segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

514 Buddha Elefante

 




  514               Chaddanta Jataka 

               

            “Largos olhos e sem igual...etc.” – Esta foi uma história que o Mestre contou quando residia em Jetavana sobre uma noviça. Uma garota de boa família em Savatthi, dizem, reconhecendo a miséria da vida laica, abraçou o ascetismo, e um dia foi com as outras Irmãs para escutar a Lei com o Bodhisatva, enquanto ela pregava sentado em um trono magnífico e observando sua pessoa dotado de extrema beleza de forma surgindo do poder do mérito ilimitado, ela pensou, “Imagino se em uma existência anterior aquelas as quais auxiliava eram esposas deste homem.”  Então no mesmo momento a lembrança de existências anteriores voltaram para ela. “No tempo de Chaddanta, o elefante, eu existi previamente como esposa deste homem.” E com a lembrança, grande alegria e felicidade brotaram no coração dela. Em sua alegre excitação ela riu alto enquanto pensava, “Poucas esposas são bem dispostas com seus maridos; a maior parte delas é mal disposta. Imagino se fui bem ou mal disposta para este homem.” E chamando de volta suas lembranças, ela percebeu que tinha guardado um ligeiro ressentimento em seu coração contra Chaddanta, o poderoso senhor dos elefantes, que media cento e vinte cúbitos e tinha enviado Sonuttara, um caçador, que com uma flecha envenenada o feriu e o matou. Com isto seu arrependimento acordou e seu coração se tornou quente dentro dela e sendo incapaz de controlar seus sentimentos, explodiu em soluços e chorou alto. Vendo isto o Mestre interrompeu com um sorriso e sendo questionado pela assembleia dos Irmãos, “Senhor, qual a causa do seu sorriso ?” ele disse, “Irmãos, esta jovem Irmã chorou, lembrando um pecado que ela certa vez cometeu contra mim.” E assim falando ele contou uma história do passado.

                                          ________________________                  

 

                Certa vez oito mil elefantes reais, através do exercício de poderes sobrenaturais movendo-se pelos ares, moravam próximo do lago Chaddanta nos Himalaias. Neste tempo o Bodhisatva veio à vida como filho do elefante chefe. Ele era todo branco, com as patas e a face vermelhas. Logo logo, crescendo, ele tinha oitenta e oito cúbitos ( côvados, um côvado do cotovelo até a ponta dos dedos ) de altura e cento e vinte cúbitos de comprimento. Ele tinha uma trombra como uma corda prateada, cinquenta e oito cúbitos de extensão e presas quinze cúbitos de circunferência, trinta cúbitos de extensão e emitindo raios de seis cores. Ele era o chefe de uma horda de oito mil elefantes e prestava honra a pacceka buddhas. Suas duas rainhas principais eram Cullasubhadda e Mahasubhadda. O rei elefante com sua horda de oito mil elefantes, fixou residência na Caverna Dourada. Então o lago Chaddanta tinha cinquenta léguas de extensão e cinquenta de largura. No meio dele, por um espaço de extensão de doze léguas, nenhuma planta sevala ou panaka é encontrada e ele consistia de água com a aparência de uma joia mágica. Próximo a este, circulando esta água, havia uma mata de lírios brancos, uma légua de largura. Próximo a esta, e circulando esta, havia mata de lótus totalmente azul uma légua de extensão. Depois vinham lótus brancos e vermelhos, lírios brancos e vermelhos  e lírios brancos, cada um uma légua de extensão e circulando o anterior. Depois destas sete matas vinha uma mistura de lírios brancos e de outras cores, também uma légua de extensão e circulando todos os anteriores. Em seguida, numa água funda o suficiente para um elefante ficar de pé, havia mata de arroz vermelho. Depois, na água ao redor, havia um bosque de arbustos baixos, abundante de flores delicadas e fragrantes, azuis, amarelas, vermelhas e brancas. Então estas dez matas tinha cada uma légua de extensão. Depois vinha mata de vários tipos de feijões. Depois uma mistura de várias trepadeiras, pepinos, abóboras, cabaça e outros. Então um bosque de cana de açúcar do tamanho da árvore de castanha areca. Depois um bosque de bananas com frutos tão grandes quanto presas de elefantes. Depois um campo de arroz. Então um bosque de fruta-pão do tamanho de uma jarra d’água. Depois um bosque de tamarindos com frutos gostosos. Depois um bosque de árvores de maçã de elefante. Então uma grande floresta de diferentes tipos de árvores. Então um bosque de bambu. Tal era neste tempo a magnificência desta região – sua magnificência presente está descrita no Comentário do Samyutta – mas cercando o bosque de bambu  haviam sete montanhas. Começando da que estava mais distante primeiro vinha Pequena Montanha Negra, depois Grande Montanha Negra, então Montanha d’Água, Montanha da Lua, Montanha do Sol, Montanha da Joia, e então a sétima em ordem Montanha Dourada. Esta tinha sete léguas de altura, elevando-se ao redor do lago Chaddanta, como a borda de uma tigela. O interior dela era de cor dourada. Da luz que saía dela o lago Chaddanta brilhava como o Sol nascendo. Mas as montanhas exteriores, uma tinha seis léguas de altura, outra cinco, outra quatro, outra três, outra duas,  outra uma légua apenas de altura. Bem, no canto nordeste do lago, assim rodeado de sete montanhas, em um lugar em que o vento caía sobre a água, crescia uma grande árvore banian.   Seu tronco tinha cinco léguas de circunferência e sete léguas de altura. Quatro ramos espalhavam-se seis léguas para os quatro pontos cardeais e o ramo que crescia direto para cima tinha seis léguas. Então da raiz para cima ela tinha treze léguas de altura, e de uma extremidade dos ramos até a outra  tinha doze léguas.  E a árvore estava provida com oito mil brotos e elevava-se em toda a sua beleza, junto da Montanha da Joia. Mas do lado oeste do lago Chaddanta, na Montanha Dourada, havia a caverna dourada, doze léguas de extensão. Chaddanta o rei elefante, com seu séquito de oito mil elefantes, na estação das chuvas vivia na caverna dourada; na estação quente ele ficava no pé da grande árvore banian, entre os brotos, recebendo a brisa que vinha d’água. Bem, um dia disseram a ele, “O grande bosque de árvore Sal está florido.” Assim junto com sua horda ele pensou em se divertir no bosque de árvore Sal e indo para lá ele atingiu com sua testa uma árvore Sal totalmente florida. Naquele momento Cullasubhadda estava na direção do vento e galhos secos misturados com folhas mortas e formigas vermelhas caíram nela. Mas Mahasubhadda estava contra o vento, e flores com pólen e galhos com folhas verdes caíram nela. Pensou Cullasubhadda, “Ele deixa cair na esposa cara a ele flores e pólen e galhos frescos e folhas mas em mim ele larga uma mistura de ramos secos, folhas mortas e formigas vermelhas. Bem, saberei o que fazer!” E concebeu um ressentimento contra o Grande Ser. Em outro dia o rei elefante e sua horda desceram para o lago Chaddanta para banharem-se.  Então dois jovens elefantes pegaram maços de raiz usira em suas trombas e deram um banho nele, esfregando-o de cima para baixo como se ele fosse o monte Kelasa ( Kailash, Kailasa ). E quando ele saiu da água, eles banharam as duas rainhas elefantes e elas também saíram da água e permaneceram diante do Grande Ser. Então os oito mil elefantes entraram no lago e divertindo-se na água, arrancaram várias flores do lago e adornaram o Grande Ser como se fora um santuário de prata e depois adornaram as rainhas elefantes. Então um certo elefante, enquanto nadava pelo lago, pegou uma grande lótus com sete brotos e a ofereceu ao Grande Ser. E ele, pegando-a com sua tromba, aspergiu o pólen em sua testa e presenteou a flor a aliá chefe, Mahasubhadda. Vendo isto sua rival disse, “Este lótus com sete brotos ele também deu para sua rainha favorita e não para mim,” e novamente ela concebeu um rancor contra ele. Bem, um dia quando o Bodhisatva revestiu frutos gostosos e caules e fibras de lótus com o néctar da flor e entretinha quinhentos pacceka buddhas, Cullasubhadda ofereceu frutos selvagens que ela pegou para os pacceka buddhas e fez uma prece neste sentido: “Na vida futura, quando eu passar daqui, que eu possa renascer como a donzela real Subhadda na família real de Madda ( Magadda ) e chegando na idade que eu possa atingir a dignidade de rainha consorte do rei de Benares. Então serei querida e encantadora a seus olhos e em posição de fazer o que quiser. Então falarei com o rei e enviarei um caçador com uma flecha envenenada para ferir e matar este elefante. E assim serei capa  z de trazer para mim um par de suas presas que emitem raios de seis cores.”  Daí em diante ela não comeu mais e consumindo-se morreu não muito tempo depois e veio à vida novamente como filha da rainha consorte do reino de Madda ( Magadda ) e foi chamada Subhadda. E quando estava em idade apropriada, eles a deram em casamento ao rei de Benares. E ela era querida e encantadora a seus olhos e a chefe de dezesseis mil esposas. E ela trouxe à mente suas existências anteriores e pensou, “Minha prece foi realizada; agora terei as presas deste elefante trazidas para mim.” Então ela ungiu seu corpo com óleo comum, colocou um robe sujo, e deitou na cama fingindo que estava doente. O rei disse, “Onde está Subhadda ?” E escutando que ela estava doente, ele entrou no quarto real e sentando na cama bateu nas costas dela e pronunciou a primeira estrofe:

