domingo, 12 de fevereiro de 2012

440 Buddha sorri


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    Indra / Sakra em retrato de Ajanta com coroa sendo as pessoas acima, pessoas  do céu dos trinta e três.  



440
Veja aquele homem lá longe...etc.” - Esta história o Mestre contou em Kapilavasthu no Parque Banyan, sobre sorrir.

Naquele tempo dizem que o Mestre, vagando à pé com seu bando de Irmãos no Parque Banyan à noitinha, em um certo lugar deu um sorriso. Disse o Ancião Ananda, “Qual será a causa, qual será a razão, para que o Abençoado sorria ? Não sem causa os Tathagatas sorriem. Perguntarei a ele então.” Então com um gesto de obediência ele perguntou sobre este sorriso. O Mestre disse, “Em dias idos, Ānanda, havia um certo sábio, chamado Kanha, que neste mesmo lugar, nesta terra, vivia meditativo, na delícia da meditação ; e pelo poder de sua virtude o domicílio de Sakra foi sacudido.” Mas como esta fala sobre o sorrir não estava clara, com o pedido do Ancião ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), havia um certo Brahmin sem filhos, que possuindo uma fortuna de oitocentos milhões, tomou para si os votos da virtude e rezava por um filho ; no útero da esposa deste brahmin foi concebido o Bodhisatva e devido a sua cor negra deram a ele no dia de seu batismo o nome de Kanha kumara, jovem Negro. Ele, na idade de dezesseis anos, estando cheio de de esplendor, parecendo uma imagem feita em pedra preciosa, foi enviado por seu pai para Takkasila ( Taxila ) onde ele aprendeu todas as artes liberais e depois retornou. Então seu pai providenciou para ele uma esposa adequada. E logo logo ele partilhou de todas as propriedades dos pais.

Bem, um dia, após inspecionar as casas dos tesouros, enquanto estava sentado em seu belo sofá, pegou em sua mão um prato de ouro e lendo no prato dourado estas linhas escritas pelos seus parentes de dias antigos, “Tanto da propriedade ganha por fulano, tanto por sicrano,” pensou consigo, “Aqueles que ganharam esta riqueza não são mais vistos mas a riqueza ainda é vista ; nenhum deles podem usá-la no lugar para onde foram ; não podemos amarrar nossa riqueza numa trouxa e levá-la conosco para o outro mundo. Vendo que ela está conectada com os Cinco Pecados, distribuir em ofertas esta vã riqueza é o melhor a ser feito ; vendo que este corpo vão está conectado com muita doença, mostrar honra e gentileza ao virtuoso é o melhor a ser feito ; vendo que esta vida é transitória e vazia é passageira, lutar por insight espiritual é o quê deve ser feito. Portanto estes tesouros vãos vou distribuir em ofertas, e fazendo isto ganho a melhor parte.” Então ele levantou-se do assento e tendo pedido o consentimento do rei, fez ofertas bondosamente.
No sétimo dia não vendo diminuição na riqueza ele pensou, “O quê é riqueza para mim ? Apesar de ainda não ter a sabedoria da velhice, agora mesmo farei os votos de asceta, cultivarei as Faculdades e as Consecuções, e me tornarei destinado ao céu de Brahma !” Assim ele fez com que fossem abertas todas as portas da sua residência e disse que se podia levar tudo de graça ; e rejeitando tudo como coisa impura, ele abandonou todos os desejos dos olhos e no meio de lamentos e lágrimas de uma grande multidão, saiu da cidade e foi para a região do Himalaia. Lá ele abraçou a vida solitária ; e buscando um lugar agradável para residir, encontrou um e lá resolveu morar ; e escolhendo uma árvore corcubitácea ( da espécie da cabaça e da abóbora ) como lugar para se alimentar, lá morou e viveu nas raízes desta árvore ; nunca se alojando dentro da vila, tornou-se um habitante das florestas, à céu aberto sentado sempre, ou se ele desejasse deitar, deitando no chão, sem pilão, apenas os dentes para triturar a comida, comendo apenas coisas cruas sem cozinhar no fogo, comendo apenas uma vez ao dia e sentado. No chão, como se fosse um com os quatro elementos, ele viveu, tomou sobre si as virtudes ascéticas ( viver só, debaixo d'árvore, dormir sentado etc. ). Neste Jataka o Bodhisatva, como vemos, tinha muito poucas vontades.

