segunda-feira, 30 de junho de 2008

143 Buddha Leão



                                 (  Bosque de Bambu, Índia )

143
Teu cadáver esmagado...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre os esforços de Devadatra em posar como um Buddha em Gayasisa. Pois quando seu Insight espiritual o deixou e ele perdeu a honra e a glória que antes fora dele, ele perplexo pediu o Mestre que lhe concedesse os Cinco Pontos. Isto sendo recusado, ele faz um cisma na Ordem, na Irmandade, e parte para Gayasisa com quinhentos Irmãos jovens, pupilos dos dois discípulos chefes do Buddha mas ainda não versados na Lei e na Regra.

 Com tal séquito ele realiza os atos como de uma Irmandade separada reunida ajuntada nos mesmos recintos. Sabendo bem a hora em que o conhecimento destes jovens Irmãos amadureceriam, o Mestre envia dois Anciãos até eles. Vendo estes, Devadatra alegremente passa a trabalhar expondo noite adentro (enquanto se gabava) sobre o poder magistral de um Buddha. Então posando de Buddha disse, “A assembléia, reverendo Sariputra, ainda está alerta e sem sono. Serias bondoso o suficiente a ponto de pensares em um discurso religioso direto aos Irmãos ? Minhas costas doem de tanto que trabalhei, devo descansar um pouco.”

 Assim falando ele saiu para deitar-se. Aqueles dois discípulos chefes então ensinaram aos Irmãos, iluminando-os quanto aos Frutos e aos Caminhos, até que no final ganharam-los de volta ao bosque de Bambu.

Encontrando o mosteiro vazio de Irmãos, Kokalika vai até Devadatra e conta a ele como os dois discípulos quebraram o séquito dele e deixaram o mosteiro vazio ; “e você aí deitado dormindo,” disse ele. Assim falando ele rasga a roupa de fora de Devadatra e chuta-o no peito com pouca dó como se chutasse um caibro em parede de argila. Cuspiu sangue Devadatra, e daí em diante passa a sofrer das conseqüências deste golpe.

Disse o Mestre a Sariputra, “O quê fazia Devadatra quando vocês lá chegaram ?” E Sariputra respondeu que apesar de posar de Buddha, o mal caiu sobre ele. Disse o Mestre, “Do mesmo modo que agora, Sariputra, em tempos anteriores também Devadatra me imita para desgraça própria. “ Então, ao pedido do Ancião, ele conta esta história do passado.

-----------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um leão com juba e morava na Cova Dourada nos Himalaias. Saltando um dia para além dos limites de sua cova, ele olha para o Norte, Oeste, Sul e Leste, e ruge alto enquanto sai em busca de presa. Matando um búfalo grande, devora as primícias da carcaça após o que desce a um lago, e bebendo até saciar-se água cristalina vira para voltar para sua cova. Bem, um chacal faminto, encontrando de repente o leão, e sendo incapaz de escapar, atira-se às patas dele.

 Sendo questionado sobre o que queria, o chacal responde, “Senhor, deixe-me ser seu servo.” “Muito bem,” disse o leão ; “sirva-me e poderás comer das primícias da carne.” Assim falando, ele segue para a Cova Dourada com o chacal. Daí em diante as sobras do leão caíam para o chacal e ele ficou grande.

Deitado um dia em sua cova, o leão diz ao chacal para verificar os vales do topo da montanha, para ver se há algum elefante ou cavalo ou búfalo por perto, ou qualquer outro animal que ele chacal queira. Se houver algum a vista, o chacal deve relatar e dizer com obediência devida, “Brilhe em tua força, Senhor.” O leão então prometeu matar e comer, dando uma parte ao chacal. Assim o chacal usava subir às alturas e quando via embaixo bestas gostosas, relatava ao leão, e caindo às patas dele dizia, “Brilhe em tua força, Senhor.”

