Plutarco Bramin
Ganesha = Pelópidas
Continuando o
Shiva Purana em seu volume 2 temos as histórias dos filhos de
Parvati / Shiva : Kartikeya e Ganesha em Rudrasamhita Kumarakanda
seção IV que vai do capítulo I ao XXI. Cada um tem sua história
mas é dito que cresceram juntos, educaram-se juntos. Ganesha nasce
do resto de epiderme de Parvati que o coloca de porteiro da
residência e impede Shiva de entrar : ela se sente desprotegida,
invadida no seu banheiro de tomar banho e coloca um porteiro próprio.
Parvati diz :
XIII, 25 “Ó caro,
escute minhas palavras. Trabalhe como meu porteiro a partir de ho-je.
Você é meu filho. Você é meu. Não é de outro jeito. Não há
outro que me pertença.
26 Ó bom filho,
sem minha permissão, ninguém, de modo nenhum, deve entrar em meu
apartamento. Te digo o fato.”
E Shiva tentando
entrar é expulso da própria casa com Ganesha batendo nele com um
bastão. E Shiva fica de fora. Seus Ganas em seguida, seus membros,
seguidores, foram lá na porta enfurecidos e disputam, discutem, com
Ganesha, os Parsadas de Shiva, pari-shad ( assembleia, audiência,
companhia, sociedade ). Mas Ganesha fica firme com seu bastão e sem
medo não deixou seu posto, repreendendo, reprimindo, censurando, os
Ganas de Shiva que acabam por retornar para Ele e informam o que
aconteceu. Shiva esbraveja e xinga os Ganas de eunucos e os obriga a
voltar para a porta e tirar Ganesha.
Os Ganas
retornam uma segunda vez. Começam a falar e enquanto falam Ganesha
pega o bastão e furioso começa a bater neles e expulsá-los e
reclamando voltam para Shiva que está a um Krosa do monte Kailasa.
Shiva os ridiculariza, a eles todos, chamando-os de tratantes
impotentes, que professam ser heróis mas não são de fato, mandando
que batessem em Ganesha e que ele fosse retirado.
Eles voltam
uma terceira vez. E nesta vez Parvati manda uma mensageira ver o quê
está acontecendo na portaria, a briga de porteiros pois os Ganas são
porteiros de Shiva. A mensageira vê e relata para ela tudo o que
estava acontecendo e ela, Parvati, pensa, medita, um pouco a respeito
do problema e decide confirmar, dar força a Ganesha, enviando recado
pela mensageira que fala com ele e confirma a proibição expulsando
novamente os porteiros de Shiva que retornam para Ele e permanecem
reclinados, abaixados, humilhados. Shiva briga novamente com eles e
diz : 58 “Vão dizer que sou subserviente a minha esposa. Esta
guerra deve ser lutada de todos os jeitos”.
Os Ganas então
retornam uma quarta vez equipados com todas as armas para a porta do
palácio de Shiva. Um exército contra um garoto, menino, palavra que
aparece várias vezes aqui.
XV, 12 “Nandin
veio primeiro e segurou uma de suas pernas e a puxou. Bhrngin correu
então e pegou a outra das pernas.
13 Antes que os
Ganas de Shiva tivessem tempo de puxar suas pernas Ganesha bateu nas
mãos deles e libertou suas pernas.
14 Ele então pegou
uma grande barra de ferro e permanecendo na porta esmagou os ganas.”
Houve ferimento de todo tipo e eles são expulsos novamente,
retornando para Shiva.
Neste momento todos
os deuses, Narada, Vishnu, Brahma, etc, vão para junto de Shiva que
fala rindo para Brahma :
27 “Ó Brahma
escute. Um garoto está de pé na entrada da minha casa. Ele é bem
forte. Tem uma vara na mão. Ele me impede de entrar em casa.
28 Ele bate com
bastante habilidade. Ele destruiu muitos dos meus Parsadas. Ele
derrotou com força meus Ganas.
29 Ó Brahma,
você somente deve ir lá. Este menino forte deve ser propiciado. Ó
Brahma, deves fazer tudo para controlá-lo.”
Todos
retornam então para a porta uma quinta vez mas Ganesha puxa a barba
e o bigode de Brahma e pegando o porrete de ferro faz os deuses todos
saírem correndo. Shiva irado dá ordens aos deuses Indra e outros,
aos Ganas liderados pelo seis-faces Kumara / Kartikeya, duendes,
fantasmas, e espíritos que jogassem todas as armas contra Ganesha
mas as armas falharam efetivamente. E todos ficaram muito surpresos.
XV, 44
“Enquanto isto, a deusa, a mãe do universo, de conhecimento
especial, veio a saber o inteiro ocorrido e ficou bastante furiosa.
45 Ó sábio,
a deusa criou duas Saktis ( Uma é o terrível aspecto da Deusa
personificado qual Kali, Candi e Bhairavi, a outra uma bela forma
amarela chamada Durga com várias mãos e montada num tigre em
aspecto feroz e ameaçador ) lá e então para ajudar seu próprio
Gana.
46 Ó grande
sábio, uma Sakti assumiu uma forma feroz e permaneceu lá de boca
aberta ampla, larga, qual caverna de montanha escura.
47 A outra
assumiu a forma de relâmpago. Ela tinha muitos braços. Era uma
terrível e pesada deusa pronta para punir o fraco, ruim.
48 As armas
atiradas pelos deuses e Ganas foram pegos na boca e jogados de volta
para eles.
49 Nenhuma das
armas dos deuses foi vista ao redor do porrete de ferro de Ganesha.
Este feito maravilhoso foi realizado por eles.
50 Um único
garoto agitou e chacoalhou um vasto exército impassível da mesma
maneira que a melhor das montanhas ( monte Meru ) agitou o oceano de
leite anteriormente.”
Aqui a cena se
compara com o batimento do mar de leite com o Meru ( ou Mandara ) de
pilão e Vishnu de tartaruga segurando por baixo o mundo e os deuses
& titãs / suras & asuras / anjos & demônios, juntos
batem o mar de leite para retirar, prover, ganhar, amrita / ambrosia,
o néctar celeste e outras riquezas, tesouros. Shiva fica com o
pescoço azul porque assume para si o veneno produzido pela operação.
Durante este processo todo de produzir riquezas uma grande batalha se
dá entre os dois lados mas Vishnu sae vencedor.
Quanto a luta com
Ganesha ela continua :
XV, 55 “Enquanto
as ninfas excelentes vieram com flores e pasta de sândalo nas mãos.
Você e os outros deuses que estavam ansiosos para ver a luta que
aconteceu lá. Ó sábio excelente, o excelente caminho do firmamento
estava inteiramente cheio delas.
56. Vendo está
batalha elas ficaram muito surpresas. Tal batalha nunca tinha sido
vista por elas antes.
57 Com a terra e os
oceanos tremendo e como resultado da violenta batalha mesmo as
montanhas caíram.
58. O céu girou
com as estrelas e os planetas. Tudo estava agitado. Os deuses
fugiram. Os Ganas também fizeram o mesmo. ”
Os deuses chegam a
conclusão que ele só pode ser vencido por engano, ilusão, trapaça
e o próprio Shiva lutando perde o tridente quando Ganesha bate na
mão dele. Pega então o arco Pinaka e este também vai para o chão.
XVI, 31 “Assim por
muito tempo os dois heróis Vishnu e Ganesha lutaram um com o outro.
32. Novamente o
primeiro dos heróis, o filho de Parvati pegou seu porrete de poder
sem rival relembrando Shiva e atingiu Vishnu com ele.
33 Atingido assim
com este golpe insuportável ele caiu no chão. Mas se levantou,
rapidamente e lutou com o filho de Parvati.
34. Segurando esta
oportunidade, a deidade portadora do Tridente chegou lá e cortou
fora a cabeça dele com seu tridente.
35 Ó Narada, quando
a cabeça de Ganesha foi cortada, os exércitos dos deuses e ganas
ficaram parados.”
Parvati ficou
muito irada e criou Saktis que destruíssem os deuses e outros :
XVII, 16. “Karalis
( a Terrível ), Kubjakas ( a corcunda ), Khañjas ( a manca ),
Lambasirsas ( a cabeça-grande ) inumeráveis Saktis pegaram os
deuses com suas mãos e jogavam-los em suas próprias bocas.” ...
20. “Somente
quando a deusa Parvati for agraciada pode haver alívio ; não de
outro jeito, mesmo com nosso máximo esforço.
21 Mesmo Shiva que é
um expert em diferentes esportes e está nos iludindo agora, parece
triste como um homem ordinário, comum.”
A deusa disse :
42-43. “Se meu filho reganhar sua vida não haverá mais
aniquilação. Se arranjarem para ele um status honroso e posição
entre vocês como oficial presidente chefe, talvez possa haver paz no
mundo. De outro modo vocês nunca serão felizes.”
46. Escutando o quê
os deuses disseram, Shiva falou assim - “Deve ser feito
concordemente para que possa haver paz sobre todos os mundos.”
47 “Vocês devem
ir em direção norte e o primeiro indivíduo que encontrarem cortem
fora a cabeça dele e coloquem-na no corpo.”
48. Então eles
realizaram as ordens de Shiva e agiram concordemente. Trouxeram o
corpo sem
cabeça de Ganesha e
o lavaram.
49. Prestaram
homenagem a ele e partiram rumo ao norte. Foi um elefante de presa
única que eles encontraram.
50-51. Eles pegaram
a cabeça e ajeitaram no corpo. Após juntá-la, os deuses
inclinaram-se para Shiva, Vishnu e Brahma e falaram - “O que foi
ordenado por você foi realizado por nós. Que a tarefa deixada
incompleta realize-se agora.”
52 Então os
Parsadas brilharam alegremente. Após escutarem estas palavras eles
esperaram ansiosamente o que Shiva diria.
53. Então Brahma,
Vishnu e outros deuses falaram após inclinarem-se para o senhor
Shiva que é livre dos efeitos nocivos dos atributos.
54. Eles disseram :
- “Já que todos nós nascemos da tua brilhante Energia que esta
Energia entre dentro dele pela recitação de mantras Védicos.
55. Falando isto,
eles juntos aspergiram água santa invocando os mantras sobre aquele
corpo após lembrar Shiva.