Assim em pouco tempo ele atingiu as Faculdades e as Consecuções e vivia naquele lugar em ênstase de meditação enstática. Em busca de frutos selvagens não precisava andar muito ; quando o fruto crescia n'árvore, ele comia o fruto ; no tempo das flores, comia flores ; quando as folhas cresciam ele comia as folhas ; quando nem folhas havia comia a casca d'árvore. Assim no mais alto contentamento viveu um longo tempo neste lugar. Como de manhã ele costumava catar as frutas daquela árvore, nenhuma vez cobiçou levantar-se e catar fruta em outro lugar. No lugar onde sentava, ele esticava a mão e catava toda a fruta que estava ao alcance das mãos ; estas ele comia sem distinção entre boa e ruim. Como ele continuava com prazer assim , pelo poder de sua virtude o trono de pedra amarela de Sakra começou a esquentar. ( este trono, dizem, aquece-se quando a vida de Sakra dirige-se para o fim ou quando seu mérito está gasto e terminado ou quando algum Ser poderoso prega, ou através da eficácia da virtude de sacerdotes e brahmins cheios de potência. ).
Então Sakra pensou, “Quem é que vai me desalojar agora ?” Verificando ao redor, ele viu, vivendo na floresta, em uma certo lugar, o sábio Kanha, catando frutos e soube que ele era o sábio de temerosa austeridade, dominando todos os sentidos ; “Vou até ele,” pensou, “Farei que ele proclame a Lei ( o Dharma ) em tons de trompete e tendo escutado a pregação que dá paz, vou satisfazê-lo com um dom e fazer sua árvore dar frutos sem cessar e então retornarei para cá.” Então com seu super poder desceu rapidamente e permanecendo em pé junto da raiz d'árvore atrás do sábio, ele disse, para testar se o sábio ficaria irado ao mencionar sua feiúra, a primeira estrofe :

Veja aquele homem, todo preto na aparência, que vive neste lugar preto,
Preta é a comida que ele come – meu espírito não gosta dele !

O moreno Kanha o escutou. “Quem é que fala comigo ?” - através do seu insight divino ele percebeu que era Sakra ; e sem virar, respondeu com a segunda estrofe :

Apesar de preto na aparência, um brahmin verdadeiro de coração, Ó Sakra, vês :
Não pela pele mas se ela peca, então deve ser preta uma pessoa.

E então, depois disto, tendo explicado seus diversos tipos e culpado os pecados que tornam uma pessoa preta e louvado a bondade das virtudes, ele discursou para Sakra e foi como se fizesse a lua elevar-se no céu. Sakra ao escutar o discurso, encantado e deliciado, ofereceu um dom ao Grande Ser e repetiu a terceira estrofe :

Bem falado, brahmin, nobremente colocado e excelentemente dito :
Escolha o que queres – como pede teu coração, assim seja tua escolha.

Escutando isto o Grande Ser pensou consigo mesmo. “Sei como deve ser. Ele deseja me testar e ver se fico irado com a menção da minha feiúra ; contudo apesar dele abusar da minha cor de pele, da minha comida e da minha moradia ; percebendo que não fiquei irado, ficou feliz, e me oferece um dom ; sem dúvida ele pensa que pratico este modo de vida por desejo de poder de Sakra ou de Brahma ; e agora, para dar razão a ele, devo escolher estes quatro dons : que eu possa ser calmo, que eu possa dentro de mim não ter ódio ou malícia contra meu vizinho e que eu possa não ter cobiça pela glória ou luxúria do vizinho.” Assim ponderando, para resolver a dúvida de Sakra, o sábio pronunciou a quarta estrofe, clamando estes quatro dons :

Sakra, o senhor de todo o mundo, uma escolha de bençãos ofereceu.
Livramento eu teria de malícia, ódio, cobiça,
E livre de toda luxúria também : estas bençãos anelo.

