segunda-feira, 29 de setembro de 2008

201 Buddha Anacoreta


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201
Não grilhões de ferro...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana sobre um presídio.

No tempo em que se passa a história, escutamos que uma gang de ladrões, de estrada e assassinos, foram pegos e arrastados para diante do rei de Kosala. O rei ordenou que os amarrassem em cadeias, cordas e correntes. Trinta Irmãos camponeses, desejosos de ver o Mestre, prestavam visita a ele e ofereciam suas saudações. Dia seguinte, enquanto eles coletavam ofertas, passaram pela prisão e perceberam estes bandidos. À tardinha, após o retorno deles das rondas do dia, aproximaram-se do Buddha ; “Senhor,” eles disseram, “ho-je, enquanto coletávamos oferta, vimos no presídio numerosos bandidos amarrados fortes com cadeias e correntes, que estavam em grande miséria. Eles não podiam romper os grilhões e fugir. Existem cadeias mais fortes que estas ? “

O Mestre respondeu, “Irmãos, estas são amarras, é verdade ; mas os grilhões que consistem em ansiar por riquezas, grãos, filhos, esposas e crianças são mais fortes do que estes cem vezes, não, mil vezes. Ainda assim, mesmo estes grilhões, difíceis de quebrar como são, foram quebrados por sábios de tempos antigos, que foram para o Himalaia e tornaram-se anacoretas.” Então ele contou a eles um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu em uma família pobre. Quando ele cresceu seu pai morreu. Ele ganhava salários e amparava sua mãe. Sua mãe, muito contra a vontade dele, trouxe uma esposa para casa para ele e logo depois morreu. Bem, sua esposa concebeu. Sem saber que ela havia concebido, ele disse a ela, “Esposa, deves ganhar tua vida ; vou renunciar ao mundo.” Ela então disse, “Não, pois estou grávida. Espere e veja a criança que nascerá de mim e depois vá e torne-se eremita.” Com isto ele concordou. Então quando ela deu a luz, ele disse, “Agora, esposa, que pariste em segurança, devo me tornar eremita.” “Espere,” disse ela, “até o tempo em que a criança desmamar.” E antes disso ela já ficava grávida novamente.
S'eu concordar com o quê ela pedir,” pensou o Bodhisatva, “nunca conseguirei sair. Vou fugir sem dizer a ela nenhuma palavra e me tornar um eremita.” Assim ele nada disse a ela mas levantou-se à noite e fugiu.

Os guardas da cidade o pegaram. “Tenho mãe para sustentar,” disse ele - “deixem-me ir !” e assim conseguiu que o soltassem, e após permanecer em certo lugar, saiu pelo portão principal e seguiu caminho para os Himalaias, onde viveu como recluso ; e fez as Faculdades e Consecuções Sobrenaturais brotarem de dentro dele, enquanto morava no rapto da meditação. Enquanto morava lá, ele exultou, dizendo - “O laço da esposa e dos filhos, o laço da paixão, tão difícil de quebrar, está quebrado !” e ele pronunciou estas estrofes:-

Não grilhões de ferro – assim o sábio falou -
Nem cordas, ou barras de madeira, tão presos podem segurar
Como a paixão, e o amor a criança e à esposa,
Com pedras preciosas e brincos de ouro fino.

Estes pesados grilhões – quem, estando neles, pode encontrar
Livramento ? - estes são os laços que amarram :
Estes se o sábio puder quebrar, então estará livre,
Deixando todo amor e todo desejo para trás !

E o Bodhisatva, após pronunciar esta aspiração, sem quebrar o encanto de seu ênstase, atingiu o mundo de Brahma.

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Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades:- na conclusão das Verdades, alguns entraram no Primeiro Caminho, alguns no Segundo, alguns no Terceiro e alguns no Quarto : - “Na história, Mahāmāyā era a mãe, Rei Suddhodana era o pai, a mãe de Rāhula era a esposa, Rāhula mesmo era o filho e eu era o homem que deixou sua família e tornou-se anacoreta.”





200 Buddha Professor


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                                 Taxila, Paquistão 


200
Um é bom...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto morava em Jetavana, sobre um brahmin.

Este homem, nos é dito, tinha quatro filhas. Quatro pretendentes as cortejavam ; um era fino e belo, outro era ancião avançado em anos, o terceiro um homem de família, e o quarto era bom. Ele pensou consigo mesmo, “Quando um homem está estabelecendo e dispondo suas filhas, para quem deve dar cada uma delas ? Para o bonito ou para o ancião ou para um dos outros dois, o bem nascido ou o homem bom ?” Apesar de assim ponderar, não pode decidir. E pensou então em contar o problema para o Supremo Buddha, que com certeza saberia ; e então daria as garotas para os pretendentes adequados. Deste modo, preparou uma quantidade de perfumes e guirlandas e foi visitar o mosteiro. Saudando o Mestre, sentou em um dos lados e contou a ele tudo do começo ao fim ; e depois perguntou, “Para quais destes quatro devo distribuir minhas filhas ?” Com isto o Mestre respondeu, “Em dias idos como agora, homens sábios fizeram esta pergunta ; mas agora que o re-nascer con-fundiu sua memória, você não pode lembrar do caso.” E com o pedido dele o Mestre contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra legislava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como filho de um brahmin. Quando atingiu a idade, recebeu sua educação em Takkasilā ( Taxila ) ; retornando então tornou-se um famoso professor.