56. Imediatamente
após o contato d’água santa o garoto ressuscitou para a vida e
junto com consciência. Como Shiva queria o garoto acordou como de um
sonho.”
Após a
ressurreição Ganesha e eleito líder dos ganas ; Shiva disse :
XVIII, 29. “Ó
filho de Parvati, estou agraciado, não há dúvida disto. Quando
estou agradecido o universo inteiro o está também. Ninguém será
contra isto.
30. Já que mesmo
enquanto garoto você mostrou grande valor enquanto filho de Parvati,
você permanecerá brilhante e feliz sempre.
31. Que teu nome
seja o de mais auspício em matéria de retirar obstáculos. Seja o
oficial presidente de todos os meus Ganas e merecedor de veneração
agora”. Segue uma lista grande de modos de venerar Ganesha.
66. “Quando
Ganesha foi instalado, todo o universo atingiu paz e normalidade.
Houve um grande júbilo. Todas as misérias acabaram. …
70 Quando Parvati
ficou livre de fúria, Shiva e Parvati comportaram-se como antes.”
Há o casamento
de Ganesha com Buddhi e Siddhi ( Faculdade e Consecução ).
XIX, 7. “O amor e
afeição dos pais por seis-faces ( Kartikeya ) e Ganesha aumentou
numa extensão qual da lua na metade brilhante do mês.
8. ó sábio
celestial, certa vez os amáveis pais Parvati e Shiva tiveram uma
conversa e discussão escondida.
9 Eles pensaram que
os dois filhos atingiram a idade de casar e como o melhor casamento
poderia ser celebrado então.
10 O seis faces
senhor Karttikeya era o filho querido deles. Ganesha também era.
Pensando assim
eles se preocupavam
e se alegravam.
18. O casamento
auspicioso será celebrado daquele que primeiro retornar após dar a
volta na terra toda.”
Karttikeya
parte correndo e Ganesha não ; ficando para trás e chamando os pais
e pedindo que sentassem em duas cadeiras rodeou-lhes sete vezes e
inclinou-se também sete. Depois disse que tinha dado várias voltas
ao redor da terra.
39 “Aquele que
venera seus pais e circum-ambula-os certamente terá o fruto do
mérito de circum-ambular a terra.
40 Aquele que deixa
seus pais em casa e sai em peregrinação incorre em pecado da morte
deles.
41. O centro sagrado
de um filho consiste nos pés de seus país semelhantes a folhas de
lótus. Outros centros sagrados podem ser alcançados somente após
longa distância.
42. Este centro
sagrado está próximo, facilmente acessível e meio de virtudes.
Para um filho e esposa, o centro sagrado auspício está na casa
mesma. …
47. Falando assim,
Ganesha de excelente intelecto, de grande sabedoria e primeiro entre
as pessoas inteligentes ficou em silêncio.”
Ganesha acaba se
casando com Buddhi e Siddhi filhas de Visvarupa e tem dois filhos um
de cada, Ksema de Siddhi e Labha de Buddhi. Karttikeya quando volta
e vê o quê aconteceu fica bravo com os pais e faz voto de celibato
ficando no mesmo lugar até ho-je no monte Kraunka próximo de
Kailasa.
XXI, 26 Ó sábio,
ele foi embora assim. Ainda ho-je ele está lá removendo pecados de
todos apenas com sua visão.
27 Desde este dia, Ó
sábio celestial, o filho de Shiva, Karttikeya permanece celibatário.
28. Seu nome concede
bons auspícios ao mundo. É famoso nos três mundos. Expele todo
pecado, é meritório e confere a santidade do celibato.”
Celibatário também
o era Epaminondas que cresceu e educou-se junto com Pelópidas em
Tebas do séc IV a.C. ambos libertando toda a Grécia da tirania
espartana que dominava então em mar e terra :
“Tão brilhante
empresa, que no valor dos que a executaram e no bom sucesso com que a
coroou a Fortuna, se comparou com a de Trasíbulo ( que libertou
Atenas de Esparta ) foi irmã desta qualificada entre os gregos, pois
não é fácil designar outros que subjugando com apenas a ousadia e
intrepidez os poucos aos muitos e os desvalidos aos poderosos,
houvessem sido causa para suas respectivas pátrias de maiores bens ;
ainda que a esta reuniu maior glória a extraordinária mudança que
produziu nos negócios da Grécia ; por quanto a guerra que acabou
com a grandeza de Esparta e aos lacedemônios privou da superioridade
e domínio por terra e mar, pode dizer-se que teve princípio naquela
noite em que Pelópidas, não com tomar uma fortaleza, uma praça ou
uma cidadela, sendo apenas um dos doze que voltaram, desatou e
cortou, se nos é permitido usar desta metáfora, os laços de
dominação lacedemônia, tidos por indissolúveis e indestrutíveis.”
Plutarco, Vida de Pelópidas, cap. XIII. O verso 31 do Shiva purana
sobre Ganesha tirar obstáculos aparece aqui.
Epaminondas =
Kartikeya e Pelópidas = Ganesha. O problema é que apesar de existir
a Vida de Epaminondas de Plutarco ela está perdida, escondida, não
revelada assim como a de Scipião e a de Hércules. Mas fala-se
bastante de Epaminondas na de Pelópidas tendo os dois vividos sempre
juntos e unidos harmonicamente em oposição as brigas conflitos de
duplas outras, p.ex., Nícias / Alcebíades, Péricles / Simão,
Aristides / Temístocles. Neste cap. IV Plutarco compara os dois :
Pelópidas preferia os exercícios do estádio enquanto Epaminondas
aos da doutrina. “ … : assim nos momentos livres o primeiro se
empregava na luta e na caça e o segundo em ouvir os sábios e
formar-se para sê-lo. Mas entre tantos títulos para a glória que
concorreu para ambos, nenhum reputam os homens de juízo por tão
admirável como o quê em meio de tantos combates, de tantas
expedições e de tantos negócios da República, a amizade deles
desde o princípio até o fim se tivesse conservado sempre sem
desgosto e sem quebra. … ( segue fala das duplas de chefes que
brigavam, contendiam, disputavam ). A causa certa desta união foi a
virtude pela qual não buscavam com seus atos aplausos ou riquezas,
coisas as quais por natureza é inerente uma obstinada e ressentida
inveja, senão que, amando-se reciprocamente desde o princípio com
um amor sagrado, dirigiam de comum acordo suas expedições e
seus triunfos pelo prazer de ver sua pátria elevada por ambos a
maior grandeza e esplendor.”
O ritual iniciático
dos nascidos da Terra ( Parvati ), que morrem e ressuscitam, ritual
da ressurreição mesmo, repete-se, aparece, na história de
Pelópidas, descendente de Pélops, que também em sua história,
Pélops, morre e ressuscita, mil anos antes de seu descendente,
Pelópidas em Tebas, ou seja séc. XIV a.C. na que veio a chamar-se
ilha de Pélops, Peloponeso, onde os nascidos da terra, auto-ctones,
espartoi, são seus descendentes, os da casa de Menelau ( Atreu &
Tiestes, Agamemnon ) em Micenas, na Lacedemônia. Mas em Tebas que
fica próxima contemporaneamente, espartoi, nascidos da terra,
auto-ctones, são os que Cadmo semeou com os dentes de dragão :
nasceram dos dentes semeados na terra. Um dos filhos de Pélops,
Crisipo, é levado por Laio ( pai de Édipo ) para Tebas e morre,
some, é levado para o céu. Por isto que a Sphinx assola Tebas em
seguida com sua questão, charada. A cidade de Pélops, Olímpia ( e
perto Pisa ) onde realiza-se os jogos olímpicos e comemora-se a
festa do bisavô de Hércules e Teseu, Pélops, relaciona-se desde o
princípio com a Tebas de Cadmo e Harmonia e mil anos antes de
Pelópidas e Epaminondas.
O mesmo
acontecimento, a morte do filho, acontece com Pélops, sendo ele
mesmo o filho que é oferecido aos deuses cozido em pedaços em um
caldeirão pelo próprio pai, Tântalo, que recebendo os deuses para
uma refeição comete tal ato para saber se os deuses comerão ou não
: apenas Deméter come o ombro esquerdo que depois foi substituído
por um de marfim, os outros deuses percebem e não comem. Pélops
então é colocado de volta no caldeirão e ressuscitado com o osso
do ombro novo feito de marfim. Aqui a imagem aproxima dramaticamente
Pélops e Ganesha porque este tem uma presa, dente, apenas e
justamente no lado esquerdo como o marfim mesmo no ombro de Pélops.
Com esta presa Ganesha teria escrito o Mahabharata ditado por Vyasa
em Takkasilla / Taxila ( no Paquistão atual ) dois mil anos antes do
marfim do ombro de Pélops dar aos gregos a vitória em Tróia junto
com o arco de Filoctetes.
Eventualmente Pélops
casando com Hipodâmia ao vencer uma corrida de carros acaba se
tornando o primeiro herói olímpico e sua morte e ressurreição
comemorada em toda olimpíada em templo próprio. Com comunhão
alimentícia junto sendo ele mesmo a comida afinal de contas e com
isto como já falamos em Plutarco Védico vê-se a proximidade dos
mistérios gregos antigos com o cristão, segundo expôs o mistagogo
d. Odo Casel em suas obras no princípio do século XX, onde a
epístola de s.Paulo aos romanos parece o melhor exemplo 3,22 ; 5,15;
6, 2s ; 8,1 :
“não sabeis
que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus é na sua morte que
fomos batizados ? Porque pelo batismo nós fomos sepultados com ele
na sua morte para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos
pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova.”
O ritual tanto
hindu quanto grego funcionavam da mesma maneira que o cristão.
O mesmo acontece
em toda cidade-estado grega cada uma com seu herói, personagem e seu
deus : “Archémoros, filho de Licurgo, rei de Nemeia, herói dos
jogos nemeios ; o jovem Palemon, filho de Athamas, heróis dos jogos
isthmicos; o couros Androgeu Eurigaios pelos jogos em Athenas ;
Jacinto em Amicleia ; sem falar de Python em Delphos ; rito da
imortalidade mais exatamente de acesso à vida divina, praticado por
Thétis em relação a Aquiles, por Deméter com Demophonte, por
Medeia sobre seus próprios filhos ; mito de segundo nascimento, de
ressurreição iniciática ; que aparece também em Dionisos /
Zagreus” ( Jeanmaire, H., pg. 417 ).
