e ele respondendo : “Pois porque não eles de cara conosco ?”, mandou que a cavalaria passasse da retaguarda como adiantando-se para atacar e formou bem apinhados os infantes que eram poucos com a esperança de romper melhor quando acometessem o inimigo, que lhes excediam em número.” Krishna ( pg. 90 ) fala das pessoas ruins que são demoníacas opostas as pessoas celestes adeptas da devoção.

Este batimento de mar de leite pode se comparado ao comércio em barcos que batendo o mar produz espuma qual, igual, espuma do leite batido : macrocosmo. Mas pode ser também IHS no deserto, espicaçado pelos demônios e protegido pelos anjos, a famosa, bem difundida, universal, imagem da duas tendências discutindo, brigando, disputando, dentro da mesma pessoa : microcosmo. O batimento então reproduz a imagem desta disputa originária, primordial, pelos bens celestes, disputa entre dois lados, duas tendências uma ascendente e outra descendente, céu e terra, yang e yin. “ Se a philosophia perene utiliza as imagens da espiral, como é o caso para os turbilhões de águas inesgotáveis, as possibilidades do ser atualizadas pelo sopro da aurora da criação e a luz do Sol levante, pode-se bem afirmar que as espirais e os meandros por todo lado em que eles aparecem na arte primitiva -isto é na arte ‘ideológica’ de um tempo em que o ser humano pensava em termos mais abstratos que aqueles nos quais nós estamos acostumados em nossos dias - são os signos e símbolos destas águas. As noções de infinidade, de eternidade, de recorrência, estão implicadas não somente no famoso símbolo da serpente que morde a própria cauda, neste sentido ‘infinito’ , mas também em todos aqueles antigos motivos representando as formas de dragões e de serpentes entrelaçados nos quais começo e fim estão confundidos...” ( Anges et Titans , A. Coomaraswamy in ‘La doctrine du sacrifice’ pg. 73 ). “… a serpente do batimento do mar de leite com os devas / asuras ao redor do Meru / Mandara, bem e mal, na árvore da vida da ciência… figura o encadeamento do ser na série indefinida dos ciclos de manifestação ( nota : é o samsara buddhista, a rotação indefinida da ‘roda da vida’ da qual o ser deve se ‘libertar’ para atingir o Nirvana. A fixação, amarração, ligação à multiplicidade é também, em um sentido, a ‘tentação’ bíblica, que separa o ser da unidade central original e o impede de atingir o fruto d’árvore da vida ; e é por isto, em efeito, que o ser é submetido a alternância das mutações cíclicas, quer dizer ao nascimento e morte ). Este aspecto corresponde notadamente ao papel da serpente ( ou do dragão que é portanto um equivalente ) como o guardião de certos símbolos de imortalidade ao qual impede que se aproxime : Hespérides, Cólquida ( Jasão ), Tebas ( Cadmo).”.

Após o quê vem a mais famosa batalha, a de Leuctras em que os espartanos vindo com todas as forças para exterminar a raça dos tebanos ( é dito deste modo já que Cadmo é irmão de Fênix que dá nome a Fenícia de então e de Europa idem mas eles vem do oriente médio : Thebah é a arca da Aliança daí Dionisos, Iaco, Jacó ; cf o próprio Plutarco em seu livro IV dos livros morais : o livro IV comparando Dionisos e os rituais semíticos acaba por ser rasgado, sumido, retirado do texto original, arrancado, para que a comparação não se seguisse – um escândalo historiográfico diga-se de passagem como vimos antes a retirada do texto do Evangelho de s. João que a Paraphrase de Nonnos de Panopolis conservou : um escândalo ) acabam derrotados por Pelópidas e Epaminondas no que vem a chamar-se ‘castigo léuctrico’ : neste lugar, Leuctras, espartanos violentaram três irmãs que depois foram lá sepultadas e o pai delas morre em seguida amaldiçoando-os pelo que fizeram : a história é a mesma do Mahabharata em que três irmãs Amva (ou Amba), Amvika (ou Ambika) e Amvalika (ou Ambalika) são raptadas e violentadas por Bhisma valendo-se de antiga lei de centauros que levam, raptam, pegam, mulheres a vontade e que por isto é amaldiçoado por elas sendo que uma delas acaba, em novo nascimento como homem, por matá-lo na guerra. Pelópidas sonha com o acontecimento e no sonho, Esquedaso, o pai das meninas, pede que ofereça uma virgem rúbia, vermelha, ‘se queria alcançar a vitória sobre os inimigos’ ( cap. XX e XXI ) . Pelópidas escandaliza-se pois não vai matar ninguém em sacrifício e Plutarco lembra Agaménon & Efigênia, Heracles & Macaria, e outros sendo um escândalo semelhante ao de Abraão & Isaac, uma tentação que resolve-se com a providência divina que provê a vítima livremente. O tema, assunto, finalidade, da biografia parece indicar esta relação Pai-Filho e o sacrifício. O fato concreto contudo é que concomitantemente os espartanos na pessoa de Agesilao tentam também oferecer seu sacrifício com o mesmo sonho sendo também sonhado por Agesilao pedindo a mesma coisa no mesmo lugar que Agamenón, Aulide, onde estavam os espartanos mas não dá certo a vítima foge ( a vítima sempre foge de modo que ela tem que ser livre ) e os espartanos precisaram retornar d’Ásia. Os tebanos levam o sacrifício e o realizam.

