quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
421 Buddha rei Udaya
pintura de Ajanta, Índia
421
“Carvão como da terra...etc.” - O Mestre contou este conto enquanto residia em Jetavana, relativo a guarda de dias santos na semana. Um dia o Mestre se dirigiu a irmãos leigos que guardavam dias santos e disse, “Irmãos leigos, a conduta de vocês é boa ; quando as pessoas guardam dias santos, elas devem fazer ofertas, manter os preceitos morais, nunca mostrar raiva, ser gentil e fazer as obrigações do dia : sábios antigos ganharam grande glória mesmo guardando parcialmente os dias santos :” e com o pedido deles, contou um conto antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), havia um rico mercador naquela cidade chamado Suciparivara, cuja riqueza atingia oitocentos milhões e que deliciava-se em fazer caridade e outras obras boas. Sua esposa e filhos, toda sua casa dos empregados até o gado guardavam seis dias santos todo mês. Naquele tempo o Bodhisatva nascera numa certa família pobre e vivia vida dura com salários de operário. Na esperança de conseguir trabalho ele chega até a casa de Suciparivara : saudando-o e sentando em um dos lados, foi questionado sobre sua vinda e respondeu, “É para pedir trabalho por salário em tua casa.” Quando outros trabalhadores vinham a ele, o mercador costumava dizer a eles, “Nesta casa os trabalhadores guardam os preceitos morais, se vocês os guardam podem trabalhar para mim :” mas ao Bodhisatva ele nem fez menção de indicar os preceitos morais mas disse, “Muito bem, meu bom homem, podes trabalhar para mim que arranjamos os salários.” Daí em diante o Bodhisatva fez todo o trabalho do mercador mansa e dedicadamente, sem pensar no próprio cansaço ; ia cedo para o trabalho e voltava à noitinha. Um dia proclamaram um festival na cidade. O mercador disse a uma empregada, “Este é um dia sagrado : deves cozinhar algum arroz para os trabalhadores de manhã : eles se alimentarão cedo e jejuarão o resto do dia.” O Bodhisatva levantou-se cedo e foi para seu trabalho : ninguém lhe disse para jejuar aquele dia. Os outros trabalhadores comeram de manhã e depois jejuaram : o mercador e sua esposa, filhos e empregados mantinham o jejum : todos foram, cada qual para sua casa, e lá sentaram meditando nos preceitos morais. O Bodhisatva trabalhou todo dia e veio para casa ao crepúsculo. A cozinheira deu a ele água para as mãos e ofereceu num prato arroz retirado do fogão. O Bodhisatva disse, “A esta hora sempre há uma grande barulhada em dias normais : onde foram todos ho-je ?” “Estão todos guardando jejum , cada qual em sua própria casa.” Ele pensou, “ Não serei a única pessoa fora de conduta diante de tantas pessoas com conduta moral :” ele foi então e perguntou ao mercador se o jejum podia ser guardado inteiramente realizando-se a obrigação do dia naquela hora. Ele respondeu que o dever inteiro não podia ser guardado porque não foi realizado de manhã ; mas metade do dever podia. “Que seja tanto então,” ele respondeu e fazendo o dever na presença de seu mestre (patrão) ele começou a guardar jejum e indo para sua casa, deitou meditando nos preceitos. Ele não comeu nada o dia todo e na última vigília ele sentiu dores como de uma ferida de lança. O mercador trouxe para ele vários remédios e disse para tomá-los : mas ele disse, “Não quebrarei o meu jejum : realizo-o apesar de custar minha vida.” A dor tornou-se intensa e àurora ele estava perdendo consciência. Disseram a ele que estava morrendo e levando-o para fora colocaram-no num lugar afastado. Neste momento o rei de Benares