Este
historiador neste seu livro aproxima esta morte iniciática seguida
de uma ressurreição e toda a cultura envolvida nas festas e
comemorações do acontecimento mítico, com as provas reais,
praticadas, por todos os cidadãos, jovens, crianças, para iniciarem
na vida adulta : “ A sociedade grega antiga resulta de associações
formadas sobre a base de categorias de idade que se distinguem pelos
nomes de paides, epheboi, neoi, gerontes.” ( pg 464); “as
companhias formadas por guerreiros sobre a base de classes de idades
ou de ritos de agregação tiveram por todo lado e bastante
normalmente aspecto de confrarias de carácter religioso.” ( p. 569
). “A criptia junto com outros instituições do mundo grego
largamente difundidas, o auto controle, a penitência, a prova de
resistência, o exercício = ascese, não poder se deixar ver quando
vagando pelas montanhas, ficar sozinho e sem ajudantes, sem
provisões, durante um ano, dormindo sobre a terra ou palha,
aprendizagem das necessidades da vida militar : a criptia enquanto
prova final da sequência de provas dos éfebos, irenes, mellirenes.
Sequência de iniciações da juventude, adolescência.” ( pg.
551s). Esta sequência de provas mostra-se nas várias vezes que o
garoto, menino Ganesha precisa enfrentar os ganas de Shiva.
Por conclusão a
‘Vida de Pelópidas’ de Plutarco mostraria então esta sequência
de provas que segue da libertação da Cadmeia até a libertação de
toda a Grécia pois a Grécia elencada em Delphos na coluna do
santuário são várias cidades juntas reunidas em fraternidade
igualdade e liberdade. 12. E para entender este ensinamento temos que
“No Brahmavaivarta purana está dito que Ganesha era Krishna mesmo
originalmente na forma humana. Sani foi até ele enquanto criança. A
cabeça da criança em consequência separou-se e foi embora para
Goloka. O elefante Airavata tinha então um filho na floresta. Sua
cabeça foi removida e fixada na criança. Assim vemos que Ganesha
que é o mesmo que Vighnesvara é considerado tendo nascido de
Parvati de ambos Shiva e Parvati e também sustenta ser Krishna em
outra forma. Ele é identificado com Parabrahman e com Brahmanaspati
ou Brihaspati em outro lugar.” ( Gopinatha Rao, pg 46 ). O
ensinamento é o ensinamento de Krishna dado, escrito, ensinado no
Mahabharata que teria sido escrito por Ganesha conforme Vyasa falava
em Takkasilla / Taxila usando a presa única, daí o nome de
Ekadanta, como caneta, lápis.
Em dois momentos
Krishna canta seus ensinamentos e justamente antes de duas grandes
batalhas sendo a primeira a principal relata no livro e a segunda
quando da soltura do cavalo ritual do Aswameda no final dos
acontecimentos e do livro. As duas canções cantadas são para
Arjuna, sendo a primeira o famoso Bhagavad Gita e a segunda Anugita,
resumo da canção primeira. Neste segundo momento Arjuna fala :
“Arjuna disse “Ó
poderoso em armas, tua grandeza tornou-se conhecida por mim quando
aproximava-se a batalha. Ó filho de Devaki ( Kesava, Madhava,
Vasudeva, todos nomes de Krishna ), tua forma também, enquanto
Senhor do universo, então tornou-se conhecida por mim. O quê teu
ser santo me disse naquele momento, Ó Kesava, através da afeição,
foi tudo esquecido por mim, Ó chefe de homens, em consequência da
inconstância da minha mente. Repetidamente, contudo, estava curioso
sobre o assunto destas verdades. Tu novamente, Ó Madhava, vais
voltar para Dwaraka logo.’ Vaisampayana continuou, ‘ Assim
escutando ele, Krishna de poderosa energia,
aquele primeiro dos
oradores, abraçou Phalguna ( Arjuna ) e respondeu para ele como
segue : ‘ Vasudeva disse, “Te fiz escutar verdades que são tidas
como mistérios. Partilhei, para ti, verdades que são eternas.
Verdadeiramente, discursei para você sobre Religião em sua
verdadeira forma e sobre todas as regiões eternas. É bastante
desagradável para mim escutar que você , por loucura, não recebeu
o que eu partilhei. A lembrança de tudo que te disse naquela ocasião
não me ocorrerá agora. Sem dúvida, Ó filho de Pandu, tu és
destituído de fé e teu entendimento não é bom. É impossível
para mim,Ó Dhananjaya, repetir em detalhe tudo que disse naquela
ocasião...” ( Aswamedha parva pg. 23 ).
Assim
enquanto no primeiro discurso a devoção de Arjuna por Krishna
entende-se por estarem os dois juntos no carro de guerra em plena
batalha ( que diga-se de passagem não teve nenhuma pessoa morta por
Krishna / Kesava / Madhava / Govinda / Hrishikesa / Vasudeva, vários
nomes da mesma Pessoa, que apenas dirigiu o carro e não matou nenhum
dos hum bilhão e seiscentos milhões de mortos e assim em
determinado momento um guerreiro famoso joga uma clava, porrete,
poderoso que jamais retornaria sem atingir o alvo apenas e unicamente
se o alvo fosse inocente e o porrete, clava, retorna nos ares e mata
seu dono, aquele que o jogou, atirou, arremessou ), no segundo vemos
que já fora do carro e com o entendimento fraco do guerreiro, o
discurso coloca a devoção dentro da relação Brahmana e sua esposa
que o escuta, kshetrayna e kshetra, corpo e alma, mente e
entendimento, dentro da mesma pessoa. Os ensinamentos são os
ensinamentos mesmo da Sankhya ( de Kapila ) e da Yoga e diz-se
explicitamente que ambas são uma coisa só. Ensinamentos que acabam
por mostrar a Pessoa mesma de Vishnu / Krishna, a natureza universal
para além da individual. Percebe-se que os acontecimentos da Vida de
Pelópidas seguem em suas imagens a doutrina tradicional, a
philosophia perene e que assim explicam também por seu lado a
sequência de vezes que se combate, briga, disputa na porta da casa
de Shiva / Parvati.
Uma das
primeiras imagens e que salta aos olhos é a d’ ‘os Sete contra
Tebas’ relata em tragédia famosa de Ésquilo ; as tragédias de
Sófocles continuam a contar a história da cidade importante. Com
certeza porque Dionisos é filho de Sêmele, a Lua, filha de Cadmo e
Harmonia de Tebas. A imagem é a da cidade com sete portas tendo um
guarda em cada porta – imagem dos sentidos, sensos, cada porta um
sentido: visão, audição, olfato, paladar, tato, mente o sexto
sentido e entendimento sendo o sétimo. As ‘pessoas’ que se batem
nas portas são os órgãos e a função – os olhos e o que se vê,
os ouvidos e o quê se ouve, o nariz e o que se cheira, o tato e o
que se toca, a língua e o que se prova. Estácio em latim no século
IV reescreve ‘os Sete contra Tebas’ e expõe esta imagem sendo
por isto que guia Dante Aleghieri, antes de Virgílio, em sua
caminhada, viagem.
Segue várias
falas de Vasudeva / Krishna em que os sentidos são como portas e há
morte nestas portas com o conflito entre o órgão e a função, o
ouvido e o ouvido, a vista e a vista ( substantivo e verbo ), etc ; a
morte é a restrição dos sentidos partilhados, entregues, no fogo
da devoção :
“O Santo (
Krishna ) disse, - ‘Este imperecível ( sistema de ) devoção eu
declarei para Vivaswat ; Vivaswat declarou-o para Manu ; e Manu
comunicou-o para Ikshivaku. Descendo assim pelas gerações, os
sábios Reais vieram a conhecê-lo. Mas, Ó castigador de inimigos,
por ( um lapso de ) um longo tempo esta devoção tornou-se perdida
para o mundo. O mesmo ( sistema de ) devoção é hoje declarado por
mim para ti, pois tu és meu devoto e amigo, ( e ) isto é um grande
mistério.’ (…) “Outros, por meio de sacrifício, oferecem
sacrifícios para o fogo de Brahma ( largando toda ação ). Outros
oferecem ( como libação sacrifical ) os sentidos, dos quais ouvir é
o primeiro, para o fogo da restrição. Outros ( novamente ) oferecem
( como libação ) os objetos dos sentidos dos quais som é o
primeiro para o fogo dos sentidos ( nota : oferecer os sentidos no
fogo da restrição significa restringir os sentidos para a prática
da Yoga. Oferecer os objetos dos sentidos significa não-apego a
estes objetos ).
Outros ( novamente ) oferecem todas as funções dos sentidos e as
funções dos sopros vitais para o fogo da devoção pela
auto-restrição inflamada pelo conhecimento. ( nota : suspendendo as
funções da vida pela contemplação ou Yoga ).” ( pg 63, Bhisma
parva )
“A pessoa devota,
que sabe a verdade, pensando - nada faço – quando vendo,
escutando, tocando, cheirando, comendo, movendo, dormindo,
respirando, falando, excretando, abrindo o olho ou fechando ; ela
percebe que são os sentidos que estão engajados nos objetos dos
sentidos. Aquele que renunciando apego engajado em ações,
resignando-os por Brahma, não é tocado pelo pecado como a folha de
lótus ( não é tocada ) pela água. Aqueles que são devotos,
jogando fora apego, realiza ações ( atingindo ) pureza de si mesmo,
com o corpo, a mente, o entendimento e mesmo os sentidos ( livres de
desejos ). Aquele que possui devoção, renunciando a fruto da ação,
atinge a mais alta tranquilidade. Aquele, que não possui devoção e
está apegado ao fruto da ação, está preso pela ação realizada
por desejo. O si mesmo encorporado restringido, renunciando todas as
ações pela mente, permanece tranquilo dentro da casa de nove
portas, nem agindo ele mesmo nem causando ( nada ) a agir. ( nota :
Telang traduz Pura ( casa ) por cidade, claro, considera-se o corpo
tendo dois olhos, dois ouvidos, duas narinas, uma boca, e duas
aberturas para excreção. ). … Aquele cuja mente não está
apegada aos objetos externos dos sentidos, obtêm aquela felicidade
que está em si mesmo ; e concentrando sua mente na contemplação de
Brahma, ele goza uma felicidade que é imperecível. Os gozos
nascidos do contato ( dos sentidos com seus objetos ) são produtores
de tristeza. … absorção em Brahma … absorção em Brahma …
restrinja os sentidos, a mente e o entendimento, tende a intenção
da emancipação e quem está livre de desejo, temor e ira está
emancipado realmente.” ( Bhisma parva pg 65 )
“Jogando fora ( este ) corpo, aquele que parte, parando todas as
portas, confinando a mente dentro do coração, colocando seu próprio
sopro de vida chamado Prana entre as sobrancelhas, permanecendo em
contínua meditação, pronunciando esta única sílaba OM que é
Brahman e pensando em mim, atinja o objetivo mais alto. ( nota :
todas as portas, i.e., os sentidos. Confinando a mente centro do
coração, i.e., retirando a mente de todo os os objetos externos.