Bem, havia um brahmin que tinha quatro filhas. Estas quatro são cortejadas por quatro pessoas como descritas acima. O brahmin não soube decidir como distribuí-las. “Vou perguntar ao professor,” ele pensou, “ele deve saber para quem cada uma deve ser dada.” Assim foi até a presença do professor e repetiu a primeira estrofe:-

Um é bom, outro é bem nascido ; um é bonito e outro ancião.
Responda-me, brahmin ; dos quatro qual o quê melhor aparece ?

Escutando isto, o professor respondeu, “Mesmo que haja beleza e qualidades semelhantes, um homem deve ser desprezado se falta bondade. Portanto os outros não são medidas de humanidade ; aqueles de que gosto são os bondosos.” E na explicação da questão, respondeu com a segunda estrofe:-

Boa é a beleza : ànciedade, mostra-se respeito, pois isto é direito :
Boa também a nobreza de nascença ; mas, boa bondade, esta que me delicia.

Quando o brahmin escutou isto, deu todas suas filhas ao pretendente bom. [ n. do tr.: ou as distribuiu corretamente pelos quatro.]

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O Mestre, quando este discurso terminou, declarou as Verdades e identificou o Jataka:- na conclusão das Verdades o brahmin atingiu o Fruto do Primeiro Caminho :- “Este brahmin era o brahmin de então e o famoso professor era eu mesmo..”



199 Buddha Dono de casa


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199
Não gosto nada disso...etc.” - Esta história o Mestre contou, também sobre um Irmão relapso, durante estadia em Jetavana e no curso da fala disse, “Mulheres não podem ser mantidas em retidão ; de um jeito ou de outro elas vão trair o marido e pecar.” E então ele contou a seguinte história.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu no reino de Kāsi como filho de um dono de casa : e tornando-se adulto, casou e estabeleceu-se. Bem, a esposa dele era fraca e fazia intriga com o chefe da vila. O Bodhisatva tomou conhecimento disto e considerou consigo mesmo como podia testá-la.

Naqueles dias todos os grãos foram carregados, levados pela enxurrada, chuva, e havia fome. Era o tempo em que o milho acabava de brotar ; e todos os habitantes da vila, juntaram-se e procuraram o chefe da aldeia, dizendo, “Dois meses a partir de agora, quando já estivermos colhendo o grão, pagaremos a você em espécie” ; e assim conseguiram uma vaca velha dele, e a comeram.

Um dia, o chefe d'aldeia viu sua chance e quando o Bodhisatva havia partido para longe ele visitou a casa. Justo quando os dois estavam felizes juntos, o Bodhisatva surge no portão da vila e direciona o olhar para sua casa. A mulher olhava para o portão da vila e o viu. “Pois, quem é este ?” conjecturou ela, olhando para ele enquanto estava na entrada. “É ele !” Ela viu que era ele e contou ao chefe d'aldeia. Este tremeu aterrorizado. “Não fiques com medo,” disse a mulher, “Tenho um plano. Você sabe que ganhamos carne de ti para comer : faça como se você estivesse buscando o preço da carne ; subirei até o celeiro e parado na porta gritarei, 'Não há arroz aqui!' enquanto você fica no meio do quarto, gritando insistentemente, várias vezes, 'Tenho crianças em casa ; me pague o preço da carne !”

Assim falando, ela subiu até o celeiro e sentou na porta. O outro ficou no meio da casa e gritava, “Me pague o preço da carne !” enquanto ela respondia, sentada na porta do celeiro, “Não há arroz no celeiro ; eu pagarei quando a colheita estiver em casa ; agora me deixe !”
O bom homem entrou na casa e os viu onde estavam. “Isto deve ser um plano da mulher fraca,” ele pensou e chamou o chefe d'aldeia.

Senhor chefe d'aldeia, quando conseguimos um pouco da sua velha vaca para comer, prometemos pagar em arroz daqui a dois meses. Nem meio mês ainda passou ; então por quê tentas que paguemos agora ? Esta não é a razão porque estais aqui : viestes por outra razão. Não gosto do seu jeito. Aquela mulher lá, fraca e pecadora, sabe que não há arroz no celeiro mas lá subiu e lá assenta-se gritando 'Não há arroz aqui !' e você grita 'Pague!' Não gosto do jeito de nenhum de vocês dois !” e para se fazer entender claramente, pronunciou estas linhas:-

Não gosto nada disso, nem daquilo; não gosto dela, digo,
Que se assenta ao lado do celeiro e grita 'Não posso pagar!'
Nem de você, Senhor! Escutem agora: - meus recursos são parcos;
Você me deu certa vez uma vaca magra e dois meses de prazo também ;
Hoje, longe o dia, queres que eu pague! Não gosto nada disto.

Assim falando, ele segurou o chefe d'aldeia pelo coque do cabelo no topo da cabeça e o arrastou para fora para o jardim, atirou-o no chão e enquanto ele gritava, “Sou o chefe d'aldeia !” zombava dele assim - "Castigo, mereces, pela injúria feita a bens móveis sob guarda e vigilância de outro homem!" enquanto batia no homem até que ele desmaiasse. Então o pegou pelo pescoço e o atirou para fora da casa. A mulher fraca também ele pegou pelo cabelo da cabeça, puxou ela do celeiro, e a ameaçou - “Se fizeres este tipo de coisa novamente, vou te fazer lembrar disto !”

Daquele dia em diante o chefe d'aldeia não ousou nem olhar a casa e a mulher não ousou transgredir nem mais em pensamento.