XXII. “Estando os principais nesta conferência e Pelópidas sumamente duvidoso, de repente uma égua novinha se escapou da manada correndo por entre as armas e chegando onde aqueles estavam parou. A todos deu para observar a cor da crina resplandescente como o fogo, sua ufania e a suavidade e a tranquilidade de seu relincho ; porém o agoureiro Teócrito, tendo refletido um pouco, dirigiu a voz a Pelópidas, e exclamou : “ A vítima, ó felizardo, veio (livremente) para as tuas mãos : não esperemos mais outra virgem ; serve-te daquela que o deus te há apresentado.” Pegaram então a égua, a levaram à sepultura das donzelas, onde fazendo orações ferventes e humildes e pondo guirlandas a degolaram alegres e fizeram correr pelo exército a voz do sonho de Pelópidas e do sacrifício.”

A imagem é a imagem do Asvamedha, o sacrifício do cavalo que é solto e fica livre durante um ano e onde ele parar ( por isto é importante quando Plutarco fala que a égua parou diante de Pelópidas e importante igual o fato de estar livre, voluntariamente se apresentando porque é desta liberdade que vem a alegria que aparece em seguida ) é o lugar do governante e aí quem protege o cavalo briga com quem está naquele lugar e deixa o cavalo solto de novo conforme acontece no Aswamedha parva do Mahabharata com Arjuna protegendo o cavalo sagrado e inclusive morrendo e ressuscitando no processo junto com o filho que lhe mata e morre ressuscitando junto . É um sacrifício de ressurreição conforme acontece com os personagens que analisamos. Nos Jatakas vemos mais de uma vez este cavalo ritual ser solto e ele parando junto do Bodhisatva, se faz dele, com o suporte do Povo, o rei do local. Cavalo ritual da soberania. Que anda livre e vai livre para o sacrifício porque está indo por este caminho sem retorno, se libertando, mukti, moksha, nirvana, dos laços corporais. Plutarco é o único testemunho do asvamedha em Roma relato em suas Questões romanas: não fora o sacerdote de Delphos nada saberíamos. É o famoso cavalo de outubro em que os romanos dividiam o cavalo sagrado em três ( cabeça, tronco e cauda ) e cada grupo corria com uma parte. Vale o relato :

“Por que no dia 13 de dezembro que se chama em latim Idus Decembres se faz um jogo de pegar, de corrida de carros e o cavalo atrelado do lado direito que se tornou vitorioso, é imolado à Marte, lá vem alguém por trás que lhe corta a cauda, a qual leva ao templo que se chama Regia e ensanguenta o altar ; e para ter a cabeça, há uma tropa de pessoas que vem da rua sagrada e uma outra daquela que se chama Saburra ( Sub-urbe ), em que combatem uns contra os outros para saber quem a terá ? É por está razão que alguns alegam que eles tem opinião de que a cidade de Troia foi tomada por um cavalo de madeira e por isto punem o cavalo em memória disto ?
Como se fossem descendentes de Troianos,
E de Latinos juntos con-fundidos.
Ou porque o cavalo é um animal corajoso, marcial é belicoso e se sacrifica ordinariamente aos Deuses as vítimas que lhes são mais agradáveis e melhores escolhidas e lhes sacrifica alguém aquilo que ganhou prêmio porque a vitória e a força lhes são próprias ou antes porque a obra deste Deus é fechada é estável e são vitoriosos aqueles que permanecem em seus ranks contra aqueles que não permanecem mas fogem ; é porque pune-se o animal que corre rápido, como o veículo solto, largado, para convertendo-os dar-lhes a entender, não há esperança de salvação àqueles que fogem.” ( Plutarco, Questões Romanas, XCVII, pg 238, vol 2. )