).” ( idem, pg 72 )
“ O
Brahmana disse, ‘Em conexão com isto é citada a seguinte história
antiga. Entenda tu
de que tipo é a
instituição dos dez Hotris ( sacerdotes sacrificantes ). O ouvido,
a pele, os dois olhos, a língua, o nariz, os dois pés, as duas
mãos, o órgão genital, o duto de baixo e a fala, - estes, ó bela,
são os dez padres sacrificantes. Som e toque, cor e gosto, cheiro,
fala, ação, movimento e descarrego da semente vital da urina e dos
excrementos, são as dez libações. Os pontos cardeais,
Vento, Sol, Lua,
Terra, Fogo, Vishnu, Indra, Prajapati e Mitra – estes ó bela, são
os dez (sacrificais ) fogos. Os dez órgãos ( de conhecimento e ação
) são os padres sacrificantes. As libações, ó bela, são dez. Os
objetos dos sentidos são o combustível que é jogado nestes dez
fogos assim como a mente,
que é a colher e os
bens ( i.e., os atos bons e maus os sacrifícios).” ( Aswamedha
parva pg. 38 )
“O
Brahmana disse, ‘Em conexão com isto é citada a antiga história,
ó bendita, do que é a instituição dos sete padres sacrificantes.
O nariz, o olho, a língua, a pele, e o ouvido de número cinco, a
mente e o entendimento – estes são os sete padres sacrificantes
que permanecem distintos
um do outro.
Habitando no espaço sutil, eles não percebem um ao outro. Tu, ó
bela, saiba que estes padres sacrificantes são sete por natureza’.”
( idem, pg 41 ).
“O que
quer que seja pensado pela mente, o que quer seja pronunciado pela
palavra, o que quer que seja escutado pelo ouvido, o que quer que
seja visto pelo olho, o que quer que seja tocado (pelo sentido) do
tato, o que quer que seja cheirado pelo nariz, constitui oblações
de manteiga clarificada ( ghee ) que deve ser toda, após a restrição
dos sentidos com a mente somando seis, derramada dentro do fogo de
altos méritos que queima dentro do corpo, i.e., a Alma.” ( idem,
pg. 46)
É a famosa
‘porta estreita’, imagem evangélica inclusive e que assim como
acontece na história de Tebas com os filhos de Édipo, acontece
também com Pelópidas na mesma Tebas, no cap. XI da Vida de
Pelópidas quando disfarçados, doze dos cidadãos entram na cidade e
confrontam os espartanos invasores tendo a briga acontecido nas
portas das residências dentro já da cidade. Uns disfarçados de
mulheres atacam uma sala de festas com banquete em que esperavam
justamente as mulheres e outros atacam residências. Neste capítulo
por duas vezes fala-se da claridade, da luz, revelando quem são
realmente : como a alma revela para a mente / intelecto qual a
verdade das qualidades dos sentidos ( cf. Santi parva parte II pg. 48
e Aswamedha parva pg. 35 ). Pelópidas seria a alma e ele vai atrás
de Leontidas : “Leontidas pelo ruído e modo de correr, conjecturou
o que era e levantou-se tomando a espada ; mas não ocorreu-lhe
apagar as luzes, com o que nas trevas teriam se batido uns contra os
outros ; assim estando tudo iluminado foi visto por eles.
Adiantou-se para a porta do dormitório e a Quefisodoro, que foi o
primeiro a entrar, deixou no chão. Caído este, trava peleja com o
segundo que era Pelópidas, sendo esta embaraçosa pela estreiteza da
porta e pelo cadáver de Quefisodoro, que também estorvava ; vence
ao fim Pelópidas e havendo dado conta de Leontidas, marcha correndo
com os seus em busca de Hipates.”
Estes doze que
entram disfarçados em Tebas salvam a cidade conforme o cap. XII da
Vida de Pelópidas segue relatando, reunindo os exilados,
desterrados, armando os habitantes que ainda estavam lá, pegavam
armas dos pórticos das armas trazidas em triunfos e combinavam com
os lanceiros e fazedores de espadas que haviam. “Ao raiar do dia
vieram os desterrados em estado de peleja e o povo concorreu em
imenso número à assembleia pública. Introduziram nela, Epaminondas
e Górgidas, a Pelópidas e os seus, rodeados de sacerdotes que lhes
davam coroas e exortavam os cidadãos a vir em auxílio da pátria e
dos deuses. A assembleia toda com este espetáculo se pôs de
imediato em pé com algazarra e regozijo, recebendo-os como a pais e
libertadores.” Chamam-los de deuses porque a Cadmeia, cidade
construída por Cadmo com a ajuda dos ‘nascidos da terra’ e dos
deuses, foi a primeira cidade a receber os deuses todos do Olimpo na
cerimônia de casamento de Cadmo e Harmonia, filha de Ares e Afrodite
:
“Este foi
o primeiro casamento mortal em que os Olimpianos compareceram. Doze
tronos dourados foram colocados para eles na casa de Cadmo, que
ficava no lugar do atual mercado de Thebas ; e todos eles trouxeram
presentes. Afrodite presenteou Harmonia com o famoso colar feito por
Hefesto – originalmente foi presente de amor de Zeus para Europa
irmã de Cadmo – que conferia beleza irresistível para quem o
usasse. Athena deu a ela um robe dourado, que similarmente conferia
dignidade divina a quem vestisse e também um jogo de flautas ; e
Hermes uma lira. O presente de Cadmo para Harmonia foi outro robe
rico ; e Electra, mãe de Iasion, ensinou a ela os ritos da Grande
Deusa ; enquanto Deméter assegurou a ela uma próspera colheita de
cevada deitando com Iasion em um campo três vezes arado durante as
celebrações. Os Thebanos ainda mostram o lugar onde as Musas
tocaram flauta e cantaram nesta ocasião e onde Apolo tocou a lira.”
( Graves, pg. 198 ). A alma imortal dentro do corpo dos sentidos
de modo que cada sentido, órgão função, estaria relacionado a um
dos 12 deuses conforme vemos em Aswamedha parva nas pgs 38 e 69.
No Capítulo VIII
quando os doze ainda estão disfarçados na casa de Carón chega um
mensageiro da parte dos espartanos chamando Carón para falar. Este
se exalta pois podem pensar que ele os está traindo e como gesto de
confiança entrega o filho em penhor a Pelópidas, no meio dos doze,
para que fizessem o que quisessem com ele, o filho, se o pai os
traísse ou enganasse. Alguns choraram com a cena e todos se
mostraram ofendidos de tamanha falta de confiança. “Mas Carón não
condescendeu que se libertasse o filho, dizendo que não poderia
haver para ele vida ou saúde mais gloriosa que morrer livre de
afronta com seu pai e com tais amigos.” Esta entrega de um filho a
Pelópidas acontece
mais duas vezes na Vida de Pelópidas e parece se remeter, se
referir, ao ritual mesmo que a história de Pélops proclama. Georges
Dumézil dissertando sobre as características do brahmin / flamin
lembra : “O flamem dialis é ‘tomado’ ( captus ) pelo
Estado e extraído do poder paternal ; o grande pontífice, após o
ter ‘pego’, o apresenta ao deus e por meio dos augures, pede a
concordância de deus ( inauguratio ). A lenda indiana de
Sunahçepa, que funda em direito a superioridade dos brahmanes sobre
todos os outros homens, mostra também o jovem brahmane comprado pelo
rei ao pai que o vende a apresenta à concordância do deus...”. (
p.26 ). A criança, igual Ganesha, apresentado à sociedade,
iniciando-se e enfrentando todas as provas. Ganimedes filhode Tros
rei deTróia também sendo levado para o Olimpo. Mas o sistema mesmo
da devoção, bhakta, amor, que une Krishna /Arjuna no mesmo
carro ou um homem & a esposa ou o entendimento & a mente com
os sentidos, o amor sagrado que une Pelópidas & Epaminondas.