                  De largos olhos e sem igual, minha rainha, tão pálida, presa da dor,

                  Qual grinalda amassada sob os pés, por que definhas ?

 

       Escutando isto ela falou a segunda estrofe:

 

                   Como se visto tudo num sonho, tenho um desejo sofrido;

             Minha vontade não existe em ganhar este dom e por isto estou triste.

 

   O rei, escutando isto, falou uma estrofe:

 

           Todas as alegrias que neste mundo feliz um mortal pode aspirar,

      O que quer que eles queiram cabe a mim conceder, diga-me então teu desejo.

 

    Escutando isto a rainha disse, “Grande rei, meu desejo é difícil de conseguir; não direi agora qual é ele mas terei todos os caçadores que tem no teu reino reunidos juntos. Falarei então no meio deles.”   E para explicar o significado ela pronunciou a próxima estrofe:

 

    Que todos os caçadores obedeçam teu chamado, que morem dentro deste reino,

                   E o que anseio deles ganhar, direi na presença deles.

 

    O rei concordou e saindo do quarto real deu ordens a seus ministros dizendo, “Proclamem pelo toque do tambor que todos os caçadores que habitam o reino de Kasi, extenso de trezentas léguas, se reúnam.”  Eles fizeram isto e sem passar muito tempo os caçadores que moravam no reio de Kasi, trazendo presentes de acordo com suas condições, tiveram sua chegada anunciadas ao rei. Bem, eles somavam cerca de sessenta mil. E o rei, entendendo que eles tinham chegado, permaneceu em uma janela aberta e esticando sua mão indicou à rainha a chegada deles e disse:

                  Aí, veja, nossos corajosos caçadores, bem treinados na caça

           Matar bestas selvagens é a habilidade deles e todos morreriam por mim.

 

   A rainha, escutando isto, dirigiu-se a eles e falou outra estrofe:

                Vocês corajosos caçadores, reunidos aqui,

                Peço escutem minhas palavras:

               Em sonho, penso, vi um elefante,

               Com seis presas e completamente branco sem mancha:

               Suas presas anelo e desejo ter;

               Nada mais vale nesta vida salvar.

( O escoliasta explica chabbisana, sânscrito shadvishana, seis presas, como chabbanna seis cores, talvez para identificar mais completamente o herói da história com o Buddha.)

 

  Os caçadores, escutando isto, responderam:

                   Nunca nossos antepassados

                   Viram um elefante de seis presas:

                   Diga-nos que tipo de animal pode ser

                   Que em sonho apareceu para ti. 

 

  Depois ainda outra estrofe foi dita por eles:

                  Quatro pontos, Norte, Sul, Leste, Oeste, se vê,

                  Quatro intermediários a estes,

                   Nadir e Zenith somados, e então

                   Em que ponto de todos estes dez

                   Este elefante real pode estar,

                   Que em sonho apareceu para ti.  

       Após estas palavras, Subhadda, olhando para todos os caçadores, espreitou entre eles, um que tinha pé grande, com a panturrilha grossa como uma cesta de palha, grande de joelhos e tronco, barba grossa, dentes amarelos, desfigurado com cicatrizes, distinto entre eles todos como um sujeito feio e tosco, chamado Sonuttara, que certa vez foi inimigo do Grande Ser. E ela pensou, “Ele será capaz de fazer o que mando,” e com a permissão do rei, ela levou ele com ela e subindo ao mais alto andar do palácio de sete andares, abriu a janela para o Norte e esticando sua mão na direção do Norte dos Himalaias pronunciou quatro estrofes:

 

                Diretamente para o norte, depois de uma vastidão de sete montanhas,

               Chega-se por fim ao Cume Dourado,

               Um monte habitado por uma forma de duendes

               E brilhante com flores do sopé ao cume. 

 

              Abaixo deste pico de duendes é visto

             Uma massa em forma de nuvem verde escura,

             Árvore banian real cujas raízes

             Produzem vigor para oito mil brotos.