em uma nobre carruagem com um grande séquito alcançava aquele lugar no seu progresso (circumbulação) ao redor da cidade. O Bodhisatva, vendo o esplendor real, sentiu desejo de realeza e rezou por isto. Morrendo, foi concebido novamente, em consequência de estar mantendo meio dia de jejum, no útero da rainha principal. Ela seguiu a cerimônia de gravidez e deu à luz um filho após dez meses. Ele foi chamado príncipe Udaya. Quando ele cresceu tornou-se perito em todas as ciências : com sua memória de vidas passadas ele soube de seu gesto anterior de mérito e pensando ser um grande prêmio para uma ação pequena, cantou a canção do ênstase repetidas vezes. Com a morte de seu pai ele ganhou o reino e observando sua própria grande glória ele cantava a mesma canção do ênstase. Um dia aprontaram a cidade para um festival. Uma grande multidão queria se divertir. Um certo carregador d'água que vivia no portão norte de Benares, escondera meio centavo em um tijolo no muro fronteiriço. Ele vivia com uma pobre mulher que também ganhava a vida carregando água. Ela disse a ele, “Meu senhor, há um festival na cidade : se tens algum dinheiro, vamos nos divertir.” “Eu tenho querida.” “Quanto ?” “Meio centavo.” “Onde está ?” “Em um tijolo junto do portão norte, doze léguas daqui guardei o meu tesouro : mas e você, tens algo em mãos ?” “Tenho.” “Quanto ?” “Meio centavo.” “Então o teu mais o meu juntos fazem um centavo inteiro : compraremos uma guirlanda com parte dele, perfume com outra e bebida forte com uma terceira : vá e pegue teu meio centavo de onde colocaste.” Ele estava deliciado em realizar a ideia sugerida pelas palavras de sua esposa e disse, “Nada tema querida, vou apanhá-lo,” e partiu. O homem era forte como um elefante : ele seguiu mais de seis léguas e pensava ser meio dia e caminhava n'areia quente como se carvão em brasa estivesse espalhado nela, ele estava deliciado co o desejo de ganho e em velhas roupas amarelas com um pedaço de folha de palmeira amarrado n'orelha (ornamento d'época), ele passava pela corte do palácio buscando seu intuito, cantando uma canção. Rei Udaya estava na janela aberta e vendo-o vindo cogitava quem seria, quem desconsiderando o vento e o calor seguia cantando alegre e enviou um empregado para chamá-lo para cima. “O rei te chama,” foi-lhe dito : mas ele disse, “Que é o rei para mim ? Não conheço o rei.” Ele foi levado à força e permaneceu em um dos lados. Então o rei falou duas estrofes questionando :-
A terra como carvão, o chão como brasas quentes :
Tu cantas tua canção, o calor grande não te queima.
O sol acima, areia abaixo estão quentes :
Tu cantas tua canção , o calor grande não te queima.
Escutando as palavras do rei ele falou a terceira estrofe :-
São os desejos que queimam, não o sol :
São todas estas tarefas urgentes que devem ser realizadas.
O rei perguntou qual era o negócio. Ele respondeu, “Ó rei. Vivo junto ao portão sul com uma mulher pobre : ela propôs que nós dois devíamos nos divertir no festival e perguntou s'eu tinha algo em mãos : disse a ela que tinha um tesouro guardado no muro junto ao portão norte : ela me mandou buscar para que possamos nos divertir : estas palavras dela nunca deixam meu coração e quando penso nelas o calor do desejo me queima : este é meu negócio.” “Então o quê te delicia tanto que você desconsidera vento e sol e cantes enquanto caminhas ?” “Ó rei, canto pensando que quando pegar meu tesouro me divertirei com ela.” “Então, meu bom homem, é o seu tesouro escondido junto do portão norte, de cem mil dinheiros ?” “Oh, não.” Então o rei