O cavalo é a imagem dos três mundos :

“E fez de si mesmo uma Trindade (tridha) : um terço Fogo (agni), um terço Sol Superno (aditya), um terço Vento (vayu).
Ele é verdadeiramente, o Espírito (prana), determinado (vihita) numa Trindade : dos Três Mundos, na semelhança de um cavalo. Sua cabeça o ar leste (praci), suas pernas da frente este ar dos dois lados. Do mesmo modo sua cauda o ar oeste (pratici), suas pernas de trás o ar dos dois lados. Seus flancos o sul e o norte. Suas costas os céus (dyu), sua barriga firmamento (antariksha), sua parte de baixo este chão. Ele está estabelecido (pratistha) nas Águas. Aquele que sabe isto está estabelecido onde quer que possa estar.” ( Brhadaranyaka Upanishad I, 2, 3 e Satapatha Bramana X, 6, 5 ).

“ A aurora é considerada o melhor período para meditar e é por isto chamada de cabeça do cavalo., sendo a parte mais importante do corpo. O Sol vem depois da aurora ; portanto é considerado os olhos do cavalo, que é visto após a cabeça ser vista. Vento é o sopro vital ; fogo é a boca aberta do cavalo , pois fogo é a deidade que preside a boca. O ano, i.e. tempo e estações, são o corpo ; céu é suas costas ; espaço, o estômago ; terra, o lugar de descanso ; os quartos e seus pontos médios são respectivamente lados e ossos do cavalo ; os meses são suas juntas ; dias e noites são seus pés ; segundo testemunhas as estrelas é dito ser seus ossos ; nuvens são a carne que verte a chuva de sangue contida nela ; areias são alimento meio digeridos ; rios são as veias que fluem para o anus ; montanhas são seus fígado e baço ; plantas e arbustos, o pelo do seu corpo, o Sol ascendente e descendente, suas duas partes do umbigo até a cabeça e para seus quadris ; o brilho da relâmpago é seu bocejo e o esticar de seus membros de modo a relaxar ; o trovão de nuvens é o chacoalhar de seu corpo ; e fala é seu relincho.” ( Brhadaranyaka Upanishad I, 1,3)

“Então no final do ‘ano’, cósmico ou terrestre qual seja o caso, o cavalo sacrificado, seus sopros vitais retornando para aquele de quem é a imagem, não enquanto ele é em hipóstase (dvitya atman), mas na Unidade, lá ‘o Filho se perde na unidade da essência’, Eckhart, I, 275. Justo como todas as ‘almas’ ( bhutani) retornam para dentro da Sua natureza universal no fim dos tempos, Bhagavad Gita, IX, 8, do mesmo modo a ‘alma’ do cavalo retorna para sua fonte quando ritualmente morto : isto é feito com uma fim / finalidade em vista, esta vida possa ser renovada, justo como no princípio do tempo, de qualquer tempo, no brotar do ‘ano’, todas as ‘almas’ derramam-se novamente de sua latência nele, ibidem.
O Aswamedha cósmico é a Paixão voluntária da deidade encarnada, gerado Segunda Pessoa (dvity atman), este sacrifício a mais sendo uma negação da vontade de viver, como o primeiro era
sua afirmação. Mas esta Paixão e morte formalmente empreendida não são sem um fim em vista, este também um trabalho desejado, kamya karma, e enquanto tal tem suas consequências em uma renovada manifestação de vida, em outro Tempo, quando outro Sol, outro Cavalo, será derramado (visrsti). O Aswamedha terrestre é uma solene promulgação daquela Paixão, para o fim análogo de que a vida deve ser renovada, tornada viável, aumentada e continuada aqui e agora,’Pergunto à semente do cavalo.’ Aquele que entende o rito concordemente, com olho nos seus frutos, ganha plenitude de vida na terra ( cem anos, em analogia a Seus ‘cem anos’), riqueza, descendência, gado, o que desejar aqui, e com isto ainda o mundo dos patriarcas, após a morte : esta não é a emancipação final, pois a recompensa natural de trabalhos interesseiros é inevitável, ele deve retornar novamente para um nascimento renovado, punar apadara, e outras mortes, punar mrtyu. Somente aquele que sabe, que entende, que descobre e assim realiza o rito intelectualmente, que conhece Si mesmo evidentemente que o cavalo é transubstancialmente Prajapati, o Ano, o Filho, ganha ou agora ou em devido curso, de acordo com a perfeição de sua realização, retorno para o Intelecto, para Brahma, e é assim liber(t)ado, ele apenas preserva mortalidade, sendo um com a Morte, dentro e da Suprema Identidade, Um Anjo.” ( A. Coomarswamy, Perceptions, pg. 64s ) “Ele quis, ‘Possa este meu corpo ser renovado ( medhya ), possa eu ser Personalizado novamente (atmanvi). Com isto lá-tornou-se-novamente ( samabhavat ) um cavalo ( aśva ). ‘Aquele cavalo (aśva) foi-feito-inteiro ( medhyamabhud ), ele pensou ( iti ). Esta é verdadeiramente a natureza-inteira-cavalo ( aśvamedhatva) do sacrifício-do-cavalo ( aśvamedha ). Sabe realmente o aśvamedha, quem sabe isto assim. … O sacrifício-que-é-o-cavalo ( aśvamedha ) é verdadeiramente ele que intensifica (tapati) : ele-Mesmo é o Ano, Prajapati. Este fogo sacrifical é o Brilho (arka) : os Três Mundos (lokah) são suas Hipóstases (atmanah).” ( Brhadaranyaka Upanishad I, 1, 7)