 

             Lá habita invencível em poder,

             Este elefante, de seis presas e banco,

             Com uma horda de oito mil fortes para a luta.

            Suas presas são semelhantes a eixos de carruagens,

            Velozes como o vento para guardar ou brigar. 

 

           Ofegantes e severos eles permanecem e observam,

           Provocados pelo menor sopro de ar,

           Se alguém nascido de ser humano eles veem

           A ira deles o consume completamente. 

 

     Sonuttara escutando isto ficou mortalmente aterrorizado e disse:

 

                     Turquesa ou pérolas de brilho brilhante,

                    Com muitos ornamentos de ouro, rainha,

                     Na casa real podem ser vistos. 

                   O que tu tem a ver com marfim então ?

                    O você na verdade quer matar estes caçadores ?

 

     Então a rainha falou uma estrofe: 

 

                    Consumida por desprezo e pesar eu estou,

                    Quando lembro meu sofrimento. 

                    Conceda-me, Ó caçador, o que desejo,

                    E cinco aldeias escolhidas você terá. 

 

      E com isto ela disse, “Amigo caçador, quando dei um dom aos paccekas-buddhas, ofereci uma prece que eu pudesse ter em meu poder matar este elefante de seis presas e pegar para mim um par destas presas. Isto não foi apenas visto por mim em uma visão mas a prece que ofereci se realizará.  Vá e nada tema.”   E assim falando ela o tranquilizou.  E ele concordou com as palavras dela e disse, “Assim seja, senhora; mas primeiro me esclareça e me diga onde ele mora,” e perguntando para ela ele falou esta estrofe: 

 

                   Onde ele mora ? Onde ele pode ser encontrado ?

                   Qual caminho ele usa para o banho ?

                   Onde esta criatura real nada ?

                   Fale-nos do caminho para capturá-lo.

 

      Então lembrando sua existência passada ela claramente viu o lugar e falou para ele sobre nestas duas estrofes:

 

                    Não está distante o lugar de banho dele,

                    Um lago bom e profundo :

                    Lá abelhas enxameam e flores abundam,

                    E lá esta besta real se encontra.

 

                   Agora com coroa de lótus, fresco do banho

                  Ele alegre toma seu caminho para casa,

                  Como um lírio branco e alto ele se move

                  Atrás a rainha que ele ama afetuosamente. 

 

     Sonuttara escutando isto concordou, dizendo, “Bela senhora, matarei o elefante e trarei para você as presas dele.” Então na sua alegria ela deu a ele mil dinheiros e disse, “Vá para casa enquanto isto e no final de sete dias você partirá para lá,” e despedindo-o ela chamou ferreiros e deu ordens a eles dizendo, “Senhores, precisamos de um machado, uma espada, um martelo, um brocão, um instrumento para cortar bambus, um podão, uma barra de ferro, um gancho, um garfo de ferro de três pontas ;  façam tudo com toda a velocidade e tragam para nós.”  E chamando trabalhadores em couro, ela os encarregou, dizendo, “Senhores, vocês devem nos fazer um saco de couro que aguente muito peso; precisamos de cordas de couro e faixas, sapatos grandes o suficiente para um elefante e um paraquedas de couro: façam tudo rapidamente e me tragam aqui.”    E ambos ferreiros e trabalhadores em couro rapidamente fizeram tudo e trouxeram e deram para ela. Tendo providenciado tudo para a jornada, junto com lenha e coisas semelhantes, ela colocou todas as coisas úteis e necessárias para a viagem, como alimento cozido e assim por diante, no saco de couro. Foi tudo para dentro do saco. E Sonuttara, tendo completado suas providências, chegou no sétimo dia e permaneceu respeitosamente na presença da rainha. Então ela disse, “Amigo, todo o necessário para a tua viagem está pronto: pegue então este saco.”  E ele sendo um empregado forte, como cinco elefantes, pegou o saco como se fora um pacote de bolos e colocando no seu quadril, permaneceu como se estivesse com mãos vazias. Cullasubhadda deu as provisões para os ajudantes do caçador e falando com o rei, mandou Sonuttara ir. E ele, em obediência ao rei e a rainha, desceu do palácio e colocando seus pertences em uma carruagem, partiu da cidade com um grande séquito e passando através de uma sucessão de cidades e aldeias alcançou a fronteira. Então ele mandou de volta o Povo do país e seguiu com os moradores das fronteiras até que entrou na floresta e passando para além das habitações humanas e mandou de volta os moradores das fronteiras também e continuou quase sozinho em uma estrada de trinta léguas, atravessando campos de grama kuça e outras gramas, bosques de manjericão, junco, rilha-boi, moitas de espinhos grossos e cana, bosques de tamanhos diferentes, selvas de junco e cana, densas florestas crescidas, impenetráveis mesmo para uma serpente, bosques de árvores e de bambus, trilhas de lama e água, trilhas de montanhas, dezoito regiões no total, uma depois da outra. As selvas de grama ele cortou com uma foice, os bosques de manjericão e semelhantes ele cortou com o instrumento para cortar bambus, as árvores ele cortou com o machado e as maiores primeiro furou com o furão. Então, seguindo seu caminho, ele fez uma escada num bosque de bambu e subindo no topo da moita, ele colocou um único bambu, que cortou, para a próxima moita de bambu e assim trepando no topo das moitas ele alcançou um brejo. Então ele espalhou uma prancha seca na lama e pisando nela ele colocava outra prancha diante dele e assim atravessou o pântano. Então ele fez uma canoa e com ela atravessou a região inundada e por fim chegou no sopé das montanhas.   Então ele amarrou um ferro com três dentes numa corda e atirando-o para cima fez com que prendesse na montanha. Subindo pela corda ele furou a montanha com broca de ferro de ponta de diamante e pregando um grampo no furo ficou nele. Retirando o ferro com três dentes novamente o jogou para cima e prendeu no alto e desta posição deixou a corda de couro pender para baixo, ele se segurou nela desceu e amarrou a corda no grampo de baixo. Segurando a corda com a mão esquerda e pegando o martelo com a direita ele deu um golpe na corda e tendo assim tirado o grampo ele novamente subiu. Deste jeito ele subiu até o topo da primeira montanha e depois começando a descida no outro lado, tendo batido como antes um grampo no topo da primeira montanha e amarrando a corda no seu saco de couro e envolvendo-o ao redor do grampo, ele sentou com o saco e deixou-se descer, desenrolando a corda como uma aranha largando sua teia. Então deixando seu paraquedas de couro pegar vento, ele desceu como um pássaro – assim dizem. Assim disse o Mestre como em obediência às palavras de Subhadda o caçador partiu em jornada da cidade e atravessou dezessete áreas diferentes até alcançar a região montanhosa e como ele lá atravessou seis montanhas e subiu até o topo do Cume Dourado:  

 

            O caçador escutando, sem susto,

            Partiu armado de arco e aljava,

            E atravessando sete cadeias vastas de montanhas 

            Alcançou por fim o nobre Cume Dourado.