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Quando este discurso estava terminado, o Mestre declarou as Verdades às conclusões o Irmão relapso alcançou o Fruto do Primeiro Caminho:- “O bom homem que puniu o chefe d'aldeia era eu mesmo.”




quinta-feira, 25 de setembro de 2008

198 Buddha Papagaio


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198
Cheguei meu filho...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivia em Jetavana, sobre um irmão que era relapso.

Escutamos que o Mestre perguntou a ele se era realmente relapso ; e ele respondeu, sim eu sou. Sendo questionado por qual razão, disse, “Porquê minhas paixões brotaram ao ver uma mulher bem vestida.” Falou o Mestre então, “Irmão, não há como vigiar mulher. Em dias idos, vigias foram colocados guardando as portas e mesmo assim não conseguiram mantê-las guardadas ; mesmo quando consegues pegá-las, não consegues mantê-las.” E ele contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio ao mundo como um jovem papagaio. Seu nome era Rādha e seu irmão mais novo chamava-se Potthapāda. Quando ainda eram bem jovens, ambos foram pegos por um caçador e entregues a um brahmin de Benares. O brahmin cuidou deles como se fossem suas crianças. Mas a esposa do brahmin era uma mulher depravada ; não havia como vigiá-la.

O marido tinha que sair à negócios e falou assim a seus jovens papagaios. “Meus pequenos, estou saindo a negócios. Mantenham vigilância sobre a mãe de vocês em todo tempo ; observem se algum homem visita ela ou não.” Então saiu ele assim, deixando os jovens papagaios encarregados de sua esposa.

Logo que ele se foi, a mulher começou a errar ; dia e noite os visitantes vinham e iam – não havia fim neles. Potthapada, observando isto, disse a Radha - “Nosso pai deixou-nos encarregado desta mulher e aí está ela fazendo o que é errado. Falarei com ela.”
Não,” disse Radha. Mas o outro não escutou. “Mãe,” disse ele, “por quê pecas ?”

Como desejava matá-lo ! Mas fingindo que queria afagá-lo, chamou-o até ela.

Pequenino, tu és meu filho ! Nunca mais farei isto ! Venha aqui então querido !” Ele veio, com ela falando assim ; ela então o segurou gritando,
O quê ! Você me ensinar ! Não conheces teus limites !” e ela torceu o pescoço dele e o atirou dentro do fogão.

O brahmin retornou. Quando sentou perguntou ao Bodhisatva: “Bem, e aí meu caro, e sua mãe – ela errou ou não ?” e enquanto fazia a pergunta, ele repetiu a primeira estrofe:-

Cheguei meu filho, terminada a jornada e agora estou em casa de novo :
Venha, diga-me ; é tua mãe sincera ? Ela fez amor com outros homens ?

Radha respondeu, “Caro pai, o sábio não fala de coisas que bençãos não trazem, tenham elas acontecido ou não” ; e explicou isto repetindo a segunda estrofe:

Pois pelo que disse, ele agora jaz morto, queimado debaixo daquelas cinzas :
Não é bom falar a verdade, para não partilhar do destino de Potthapada.

Assim o Bodhisatva discursou para o brahmin ; e continuou - “Este também não é lugar para eu viver” ; e dando adeus ao brahmin, ele voou para a floresta.

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Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka: - nas conclusões das Verdades o Irmão relapso alcançou o Fruto do Primeiro Caminho:- “Ānanda era Potthapada e eu mesmo era Rādha.”



197 Buddha Eremita


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197
Ele não ri...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto morava em Sāvatthi, sobre um certo Irmão.

Este Irmão pegou um pedaço de pano, que o professor depositara à ele, considerando-se íntimo o suficiente para achar que o professor não se zangaria. Fez então um saco de sapatos e partiu. Quando o professor perguntou por quê pegara o pano, ele respondeu que se sentiu à vontade para pegar e que ele não se zangaria. O professor fica irado e se levanta, atingindo-o com um soco. “Que intimidade existe entre eu e você ?” ele perguntou.
Este incidente ficou conhecido por toda a Irmandade. Um dia os irmãos estavam todos juntos conversando sobre isto no Salão da Verdade. “Amigo, o jovem Irmão tal e tal sentiu-se tão íntimo de seu professor que pegou dele um pedaço de pano e fez um saco de sapatos. O professor então perguntou que intimidade havia entre os dois e irando-se, salta e dá um soco nele. “ O Mestre chega e pergunta sobre o quê conversavam enquanto lá sentados estavam. Eles falam. Então ele diz, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que este homem quebra a confiança de seu companheiro. Ele fez o mesmo antes.” E então contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu filho de um brahmin do reino de Kāsi. Quando se tornou adulto, renunciou ao mundo ; fez com que surgisse em si as Faculdades e as Consecuções Sobrenaturais e fixou residência nos Himalaias com um bando de discípulos. Um do bando de ascetas desobedeceu as ordens do Bodhisatva e cuidava de um jovem elefante que perdera a mãe. Esta criatura com o tempo ficou grande e então matou seu dono e fugiu para a floresta. Os ascetas fizeram as exéquias dele ; e então aproximaram-se do Bodhisatva e fizeram a ele esta pergunta.
Senhor, como conhecermos se alguém é amigo ou inimigo ?”
Respondeu o Bodhisatva com as estrofes seguintes:-

Ele não ri quando o vê, não cumprimenta,
Não vira os olhos na direção e só fala Não.

Estas as marcas e sinais pelos quais vês teu inimigo :
Estes se o sábio vê e escuta, ele sabe seu inimigo.

Com estas palavras o Bodhisatva declarou as marcas da amizade e da inimizade. Daí em diante cultivou as Excelências e entrou no céu de Brahma.