Mas bhakta,
devoção, tem significado próprio : “Está então claro o
suficiente que o Nirukta e Brhad Devata estão inteiramente certos em
dizer que os deuses são participantes ( bhakta ) na divina Essência
ou espiração ; mesmo a fraseologia dos mantras Védicos é retida
pelos expositores. A referência a ‘participação’ leva-nos a
considerar o védico Bhaga, posteriormente Bhagavan. Bhaga não
é um nome pessoal mas antes uma designação geral do poder ativo em
qualquer de seus aspectos, como ‘Livre Doador’ ou ‘Partilhador’,
que faz seus bhaktas participarem em suas riquezas. (…)
Bhaga é de fato, referido por justaposição como o ‘Dispensador (
Repartidor, Distribuidor )’ ( vibhaktr, RV V, 46-6 ); e
bhaga é ‘parte ( participação)’ ou ‘distribuição /
repartição’, como em II, 17,7 (…) I.68.2, onde em um louvor
dirigido a Agni, os vários ( visve, sc devah ) deuses são
ditos ‘participarem na deidade’ ( bhajanta desatvam );
VII.81.2 tem uma oração àurora, ‘Que possamos ser associados na
participação’ ( sam bhaktena gamemahi ). Destas passagens
é suficientemente evidente que bhaga e vibhaktr são o
distribuidor ou doador, que entrega a si mesmo ou sua substância ;
sambhaja, o participante que partilha da doação ; bhaga,
bhaksa e bhakta a parte que é dada ou indicada para as
deidades pelo sacrificante ( I.91.1, pitaro… devesu ratnam
abhajanta dhirah ), [ e tipicamente por Agni como sacerdote
sacrificante ( hotr ), ‘Leve tu graciosamente para os deuses
a parte ( bhagam ) deles da oblação’ ( X, 51, 7 ) : Ita
missa est ! ]. No último caso o sacrificador ou sacerdote
sacrificante é o vibhaktr, e a substituição de bhakta
pelo Védico vibhaktr não introduz nova concepção. Bhakti
implica devoção porque todo doar pressupõe amor : não segue que
bhakti deva ser traduzido por ‘amor’. É verdade que
bhakti-marga é também prema marga, o passivo ‘Caminho
do Amor’, distinto de jñana marga, o ativo ‘Caminho da
Gnosis’ ; ( … ) Devemos traduzir bhakti marga como
‘Caminho da Dedicação’ ou ‘Caminho da Devoção’ antes de
‘Caminho do Amor’. É verdade do mesmo modo que ‘participação’
implica ‘amor’, e ‘viceversa’, já que um amor que não
participa no amado não é de nenhum modo ‘amor’ mas antes
‘desejo’. Amor e participação são contudo logicamente
concepções diferenciadas, cada uma tendo sua própria parte na
definição do ato devoto ; e quando as duas expressões são
confundidas em uma tradução equívoca, não apenas estas nuances de
significado se perdem mas ao mesmo tempo a evidência da continuidade
do pensamento védico para o último fica escondida e um problema
irreal é evocado.” ( Coomaraswamy, pg. 289, Perceptions ) Ou seja
a devoção e a partilha, a parte partilhada, distribuída as
potências da alma pelo entendimento, qual Krishna ensinando Arjuna,
Narayana Nara. E estes dois caminhos ( vida ativa e vida
contemplativa )também são ensinados por Krishna – Bhisma parva pg
72 :
“Esta
mesma reunião de criaturas, brotando de novo e de novo, dissolve no
advento da noite, e brota novamente, Ó filho de Pritha (Arjuna),
quando o dia vem, constrangida (pela força da ação, etc.). Há
contudo outra entidade, não manifesta e eterna, que está além
deste não manifesto e que não é destruída quando todas as
entidades são destruídas. Chamam-na de meta mais alta atingindo a
qual não se tem que retornar. Este é meu assento Supremo. Este Ser
Supremo, Ó filho de Pritha, Ele dentro de quem está todas as
entidades e por quem tudo isto é permeado, é para ser atingido por
reverência não direcionada para nenhum outro objeto. Te direi os
tempos, Ó touro da raça Bharata, nos quais os devotos partindo (
desta vida ) vão, nunca mais retornando ou retornando ( deva yana &
pithr yana ). O fogo, a luz, o dia, a quinzena luminosa (da lua), os
seis meses ( em que o Sol caminha para ) o solstício norte, partindo
daí, as pessoas conhecendo Brahma vão através deste caminho para
Brahma. Fumaça, noite, também a quinzena escura (da lua) (e) os
seis meses ( em que o Sol caminha ) para o solstício norte,
(partindo) através deste caminho, o devoto atingindo a luz lunar,
retorna. O brilhante e a escuridão, estes dois caminhos, são
considerados eternos ( dois caminhos ) do universo. Por um, (se) vai
nunca retornando ; pelo outro, se (indo)
volta. Sabendo
destes dois caminhos, Ó filho de Pritha, nenhum devoto é iludido.
Portanto, em todo tempo,esteja dotado de devoção.”
O tempo aqui pode
ser unido ao espaço
“ Se
o morto não segue a rota dos deuses, ele segue então a via dos
Pais. Os Pais são só
mortos, mas os
mortos permanecidos mortos ; eles não rejeitaram o mal ( Sat.
2,1,3,4 ). O lugar deles é misterioso ; “eles vivem no terceiro
mundo a partir daqui”. Eles são incorporais ; estes são os
espíritos. Situado entre os deuses e os homens, eles correspondem
logicamente, no sistema de equivalências dos Brahmanas, seja às
estações( Sat. 2,6,1,32 ) que é o degrau intermediário entre o
ano, símbolo do tempo e da vida divina, e o dia, símbolo da
existência efêmera e da vida humana ; seja as regiões do ar
situadas entre a terra dos homens e o céu dos deuses.” ( pg 98,
Levi, S. ) Os três mundos e os dois caminhos.
O capítulo XV
da Vida de Pelópidas ainda fala da relação Pai-Filho na medida que
os espartanos são pais dos tebanos na arte da guerra e que no ter
que fazê-la em várias frentes acabam aprendendo esta arte da qual
os espartanos são especialistas : “Por isto é famoso que o
espartano Antalcidas disse a Agesilao na ocasião deste se retirar
ferido : ‘Veja que prêmio te dão os tebanos por havê-los
ensinado a lutar e guerrear contra sua vontade !’ E seu mestre não
era na verdade Agesilao mas os que oportunamente e com muita conta
lançavam aos tebanos como uns cachorros contra os inimigos para
acostumá-los e fazê-los gostar e ter prazer nas vitórias não
muito arriscadas ; do que Pelópidas levou a principal glória : pois
desde a primeira vez que o elegeram general, todos os anos lhe
conferiam o mando supremo ou bem como caudilho da corte sagrada ou
bem como beotarca, presidiu sempre os negócios até sua morte.”
Esta
coorte sagrada é a coorte dos amadores e amados descrita no capítulo
XVIII, após a vitória de Tegiras descrita no capítulo XVI e XVII,
onde esta coorte sagrada liderada por Pelópidas vence os espartanos
:
XVIII. “A
coorte sagrada se diz ter sido Gorgidas o primeiro que a formou com
trezentos homens escolhidos, aos quais a cidade dava residência e
refeição na cidadela [ Cadmeia ], pelo que se chamavam a si mesmo
coorte cívica ; pois ao que parece os daquele tempo davam também o
nome de cidade as fortalezas. Alguns são de opinião que este corpo
se compôs de amadores e amados, conservando-se em memória certo
chiste de Pamenes ; porque dizia que o Nestor de Homero não se fez
acreditar ser tático quando ordenou que os gregos formassem por
tribos e por curias,
a sua curia se agregue cada curia
e com sua tribo se una cada tribo,
pois o quê devia
mandar era que o amante tomasse formação junto ao amado : porque os
riscos, os da mesma cúria ou tribo não fazem muita conta uns dos
outros, enquanto que a união estabelecida pelas relações de amor é
indissolúvel e indivisível ; pois, temendo a afronta, os amantes
pelos amados, e estes por aqueles, assim perseveram nos perigos uns
pelos outros. Não de deve ter isto por estranho, quando se teme mais
a afronta que pode vir dos amantes não presentes que a de quaisquer
outros testemunhos, como se viu com aquele que estando caído e para
receber o último golpe de seu adversário, lhe rogou que passasse a
espada pelo peito, para que se seu amado o visse morto não tivesse
motivo de envergonhar-se, crendo-o ferido por trás. Refere-se do
mesmo modo que sendo Iolao amado de Hércules, participou também de
seus trabalhos e o ajudou neles e diz Aristóteles que em seu tempo
ainda faziam sobre o sepulcro de Iolao suas promessas mútuas os
amados e os amadores. Era com razão pois que a coorte se chamasse
sagrada, quando Platão chama ao amante amigo divino. Diz-se também
que esta coorte permaneceu invicta até a batalha de Queronea ( ano
339 a.C. contra Filipe da Macedônia ), depois da qual, reconhecendo
Filipe os cadáveres parou no lugar onde haviam caído os trezentos
que frente a frente se haviam oposto na passagem estreita às armas
inimigas ; e encontrou-os amontoados entre si, o que lhe causou
estranheza e quando soube que aquela era a a coorte dos amadores e
dos amados, largou a chorar e exclamou : “Estavam em má hora os
que puderam pensar que entre semelhantes homens haja podido haver
algo repreensível.
XIX. Finalmente, a
esta intimidade dos amantes não deu origem entre os tebanos, como
dizem os poetas, o desgraçado sucesso de Laio [ rapto e morte de
Crisipo filho de Pélops ], senão os legisladores, que, querendo
mitigar e suavizar desde a juventude o que havia em seu caráter de
altivo e indócil, em toda ocupação e jogo quiseram que interviesse
a flauta, conciliando (compondo) a música honra e consideração ; e
nestes jogos procuraram manter este amor tão proveitoso para
temperar com ele os costumes dos jovens. Por isto mesmo que
concederam direito de cidadania àquela deusa que se finge nascida
de Ares e Afrodite [ Harmonia ], para que o pendencioso e belicoso se
unisse com o que participa mais especialmente da persuasão e das
graças e resultasse um governo que fosse o mais solícito e mais
ordenado, compondo, ajustando, tudo a harmonia. Esta coorte sagrada
Górgidas a repartiu na primeira fila e a distribuiu por toda a
falange entre a infantaria com o que obscureceu a virtude daqueles
varões e não empregou sua força para que obrasse em comum, pois
que estava como dissolvida e confundida com os que eram inferiores ;
mas Pelópidas, logo que restabeleceu a virtude destes em Tegira,
havendo-os visto combater denodadamente ao seu lado já não a
dividiu ou dispersou, senão que empregando o corpo reunido a pôs na
frente nos combates mais arriscados. Pois assim como os cavalos
correm com maior velocidade em carruagens que sozinhos, não porque
em maior número rompam mais facilmente o ar, senão porque aviva seu
alento a reunião e a incumbência de uns com os outros, acreditava
que da mesma maneira os homens valorosos, tomando entre si emulação
para as ações brilhantes , se faziam mais úteis e mais ardentes
para o que tinham que fazer em comum.”