 

           Alcançando o pico assombrado de duendes,

           Que massa em formato de nuvem abriu a seus olhos ?

           Uma banian real era, cujas raízes

           Suportam oito mil brotos que se espalham.

 

          Lá estava invencível em poder

          Um elefante branco com seis presas,

         Com uma horda de oito mil fortes para a luta;

         Suas presas eram como eixos de carruagens:

         Rápidos como o vento eram para guardar ou para bater.

 

        Ao lado de um lago – cheio até a borda,

        Lugar adequado para uma besta real nadar;

        Suas margens amáveis abundavam em flores

        E abelhas zunindo enxameavam tudo ao redor.

 

       Marcando o caminho que a criatura percorria

       Quando para o banho ia, pensou um intento

        Ele cavou um poço, para ato tão vil

       Impulsionado pela ira de uma rainha desprezível.

 

  Aqui segue a história do começo ao fim: o caçador, é dito, depois de sete anos, sete meses e sete dias, tendo alcançado o lugar de moradia do Grande Ser da maneira relatada acima, tomou nota do seu lugar de moradia e cavou um poço lá, pensando, “Vou tomar posição aqui e ferir o senhor dos elefantes e trazer sua morte.”  Assim ele arranjou as coisas e foi para a floresta e cortou árvores para fazer postes e preparar vários materiais. Então quando o elefante foi para o banho, no lugar que o rei dos elefantes costumava permanecer, ele cavou um poço quadrado com uma pá pesada e o solo que ele cavou esparramou na superfície d’água, como se estivera semeando semente e encima de pedras como almofarizes ele fixou postes e os ajustou com pesos e cordas e espalhou pranchas por cima deles.    Em seguida ele fez um buraco do tamanho de uma flecha e colocou em cima terra e lixo e de um lado fez uma entrada para si mesmo e então quando o poço estava terminado, ao nascer do dia ele amarrou um falso coque e vestiu hábitos amarelos e pegando seu arco e uma flecha envenenada, ele desceu e permaneceu no poço.

                    _________________________________________ 

 

       O Mestre, para tornar toda a coisa clara, disse:

                        O poço com pranchas ele escondeu primeiro,

                        Depois arco na mão entrou para dentro,

                        E quando o elefante passou,

                        Uma poderosa flecha o tratante deixou voar.

 

                      A besta ferida rugiu alto de dor

                   E toda a horda rugiu de volta também:

                   Galhos amassados e gramas pisadas traíam

                   Onde a fuga em pânico direcionava seu caminho.

 

                   Seu senhor bem próximo matou seu inimigo,

                   Tão louco de dor ele estava, quando olhem !

                   Um hábito amarelo seus olhos encontram,

                   Emblema de santidade, roupa de sacerdote

                   Considerado inviolável pelo sábio.

 

   O Mestre, entrando em conversação com o caçador, falou um par de estrofes:

 

                   Aquele que está desfigurado com mancha de pecado

                   E vazio de verdade e autocontrole,

                   Apesar de poder estar vestido de amarelo,

                   Nenhuma pretensão de santidade ele tem.

 

                   Mas aquele que está livre de mancha de pecado,

                   Dotado de verdade e autocontrole,

                   E firmemente fixo na retidão,

                  Merece vestir o hábito amarelo.

                         ______________________________________________

                                     

     Assim falando, o Grande Ser, extinguindo todo sentimento de raiva para com o outro, perguntou, dizendo, “Por que você me feriu ? Foi para teu próprio proveito ou foste contratado por outra pessoa ?”

                     _______________________________________________  

 

     O Mestre explicando o assunto então disse:

                       A besta com poderosa flecha jazia abaixada,

                    Imperturbável, dirigiu-se a seu inimigo:

                   ‘Qual o sentido, amigo, em me matar,

                    E, prego, quem te contratou ?’

           ________________________________________________              

 

   Então o caçador falou para ele e pronunciou esta estrofe:

 

                 A esposa favorita do rei de Kasi

                 Subhadda me disse que viu

                 Tuas formas em sonhos, ‘e asssim’, disse ela,

                 ‘Terei as presas dele; vá, traga-mas.’

 

   Escutando isto e reconhecendo que era trabalho de Cullasubhadda, ele suportou seus sofrimentos pacientemente e pensou, “Ela não quer minhas presas; ela o enviou porque ela quer me matar” e, para ilustrar o assunto, ele pronunciou um par de estrofes:

 

                 Rico estoque de presas boas eu tenho,

                 Relíquias dos meus ancestrais mortos,

                E isto sabe bem aquela dama maldita,

                 É minha vida que a tratante quer atingir.

 

                 Levante, caçador, e antes que eu morra,

                 Serre fora estas presas de marfim:

                Vá e mande a bruxa ficar de bom humor,

                ‘A besta está morta; suas presas estão aqui.’

 

    Escutando estas palavras o caçador levantou-se do lugar em que estava sentado e, serra a mão, aproximou-se do outro e cortou fora suas presas. Agora o elefante, sendo como uma montanha oitenta côvados de altura, não foi efetivamente cortado. Pois o homem não podia alcançar suas presas. Então o Grande Ser, dobrando o corpo em direção a ele, deitou com a cabeça abaixada. Então o caçador subiu na tromba do Grande Ser, pressionou-a com seus pés como se fora uma corda de prata e permaneceu na testa dele como se fora o pico do Kelasa ( Kailasa ). Então ele inseriu seu pé na boca dele e batendo na parte carnuda dela com seu joelho, ele montou dentro da sua boca partindo da testa da besta e empurrou sua serra. O Grande Ser sofreu dores excruciantes e sua boca ficou cheia de sangue. O caçador, trocando de um lugar para outro, ainda era incapaz de cortar as presas com a serra. Então o Grande Ser deixando o sangue pingar de sua boca, resignando-se à agonia, perguntou, dizendo, “Senhor, não consegue cortá-las ?” E com o outro falando “Não”, ele recuperou a presença de espírito e disse, “Bem então, já que eu mesmo não tenho força o suficiente para levantar minha tromba, você levante-a para mim e faça-a pegar a parte final da serra.” O caçador fez isto: e o Grande Ser segurou a serra com sua tromba e move-a para frente e para trás e as presas foram cortadas como se fossem brotos. Então mandando-o pegar as presas, ele disse, “Não estou te dando estas, amigo caçador, porque não as prezo, nem como alguém desejando a posição de Sakra, Mara ou Brahma, mas as presas da omniciência são mil vezes mais caras para mim do que estas são, e possa este ato meritório ser para mim a causa para atingir Omniciência. E enquanto passava para o outro as presas, perguntou, “Quanto tempo demorou você para chegar aqui ?” “Sete anos, sete meses e sete dias.” “Vá então com o poder mágico destas presas e você alcançará Benares em sete dias.”  E deu a ele um salvo conduto e o deixou ir. E depois de tê-lo enviado, antes  que os outros elefantes e Subhadda voltassem, ele estava morto.