“Agora tendo encarnado neste corpo na forma de cavalo Cósmico ou Árvore do Mundo, a deidade encarnada salvará da mortalidade incorrida aquele corpo que é a soma de todas as existências. Ele sofre portanto uma Paixão, isto é, intenção e morte, que é o ‘mais um sacrifício’; como enfatizado no verso conclusivo, ‘ele sacrifica a sim mesmo para si mesmo’ e Rigveda X, 90,15, onde os ‘Anjos’ ( Pessoas da Trindade), agem como padres sacrificais, ‘sacrificando com o sacrifício até o Sacrifício’. Este conceito de auto-sacrifício e paixão voluntária, empreendida ou sofrida até o fim para que a vida possa ser feita mais abundante recorre por todo os Vedas e nas tradições de muitos povos. Aqui precisamos aludir somente ao paralelo Cristão, a Crucifixão na Árvore da Vida : pois a Cruz, o Crucifixo, é uma ‘árvore’, a Árvore da Vida, seu tronco o eixo-árvore do ser, seus braços ou galhos toda a extensão em todo plano de existência, ‘o dom de Deus é a existência positiva de todas as criaturas na Pessoa de seu Filho’, Eckhart, I, 427.” ( Coomaraswamy, Perceptions, pg. 60 )

Shiva purana XV, 55-58 que reproduzimos acima, assim como o batimento do mar de leite, mostrando a convulsão dos três mundos com a descida de todas as ninfas pode ser o equivalente deste sacrifício da asvamedha já que antecede a morte e ressurreição do próprio Ganesha e termo equivalente das ninfas celestes a virgem vermelha, a potra vermelha, que livre oferece-se a si-mesma voluntariamente, atmayajña, o sacrifício de si mesma. O sacrifício interior é o caminho dos deuses, deva yana e o exterior o pitr yana caminho dos antepassados.

Depois de sua ‘morte e ressurreição’ Pelópidas é enviado como embaixador à corte do grande rei d’Ásia. “Já desde o princípio, ao passar pelas províncias do rei foi muito considerado e fez muito barulho pois não propagou-se tibiamente ou como rumor vago pela Asia a fama dos encontros sustentados contra os lacedemônios mas apenas se divulgou a voz da batalha de Leuctras aumentada e impelida cada dia com um novo triunfo se estendeu até os países mais remotos. Assim quando chegou ao palácio apenas lhe viram os sátrapas , os da guarda e os generais, começaram com admiração a dizer : “Este é aquele que derrubou o império da terra e do mar de que estavam apoderados os lacedemônios ele o que conteve entre o Taigeto e o Eurotas aquela Esparta que pouco antes havia feito a guerra ao grande rei e aos persas, levando-a até Susa e Ecbátana por meio de Agesilao”. Para Artaxerxes foi de grande prazer estes sucessos. Assim mostrou admirar Pelópidas ...” ( cap. XXX Vida de Pelópidas, Plutarco) – esta passagem está em paralelo com a da conflagração universal no Shiva purana – a batalha de Leuctras teve repercussão mundial, foi mundial em suas características no asvamedha e na vingança leúctrica : oriente e ocidente juntos desde sempre.