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Quando o Mestre terminou este discurso, ele identificou o Jataka:- “O Irmão em questão era o mesmo que cuidava do elefante de estimação, seu professor era o elefante, os seguidores do Buddha eram o bando de eremitas e eu mesmo o chefe deles.”





196 Buddha Pégaso


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196
Aqueles que negligirem ...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana, sobre um Irmão que foi relapso.

Quando o Mestre perguntou a ele se realmente fora relapso, o Irmão respondeu que era verdade. Sendo questionado por qual razão, ele respondeu que a paixão surgiu nele ao ver uma mulher bem vestida. O Mestre então assim se dirigiu a ele:
Irmão, as mulheres tentam os homens com sua postura, voz, perfumes, toque e com suas astúcias e gracejos ; assim elas colocam os homens em poder delas ; e logo que percebem que isto está feito, os arruínam, na figura, nos bens e em tudo , em seus caminhos tortuosos. Isto dá a elas o nome de duendes [pessoas verdes]. Em dias anteriores também uma tropa de duendes fêmeas tentou uma caravana de mercadores e tomou posse dela ; e depois quando avistaram os homens, os mataram todos desde o primeiro e então os devoravam mastigando ruidosamente com seus dentes enquanto o sangue escorria pelos lados da boca.” Então ele contou uma velha história.

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Certa vez, havia na ilha do Ceilão uma cidade de duendes chamada Sirisavatthu, habitada por duendes fêmeas. Quando um navio naufragou, elas vestiram e adornaram-se e carregando arroz e mingaus, com séqüito de escravas, com suas crianças nos quadris, foram até os mercadores. De modo a fazê-los imaginar que era cidade de seres humanos, fizeram eles verem aqui e lá pessoas arando e cuidando de gado, manada de bois, cães, e coisas assim. Então aproximando-se dos mercadores, convidam eles para comer mingau , arroz e outras comidas que trouxeram. Os mercadores, todos incônscios, comeram do que elas ofereceram. Quando eles já tinham comido e bebido e descansavam, as duendes dirigiram-se a eles assim : “Onde vocês moram? De onde vocês vieram? Para onde estão indo e que errância trouxeram vocês aqui ?” “Nós naufragamos aqui,” eles responderam. “Muito bem, nobres senhores,” as outras responderam ; “já faz três anos que nossos maridos subiram em um barco ; eles devem ter morrido. Vocês são mercadores também ; nós seremos esposas de vocês.” Assim então elas os fizeram desviar com seus truques e astúcias de mulher e com gracejos até que entraram na cidade das duendes ; então, se já têm outros pego, amarram estes com laços mágicos e os jogam na casa de tormento. E se não encontram nenhum náufrago no lugar em que elas moram, elas vasculham a costa até o rio Kalyani ( n. do tr.: moderno Kaelani-gangā (Journal of the Pali Text Soc., 1888, p. 20)) de um lado e até a ilha Nagadipa do outro. Este é o caminho delas.
Aconteceu de certa vez que quinhentos mercadores náufragos, foram jogados na praia perto da cidade das duendes. As duendes vieram e seduziram eles até que os trouxeram para a cidade delas ; àqueles que elas pegaram antes, foram amarrados com laços mágicos e atirados na casa de tormento. Então a duende chefe ficou com o mercador chefe, e as outras ficaram com o resto, até que quinhentas estavam com os quinhentos mercadores ; e fizeram dos homens seus maridos. Então durante a noite quando o homem dela dormia, a duende chefe se levantou, e dirigiu-se para a casa da morte, matou alguns homens e os comeu. As outras fizeram a mesma coisa. Quando a duende mais velha retornou de comer carne humana, o corpo dela estava frio. O mercador mais velho abraçou ela e percebeu que ela era duende. “Todas elas quinhentas devem ser duendes !” ele pensou consigo mesmo : “devemos fugir !”

Assim de manhã cedo, quando ele foi lavar o rosto, falou aos outros mercadores estas palavras. “Elas são duendes e não seres humanos ! Logo que outros homens naufraguem, elas farão destes seus maridos e comerão a nós ; venham – vamos fugir !”

Duzentos e cinqüenta deles responderam, “Não podemos deixá-las : vão vocês se querem mas nós não fugiremos.”

Então o mercador chefe junto com duzentos e cinqüenta que estavam prontos a obedecê-lo, fugiram, com medo das duendes.

Naqueles dias, o Bodhisatva veio ao mundo como um cavalo voador ( n. do tr.: Em um pilar Buddhista de Mathura está esculpido um cavalo voador com pessoas penduradas nele, talvez lembrando esta cena (Anderson, Catalogue of the Indian Museum, i. p. 189)), todo branco, com bico de corvo e pêlo de grama muñja, possuindo poder sobrenatural e capaz de voar pelos ares. Do Himalaia ele voou pelos ares até chegar ao Ceilão [Sri Lanka]. Lá ele passou por cima dos lagos e tanques do Ceilão e comeu do arroz selvagem que lá cresce. Enquanto atravessava, ele em três tempos falava com voz humana cheia de misericórdia, dizendo - “Quem quer ir para casa ? Quem quer ir para casa ?” Os mercadores escutaram ele falar e gritaram - “Mestre, estamos indo para casa !” e juntando as mãos as elevaram respeitosamente até a testa. “Então subam às minhas costas,” disse o Bodhisatva. Neste momento, alguns subiram, alguns seguraram na cauda dele, e alguns permaneceram de pé , saudando respeitosamente. Então o Bodhisatva levou até àqueles que ficaram de pé saudando e transportou-os todos, exatos duzentos e cinqüenta, para o país deles e deixou cada um em seu lugar ; ele então voltou para sua morada.