 Aí o leão com agilidade saltava fora e matava a besta mesmo se fosse um elefante berrante, e dividia as primícias da carcaça com o chacal. Gordo com sua carne, o chacal então retira-se para sua cova e dorme.

Bem, com o tempo passando, o chacal ficou grande e gordo até arrogância. “Não tenho eu também quatro pernas ?” perguntava-se a si mesmo. “Por quê vivo de pensão diária da bondade de outro ? De agora em diante eu matarei elefantes e outras bestas, para eu mesmo comer. O leão, rei das bestas, mata apenas por causa da fórmula , 'Brilhe em tua força, Senhor.' farei o leão me chamar dizendo 'Brilhe em tua força, chacal,' e então matarei um elefante por mim mesmo.” Conformemente ele foi até o leão, e indicando que já vivera muito as custas do leão, fala do seu desejo em comer um elefante que ele mesmo tenha matado, terminando com um pedido ao leão que deixasse ele, o chacal, deitar no leito do leão na Cova Dourada enquanto o leão subia a montanha para procurar um elefante. A presa, caça, encontrada ele pediu ao leão que viesse a ele na cova e dissesse, 'Brilhe em tua força, chacal.' Ele implora ao leão que não negue a ele este tanto. Disse o leão, “Chacal, só leões podem matar elefantes, nem nunca viu o mundo um chacal capaz de lutar e vencer com eles. Desista desta fantasia e continue a se alimentar daquilo que mato.” Mas dissesse o que dissesse o leão, o chacal não desistia e ainda pressionava pelo pedido. Por fim o leão deixou, e mandando o chacal deitar na cova, subiu o pico e com isto espiava um elefante berrante. Voltando à boca da cova, diz, “Brilhe em tua força, chacal.” Então da Cova Dourada o chacal com agilidade salta fora, buscando nas suas quatro direções, por três vezes soltando seu latido, e pulando sobre o elefante, tentando pegar a cabeça dele. Mas errando o alvo, acaba às patas do elefante. O bruto em fúria levanta sua pata dianteira e esmaga a cabeça do chacal, esmagando os ossos em pó. Socando a carcaça em uma massa única, cagando nela, o elefante corre berrante para a floresta. Vendo tudo isto, o Bodhisatva observa, “Brilhe agora em tua força, chacal,” e pronuncia a estrofe:-

Teu cadáver esmagado, teu cérebro estraçalhado como argila,
Mostra como brilhaste ho-je em tua força.

Assim falou o Bodhisatva, e vivendo até a boa anciedade passou na completude dos tempos sendo tratado de acordo com seus méritos.

--------------------

Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Devadatra era o chacal daqueles dias, e eu o leão.” // Jataka 335 com gathas diferentes.




sábado, 28 de junho de 2008

142 Buddha Chacal


                              
                              ( Bosque de Bambu,Veluvana, Índia ) 

142
Tua empunhadura segura...etc.- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre Devadatra tentar matá-lo. Pois, escutando os Irmãos juntos falarem disto no Salão da Verdade, o Mestre disse que como Devadatra agiu agora, do mesmo modo agiu em dias idos, e ainda assim falhou – para doloroso dano próprio – no seu propósito perverso. E assim falando ele contou esta história do passado.