Colocamos
em paralelo esta doutrina do amor / harmonia e a homônima definida
antes por Coomaraswamy, a tradicional doutrina ensinada por Krishna
da devoção, partilhamento. No Shiva Purana citado acima temos nos
versos 44-47 as Saktis de Parvati / Uma, criadas para defender seu
gana, Ganesha, duas Saktis : Bhairavi / Kali / Candi de um lado com
uma boca enorme qual caverna e outra como uma coluna de luz chamada
Durga : dois lados que parecem ser os dois caminhos bhakti marga
e jñana marga, vida ativa e vida contemplativa, Marta e Maria
sendo Lázaro então o morto e ressuscitado. Há a imagem
correspondente desta quinta vez em que disputam nas portas de Shiva /
Parvati na Vida de Pelópidas no capítulo XVI, que citamos :
“Pouco mais abaixo destes lagos há um templo de Apolo Tegireo e um
oráculo abandonado perto dele, porém que esteve em grande crédito
até a guerra dos medos [ persas ], sendo Equecrates o que dava as
respostas. A fábula refere que ali foi onde o deus [Apolo] nasceu ;
o monte está ali perto se chama Delos e junto a ele terminam as
divisões do rio Melas . Atrás do templo nascem duas fontes de
águas admiráveis por sua abundância, sua doçura e seu frio, das
quais a uma se chama Palmeira e a outra Oliveira até o
dia de hoje, deduzindo-se que a deusa teve seu parto, não entre duas
árvores mas entre dois riachos. Também está próximo o Ptoon, onde
se diz que se assustou por ter aparecido de repente o bode ; e pelo
que fez a serpente Pitón e a Tício, também os lugares concorrem a
testemunhar o nascimento do deus, mas deixamos já de lado todos os
demais indícios, porquanto as conexões da região não colocam a
este deus entre os heróis que de mortais por mudança houvessem
passado a ser imortais, como Heracles e Dionisos, que com este tipo
de mudança perderam por sua virtude o moral e passivo, mas é um dos
sempre eternos e não nascidos ; se é que vamos fazer algum juízo
sobre estas coisas que fizeram referência os mais sensatos e mais
antigos.”
A imagem
das duas Saktis de Parvati com Ganesha no meio se repete como as duas
árvores / fontes que protegem Apolo, a Terra mesma suportando,
amparando o não nascido. Elas são os dois
lados do exército,
a coorte sagrada dos 300 de um lado e o resto do exército do outro,
a devoção e o entendimento. A imagem de Apolo não nascido, eterno,
seria então equivalente à de Vishnu, Krishna, não nascido também,
eterno, que aparece na canção do Partilhador, Bhagavat gita,
ensinamento da partilha mesma, distribuição, feita pela devoção
da mente & sentidos a, pela, inteligência do entendimento, ou
determinação do entendimento que explica porque Epaminondas é
chamado por Agesilao de ‘homem determinado’. Na descrição de
Apolo há até o susto do não- nascido que está em paralelo com o
aspecto horrível aterrorizante e assustador das Saktis.
Nesta
mesma passagem do Shiva purana se fala do famoso episódio do
batimento do mar de leite em que os opostos se encontram, deuses &
titãs, suras & asuras, anjos & demônios, com um propósito
comum de conseguir a ambrosia deste batimento ; como no ‘uroboros’
a serpente que morde a própria cauda, sendo a serpente a mesma que
segura o mar no episódio e que aparece também circundando Àrvore
da vida, da ciência do bem / mal no Pardes de Adam/Eva, e no lugar
da cidade de Tebas mesma guardando a riqueza do local igual dragão
que morto tem seus dentes semeados ; aparece igualmente ao redor da
cintura de Ganesha segurando todos os bolinhos sagrados que ele
engoliu e que deixou cair de noite : pegou ela , a serpente, que
estava pasasndo e amarrou na cintura : ‘quem quer ser o primeiro
seja o último e o servo de todos’ ; ‘se alguém quiser vir após
mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois aquele que
quiser salvar sua alma irá perdê-la mas quem perder sua alma por
causa de mim vai encontrá-la.’ ( Mt 16, 24s) ; ‘eis que deixamos
tudo e te seguimos’, etc : IHS é o fruto, a riqueza, o tesouro, e
a disputa acontece entre a Alma e o Corpo dos sentidos. Nesta batalha
de Tegira os tebanos fugindo e ao mesmo tempo perseguindo os
espartanos de repente nas montanhas dão de cara com eles ( cap.
XVII ) : “Apenas os viram os que começaram a passar as gargantas
das montanhas, quando um correndo em direção a Pelópidas lhe disse
: “Demos de cara com os inimigos” ; e ele respondendo : “Pois
porque não eles de cara conosco ?”, mandou que a cavalaria
passasse da retaguarda como adiantando-se para atacar e formou bem
apinhados os infantes que eram poucos com a esperança de romper
melhor quando acometessem o inimigo, que lhes excediam em número.”
Krishna ( pg. 90 ) fala das pessoas ruins que são demoníacas
opostas as pessoas celestes adeptas da devoção.
Este
batimento de mar de leite pode se comparado ao comércio em barcos
que batendo o mar produz espuma qual, igual, espuma do leite batido :
macrocosmo. Mas pode ser também IHS no deserto, espicaçado pelos
demônios e protegido pelos anjos, a famosa, bem difundida,
universal, imagem da duas tendências discutindo, brigando,
disputando, dentro da mesma pessoa : microcosmo. O batimento então
reproduz a imagem desta disputa originária, primordial, pelos bens
celestes, disputa entre dois lados, duas tendências uma ascendente e
outra descendente, céu e terra, yang e yin. “ Se a philosophia
perene utiliza as imagens da espiral, como é o caso para os
turbilhões de águas inesgotáveis, as possibilidades do ser
atualizadas pelo sopro da aurora da criação e a luz do Sol levante,
pode-se bem afirmar que as espirais e os meandros por todo lado em
que eles aparecem na arte primitiva -isto é na arte ‘ideológica’
de um tempo em que o ser humano pensava em termos mais abstratos que
aqueles nos quais nós estamos acostumados em nossos dias - são os
signos e símbolos destas águas. As noções de infinidade, de
eternidade, de recorrência, estão implicadas não somente no famoso
símbolo da serpente que morde a própria cauda, neste sentido
‘infinito’ , mas também em todos aqueles antigos motivos
representando as formas de dragões e de serpentes entrelaçados nos
quais começo e fim estão confundidos...” ( Anges et Titans , A.
Coomaraswamy in ‘La doctrine du sacrifice’ pg. 73 ). “… a
serpente do batimento do mar de leite com os devas / asuras ao redor
do Meru / Mandara, bem e mal, na árvore da vida da ciência…
figura o encadeamento do ser na série indefinida dos ciclos de
manifestação ( nota : é o samsara buddhista, a rotação
indefinida da ‘roda da vida’ da qual o ser deve se ‘libertar’
para atingir o Nirvana. A fixação, amarração, ligação à
multiplicidade é também, em um sentido, a ‘tentação’ bíblica,
que separa o ser da unidade central original e o impede de atingir o
fruto d’árvore da vida ; e é por isto, em efeito, que o ser é
submetido a alternância das mutações cíclicas, quer dizer ao
nascimento e morte ). Este aspecto corresponde notadamente ao papel
da serpente ( ou do dragão que é portanto um equivalente ) como o
guardião de certos símbolos de imortalidade ao qual impede que se
aproxime : Hespérides, Cólquida ( Jasão ), Tebas ( Cadmo).”.
Após o quê
vem a mais famosa batalha, a de Leuctras em que os espartanos vindo
com todas as forças para exterminar a raça dos tebanos ( é dito
deste modo já que Cadmo é irmão de Fênix que dá nome a Fenícia
de então e de Europa idem mas eles vem do oriente médio : Thebah é
a arca da Aliança daí Dionisos, Iaco, Jacó ; cf o próprio
Plutarco em seu livro IV dos livros morais : o livro IV comparando
Dionisos e os rituais semíticos acaba por ser rasgado, sumido,
retirado do texto original, arrancado, para que a comparação não
se seguisse – um escândalo historiográfico diga-se de passagem
como vimos antes a retirada do texto do Evangelho de s. João que a
Paraphrase de Nonnos de Panopolis conservou : um escândalo ) acabam
derrotados por Pelópidas e Epaminondas no que vem a chamar-se
‘castigo léuctrico’ : neste lugar, Leuctras, espartanos
violentaram três irmãs que depois foram lá sepultadas e o pai
delas morre em seguida amaldiçoando-os pelo que fizeram : a história
é a mesma do Mahabharata em que três irmãs Amva (ou Amba), Amvika
(ou Ambika) e Amvalika (ou Ambalika) são raptadas e violentadas por
Bhisma valendo-se de antiga lei de centauros que levam, raptam,
pegam, mulheres a vontade e que por isto é amaldiçoado por elas
sendo que uma delas acaba, em novo nascimento como homem, por matá-lo
na guerra. Pelópidas sonha com o acontecimento e no sonho,
Esquedaso, o pai das meninas, pede que ofereça uma virgem rúbia,
vermelha, ‘se queria alcançar a vitória sobre os inimigos’ (
cap. XX e XXI ) . Pelópidas escandaliza-se pois não vai matar
ninguém em sacrifício e Plutarco lembra Agaménon & Efigênia,
Heracles & Macaria, e outros sendo um escândalo semelhante ao de
Abraão & Isaac, uma tentação que resolve-se com a providência
divina que provê a vítima livremente. O tema, assunto, finalidade,
da biografia parece indicar esta relação Pai-Filho e o sacrifício.
O fato concreto contudo é que concomitantemente os espartanos na
pessoa de Agesilao tentam também oferecer seu sacrifício com o
mesmo sonho sendo também sonhado por Agesilao pedindo a mesma coisa
no mesmo lugar que Agamenón, Aulide, onde estavam os espartanos mas
não dá certo a vítima foge ( a vítima sempre foge de modo que ela
tem que ser livre ) e os espartanos precisaram retornar d’Ásia. Os
tebanos levam o sacrifício e o realizam.
XXII. “Estando os
principais nesta conferência e Pelópidas sumamente duvidoso, de
repente uma égua novinha se escapou da manada correndo por entre as
armas e chegando onde aqueles estavam parou. A todos deu para
observar a cor da crina resplandescente como o fogo, sua ufania e a
suavidade e a tranquilidade de seu relincho ; porém o agoureiro
Teócrito, tendo refletido um pouco, dirigiu a voz a Pelópidas, e
exclamou : “ A vítima, ó felizardo, veio (livremente) para as
tuas mãos : não esperemos mais outra virgem ; serve-te daquela que
o deus te há apresentado.” Pegaram então a égua, a levaram à
sepultura das donzelas, onde fazendo orações ferventes e humildes e
pondo guirlandas a degolaram alegres e fizeram correr pelo exército
a voz do sonho de Pelópidas e do sacrifício.”
