[ Nota do tradutor :
Roma e Índia : a unidade das tradições in
Plutarco Védico isbn 978-85-906438-0-7 ]
Plutarco Védico isbn 978-85-906438-0-7 ]
Plutarco, Vida de
Rômulo, paragr. XI
“Deu
Rômulo sepultura no sítio chamado Remuria [ depois
Lemuria onde se lamentavam, penitenciavam ] a Remo e aos que lhe
haviam criado [ Fáustulo e outros que também morreram
na dissensão ] e seguiu com a fundação da
cidade, fazendo vir da Etruria ou Tirrenia certos varões que
com ritos e cerimônias distintos, faziam e ensinavam a fazer
cada coisa a maneira de uma iniciação. Porque no que
agora chamam Comicio se abriu uma cova circular e nela se jogaram
primícias de todas as coisa que pela lei nos servem de
proveito ou que por natureza usamos e necessitamos ; e da terra de
onde veio, cada um colheu e trouxe um punhado e a jogou também
ali, como para mesclá-las. Dão a esta cova o mesmo nome
que ao céu, chamando-a 'mundo'.
Depois
( o quê são os outros ritos ) com um círculo
descrevem desde seu centro a cidade e o fundador colocando no arado
uma relha de bronze e unindo duas reses de boi, macho e fêmea,
por si mesmo as leva e abre pelas linhas descritas um sulco profundo,
ficando ao cuidado dos que o acompanham ir recolhendo para dentro os
torrões que se levantam, sem deixar que nenhum salte para
fora. Para a parte de fora desta linha fabricam um muro, devido ao
qual por síncope, chamam pomerio, como promerio ou antes do
muro. Onde querem que se faça uma porta, tiram a relha e
levantando o arado, fazem
uma pausa ; assim os romanos têm por sagrado todo o muro a
exceção das portas porque se estas se reputassem
sagradas, seria sacrilégio introduzir e tirar por elas muitas
coisas sejam necessárias ou sujas.”
“Os ritos e
cerimônias distintos que os varões da Etruria / Tirrenia
trouxeram” são os ritos védicos de fundação
dos altares de fogo Garhapatya e Ahavaniya ; segue a descrição
de suas construções em Satapatha Brahmana VII,1,1,8s e
VII,2,2,9s respectivamente, como no texto de Plutarco acima :
“Ele
cobre todo o Garhapatya circular com terra, solo salgado, areia, pois
o altar Garhapatya é o útero e o solo salino o âmnio
( membrana do útero ); cobre portanto todo o útero com
âmnio. Joga-se assim terra para impedí-lo de estragar
... E novamente joga-se areia – areia não é outra
coisa que semente de Agni que está sendo construído ...
pois o altar Garhapatya é o útero e a terra semente : e
se preenche todo o útero com semente ... é circular
pois o útero é circular e além do mais o
Garhapatya é este mundo terrestre e este mundo sem dúvida
é circular.
Arou-se
então – arar significando comida ... na direita ( sul ) do
altar de fogo, arou-se um sulco para leste ... corretamente possa com
sorte a relha do arado levantar o chão, com sorte os
lavradores aplicam-se com seus bois ! ... 10 Então na parte
de trás ( arou-se um sulco ) para o norte, “Com doce ghee o
sulco seja saturado ... aprovado por Todos os deuses e os Maruts que
têm poder sobre a chuva ; 'cheio de seiva e abundante leite', -
leite significa seiva : assim 'abundante com seiva e comida' – 'com
leite, ó sulco, volte tu em nossa direção !”
... 11 Então na esquerda( norte) ( arou-se um sulco ) para
leste, “ A relha divisora do arado – isto é, o arado
abundante em riqueza” - propício, oferecendo amostra para o
copo de Soma – pois Soma é comida - “jogou para cima vaca,
ovelha, a esposa gostosa, o vagão com rápidas rodas”
, pois tudo isto o sulco produz, joga para cima. 12 Então na
parte da frente ( arou um sulco ) sul ... “Ordenhe Ó vaca da
abundância, os desejos de Mitra e Varuna, de Indra, dos Asvins,
de Pushan, das criaturas e plantas ! Lavoura é ( benéfico
) para todas as deidades : portanto, “Ordenhe para todas estas
deidades seus desejos !”
Georges Dumèzil
assinalou esta identidade cultural oriente ocidente em 'Aedes rotunda
vestae' in Rituels Indo-Européens à Rome, Paris,
Klincksieck, 1954 na página 33 :
“Aqui e lá,
o fogo perpetual, o “fogo reservatório” destinado não
a receber ofertas mas a materializar -se por uma lareira ( vestíbulo,
é do fogo de Vesta que se fala, foyer ) a morada legítima
de uma pessoa ou de um grupo de pessoas sobre um ponto de terra,
requer um contorno redondo ; ao contrário o fogo sacrifical e
em Roma o santuário onde o fogo era o móvel essencial,
como nos 'templa' político-religiosos, quer dizer os lugares
onde um comércio ativo e preciso deve se estabelecer entre os
homens e os deuses, requer um contorno quadrangular,orientado leste
oeste ; além do que no caso arcaico da urbs quadrata, este
quadrado é traçado – fulcros, sulcos, abertos por um
arado e uma trelagem – da mesma maneira que os da ahavaniya e com
eles, em seu centro comporta uma embocadura mística colocando
o visível em comunicação como o invisível.
Não creio
que os etnógrafos tenham em algum lugar assinalado uma
articulação análoga de estruturas antitéticas.”
Estas
“estruturas antitéticas” seria a quadratura do círculo
propriamente dita. O fogo do ritual saía do templo redondo de
Vesta e dirigia-se aos outros templos para o ritual de cada um, dos
diversos deuses. A cidade tem um centro e quatro cantos, quatro
portas, distintas nos nomes dos deuses e que sim distinguem-se já
pelas castas, ordens, classes, estados, tradicionais. O conjunto
todo tem vida, respira, sendo os templos quadrados, olhos, ouvidos,
cabeça e o redondo no centro útero com as sementes de
todos da cidade templo unidos em Com- ( seja com-ício,
con-sílio ou con-junto ). Em Satapatha Brahmana II, 2,18 é
dito “Os fogos sacrificais certamente são estes sopros o
ahavaniya e o garhapatya são o ex-pirar e o ins-pirar e o
anvaharya pakana é o trans-pirar” ( este último é
o transporte do centro ao templo ).
Os
gestos com as mãos nas duas construções, na
primeira atirando, jogando, sementes e terra e na segunda retirando,
tirando, os torrões que saem para cima, a riqueza mesma,
aproximam as duas culturas, romana e indiana com uma origem
indoeuropeia comum. A transmissão da Tradição
através de imagens parece existir desde sempre uma vez que se
repete em Plutarco. Obviamente estes fogos são estabelecidos
espiritualmente dentro do mais íntimo d'alma. ]
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