E as duendes, quando outros homens chegaram naquele lugar, mataram aqueles duzentos e cinqüenta que ficaram, e os devoraram.

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O Mestre disse então, dirigindo-se aos Irmãos : “Irmãos, do mesmo modo que estes mercadores pereceram por caírem nas mãos das duendes mas os outros que atenderam o chamado do cavalo maravilhoso retornaram todos salvos para casa ; assim,
do mesmo modo, aqueles que negligem o conselho dos Buddhas, ambos Irmãos e Irmãs, Irmãos leigos e Irmãs leigas, vão para grandes sofrimentos nos quatro ínferos, lugares onde são punidos em cinco prisões e assim por diante. Mas aqueles que permanecem no conselho chegam aos três tipos de nascimento feliz, aos seis paraísos dos sentidos, aos vinte mundos de Brahma e alcançando o estado do Nirvana imperecível, atingem grande benção.” Então, tornando-se perfeitamente iluminado, ele recitou os seguintes versos:-

Aqueles que negligirem o Buddha quando lhes diz o quê fazer,
Como as duendes comeram os mercadores, do mesmo jeito também pereceram.
Aqueles que escutam o Buddha quando lhes diz o quê fazer,
Como o cavalo-pássaro salvou os mercadores, ganharão também salvação.


Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka:- na conclusão das Verdades o Irmão relapso entrou no Fruto do Primeiro Caminho e muitos outros Irmãos entraram nos Frutos do Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto :- “Os seguidores do Buddha eram os duzentos e cinqüenta que seguiram o chamado do cavalo e eu mesmo era o cavalo.”




segunda-feira, 22 de setembro de 2008

195 Buddha Conselheiro


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                                            (Sañchi, India )


195
Um lago feliz...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto morava em Jetavana, sobre o rei de Kosala.

Como nos é dito um certo cortesão fez intriga no harém real. O rei inquiriu a matéria e quando descobriu tudo rigorosamente decidiu contar ao Mestre. Assim veio à Jetavana e saudou o Mestre ; contou a ele como um cortesão fez intriga e perguntou o quê ele faria. O Mestre perguntou se ele achava o cortesão útil e se amava a esposa. “Sim,” foi a resposta, “o homem é muito útil ; ele é o esteio da minha corte ; e eu realmente amo a mulher.” “Senhor,” respondeu o Mestre, “quando servos são úteis e mulheres queridas, não há neles dano. Em dias antigos também reis escutaram as palavras do sábio e ficaram indiferentes a tais coisas.” E ele contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família cortesã, da corte. Quando cresceu em idade tornou-se conselheiro do rei em coisas temporais e espirituais.

Bem, um dos da corte do rei fez intriga no harém e o rei descobriu tudo a respeito. “Ele é o empregado mais útil,”  pensou, “e a mulher é querida por mim. Não posso destruir estes dois. Colocarei uma pergunta àlguns sábios sujeitos da minha corte ; e se tiver que recolocar as coisas no lugar, recolocarei ; se não, então não.”

Ele chama o Bodhisatva e pede a ele que se sente. “Sábio senhor,” disse ele, “tenho uma questão para te perguntar.”

Pergunte-a, Ó rei ! Responderei,” respondeu o outro. Então o rei perguntou sua questão nas palavras da primeira estrofe:-

Um lago feliz descansa protegido no sopé de amável montanha,
Mas um chacal usa-o, ainda sabendo que um leão vigia.

Certamente,” pensou o Bodhisatva, “um de seus cortesãos deve ter feito intriga no harém” ; e recitou a segunda estrofe:-

Fora do poderoso rio, todas as criaturas bebem a vontade :
S' ela é querida, tenha paciência – o rio ainda é o rio.

Assim de fato o Grande Ser aconselhou o rei.
E o rei aceitou o conselho e perdoou ambos, mandando que não pecassem mais. E a partir dali pararam. E o rei fez ofertas, e fez bem, até que no fim da vida foi preencher as hostes celestes.

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E o rei de Kosala também, após escutar este discurso, perdoou as duas pessoas e ficou indiferente. Quando o Mestre terminou seu discurso, ele identificou o Jataka: - “Naqueles dias Ānanda era o rei e eu mesmo o sábio conselheiro.”





194 Anurudha Sakra


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                     ( Veluvana, o Bosque de Bambu, Índia )

194
Não há deuses aqui...etc.” - Esta história o Mestre contou durante sua estadia em Veluvana, de como Devadatra tentou matá-lo. Escutando que Devadatra planejava matá-lo, ele disse, “Irmãos, esta não é a única vez que Devadatra tenta matar-me ; ele tentou fazer o mesmo antes, e falhou.” Então ele contou a eles esta história.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como filho de um proprietário que vivia numa vila não longe da cidade.

Quando cresceu em anos, escolheram uma jovem senhora de família de Benares ( Varanasi ) para casar com ele. Ela era uma jovem bela e amável, linda como uma ninfa divina, graciosa como uma trepadeira envolvente, arrebatadora como uma sílfide. Seu nome era Sujātā ; ela era leal, virtuosa e zelosa. Cumpria sempre adequadamente seu dever para com seu senhor e seus pais. Esta garota era muita querida e preciosa ao Bodhisatva. Então eles dois moravam juntos em alegria, em unidade, e mente una.