                                _____________________________________             

             O Mestre, para esclarecer o assunto, disse:

 

                 O caçador então serrou as presas

                   Para fora da mandíbula desta nobre criatura,

                   E com seu prêmio incomparável e brilhante

                   Para casa rapidamente a toda velocidade apressou-se.

                          _________________________________________          

 

       Quando ele já tinha ido a horda dos elefantes não encontrando seu inimigo voltou.

                        ___________________________________                    

 

      O Mestre, para esclarecer o assunto, disse:

                    

                     Triste com a morte dele e cheia de pavor,

                     A horda que fugia em pânico,

                     Não vendo traços do cruel inimigo,

                     Retornou para encontrar seu chefe deitado caído.

                      ___________________________________                    

 

      E com ele veio também Subhadda e eles todos lá e então chorando e lamentando dirigiram-se aos pacceka buddhas que eram muito amigo do Grande Ser e disseram, “Senhores, aquele que os supria com as necessidades da vida morreu de uma ferida de flecha envenenada. Venham e vejam onde está exposto seu corpo morto.” E os quinhentos pacceka buddhas atravessando os ares pousaram no recinto sagrado. Naquele momento dois jovens elefantes, levantando o corpo do rei elefante com suas presas e assim fazendo-o dar homenagem aos pacceka buddhas, levantaram-no acima de uma pira e o queimaram. Os pacceka buddhas por toda a noite ensaiaram textos das escrituras no cemitério. Os oito mil elefantes após extinguirem as chamas, primeiro se banharam e depois, com Subhadda na frente , retornaram a seus lugares de moradia.

                                       ___________________________________

 

          O Mestre, para esclarecer o assunto, disse:

                         Eles choraram e se lamentaram, como é dito,

                         Cada um jogando cinzas em sua própria cabeça,

                     Depois lentamente voltando para casa foram vistos,

                    Atrás de sua rainha sempre graciosa.

                                      __________________________                 

 

         E Sonuttara em sete dias alcançou Benares com suas presas.

                                  ____________________________           

          O Mestre, para esclarecer o assunto, disse:

                      O caçador direto correu para Kasi

                      Carregando seu prêmio brilhante e incomparável

                      - As presas da nobre criatura, quero dizer,

                      Alegrando todos os corações com um brilho dourado –

                    E para a dama real ele disse,

                    ‘Aqui estão as presas dele : a besta está morta.’

                              _______________________________              

       Agora, ao entrega-las a rainha, ele disse, “Senhora, o elefante, contra o qual tu concebeste um rancor em teu coração por causa de uma ofensa trivial, foi morto por mim.” “Você está me dizendo que ele está morto ?”  ela gritou. E ele entregou a ela as presas, dizendo, “Tenha certeza que ele está morto: aqui estão suas presas.” Ela recebeu as presas adornadas com raios das seis diferentes cores debaixo de seu abanador em joias e colocando-as em seu colo, contemplou as presas de alguém que em uma existência anterior tinha sido seu querido marido e ela pensou, “Este sujeito trouxe as presas que ele cortou de um elefante auspicioso que ele matou com uma flecha envenenada.” E com a lembrança do Grande Ser ela encheu-se de uma tristeza tão grande que ela não pode suportar mas seu coração lá e então partiu-se e naquele mesmo dia ela morreu.

                                 ___________________________________           

 

     O Mestre, para esclarecer a história, disse :

                      Suas presas assim que ela as viu

                    - Seu próprio querido marido de antes ele era –

                   Que direto seu coração através da dor quebrou

                   E ela, pobre tola, morreu por causa delas. 

 

                  Quando ele, todo poderoso e todo sapiente,

                  Caiu em sorrisos diante dos olhos deles,

                  Direto estes santos Irmãos pensaram,

                  ‘Certamente Buddhas nunca sorriem por nada.’

 

               ‘Aquela a quem vocês costumam ver,’ ele disse,

              ‘Uma moça asceta de hábito amarelo,

               Era antes a rainha e eu,’ ele gritou,

              ‘ Era o rei elefante que morreu.’

 

              ‘O tratante que pegou aquelas presas tão brancas,

               Incomparáveis na terra, resplendendo brilhantemente,

              E as trouxe para a cidade de Benares

             É agora conhecido como Devadatra.’

 

             Buddha de seu próprio conhecimento contou

             Esta longa história esboçada de tempos antigos,

            Com todas suas tristes variações,

            Apesar dele ser livre de dor e sofrimento.

 

           Aquele elefante de muito tempo atrás

                Era eu, o rei de todo o bando,

          E, Irmãos, quero que vocês

              Entendam corretamente este Jataka / Vida passada.

 

     Estas estrofes foram gravadas pelos anciãos enquanto cantavam a Lei e recitavam os louvores do Senhor de todo Poder.

    E escutando este discurso uma multidão entrou no Primeiro Caminho mas a Irmã depois através do insight espiritual atingiu a Santidade.


sábado, 5 de outubro de 2024

513 Buddha Príncipe Alinasattu

 













513        Jayaddisa Jataka

 

        “Vejam! Após...etc.” -  Esta história o Mestre contou sobre um Irmão que amparava sua mãe. A história introdutória é como aquela contada no Sama Jataka ( 540 ). Mas nesta ocasião o Mestre disse, “Sábios antigos desistiram do parassol branco com sua guirlanda dourada para amparar seus pais,” e com estas palavras ele contou uma história do passado.