Com os sucessos na guerra Epaminondas e Pelópidas acabam por serem levados a tribunal para julgar seu não retorno, demora, mantendo seis meses os exércitos fora de Tebas quando a lei prescrevia que voltassem ao final do ano. Um invejoso chamado Meneclidas por ocasião desta questão quis elevar Carón em lugar de Pelópidas em honra e glória e neste momento Pelópidas fala : “ … entre os tebanos não é admitido que a honra se atribua privadamente a um homem apenas, mas que o homem e a vitória quedem integralmente para pátria.” - vê-se aqui a imagem de líder do Ganas, Ganesha enquanto chefe de muitos e um diante deles todos, não diferenciado mas parte de um todo. A questão mesma da partilha é o cerne do texto.

Neste momento chegamos na parte final em que Ganesha / Pelópidas é assassinado e ressuscita : Shiva purana XVII – XIX // ( paralelo ) // Vida de Pelópidas XXVI- XXIX. Presença de Vishnu e sua maia (maya, criação, ilusão) própria, para enganar com uma ilusão Ganesha, parece corresponder à retirada da roupa de militar por Pelópidas e a subsequente vestimenta de roupas civis atuando como pacificador dos Macedônios tendo levado para educar Filipe da Macedônia pai de Alexandre Magno nestes trajes civis para Tebas. O tirano Alexandre de Feres acaba prendendo-o nestes trajes, sem exército próprio mas apenas com estipendiários, a ilusão que o faz ser preso sem estar portando armas. Vai para o calabouço do tirano e lá é maltratado mas a esposa do tirano, que coincidentemente se chama Tebas, chora por ele, vendo seu infortúnio e juntos planejam a vingança ao tirano – a terra mesma está do seu lado .

“ ... porém Pelópidas exortava os tessalianos que lamentavam a sorte dele a que não perdessem a confiança ; pois então era mais certo que o tirano teria o merecido e a este mesmo mandava dizer era coisa muito estranha que continuamente estivessem dando tormentos e morte a miseráveis cidadãos que em nada lhe ofendiam e que a ele lhe deixasse, quando devia saber que haveria de ser ele o primeiro a castigar-lhe, se tinha meios para fugir ; maravilhado de semelhante inteireza e impavidez : Por quê – exclamou – se empenha Pelópidas em apressar sua morte ?” E tendo entendido, respondeu : “Para que tu pereças mais rapidamente e mais na ira dos deuses.”
A morte enquanto auto sacrifício : atmayajña, sacrifício dentro de si mesmo. Epaminondas não sem esforço acaba por resgatá-lo da morte e Pelópidas renasce e vai para o Oriente em embaixada visitar o grande rei Artaxerxes, junto com outros, e suas proezas são conhecidas e cantadas como dissemos. Depois ele volta a atacar Alexandre de Feres e matando-o acaba morrendo também.

No capítulo XXXI da Vida de Pelópidas vemos a independência de todas as cidades estados gregas : todos os laços de tirania rompidos.
Dentro do canto do Partilhador, de Krishna, Govinda, Hari, Madhava, etc, o tema dos três mundos aparece com a teoria dos três gunas, as três tendências em que todos os corpos estão submetidos e que acabam por constituir todas as coisas como a organização social com a classe de tendência ascendente sattva sendo a brahmane, a de tendência no mundo, na realidade, na Paixão, rajas, os kshatrias, e a tendência descendente, os vaysas e sudras. Mesmas tendências dentro do organismo humano e vemos no ‘Da Alma’ de Aristóteles o mesmo arranjo de três, alma racional, alma sensitiva, alma vegetativa e como vimos, dentro dos próprios dois caminhos : o 3 dentro do 2. É a tese de Georges Dumézil que via esta trindade hindu em todas as histórias, exageradamente mas não à toa, há uma razão para isto pois esta imagem é a mesma do Gênesis de Moisés dos dias da criação : a luz, o espaço intermediário, e a semente na terra seca : Sol, Vento, Fogo. É a Trindade em Pessoa ou Pessoas.