Um dia Sujata disse a seu marido, “Tenho desejo de ver minha mãe e meu pai.”
Muito bem, minha esposa,” respondeu ele ; “apronte comida suficiente para a jornada.” Ele fez com que se cozinhasse comida de todos os tipos, e colocou as provisões numa carroça ; já que ele dirigia o veículo, ele sentou na frente e sua esposa atrás. Para Benares foram ; e já lá desatrelaram a carroça, se lavaram e comeram. O Bodhisatva atrelou então novamente os bois e sentou na frente ; e Sujata, que trocara de roupa e adornara-se, sentou atrás.

Enquanto a carroça entrava na cidade, o rei de Benares aconteceu de estar fazendo o circuito solene ao redor do lugar montado nas costas de um esplêndido elefante ; e ele passava naquele lugar. O rei a viu : a beleza dela atraiu tanto os olhares dele que ele ficou apaixonado por ela. Chamou um dos do seu séqüito. “Vá,” disse ele, “e descubra se aquela mulher lá tem marido ou não.” O homem fez como pedido e voltou para falar com o rei. “Ela tem marido, me disseram,” disse ele ; “você vê aquele homem sentado no carro lá ? É o marido dela.”

O rei não pode abafar a paixão e o pecado entrou na mente dele. “Encontrarei um jeito de me livrar deste sujeito,” ele pensou, “e então pegarei a esposa para mim.” Chamando um homem, disse, “Aqui, meu bom companheiro, pegue este elmo em jóias e finja que está descendo a rua. Enquanto desces, jogue isto na carroça daquele homem lá.” Assim falando, deu a ele o elmo em jóias e o despachou. O sujeito pegou e foi ; e enquanto passava pela carroça, jogou dentro dela ; então voltou e relatou ao rei tudo que fizera.

Perdi um elmo em jóias !” gritava o rei : todo o lugar ficou em alvoroço.

Fechem todas as portas !” deu a ordem o rei : “cortem as saídas ! Cacem o ladrão !” Os seguidores do rei obedeceram. A cidade ficou em grande confusão ! O outro homem, levando mais alguns com ele, foi até o Bodhisatva, gritando - “Alto! Pare seu carro ! O rei perdeu um elmo em jóias ; devemos vasculhar seu carro !” E começou a busca, até que encontrou a joia que ele mesmo lá colocara. “Ladrão !” ele gritou, segurando o Bodhisatva ; bateram nele e chutaram ele ; então amarrando os braços dele nas costas o carregaram para diante do rei, gritando - “Veja o ladrão que roubou sua joia !” “Cortem a cabeça dele !” foi a ordem do rei. Eles o açoitaram com chicotes e o atormentaram em cada esquina de rua , e o atiraram para fora da cidade pelo portão sul.

Bem, Sujata deixara a carroça e esticando os braços corria atrás dele, chorando enquanto ia - “Oh meu marido, fui eu que te trouxe este lastimável sofrimento !” Os empregados do rei atiraram o Bodhisatva de costas, com a intenção de cortar a cabeça dele. Quando ela viu isto, Sujata pensou em sua própria bondade e virtude, refletindo então consigo mesma ; “Suponho que não haja espírito nenhum forte o suficiente para parar a mão cruel e má dos homens, que causam dano ao virtuoso” ; e gemendo e chorando ela repetiu a primeira estrofe:-

Não há deuses aqui : eles devem estar longe;
Não há deuses que controlem todo o mundo:
Agora os homens selvagens e violentos podem fazer o que querem,
Pois aqui não há ninguém que possa lhes dizer não.

Enquanto esta virtuosa mulher assim se lamentava, o trono de Sakra / Indra, rei dos Deuses, ficou quente, quando ele sentou. “Quem é este que me faria cair da divindade ?” pensou Sakra. Então ele se deu conta do que acontecia. “O rei de Benares,” ele pensou, “está fazendo um gesto cruel. Ele está fazendo a virtuosa Sujātā sofrer ; devo ir lá agora !”

 Então descendo do mundo dos deuses, com seu próprio poder retirou o rei mau do elefante que dirigia e o colocou de costas no lugar da execução e ao Bodhisatva ele levou, colocando nele todos os ornamentos e fazendo com que a veste real fosse nele vestida e o colocando nas costas do elefante. Os empregados levantaram o machado e cortaram a cabeça fora – mas era a cabeça do rei ; e quando já estava fora é que entenderam que era a cabeça do rei.

Sakra assumiu corpo visível e veio para diante do Bodhisatva e o consagrou rei ; e fez que a rainha principal fosse Sujata. E quando os cortesãos, os brahmins e os proprietários e o resto, viram Sakra, rei dos deuses, eles se alegraram dizendo, “O rei injusto está morto ! Agora recebemos das mãos de Sakra um rei que é reto !” E Sakra ficou pousado no meio do ar e declarou , “Este seu rei reto de agora em diante legislará em retidão. Se um rei é injusto, Deus manda chuva fora de estação e na estação ele não manda chuva nenhuma : e medo de fome, medo de peste, medo de espada – estes três medos [ n. do tr.: cavaleiros do Apocalipse ] surgem diante das pessoas por causa dele.” Assim ele os instruía e falou a segunda estrofe:-

Para ele nenhuma chuva chove no tempo da chuva
Mas fora da estação chove e chove muito.
Um rei desceu do céu para a terra.
Contemplem a razão porque este homem foi morto.

Assim Sakra advertiu um grande multidão de gente e daí seguiu direto para seu domicílio celeste. E o Bodhisatva reinou com retidão e depois foi completar as hostes do céu.