                               ______________________________   

 

          Certa vez  viveu um rei na cidade dos Pañcalas do Norte, no reino de Kampilla, chamado Pañcala. Sua rainha concebeu e carregou um filho. Em uma existência anterior sua rival no harém, estando irritada, disse, “Algum dia serei capaz de devorar tua progênie,” e incitando com uma reza para este efeito ela se transformou numa ogra. Então ela encontrou sua oportunidade e apanhando a criança diante dos olhos mesmos da rainha e esmagando e devorando ela como se fosse um pedaço de carne crua, saiu fora. Uma segunda vez exatamente a mesma coisa mas na terceira ocasião, quando a rainha tinha entrado no seu quarto de dormir, guardas cercaram o palácio e mantiveram estreita vigilância. No dia que ela deu à luz, a ogra novamente apareceu e apanhou a criança. A rainha gritou um grito alto de “Ogra” e soldados armados, correram para cima quando o alarme foi dado pela rainha, seguiram em perseguição a ogra. Sem tempo de devorar a criança, ela fugiu e escondeu-se no esgoto. A criança, crendo que a ogra era sua mãe, colocou seus lábios nos seios dela e ela concebeu amor de mãe pelo infante e abrigando-se em um cemitério ela escondeu-se em uma caverna de pedra e cuidava dele. E enquanto ele gradualmente crescia, ela trazia e dava a ele carne humana e ambos viviam desta comida. O garoto não sabia que era ser humano; mas, apesar dele acreditar que era filho da ogra, não podia livrar-se ou esconder sua forma corporal. Então para produzir esta semelhança ela deu a ele uma certa raiz. E por virtude desta raiz ele escondeu sua forma e continuou a viver de carne humana. Bem, a ogra saiu para fazer um serviço para o grande rei Vessavana e morreu lá e então. Mas a rainha pela quarta vez deu à luz a um garoto e porque a ogra agora estava morta, ele estava salvo, e do fato de ter nascido vitorioso sobre sua inimiga a ogra ele foi chamado Jayaddissa (príncipe Vitorioso). Assim que cresceu e foi totalmente educado em todas as matérias, ele assumiu a soberania levantando o parassol e legislou sobre o reino. Naquele tempo sua rainha consorte deu a luz ao Bodhisatva e eles o chamaram príncipe Alinasatru. Quando cresceu  e foi plenamente instruído em todo conhecimento, se tornou vice-rei. Mas o filho da ogra descuidadamente destruindo a raiz foi incapaz de esconder-se  mas vivendo no cemitério ele devorava carne humana em forma visível. As pessoas vendo-o ficavam assustadas e vieram e reclamaram com o rei: “Senhor, um ogro em forma visível está comendo carne humana no cemitério. Com o tempo encontrará caminho para a cidade matará e comerá as pessoas. Você deve pegá-lo.”  O rei prontamente consentiu e deu ordem para a prisão dele. Uma força armada foi colocada ao redor da cidade. O filho da ogra, pelado e horrível de contemplar, com o medo da morte sobre si, gritou alto e saltou no meio dos soldados. Eles, com um grito “Aí está o ogro,” assustados com sua própria vida, dividiram-se em duas divisões e fugiram. E o ogro, escapando daí, escondeu-se na floresta, e não mais aproximou-se dos antros humanos. E ele fixou residência aos pés de uma árvore banian junto da auto estrada que atravessa a floresta e quando as pessoas passavam por ela, ele pegava uma a uma e entrando na floresta as matava e comia. Bem, um brahmin, líder de uma caravana, deu mil peças de dinheiro para mateiros da floresta e estava viajando pela estrada com quinhentos vagões. O ogro na forma humana pulou sobre eles com um rugido. Os homens fugiram aterrorizados e ordinários largavam-se no chão. Ele pegou o brahmin, e sendo ferido por uma lasca de madeira enquanto fugia e sendo perseguido intensamente pelos mateiros da floresta, ele larga o brahmin e vai e deita aos pés d’árvore onde vivia. No sétimo dia depois disso, rei Jayaddisa proclama uma caçada e parte, sai em viagem, da cidade. Justo quando partia, um nativo de Takkasila ( Taxila ), um brahmin chamado Nanda, que amparava seus pais, chega à presença do rei, trazendo quatro estrofes, cada uma valendo cem peças de dinheiro. O rei pára para escutá-las e designa um lugar de residência para ele. Então indo para a caça ele diz, “Aquele homem por cujo lado o cervo escapar pagará o brahmin por seus versos.” Então um antílope malhado sai com ímpeto, se põe em marcha e passando direto pelo rei, escapa. Os cortesãos todos riram de coração. O rei pega sua espada e perseguindo o animal o alcança após uma distância de três léguas, e com um golpe de sua espada o divide em dois e pendura a carcaça em uma vara. Então, quando retornava, chegou no lugar onde o homem-ogro estava sentado e após descansar por um tempo na grama kuça, tentou partir. Então o ogro levantou-se e gritou “Alto! Onde estás indo? Você é presa minha,” e o pegando pela mão, falou a primeira estrofe:

 

                Olhem! Após meu longo jejum de sete dias

                Uma grande presa aparece afinal!

                Prego diga-me, és conhecido famoso?

                Anseio em escutar tua raça e nome.

 

      O rei estava aterrorizado à vista do ogro e tornando-se rígido como um pilar, era incapaz de fugir; mas recobrando sua presença de espírito, ele falou a segunda estrofe:

              Jayaddisa, se conheces,

              Rei de Pañcala clamo ser:

              Caçando além da cerca na floresta extraviei:

              Coma tu este cervo; liberte-me, prego.

 

      O ogro, escutando isto, repetiu a terceira estrofe:

 

           Para salvar tua pele, você me oferece comida

           Esta caça, rei, a qual clamo retamente:

           Saiba que te comerei primeiro e ainda assim não frustrarei

           Meu gosto por caça: cesse de conversa mole.

 

       O rei escutando isto, lembrou-se do brahmin Nanda e falou a quarta estrofe:

 

              Suplico, pudesse eu não conseguir a libertação,

              Ainda assim deixe-me manter a promessa que eu fiz

              Um amigo brahmin. Aurora a-manhã verá

              Minha honra salva e meu retorno a ti.

 

      O ogro escutando isto falou a quinta estrofe:

 

            Estando tão próximo da morte, qual é a coisa

            Que assim tão dolorosamente te perturba, Ó rei?

            Diga-me a verdade, para que assim talvez possa

            Consentir em te deixar ir por um breve dia.

 

  O rei explicando o assunto, falou a sexta estrofe:

 

           Uma promessa uma vez feita a um brahmin;

           Esta promessa ainda é devida, este débito, não pago;

           O voto cumprido, a-manhã aurora verá

           Minha honra salva e meu retorno a ti.

 

 Escutando isto, o ogro falou a sétima estrofe:

 

          Você fez uma promessa a um brahmin;

          Esta promessa ainda é devida, este voto, não pago.

          Cumpra teu voto e deixe a-manhã ver

          Tua honra salva e teu retorno a mim. 

 

E tendo falado assim ele deixou o rei ir. E ele, tendo sido deixado partir, disse, “Não se preocupe comigo; retornarei àurora,” e tomando nota de certos sinais, marcas, do caminho, retornou para seu exército e com seu cortejo fez sua entrada na cidade. Então mandou chamar o brahmin Nanda, o sentou em um esplêndido trono, e após escutar seus versos, o presenteou com quatro mil peças de dinheiro. E fez o brahmin montar em uma charrete e o mandou embora, ordenando que o enviassem direto para Takkasila ( Taxila ). No dia seguinte, estando ansioso para retornar, ele chamou seu filho e assim o instruiu.