---------------------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu chacal, e morava em um bosque cemitério com grande séqüito de chacais dos quais era o rei. E naquele tempo havia um festival que era dado em Rajagaha, e era um festival muito regado, com todos bebendo tudo. Bem, uma parcela de bêbados pegou comida e bebida em abundância e colocando suas melhores roupas cantava e fazia fazia festa com sua porção. À meia-noite a carne acaba, apesar de bebida ainda ter. Então um deles pede mais carne e sendo informado que não há mais, diz o sujeito, “Carnes nunca faltam enquanto estou por perto. Irei até o bosque cemitério, matarei um chacal que ronda os cadáveres e voltarei com alguma carne.” Assim falando ele apanha um porrete e faz seu caminho para fora da cidade pela vala para o lugar, onde deita, porrete à mão, fingindo estar morto. Justo então, seguido por outros chacais, o Bodhisatva chega e nota o pretenso cadáver. Suspeitando da fraude, ele resolve examinar minuciosamente o caso. Então ele rodeia ficando a sotavento e sabe pelo cheiro que o homem não está realmente morto. Determinado a fazer o sujeito de bobo antes de deixá-lo, o Bodhisatva aproxima-se furtivamente e segura o porrete com os dentes e puxa-o com força. O farsante não deixou soltar : sem perceber àproximação do Bodhisatva, ele apertou a empunhadura. Aí o Bodhisatva recuou um passo ou dois e disse, “Meu bom homem, se estivesses morto, não apertarias a empunhadura de seu porrete quando eu o puxei e assim te traíste.” Então pronunciou esta estrofe:-

Tua empunhadura segura no porrete mostra
Tua grossa impostura – não és cadáver, eu asseguro.

Dando-se conta de que fora descoberto, o farsante fica de pé e atira o porrete no Bodhisatva mas erra o alvo. “Fora, animal,” disse ele, “não te peguei desta vez.” Virando-se, o Bodhisatva disse, “Verdadeiramente erraste mas esteja certo que não perderás os tormentos do Grande Ínfero e dos dezesseis Ínferos Menores.”

De mãos vazias, o tratante deixou o cemitério e, após banhar-se em um regato, voltou à cidade pelo caminho que viera.

---------------------------

Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Devadatra era o farsante daqueles dias e eu o rei dos chacais.”



quinta-feira, 26 de junho de 2008

141 Buddha Iguana



                                    ( Veluvana, Bosque de Bambus, Índia ) 

141
Má companhia...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre um Irmão traidor. O incidente introdutório é o mesmo do contado no Jataka 26.

-----------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu iguana. Quando cresceu morava numa grande toca na margem do rio com um séqüito de muitas centenas de outros iguanas. Bem, o Bodhisatva tinha um filho, um jovem iguana, grande amigo de um camaleão, a quem usava abraçar e beijar. Esta intimidade sendo relata(da) ao rei iguana, o faz chamar seu jovem filho e dizer que tal amizade era inoportuna, pois camaleões eram criaturas baixas e que se tal intimidade persistisse, calamidade cairia sobre toda a tribo dos iguanas. E encarregou seu filho de não mais relacionar-se com o camaleão. Mas o filho continuou na sua intimidade. De novo e novamente o Bodhisatva fala com seu filho mas vendo que as palavras não era úteis e prevendo o perigo aos iguanas a partir do camaleão, cavou e cortou um escape em um lado de sua cova, de modo a ter como escapar na hora da necessidade.

Com o passar do tempo, o jovem iguana cresceu até ficar bem grande, enquanto o camaleão não cresceu nada. E como os abraços montanhosos do jovem gigante tornaram-se na realidade dolorosos, o camaleão previu que seria sua morte se eles continuassem por mais alguns dias e resolveu combinar com um caçador a destruição de toda a tribo dos iguanas.

Um dia no verão as formigas saíram após uma tempestade e os iguanas espalharam-se para cá e para lá pegando-as e comendo-as. Bem, entra na floresta um caçador de iguana com armadilhas, enxada e cachorros para cavar em busca de iguanas ; e o camaleão pensa em que presa colocará no caminho do caçador. Então ele vai até o sujeito, e, deitando diante dele, pergunta por quê vaga na floresta. “Para pegar iguanas,” foi a resposta. “Bem, sei onde há uma cova com centenas deles,” disse o camaleão ; “traga fogo lenha e me siga.” E ele trouxe o caçador para onde as iguanas moravam. “Bem,” disse o camaleão, “coloque seu combustível ali e a fumaça fará os iguanas saírem. Enquanto isto rodeie o lugar com os cachorros e segure um porrete na mão. Então com os iguanas atirando-se para fora, abata-os e faça uma pilha dos mortos.” Assim falando, o traiçoeiro camaleão retirou-se para um lugar próximo, onde deitou-se, com a cabeça levantada, dizendo para si mesmo, - “Neste dia verei a ruína do meu inimigo.”