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O Mestre, tendo terminado este discurso, assim identificou o Jataka:- “Neste tempo Devadatra era o rei mau ; Anurudha era Sakra ; Sujata era a mãe de Rahula ; e o rei por dom de Sakra era eu mesmo.”





quarta-feira, 17 de setembro de 2008

193 Ananda Iguana


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193
Sou eu – não outro...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto morava em Jetavana sobre um irmão que errava. As circunstâncias serão explicadas no Jataka 527. Quando este irmão foi questionado pelo Mestre se realmente errava, ele respondeu que sim. “Quem,” perguntou o Mestre, “fez com que você desviasse ?” Ele disse que viu vestida lindamente uma mulher, e tomado de paixão, se desviou. Então o Mestre disse, “Irmão, mulheres são todas ingratas e traiçoeiras ; sábios velhos foram tão estúpidos a ponto de oferecerem sangue do próprio joelho direito para mulheres beberem e ofertou presentes durante toda a vida e ainda assim não ganharam os corações delas.” E ele contou uma história do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como filho da sua rainha. No dia do batismo, o chamaram de Príncipe Paduma, Príncipe Lótus. Depois dele ainda vieram seis irmãos mais novos. Um após outro estes sete chegaram à idade adulta e casaram e se estabeleceram, vivendo como companhia do rei.

Um dia o rei olhava as cortes no palácio e enquanto olhava, via estes homens (os filhos) com grande séqüito em sua direção se dirigindo. Ele suspeitou que planejavam matá-lo e tomar o seu reino. Então mandou chamá-los e falou-lhes deste jeito.
Meus filhos, vocês não devem morar nesta cidade. Devem ir para outro lugar e quando eu morrer vocês retornam e tomam o reino que pertence a sua família.”

Eles concordam com as palavras do pai ; e saem de casa lamentando e chorando. “Não importa para onde iremos !” gritavam; e tomando as esposas, deixaram a cidade e viajaram pelas estradas. Logo logo chegam num bosque , onde nada encontram para comer ou beber. Incapazes de suportar as ânsias da fome, decidiram salvar suas vidas ao custo das mulheres. Apanharam a esposa do irmão mais jovem e mataram ela ; cortaram o corpo em treze partes e a comeram. Mas o Bodhisatva e sua esposa deixaram de lado uma parte e dividiram a outra entre eles.

Assim fizeram por seis dias e mataram e comeram seis mulheres; e em cada dia o Bodhisatva deixava uma parte de lado de modo que salvou seis porções. No sétimo dia os outros teriam tomado e matado a esposa do Bodhisatva ; mas ao invés disto ele deu a eles as seis porções que guardara. “Comam estas,” disse ele; “a-manhã a gente se arranja.” Eles todos comeram a carne ; e quando chegou na hora que dormiram, o Bodhisatva e sua esposa fugiram juntos.

Quando tinham percorrido um pouco do caminho, a mulher disse, “Marido, não posso ir adiante.” Então o Bodhisatva tomou ela nos ombros e àurora saíam do bosque. Quando o sol se levantou, ela disse - “Marido, estou sedenta !”
Não há água, cara esposa!” disse ele.
Mas ela pedia, e pedia, até que ele cortou seus joelho direito com a espada e disse,
Água não há nenhuma ; mas sente e beba sangue aqui do meu joelho.” E assim ela fez.
Logo logo chegaram no poderoso Ganges. Beberam e banharam-se, comeram todo tipo de fruta e descansaram em um lugar agradável. E lá numa praia do rio fizeram uma cabana de eremita e lá habitaram.

Aconteceu de um ladrão das regiões do Alto Ganges ser culpado de alta traição. Suas mãos, seus pés, seu nariz e suas orelhas foram cortados e ele foi colocado em uma canoa e deixado a descer o rio. Até esta praia ele boiou, gemendo alto de dor. O Bodhisatva escutou seu chorar lastimável.

Enquanto estou vivo,” disse ele, “nenhuma pobre criatura morrerá por minha causa!” e foi à praia e salvou o homem. Ele o trouxe para a cabana e tratou seus ferimentos com óleos e loções cicatrizantes.

E a esposa disse para si mesma, “Aí está um belo incapaz tomado do Ganges para cuidar !” e saiu cuspindo desgosto pelo sujeito.

Bem, quando os ferimentos do ladrão estavam sãos, o Bodhisatva o deixou morar lá na cabana junto com a esposa e trazia frutos de todos os tipos da floresta para alimentar a ele e a mulher. E enquanto moravam juntos, a mulher caiu de amor pelo sujeito e pecou. Então passou a desejar matar o Bodhisatva e disse a ele, “Marido, enquanto estava sentada nos seus ombros saindo do bosque, vi um monte lá, e fiz voto de que se nos salvássemos sem nos machucarmos, faria oferta ao espírito santo daquele monte. Agora este espírito me assombra : desejo pagar minha oferta !”

Muito bom,” disse o Bodhisatva, sem saber do engano dela. Ele preparou uma oferta e entregando a ela o vaso da oferta, subiu ao topo do morro. Então sua esposa disse a ele,Marido, não o espírito do monte mas você é meu chefe dos deuses ! Então em sua honra primeiro de todos, oferecerei flores silvestres e andarei reverencialmente ao seu redor, mantendo você à direita e saudando-o : e depois disto oferecerei ao espírito do monte.”

 Assim falando, ela o colocou diante do precipício, fingindo que estava ansiosa em saudá-lo de modo reverente. Ficando assim às costas dele, ela o empurra por trás e o atira para baixo do precipício. Grita então de alegria, “Vi as costas do meu inimigo !” e desce da montanha e vai para junto de seu amante.