                                    _________________________ 

 

             O Mestre, para explicar o assunto, falou duas estrofes:

 

                     Escapando do cruel duende ele veio

                     Cheio de doces desejos para sua adorável casa:

                     Sua palavra para um amigo brahmin ele nunca quebraria,

                     Mas assim para o caro Alinasatru falou.

 

                    ‘Meu filho, reine tu ungido rei ho-je

                     Legislando sobre amigos e inimigos em reto governar;

                     Não deixe nenhuma injustiça macular teu feliz estado;

                     Eu agora busco meu destino com o cruel duende.’

                                 ____________________________________ 

 

      O príncipe, escutando isto, falou a décima estrofe:

 

                 Ansioso aprenderia que ato ou palavra

                Me fez perder o favor de meu senhor,

                Que tu me eleve ao trono

                Que, te perdendo, eu não possuiria.

 

     O rei, escutando isto, falou a próxima estrofe:

 

             Caro filho, não consigo trazer à memória

             Uma única palavra ou ato injusto,

             Mas agora que a dívida de honra está paga,

             Manterei a promessa feita ao ogro.

 

   O príncipe, escutando isto, falou a estrofe:

 

             Não, eu irei e tu ficarás aqui;

             Nenhuma esperança de retorno seguro, eu temo.

             Mas se você fosse, eu te seguiria

             E ambos juntos deixaríamos de ser.

 

  Escutando isto, o rei falou uma estrofe:

 

           Contigo a lei moral concorda,

           Mas a vida perderia todo encanto para mim,

           Se no espeto este ogro cinzento

           Te torrasse e te comesse, membro a membro.

      

   Escutando isto, o príncipe falou uma estrofe:

 

          Se deste ogro tu quiseste fugir,

          Por ti estou preparado para morrer:

          Sim, alegremente morreria, Ó rei,

          Se somente a vida para ti eu trouxesse.

 

  Escutando isto o rei, reconhecendo a virtude de seu filho, aceitou a oferta dele, dizendo, “Bem, vá caro filho.” E então despediu-se de seus pais e deixou a cidade.

                                     _________________________            

 

          O Mestre para esclarecer o assunto, falou metade de uma estrofe:

                          Então o bravo príncipe a seus queridos pais deu

                          Um último adeus, com humilde obediência.

                                 ______________________________                

 

        Então seus pais, sua irmã, sua esposa e os cortesãos saíram da cidade com ele. E o príncipe perguntou a seu pai aqui sobre o caminho e após fazer arranjos cuidadosos e ter dado conselhos para os outros, ele pegou a estrada e partiu para a morada do ogro, tão destemido quanto um leão de juba. Sua mãe, vendo ele partir, não pode se conter e caiu desmaiada no chão. Seu pai, esticando os braços chorava alto.

                             _____________________________________

 

           O Mestre para esclarecer a matéria, falou a outra meia estrofe:

 

                        Seu pai com braços esticados, seu filho para ficar

                        Chorava dolorosamente. Sua mãe, sofrendo, desmaiou.

 

     E assim tornando clara a oração pronunciada pelo pai e o Ato de Verdade repetido pela mãe, irmã e esposa, ele pronunciou ainda quatro estrofes mais:

 

                      Mas quando seu filho sumiu totalmente

                      Do olhar desesperado de seu pai,

                            Com mãos levantadas aos deuses ele louvou

                     ‘Os elevados Reis Varuna e Soma,

                     Brahma e os senhores do Dia e da Noite. 

                     Que estes mantenham são e salvo os membros,

                      Escape, caro filho, do ogro cinzento.’

                  ‘Como a mãe, de belos membros, de Rama ganhou

                    Salvação para seu filho ausente,

                    Quando ele buscou as florestas de Dandaka,

                 Do mesmo modo para minha criança seja a liberdade lavrada;

                   E por este Ato de Verdade, clamo

                   Aos deuses, que te tragam para casa inteiro.’

[Cf. jataka 6 que repete esta história e seu paralelo com a de Rama no Ramayana]

 

                 ‘Irmão, em ti não há erro algum

                   Revelado ou escondido, eu lembro;

                  E por este Ato de Verdade clamo

                  Aos deuses que te tragam para casa inteiro.’

 

               ‘Livre de ofensas tu és para mim,

                Eu também, meu senhor, tenho amor por ti;

               E por este Ato de Verdade clamo

               Aos deuses que te tragam para casa inteiro.’

 

                                               _________________________       

 

               E o príncipe, seguindo as orientações de seu pai, partiu pela estrada para a residência do ogro. Mas o ogro pensava, “Kshatrias/Guerreiros são cheios de truques: quem sabe o que acontecerá ?” e subindo na árvore sentou esperando a chegada do rei. Vendo o príncipe, ele pensou, “O filho impediu o pai e está vindo ele mesmo. Não há porque temê-lo.” E descendo da árvore ele sentou dando as costas para ele. Chegando o jovem parou em frente ao ogro, que então falou esta estrofe:

                            De onde és tu, jovem belo e elegante?

                            Sabes tu que este domínio florestal é meu?

                            Os que vem tem suas vidas por muito baratas

                           Onde ogros selvagens tem suas casas. 

 

    Escutando isto, o jovem falou esta estrofe:

 

                            Te conheço bem, ogro cruel;

                            Dentro desta floresta realmente moras.

                            Está aqui o verdadeiro filho de Jayadissa:

                            Coma-me e deixe livre meu caro pai.

 

     Então o ogro falou esta estrofe:

 

                           Conheço o verdadeiro filho de Jayadissa;

                           Teus cachos confessam que estais certo.

                           Uma dificuldade certamente é para ti

                           Morrer, para teu pai deixar livre.

 

    Então o jovem falou esta estrofe:

 

                           Nenhum ato difícil é este, eu sinto,

                           Morrer e pelo bem de um pai

                           E amor de uma mãe, falecer

                           E ganhar a benção celeste para sempre

                          

 Escutando isto, o ogro disse, “Não há nenhuma criatura, príncipe, que não tema a morte. Por que não tens medo?” E ele disse a razão e recitou duas estrofes:

 

                        Nenhum gesto mau meu,

                        Revelado ou escondido, lembro:

                       Bem pesados estão nascimento e morte para mim,

                       Como aqui, do mesmo modo nos mundos a advir.

                      Coma-me ho-je, Ó poderoso,

                     E faça o que deve ser feito.

                     Cairei morto de alguma alta árvore,

                     Então coma minha carne, como te agrade.

 

     O ogro, escutando estas palavras, ficou aterrorizado e disse, “Não se pode comer a carne deste homem”; e, pensando em algum estratagema para fazê-lo correr fora, disse:

                   E tua vontade sacrificar

                 Tua vida, jovem príncipe, para teu pai deixar livre,

                  Então vá rápido, é meu conselho

                  E junte gravetos para acender uma fogueira.