Cabe um esclarecimento aqui. Crisipo o filho de Pélops que é levado por Laio e some ocasionando a sphinx e seu enigma , o quê significam ? O texto mítico segue assim :

“Hera recentemente enviou a esfinge/sphinx para punir Thebas pelo rapto por Laio do garoto Crisipo de Pisa ( junta de Olímpia ) e parando no monte Phicium próximo à cidade, ela agora perguntava todo Tebano passante um enigma ensinado por ela pelas Três Musas : Que ser com apenas uma voz tem algumas vezes dois pés, algumas vez três , algumas vezes quatro e é mais fraco quando as tem mais ?’ Aqueles que não podiam resolver o enigma era pisava e devorava no lugar, entre cujos infortunados estava o sobrinho de Jocasta, Haemon (sangue), a quem a Sphinx fez haimon, ou ‘sangrar’, realmente. Édipo se aproximando de Thebas recentemente após a morte de Laio, adivinhou a resposta. ‘Ser humano’, ele respondeu,’porque rasteja nas quatro quando criança, em dois pés firmes quando jovem e dobra-se sobre uma bengala em sua velhice’. A mortificada Sphinx saltou do monte Phicium e arrebentou-se em pedaços no vale abaixo. Com isto os Thebanos agradecidos aclamaram Édipo rei e o casaram com Jocasta, desconhecendo que era a mãe dele.” (Graves, pg. 10).

Agora vejamos a doutrina dos yugas, idades do mundo, a grega, idade de ouro, idade de prata, bronze e ferro, comum na antiguidade (atualmente revertida pelo positivismo evolucionista materialista míope que considera que estamos melhor que antes em sua cegueira) mas que na Índia é de significado amplo : a resposta de Édipo são os yugas , as diferentes idades não do homem mas da humanidade ; vejamos Kurma purana 29,13:

“No primeiro Krtayuga, Dharma é glorificado tendo todos os quatro pés. No Treta yuga ele se torna com três pés enquanto é de dois pés no Dvapara. No Tisya ( idade de Kali ) ele fica sem três pés; meramente existe.” Segue descrição das idades e sua decadência gradual. Que também pode ser vista em Mahabharata, Vana parva, pg 305, declarada pelo grande Hanuman : vivíamos vida espiritual, no princípio meditávamos e fomos gradualmente nos materializando de espirituais que éramos. Ou em Bhagavat Purana pg 2138.

A herança de Crisipo não podia ser pequena. 1 + 2+ 3+ 4 = 10 a tetrákis pitagórica aplicada ao tempo, a quadratura do círculo ; cf. Guenón, Formas tradicionais, pg 19 em que se expõe esta doutrina dos ciclos cósmicos e das qualidades do tempo pois o tempo não é uniforme, o mesmo sempre, quantitativo apenas como a ciência moderna acredita, mas diferencia-se e tem qualidades.







Bibliografia :

René Guénon, Formas Tradicionais e ciclos cósmicos, Ediciones Obelisco, Barcelona, 1984.

Kurma Purana ( ed. dr. G.V. Tagare ) MMPublishers, Delhi, 2005.

Plutarco, Vida de Pelópidas in Biografos Griegos,( trad. A. S. Romanillos, J. Ortiz y Sanz y J. M. Riaño ) Aguillar, Madrid, !973 ( ‘Tolle lege’ – a voz que s.Agostinho escutou quando diante da bíblia de Jerusalém e que o levou a sua conversão – ele já tinha lido tudo então. A editora Aguillar coloca estas palavras junto da marca da editora ).

–----------- , Obras Morais, trad. Amyot, séc XVII.

Shiva Purana, volume 2, Motilal Barnasidass Publishers, Delhi, 2004.

Mahabharata, 4 vols, trad. Kisari Mohan Ganguli, Munshiram Manoharlal Publishers, New Delhi, 2004.

Robert Graves, The Greek Myths, 2 volumes, Penguiin books, 1960, London

T. A. Gopinatha Rao, Elements of Hindu Iconography, 2 volumes, Low Price Publications, New Delhi, Índia, 1999 ( 1.a edição 1914 ).

Ananda Coomaraswamy, La doctrine du sacrifice ( trad. Gérard Leconte ), Éditions Dervy, Paris, 1997.

Ananda Coomaraswamy, Perceptions of the Vedas ( ed. por Vidya Nivas Misra ), Manohar, 2000, New Delhi.

Upanishads retold ( 2 volumes ), V. H. Date, M.M. Publishers, New Delhi, 1999.