A imagem é a
imagem do Asvamedha, o sacrifício do cavalo que é solto e fica
livre durante um ano e onde ele parar ( por isto é importante quando
Plutarco fala que a égua parou diante de Pelópidas e importante
igual o fato de estar livre, voluntariamente se apresentando porque é
desta liberdade que vem a alegria que aparece em seguida ) é o lugar
do governante e aí quem protege o cavalo briga com quem está
naquele lugar e deixa o cavalo solto de novo conforme acontece no
Aswamedha parva do Mahabharata com Arjuna protegendo o cavalo sagrado
e inclusive morrendo e ressuscitando no processo junto com o filho
que lhe mata e morre ressuscitando junto . É um sacrifício de
ressurreição conforme acontece com os personagens que analisamos.
Nos Jatakas vemos mais de uma vez este cavalo ritual ser solto e ele
parando junto do Bodhisatva, se faz dele, com o suporte do Povo, o
rei do local. Cavalo ritual da soberania. Que anda livre e vai livre
para o sacrifício porque está indo por este caminho sem retorno, se
libertando, mukti, moksha, nirvana, dos laços corporais. Plutarco é
o único testemunho do asvamedha em Roma relato em suas Questões
romanas: não fora o sacerdote de Delphos nada saberíamos. É o
famoso cavalo de outubro em que os romanos dividiam o cavalo sagrado
em três ( cabeça, tronco e cauda ) e cada grupo corria com uma
parte. Vale o relato :
“Por que no dia 13 de dezembro que se chama em latim Idus Decembres
se faz um jogo de pegar, de corrida de carros e o cavalo atrelado do
lado direito que se tornou vitorioso, é imolado à Marte, lá vem
alguém por trás que lhe corta a cauda, a qual leva ao templo que se
chama Regia e ensanguenta o altar ; e para ter a cabeça, há uma
tropa de pessoas que vem da rua sagrada e uma outra daquela que se
chama Saburra ( Sub-urbe ), em que combatem uns contra os outros para
saber quem a terá ? É por está razão que alguns alegam que eles
tem opinião de que a cidade de Troia foi tomada por um cavalo de
madeira e por isto punem o cavalo em memória disto ?
Como se fossem descendentes de Troianos,
E de Latinos juntos con-fundidos.
Ou porque o
cavalo é um animal corajoso, marcial é belicoso e se sacrifica
ordinariamente aos Deuses as vítimas que lhes são mais agradáveis
e melhores escolhidas e lhes sacrifica alguém aquilo que ganhou
prêmio porque a vitória e a força lhes são próprias ou antes
porque a obra deste Deus é fechada é estável e são vitoriosos
aqueles que permanecem em seus ranks contra aqueles que não
permanecem mas fogem ; é porque pune-se o animal que corre rápido,
como o veículo solto, largado, para convertendo-os dar-lhes a
entender, não há esperança de salvação àqueles que fogem.” (
Plutarco, Questões Romanas, XCVII, pg 238, vol 2. )
O cavalo é a imagem
dos três mundos :
“E fez de
si mesmo uma Trindade (tridha) : um terço Fogo (agni),
um terço Sol Superno (aditya), um terço Vento (vayu).
Ele é
verdadeiramente, o Espírito (prana), determinado (vihita)
numa Trindade : dos Três Mundos, na semelhança de um cavalo.
Sua cabeça o ar leste (praci), suas pernas da frente este ar
dos dois lados. Do mesmo modo sua cauda o ar oeste (pratici),
suas pernas de trás o ar dos dois lados. Seus flancos o sul e o
norte. Suas costas os céus (dyu), sua barriga firmamento
(antariksha), sua parte de baixo este chão. Ele está estabelecido
(pratistha) nas Águas. Aquele que sabe isto está
estabelecido onde quer que possa estar.” ( Brhadaranyaka Upanishad
I, 2, 3 e Satapatha Bramana X, 6, 5 ).
“ A aurora é
considerada o melhor período para meditar e é por isto chamada de
cabeça do cavalo., sendo a parte mais importante do corpo. O Sol vem
depois da aurora ; portanto é considerado os olhos do cavalo, que é
visto após a cabeça ser vista. Vento é o sopro vital ; fogo é a
boca aberta do cavalo , pois fogo é a deidade que preside a boca. O
ano, i.e. tempo e estações, são o corpo ; céu é suas costas ;
espaço, o estômago ; terra, o lugar de descanso ; os quartos e seus
pontos médios são respectivamente lados e ossos do cavalo ; os
meses são suas juntas ; dias e noites são seus pés ; segundo
testemunhas as estrelas é dito ser seus ossos ; nuvens são a carne
que verte a chuva de sangue contida nela ; areias são alimento meio
digeridos ; rios são as veias que fluem para o anus ; montanhas são
seus fígado e baço ; plantas e arbustos, o pelo do seu corpo, o Sol
ascendente e descendente, suas duas partes do umbigo até a cabeça e
para seus quadris ; o brilho da relâmpago é seu bocejo e o esticar
de seus membros de modo a relaxar ; o trovão de nuvens é o
chacoalhar de seu corpo ; e fala é seu relincho.” ( Brhadaranyaka
Upanishad I, 1,3)
“Então no
final do ‘ano’, cósmico ou terrestre qual seja o caso, o cavalo
sacrificado, seus sopros vitais retornando para aquele de quem é a
imagem, não enquanto ele é em hipóstase (dvitya atman), mas
na Unidade, lá ‘o Filho se perde na unidade da essência’,
Eckhart, I, 275. Justo como todas as ‘almas’ ( bhutani)
retornam para dentro da Sua natureza universal no fim dos tempos,
Bhagavad Gita, IX, 8, do mesmo modo a ‘alma’ do cavalo retorna
para sua fonte quando ritualmente morto : isto é feito com uma fim /
finalidade em vista, esta vida possa ser renovada, justo como no
princípio do tempo, de qualquer tempo, no brotar do ‘ano’, todas
as ‘almas’ derramam-se novamente de sua latência nele, ibidem.
O Aswamedha
cósmico é a Paixão voluntária da deidade encarnada, gerado
Segunda Pessoa (dvity atman), este sacrifício a mais sendo
uma negação da vontade de viver, como o primeiro era
sua afirmação. Mas
esta Paixão e morte formalmente empreendida não são sem um fim em
vista, este também um trabalho desejado, kamya karma, e
enquanto tal tem suas consequências em uma renovada manifestação
de vida, em outro Tempo, quando outro Sol, outro Cavalo, será
derramado (visrsti). O Aswamedha terrestre é uma solene
promulgação daquela Paixão, para o fim análogo de que a vida deve
ser renovada, tornada viável, aumentada e continuada aqui e
agora,’Pergunto à semente do cavalo.’ Aquele que entende o rito
concordemente, com olho nos seus frutos, ganha plenitude de vida na
terra ( cem anos, em analogia a Seus ‘cem anos’), riqueza,
descendência, gado, o que desejar aqui, e com isto ainda o mundo dos
patriarcas, após a morte : esta não é a emancipação final, pois
a recompensa natural de trabalhos interesseiros é inevitável, ele
deve retornar novamente para um nascimento renovado, punar
apadara, e outras mortes, punar mrtyu. Somente aquele que
sabe, que entende, que descobre e assim realiza o rito
intelectualmente, que conhece Si mesmo evidentemente que o cavalo é
transubstancialmente Prajapati, o Ano, o Filho, ganha ou agora ou em
devido curso, de acordo com a perfeição de sua realização,
retorno para o Intelecto, para Brahma, e é assim liber(t)ado, ele
apenas preserva mortalidade, sendo um com a Morte, dentro e da
Suprema Identidade, Um Anjo.” ( A. Coomarswamy, Perceptions, pg.
64s ) “Ele quis, ‘Possa este meu corpo ser
renovado ( medhya ), possa eu ser Personalizado novamente
(atmanvi). Com isto lá-tornou-se-novamente ( samabhavat
) um cavalo ( aśva ). ‘Aquele cavalo (aśva)
foi-feito-inteiro ( medhyamabhud ), ele pensou ( iti ).
Esta é verdadeiramente a natureza-inteira-cavalo ( aśvamedhatva)
do sacrifício-do-cavalo ( aśvamedha ). Sabe realmente o
aśvamedha, quem sabe isto assim. … O sacrifício-que-é-o-cavalo (
aśvamedha ) é verdadeiramente ele que intensifica (tapati)
: ele-Mesmo é o Ano, Prajapati. Este fogo sacrifical é o Brilho
(arka) : os Três Mundos (lokah) são suas Hipóstases
(atmanah).” ( Brhadaranyaka Upanishad I, 1, 7)
“Agora tendo
encarnado neste corpo na forma de cavalo Cósmico ou Árvore do
Mundo, a deidade encarnada salvará da mortalidade incorrida aquele
corpo que é a soma de todas as existências. Ele sofre portanto uma
Paixão, isto é, intenção e morte, que é o ‘mais um
sacrifício’; como enfatizado no verso conclusivo, ‘ele sacrifica
a sim mesmo para si mesmo’ e Rigveda X, 90,15, onde os ‘Anjos’
( Pessoas da Trindade), agem como padres sacrificais, ‘sacrificando
com o sacrifício até o Sacrifício’. Este conceito de
auto-sacrifício e paixão voluntária, empreendida ou sofrida até
o fim para que a vida possa ser feita mais abundante recorre por todo
os Vedas e nas tradições de muitos povos. Aqui precisamos aludir
somente ao paralelo Cristão, a Crucifixão na Árvore da Vida : pois
a Cruz, o Crucifixo, é uma ‘árvore’, a Árvore da Vida, seu
tronco o eixo-árvore do ser, seus braços ou galhos toda a extensão
em todo plano de existência, ‘o dom de Deus é a existência
positiva de todas as criaturas na Pessoa de seu Filho’, Eckhart, I,
427.” ( Coomaraswamy, Perceptions, pg. 60 )
Shiva
purana XV, 55-58 que reproduzimos acima, assim como o batimento do
mar de leite, mostrando a convulsão dos três mundos com a descida
de todas as ninfas pode ser o equivalente deste sacrifício da
asvamedha já que antecede a morte e ressurreição do próprio
Ganesha e termo equivalente das ninfas celestes a virgem vermelha, a
potra vermelha, que livre oferece-se a si-mesma voluntariamente,
atmayajña, o sacrifício de si mesma. O sacrifício interior
é o caminho dos deuses, deva yana e o exterior o pitr yana caminho
dos antepassados.