 

    Tendo feito isto, o jovem retornou a ele.

                                                ________________________  

          

                    O Mestre, para esclarecer a matéria, falou outra estrofe:

                              Então o bravo príncipe juntou lenha                

                             E alimentando alto uma poderosa pira,

                             Gritou, acendendo-a, ‘Prepare tua comida;

                             Veja! Fiz uma boa fogueira.’

                                              ________________________

                

             O ogro, quando ele viu que o príncipe voltou e fez uma fogueira, disse, “Este é um sujeito com coração de leão. Morte não o aterroriza. Até agora nunca tinha visto um homem tão sem medo.” E ele sentou lá, atônito, de tempos em tempos olhando para o jovem. E este, vendo como o ogro estava, falou esta estrofe:

 

                           Não fique em pé contemplando em bobo espanto

                               Me pegue e me mate e me coma, prego,

                        Enquanto ainda vivo, tentarei

                              Te fazer disposto a me comer ho-je.

 

       Então o ogro, escutando estas palavras, falou esta estrofe:

 

                           Alguém tão verdadeiro, gentil, justo,

                           Certamente nunca deve ser comido,

                           Ou sua cabeça, daquele que te come, deverá

                           Quebrar em sete pedaços.

 

      O príncipe escutando isto, disse, “Se você não quer me comer, por que você me mandou quebrar gravetos e fazer uma fogueira?” e quando o ogro respondeu, “Era para testá-lo; pois eu pensava que você fugiria correndo,” o príncipe disse, “Como agora você vai me testar, vendo que, quando na forma animal, eu permiti Sakra, rei do céu, em colocar minha virtude em teste?” E com estas palavras ele falou esta estrofe: -

                    A Indra certa vez vestido como algum pobre brahmin

                         A lebre ofereceu sua própria carne para comer;

                   Daí em diante sua forma ficou impressa na Lua;

                         Aquela órbita graciosa que saudamos como Yakkha.

 

 [Cf. Jataka 316; o comentário adiciona que no presente kalpa a lua está marcada por um yakkha ao invés de uma lebre]

 

        O ogro, escutando isto, deixou o príncipe ir e disse,

 

                   Como a clara Lua libertada das garras de Rahu

                   Refulge no meio do mês com brilho acostumado,

                  Assim você também, senhor poderoso de Kampilla,

                  Escapando do ogro, espalhe a alegre luz

                  De tua presença brilhante, animando amigos sofredores,

                E trazendo de volta felicidade a teus pais queridos.

 

   E dizendo, “Vá alma heroica,” ele deixou o Grande Ser partir. E tendo tornado o ogro mais humilde, ele lhe ensinou as cinco leis morais e desejando colocar em teste se ele era um ogro ou não, ele pensava, “Os olhos dos ogros são vermelhos e não piscam. Eles não projetam sombra e são livres de todo medo. Este não é um ogro; é um ser humano. Eles dizem que meu pai teve três irmãos sequestrados por uma ogra; dois deles devem ter sido devorados por ela e o terceiro deve ter sido estimado por ela com amor de mãe por sua criança: este deve ser ele. O levarei comigo e contarei a meu pai e o estabelecerei no trono.” E assim pensando ele gritou, “Ho! Senhor, não és nenhum ogro; tu és o irmão mais velho de meu pai. Bem, venha comigo e levante o parassol como emblema de soberania em teu reino ancestral.” E quando ele respondeu, “Não sou ser humano,” o príncipe disse, “Você não acredita em mim. Há alguém em quem você acredita?” “Sim,” ele disse, “há em tal e tal lugar um asceta dotado com visão sobrenatural.” Então ele levou o ogro com ele e foram lá. O asceta assim que colocou a vista neles disse, “Com que objetivo vocês dois descendentes de um ancestral comum andam aqui?” E com estas palavras ele lhes contou como eram relacionados. O comedor de gente acreditou e disse, “Querido amigo, vá para casa você: quanto a mim, nasci com duas naturezas em uma forma. Não tenho nenhum desejo de ser rei. Me tornarei um asceta.” Então foi ordenado na vida religiosa pelo asceta. E o príncipe o saudou e retornou para a cidade.

                                          ____________________________                 

 

                   O Mestre, para esclarecer o assunto, falou esta estrofe:

                         Então o corajoso príncipe Alinasatru prestou

                             Toda a obediência devida ao ogro cinzento,

                         E livre uma vez mais viajou seu caminho feliz

                             De volta a Kampilla, são e salvo dos membros.

 

          E quando o jovem alcançou a cidade, o Mestre explicou ao Povo e o resto o que o príncipe fez e falou a última estrofe:

 

                     Assim viajando a pé da vila e do campo,

                          Vejam! Multidões ansiosas proclamam

                          O nome do bravo herói,

                Ou no alto de um carro ou elefante eles dirigiram

                        Com homenagem devida vieram

                        Levando o vitorioso para casa.

                                    ______________________________                   

 

                   O rei escutou que o príncipe voltara e preparou-se para encontrá-lo, e o príncipe, escoltado por uma grande multidão, veio e saudou o rei. E o questionou, dizendo, “Querido filho, como você escapou de um ogro tão terrível ?” E ele disse, “Caro pai, ele não é nenhum ogro; ele é teu irmão mais velho e meu tio.” O rei imediatamente ordenou que um tambor fosse tocado e partiu com uma grande comitiva para visitar os ascetas. O asceta chefe contou a ele toda a história; como a criança foi sequestrada pela ogra e como ao invés de comê-la, ela o criou como um ogro e como eles eram parentes um do outro. O rei disse, “Venha, irmão, reine como rei.” “Não, obrigado, Senhor,” ele respondeu. “Então venha e fixe residência em nosso parque e te fornecerei os quatro requisitos.” Ele se recusou a ir. Então o rei mandou fazer um povoado em uma certa montanha, não distante do eremitério deles e formando um lago, preparou campos cultivados e trazendo mil famílias com muito tesouro, fundou uma grande cidade e instituiu um sistema de caridade para os ascetas. Esta vila cresceu na cidade de Cullakammasadamma.

                  A região onde o ogro foi domado pelo Grande Ser, Sutasoma foi conhecida como a cidade de Mahakammasadamma.

                                                ____________________________    

 

               O Mestre, tendo terminado sua lição, revelou as Verdades e identificou o Jataka: - Na conclusão das Verdades o ancião que amparava sua mãe foi estabelecido na fruição do Primeiro Caminho: - “Naquele tempo o pai e a mãe eram membros da corte real, o asceta era Sariputra, o comedor de gente era Angulimala, a jovem irmã era Uppalavanna, a rainha era a mãe de Rahula, príncipe Alinasatru era eu mesmo.”