Com isto pensou Sakra : “O sábio Kanha, escolhendo seu dom, escolheu quatro bençãos sem culpas. Agora perguntarei a ele o quê é bom ou mal nestas quatro coisas.” E ele perguntou a questão repetindo a quinta estrofe :

Na luxúria, no ódio, na cobiça, na malícia, diga brahmin
Que males vês ? Me responda isto, prego.

Escute então,” respondeu o Grande Ser e pronunciou quatro estrofes :

Porque ódio, alimentado por má-vontade, sempre aumenta de pouco para muito,
Ficando cheio de amargor, daí não quero ódio.

É sempre assim com as pessoas más : primeiro fala, depois toque nós vemos,
Em seguida punho, então porrete e por último golpe de espada cintilando livre :
Onde malícia está, lá segue o ódio – nenhuma malícia então para mim.

Quando as pessoas fazem a velocidade incitar ganância, fraude e engano surgem,
E a perseguição rápida de um botim selvagem – portanto, sem cobiça.

Firmes são os grilhões amarrados pela luxúria, que desenvolve abundantemente
Dentro do coração, doendo pungentemente – nenhuma luxúria então para mim.

Sakra, suas questões assim resolvidas, respondeu, “Sábio Kanha, por você foram resolvidas docemente minhas questões, com habilidade de Buddha ; bem satisfeito contigo estou ; agora escolha outro dom” : e repetiu a décima estrofe :

Bem falado, brahmin, nobremente colocado e excelentemente dito :
Escolha o que queres – como pede teu coração, assim deixe tua escolha ser feita.
Instantaneamente o Bodhisatva repetiu uma estrofe :

Ó Sakra, senhor de todo o mundo, um dom tu me apregoa.
Onde na floresta sempre morei, onde completamente só resido,
Me dê que nenhuma doença prejudique minha paz ou quebre meu ênstase.

Escutando isto, pensou Sakra, “Sábio Kanha, escolhendo um dom, não escolhestes nada relacionado à comida ; tudo que ele escolheu está relacionado à vida ascética.” Deliciado sempre mais e mais, ele adicionou ainda outro dom e recitou outra estrofe :

Bem falado, brahmin, nobremente colocado e excelentemente dito
Escolha o que queres – como pede teu coração, assim deixe tua escolha ser feita.

E o Bodhisatva, estabelecendo este dom,declarou a lei na estrofe conclusiva :

Ó Sakra, senhor de todo o mundo, uma escolha tu me pede para declarar :
Nenhuma criatura seja de nenhum modo ferida por mim, Ó Sakra, em qualquer lugar,
Nem no corpo nem na mente : este, Sakra, é meu pedido.

Assim o Grande Ser, em seis ocasiões fazendo escolha de dom, escolheu somente aquilo que pertencia à vida de Renúncia. Bem sabia ele que o corpo é doença e nem Sakra poderia afastar a doença dele ; nem cabe a Sakra limpar os seres vivos nos Três Portões ( do corpo, da fala e da mente : os três portões por onde entra o mal ) ; não obstante isto, ele fez sua escolha para que no fim declarasse a lei a ele. E Sakra fez aquela árvore dar frutos perenemente e saudando-o com um toque na cabeça com as mãos juntas, ele disse, “More aqui para sempre livre de doença,” e foi para sua própria residência. Mas o Bodhisatva, sem nunca quebrar seu ênstase, tornou-se destinado ao mundo de Brahma.
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Esta lição terminada, o Mestre disse, “Este, Ananda, é o lugar onde morei em tempos anteriores,” e assim identificou o Jataka : “ Naquele tempo Anurudha era Sakra, e eu mesmo era Kanha, o sábio.”



2 comentários:

ananda disse...

O corpo é doença.
Não ferir nada ou ninguém no corpo ounna alma é o único dom razoável no pedido.
Esse o ensinamento.

Anagrama Publicidade disse...

O corpo também pode ser saúde. O amor pode ser saúde!