perguntou sucessivamente se era cinquenta mil, quarenta, trinta, vinte, dez, cinco, quatro, três, dois dinheiros, um dinheiro, meio dinheiro, um quarto de dinheiro, quatro centavos, três, dois, um centavo. O homem disse, “Não” para todas estas questões e então, “É meio centavo : na realidade, Ó rei, este é todo o meu tesouro : mas sigo na esperança de pegá-lo e me divertir com ela : e neste desejo e delícia o vento e o sol não me incomodam.” O rei disse, “Meu bom homem, não vá até lá com tanto calor : te darei meio centavo.” “Ó rei, acredito no senhor e em sua oferta mas não perderei a outra parte : não desistirei de ir lá e buscar o outro também.” “Meu bom homem, fique aqui : te darei um centavo, dois meio centavos :” então oferecendo mais e mais atingiram a cifra de dez milhões ( um crore ), cem crores, riqueza sem limites, se o homem permanecesse. Mas ele sempre respondia, “Ó rei, aceitarei mas pegarei o outro também.” Então ele foi tentado com ofertas de posto de tesoureiro e postos de vários tipos e posição de vice-rei : por fim foi oferecido metade do reino se ele ficasse. Então ele consentiu. O rei disse a seus ministros, “Vão, façam a barba nele, banhem-no e o adornem e tragam-no de volta.” Eles fizeram isto. O rei dividiu seu reino em dois e deu metade para ele : mas dizem que ele ficou com a metade norte por amor a seu meio centavo. Ele foi chamado rei Meio Centavo. Eles legislaram o reino em amizade e harmonia. Um dia eles foram juntos para o parque. Depois de divertirem-se, rei Udaya deitou com a cabeça no colo do rei Meio centavo. Ele dormiu, enquanto os empregados iam pra lá e pra cá em seus divertimentos. Rei Meio Centavo pensou, “Por quê devo sempre ter somente meio reino ? Vou matá-lo e ser rei único :” e assim desembainhou a espada mas pensando em golpeá-lo lembrou-se o quê rei fez para ele, quando pobre e despossuído, tornando-o seu parceiro e estabelecendo-o em grande poder e que o pensamento que surgiu em sua mente para matar tal benfeitor era um pensamento ruim : embainhou a espada novamente. Uma segunda e terceira vez o mesmo pensamento surgiu. Sentindo que este pensamento, surgindo novamente, levaria-o a um ato vil, jogou a espada longe no chão e acordou o rei. “Perdoe-me, Ó rei,” ele disse e caiu a seus pés. “Amigo, não me fizeste nenhum mal.” “Fiz, Ó grande rei : fiz tal e tal coisa.” “Então, amigo, te perdoo : se desejas, rei único sejas e te servirei como vice-rei.” Ele respondeu, “Ó rei, não tenho necessidade do reino, tal desejo causará que eu renasça em estados ruins : o reino é teu, tome-o : me tornarei asceta : vi a raiz do desejo, ele cresce a partir da vontade do ser humano, de agora em diante não terei tais desejos,” e então em ênstase ele falou a quarta estrofe :-
Vi tuas raízes, Desejo : na vontade do próprio ser humano elas descansam.
Não terei mais vontade de ti e tu Desejo, morrerás.
Assim falando, ele pronunciou a quinta estrofe declarando a lei para uma grande multidão de devotos dos desejos :-
Pouco desejo não é suficiente e muito traz apenas dor :
Ah ! Tolas pessoas : sejam sóbrias, amigas, se ganhares sabedoria.
Então declarando a lei para uma multidão, ele confiou o reino a rei Udaya : deixando a multidão chorando com lágrimas nas faces, ele foi para o Himalaia, tornou-se asceta e alcançou insight perfeito. No tempo em que se tornou asceta, rei Udaya falou a sexta estrofe em completa expressão de ênstase :-
Pouco desejo me trouxe todo o fruto,
Grande é a glória que Udaya ganha ;
Poderoso é o ganho de alguém resoluto
Em se tornar um Irmão e desejos abandona.