Depois de
sua ‘morte e ressurreição’ Pelópidas é enviado como
embaixador à corte do grande rei d’Ásia. “Já desde o
princípio, ao passar pelas províncias do rei foi muito considerado
e fez muito barulho pois não propagou-se tibiamente ou como rumor
vago pela Asia a fama dos encontros sustentados contra os
lacedemônios mas apenas se divulgou a voz da batalha de Leuctras
aumentada e impelida cada dia com um novo triunfo se estendeu até os
países mais remotos. Assim quando chegou ao palácio apenas lhe
viram os sátrapas , os da guarda e os generais, começaram com
admiração a dizer : “Este é aquele que derrubou o império da
terra e do mar de que estavam apoderados os lacedemônios ele o que
conteve entre o Taigeto e o Eurotas aquela Esparta que pouco antes
havia feito a guerra ao grande rei e aos persas, levando-a até Susa
e Ecbátana por meio de Agesilao”. Para Artaxerxes foi de grande
prazer estes sucessos. Assim mostrou admirar Pelópidas ...” (
cap. XXX Vida de Pelópidas, Plutarco) – esta passagem está em
paralelo com a da conflagração universal no Shiva purana – a
batalha de Leuctras teve repercussão mundial, foi mundial em suas
características no asvamedha e na vingança leúctrica : oriente e
ocidente juntos desde sempre.
Com os sucessos
na guerra Epaminondas e Pelópidas acabam por serem levados a
tribunal para julgar seu não retorno, demora, mantendo seis meses os
exércitos fora de Tebas quando a lei prescrevia que voltassem ao
final do ano. Um invejoso chamado Meneclidas por ocasião desta
questão quis elevar Carón em lugar de Pelópidas em honra e glória
e neste momento Pelópidas fala : “ … entre os tebanos não é
admitido que a honra se atribua privadamente a um homem apenas, mas
que o homem e a vitória quedem integralmente para pátria.” -
vê-se aqui a imagem de líder do Ganas, Ganesha enquanto chefe de
muitos e um diante deles todos, não diferenciado mas parte de um
todo. A questão mesma da partilha é o cerne do texto.
Neste momento
chegamos na parte final em que Ganesha / Pelópidas é assassinado e
ressuscita : Shiva purana XVII – XIX // ( paralelo ) // Vida de
Pelópidas XXVI- XXIX. Presença de Vishnu e sua maia (maya,
criação, ilusão) própria, para enganar com uma ilusão Ganesha,
parece corresponder à retirada da roupa de militar por Pelópidas e
a subsequente vestimenta de roupas civis atuando como pacificador dos
Macedônios tendo levado para educar Filipe da Macedônia pai de
Alexandre Magno nestes trajes civis para Tebas. O tirano Alexandre de
Feres acaba prendendo-o nestes trajes, sem exército próprio mas
apenas com estipendiários, a ilusão que o faz ser preso sem estar
portando armas. Vai para o calabouço do tirano e lá é maltratado
mas a esposa do tirano, que coincidentemente se chama Tebas, chora
por ele, vendo seu infortúnio e juntos planejam a vingança ao
tirano – a terra mesma está do seu lado .
“ ... porém
Pelópidas exortava os tessalianos que lamentavam a sorte dele a que
não perdessem a confiança ; pois então era mais certo que o tirano
teria o merecido e a este mesmo mandava dizer era coisa muito
estranha que continuamente estivessem dando tormentos e morte a
miseráveis cidadãos que em nada lhe ofendiam e que a ele lhe
deixasse, quando devia saber que haveria de ser ele o primeiro a
castigar-lhe, se tinha meios para fugir ; maravilhado de semelhante
inteireza e impavidez : Por quê – exclamou – se empenha
Pelópidas em apressar sua morte ?” E tendo entendido, respondeu :
“Para que tu pereças mais rapidamente e mais na ira dos deuses.”
A morte enquanto
auto sacrifício : atmayajña, sacrifício dentro de si mesmo.
Epaminondas não sem esforço acaba por resgatá-lo da morte e
Pelópidas renasce e vai para o Oriente em embaixada visitar o grande
rei Artaxerxes, junto com outros, e suas proezas são conhecidas e
cantadas como dissemos. Depois ele volta a atacar Alexandre de Feres
e matando-o acaba morrendo também.
No capítulo XXXI
da Vida de Pelópidas vemos a independência de todas as cidades
estados gregas : todos os laços de tirania rompidos.
Dentro do canto
do Partilhador, de Krishna, Govinda, Hari, Madhava, etc, o tema dos
três mundos aparece com a teoria dos três gunas, as três
tendências em que todos os corpos estão submetidos e que acabam por
constituir todas as coisas como a organização social com a classe
de tendência ascendente sattva sendo a brahmane, a de tendência no
mundo, na realidade, na Paixão, rajas, os kshatrias, e a tendência
descendente, os vaysas e sudras. Mesmas tendências dentro do
organismo humano e vemos no ‘Da Alma’ de Aristóteles o mesmo
arranjo de três, alma racional, alma sensitiva, alma vegetativa e
como vimos, dentro dos próprios dois caminhos : o 3 dentro do 2. É
a tese de Georges Dumézil que via esta trindade hindu em todas as
histórias, exageradamente mas não à toa, há uma razão para isto
pois esta imagem é a mesma do Gênesis de Moisés dos dias da
criação : a luz, o espaço intermediário, e a semente na terra
seca : Sol, Vento, Fogo. É a Trindade em Pessoa ou Pessoas.
Cabe um
esclarecimento aqui. Crisipo o filho de Pélops que é levado por
Laio e some ocasionando a sphinx e seu enigma , o quê significam ?
O texto mítico segue assim :
“Hera
recentemente enviou a esfinge/sphinx para punir Thebas pelo rapto por
Laio do garoto Crisipo de Pisa ( junta de Olímpia ) e parando no
monte Phicium próximo à cidade, ela agora perguntava todo Tebano
passante um enigma ensinado por ela pelas Três Musas : Que ser com
apenas uma voz tem algumas vezes dois pés, algumas vez três ,
algumas vezes quatro e é mais fraco quando as tem mais ?’ Aqueles
que não podiam resolver o enigma era pisava e devorava no lugar,
entre cujos infortunados estava o sobrinho de Jocasta, Haemon
(sangue), a quem a Sphinx fez haimon, ou ‘sangrar’,
realmente. Édipo se aproximando de Thebas recentemente após a
morte de Laio, adivinhou a resposta. ‘Ser humano’, ele
respondeu,’porque rasteja nas quatro quando criança, em dois pés
firmes quando jovem e dobra-se sobre uma bengala em sua velhice’. A
mortificada Sphinx saltou do monte Phicium e arrebentou-se em pedaços
no vale abaixo. Com isto os Thebanos agradecidos aclamaram Édipo rei
e o casaram com Jocasta, desconhecendo que era a mãe dele.”
(Graves, pg. 10).
Agora
vejamos a doutrina dos yugas, idades do mundo, a grega, idade de
ouro, idade de prata, bronze e ferro, comum na antiguidade
(atualmente revertida pelo positivismo evolucionista materialista
míope que considera que estamos melhor que antes em sua cegueira)
mas que na Índia é de significado amplo : a resposta de Édipo são
os yugas , as diferentes idades não do homem mas da humanidade ;
vejamos Kurma purana 29,13:
“No
primeiro Krtayuga, Dharma é glorificado tendo todos os quatro pés.
No Treta yuga ele se torna com três pés enquanto é de dois pés no
Dvapara. No Tisya ( idade de Kali ) ele fica sem três pés;
meramente existe.” Segue descrição das idades e sua decadência
gradual. Que também pode ser vista em Mahabharata, Vana parva, pg
305, declarada pelo grande Hanuman : vivíamos vida espiritual, no
princípio meditávamos e fomos gradualmente nos materializando de
espirituais que éramos. Ou em Bhagavat Purana pg 2138.
A herança de
Crisipo não podia ser pequena. 1 + 2+ 3+ 4 = 10 a tetrákis
pitagórica aplicada ao tempo, a quadratura do círculo ; cf. Guenón,
Formas tradicionais, pg 19 em que se expõe esta doutrina dos ciclos
cósmicos e das qualidades do tempo pois o tempo não é uniforme, o
mesmo sempre, quantitativo apenas como a ciência moderna acredita,
mas diferencia-se e tem qualidades.
Bibliografia :
René Guénon,
Formas Tradicionais e ciclos cósmicos, Ediciones Obelisco,
Barcelona, 1984.
Kurma Purana (
ed. dr. G.V. Tagare ) MMPublishers, Delhi, 2005.
Plutarco,
Vida de Pelópidas in Biografos Griegos,( trad. A. S. Romanillos, J.
Ortiz y Sanz y J. M. Riaño ) Aguillar, Madrid, !973 ( ‘Tolle lege’
– a voz que s.Agostinho escutou quando diante da bíblia de
Jerusalém e que o levou a sua conversão – ele já tinha lido tudo
então. A editora Aguillar coloca estas palavras junto da marca da
editora ).
–-----------
, Obras Morais, trad. Amyot, séc XVII.
Shiva Purana,
volume 2, Motilal Barnasidass Publishers, Delhi, 2004.
Mahabharata, 4
vols, trad. Kisari Mohan Ganguli, Munshiram Manoharlal Publishers,
New Delhi, 2004.
Robert Graves,
The Greek Myths, 2 volumes, Penguiin books, 1960, London
T. A. Gopinatha
Rao, Elements of Hindu Iconography, 2 volumes, Low Price
Publications, New Delhi, Índia, 1999 ( 1.a edição 1914 ).
Ananda
Coomaraswamy, La doctrine du sacrifice ( trad. Gérard Leconte ),
Éditions Dervy, Paris, 1997.
Ananda
Coomaraswamy, Perceptions of the Vedas ( ed. por Vidya Nivas Misra ),
Manohar, 2000, New Delhi.
Upanishads
retold ( 2 volumes ), V. H. Date, M.M. Publishers, New Delhi, 1999.