Bem, o Bodhisatva tombou descendo a escarpa ; mas ficou preso num galho de folhas de figueira onde não havia espinhos. Mesmo assim não podia descer da montanha, então lá ficou sentado nos galhos, comendo figos. Acontece que um grande Iguana usava subir o monte a partir do sopé, para ir comer os figos. Naquele dia, ele viu o Bodhisatva e fugiu. No dia seguinte, ele veio e comeu alguns frutos em um lado dela. Outro dia ele veio, e outro, até que estabeleceu amizade com o Bodhisatva.

Como chegaste a este lugar ?” ele perguntou ; e o Bodhisatva disse a ele como.

Bem, nada temas,” disse o Iguana ; e levando-o em suas próprias costas, desceu com ele da montanha e o trouxe para fora da floresta. Lá colocou-o na auto-estrada e mostrou a ele o caminho a seguir e voltou para a floresta.

O outro prosseguiu até uma certa cidade e lá morou até que escutou falar da morte de seu pai. Com isto dirigiu-se para Benares. Lá herdou o reino que pertencia a sua família e tomou o nome de Rei Lótus, não transgredindo as dez regras de retidão dos reis e legislou retamente. Construiu seis Salas de Munificência, uma em cada um dos quatro portões, uma no meio da cidade e uma diante do palácio ; e todo dia distribuía de presente seiscentas mil moedas de dinheiro.

Bem, a má esposa tomou o amante nos ombros e saiu com ele de de dentro da floresta ; e ela saiu mendicante no meio do povo e ganhou arroz e mingau para alimentá-los por enquanto. Se fosse questionada o quê era o homem para ela, ela respondia, “A mãe dele era irmã do meu pai, ele é meu primo ; me deram ele. Mesmo se um meu marido estivesse destinado à morte, eu o levaria nos ombros e cuidaria dele e colheria oferta para ele viver !”
Que esposa devota !” disse todo o povo. E com isto davam a ela mais comida do que nunca. Alguns também deram conselho, dizendo, “Não viva deste jeito. Rei Lótus é senhor de Benares ; ele agita toda a Índia com sua munificência. Ele ficará deliciado de te ver ; tão deliciado ficará, que te dará riquezas. Ponha seu marido numa cesta e vá até ele.” Assim falando, a persuadiram e deram a ela uma cesta de vime.

A má mulher colocou o amante na cesta e levando-o foi para Benares e vivia do que conseguia nas Salas de Munificência. Bem, o Bodhisatva usava dirigir até a sala de ofertas em cima de um elefante esplêndido, enfeitado; e após fazer ofertas a oito ou dez pessoas, ele volta de novo para casa. Então a mulher má coloca o amante na cesta e levando-o, lá espera pela passagem do rei. O rei a viu. “Quem é esta ?” ele perguntou. “Uma esposa devota,” foi a resposta. Ele manda chamá-la e reconhece quem ela era. Ele faz com que desçam o sujeito da cesta e a pergunta, “O quê é este homem para você ?” - “Ele é filho da irmã do meu pai, que me foi dado por minha família, meu próprio marido,” ela respondeu.
Ah, que esposa devota !” gritaram todos : pois não sabiam dos foras e dentros dela ; e louvaram a má mulher.
O quê – é este tratante teu primo? Sua família te deu ele?” perguntou o rei; “é ele seu marido ?”
Ela não reconheceu o rei ; e “Sim, meu senhor !” ela disse, com toda a coragem.

E é este o filho do rei de Benares? Não és a esposa do príncipe Lótus, e filha de tal e tal rei, seu nome tal e tal? Não bebeste o sangue do meu joelho ? Não caíste de paixão por este tratante e me atiraste para baixo de um precipício? Ah, pensastes que eu estava morto e aí estais com a morte escrita em tua própria testa – e aqui estou, vivo !” Então ele se dirigiu a seus cortesãos. “Vocês lembram o que lhes contei quando me questionastes ? Meus seis irmãos mais novos mataram as seis esposas e as comeram ; mas eu mantive minha esposa salva, e a trouxe às margens do Ganges, onde morávamos em cabana de eremita : retirei um condenado criminoso para fora do rio e cuidei dele ; esta mulher se apaixonou por ele e me atirou para baixo do precipício mas salvei minha vida mostrando gentileza. Esta não é outra que a mulher má que me atirou no precipício : este e não outro é o desgraçado do condenado !” E então pronunciou os versos seguintes:

Sou eu – não outro, e esta quenga é ela;
O ladrão sem mãos, nenhum outro, lá vês;
Diz ela – 'Este é o marido da minha juventude.'
Mulheres merecem morte ; não têm verdade.
Com um grande porrete batam para fora a vida do farsante
Que descansa a espera de roubar a esposa de outro.
Peguem logo então a fiel meretriz,
E cortem fora orelhas e nariz antes que ela morra.

Apesar do Bodhisatva não engulir sua raiva e ordenar esta punição para eles, ele não fez assim ; mas amansou sua ira e fixou a cesta na cabeça dela, tão firme que ela não poderia tirar fora ; colocou o vilão dentro e foram dirigidos para fora do reino.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka : - na conclusão das Verdades o Irmão desviante entrou no Fruto do Primeiro Caminho : - “Naqueles dias certos anciãos eram os seis irmãos, a jovem senhora Ciñca era a esposa, Devadatra o criminoso, Ānanda era o Iguana e Rei Lótus era eu mesmo. “