Ninguém entendeu o significado desta estrofe. Um dia a rainha principal perguntou-o ao rei. O rei não quis dizer. Havia um certo barbeiro da corte, chamado Gangamala, que quando atendendo ao rei costumava usar primeiro a navalha e depois pegar os cabelos com as tesouras. O rei gostava da primeira operação mas a segunda doía : na primeira ele daria ao barbeiro um dom e na segunda cortaria a cabeça dele. Um dia contou à rainha sobre isto, dizendo que seu barbeiro da corte era um tolo : quando ela perguntou o que ele queria fazer, ele respondeu, “Usar as tesouras primeiro e depois a navalha.” Ela mandou chamar o barbeiro e disse, “Meu bom homem, quando estiveres cortando a barba do rei deves primeiro pegar os cabelos com as tesouras e depois usar a navalha : então se o rei te oferecer um dom, você deve dizer que nada quer a não ser saber o significado da canção dele : se fizeres isto, te darei muito dinheiro.” Ele concordou. Dia seguinte quando ele barbeava o rei, pegou primeiro as tesouras. O rei disse “Gangamala, esta moda sua é nova ?” “Ó rei,” ele respondeu, “barbeiros lançam moda;” e ele pegou primeiro os cabelos do rei com as tesouras e depois usou a navalha. O rei ofereceu a ele um dom. “Ó rei, nada quero a não ser que me digas o significado de tua canção.” O rei envergonhado em dizer declarar qual era sua ocupação nos dias de pobreza disse, “Meu bom homem, qual utilidade de tal dom ? Escolhe outra coisa :” mas o barbeiro pedia isto. O rei, temendo quebrar sua palavra, concordou. Como descrito no Jataka 415 ele fez todos os arranjos e sentou em um trono em jóias e contou toda a história do seu ato de mérito em sua última existência naquela cidade. “Isto explica,” ele disse, “metade da estrofe : para descansar, meu camarada tornou-se asceta : eu em meu orgulho sou rei único agora e isto explica a segunda metade da minha canção de ênstase.” Escutando-o o barbeiro pensou, “então o rei conseguiu toda esta glória por guardar meio dia de jejum : virtude é o caminho reto : e s'eu me tornar um asceta e exercitar minha própria salvação ?” Ele deixou todos os parentes e bens terrenos, ganhou permissão do rei para tornar-se religioso e indo para o Himalaia tornou-se asceta, entendeu as três qualidades das coisas mundanas, ganhou insight perfeito e tornou-se pacceka buddha. Ele tinha uma tigela e hábitos feitos de poder sobrenatural. Após passar cinco ou seis anos na montanha Gandhamadana, já pacceka buddha, veio através dos ares e sentou no parque. O rei foi logo saudar o pacceka buddha : e a rainha mãe saiu acompanhou seu filho. O rei entrou no parque, saudou-o e sentou em um lado com seu séquito. O pacceka buddha falou com ele de modo amigável, “Brahmadatra” ( chamando-o pelo nome da família ), “és diligente, legislando o reino retamente, fazendo caridade e outras obras boas ?” A rainha mãe ficou irada. “Este casta baixa lavador de cabelo não conhece seu lugar : ele chama meu filho bem nascido de Brahmadatra,” e ela falou a sétima estrofe :-
Penitência certamente, fazem as pessoas deixarem seus pecados,
Dos barbeiros, dos oleiros, nomeiem todos :
Através da penitência Gangamala glória ganhou,
E 'Brahmadatra' agora ele chama meu filho.
O rei confrontou sua mãe e declarando as qualidades do pacceka buddha, falou a oitava estrofe :-
Olhem ! Como, em qualquer momento que sua morte ocorrer,
Humildade traz a uma pessoa seu fruto !
Alguém que inclinou-se diante de todos,
Reis e lordes agora devem saudar.
Apesar do rei confrontar sua mãe, o resto da multidão levantou-se e disse, “Não é decente que tal pessoa de casta baixa deva chamar-te pelo nome deste jeito.” O rei censurou a multidão e falou a última estrofe declarando as virtudes do pacceka buddha :-
Não zombem assim de Gangamala,
Perfeito nos caminhos da religião :
Ele cruzou as ondas do sofrimento,
Livre de tristeza agora ele vaga.
Assim falando o rei saudou o pacceka buddha e pediu a ele que perdoasse a rainha mãe. O pacceka buddha fez isto e os seguidores do rei também ganharam o perdão. O rei desejava que ele prometesse que ficaria na vizinhança : mas ele recusou e pousado nos ares diante dos olhos de toda a corte e aconselhou o rei e partiu para Gandhamadana.
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Após a lição o Mestre disse, “Irmãos leigos, vejam como fazer jejum é algo que deve ser feito,” e identificou o Jataka : “Naquele tempo o pacceka buddha entrou no nirvana, rei Meio Centavo era Ananda, a rainha principal era a mãe de Rahula, rei Udaya era eu mesmo.”
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