O caçador passa a trabalhar, para com a fumaça colocar para fora, os iguanas ; e o temor por suas vidas retirou-os em um corre-corre (helter-skelter) da cova deles. Quando saíam o caçador abatia-os na cabeça, e se errasse, caíam presas dos cachorros. E houve grande mortandade entre os iguanas. Entendendo que isto era obra do camaleão, o Bodhisatva gritou, “Não se deve ser amigo de iníquo, pois tal traz tristeza em seguida. Um único camaleão perverso, mau, mostrou-se a desgraça de todos estes iguanas.” Assim falando, ele escapou pelo escape que fizera, pronunciando esta estrofe:-

Má companhia nunca acaba bem.
Devido amizade com um único camaleão
A tribo dos iguanas encontrou seu fim.

---------------------------

Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Devadatra era o camaleão daqueles dias; este Irmão traidor era o jovem iguana desobediente, o filho do Bodhisatva ; e eu mesmo o rei dos iguanas.”




terça-feira, 24 de junho de 2008

140 Buddha Corvo




  ( Ornamento de Ajanta vihara buddhista construída por Arhat Acharya ) 

140
Em terror incessante...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um conselheiro sagaz. Os incidentes serão relatos no Jataka 465.

-------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu corvo. Um dia o capelão do Rei saiu da cidade para o rio, lá se banhou e tendo se perfumado e posto guirlanda, vestiu sua cara veste e voltou à cidade. No arco do portão (da cidade) estavam pousados dois corvos ; e um deles disse a seu companheiro, “Quero cagar na cabeça deste brahmin.” “Não faça tal coisa,” disse ooutro ; “pois este brahmin é um grande homem, e é ruim incorrer na ira dos grandes. Se enraivecê-lo, ele pode destruir toda a nossa espécie. “Eu preciso,” disse o primeiro. “Muito bem, com certeza serás descoberto,” disse ooutro e rapidamente voou para longe. Justo quando o brahmin estava debaixo do arco, caiu a sujeira em cima dele, como se o corvo o engrinaldasse. O brahmin irado concebe a partir daí ódio contra todos os corvos.

Bem, neste momento aconteceu de uma mulher escrava encarregada do celeiro , espalhar arroz ao sol na porta da despensa e ficar sentada lá para vigiá-lo quando cai no sono. Justo então aproxima-se um bode peludo que passa a comer o arroz até que a garota acorda e o põe para fora. Duas ou três vezes volta o bode, tão logo ela cai no sono, e come o arroz.

 Quando ela então afasta a criatura pela terceira vez ela pensa consigo mesma que as visitas contínuas do bode consumiriam metade de seu estoque de arroz e que procedimentos deveriam ser tomados para espantarem para longe o animal e assim salvar-se de grande perda. Deste modo ela toma uma tocha acessa, e, sentando-se, finge que dorme como antes.

 E quando o bode começa a comer ela levanta-se de repente e bate com a tocha nas costas peluda dele. Logo as costas peluda do bode estavam em chamas, e para aliviar sua dor, ele mergulha num abrigo de feno do estábulo dos elefantes e rola no feno. O abrigo assim pega fogo e as chamas espalham para os estábulos. Como estes estábulos pegam fogo, os elefantes começam a sofrer, e muitos deles ficaram queimados para além da capacidade dos veterinários de elefantes poderem curá-los. Quando isto foi relato ao Rei, ele perguntou a seu capelão se ele sabia o quê curaria os elefantes. “Certamente eu sei, senhor,” disse o capelão, e sendo pressionado a falar, disse que seu remédio seria gordura de corvo. O Rei então ordenou que corvos fossem mortos e a gordura deles retirada. E com isto houve uma grande matança de corvos mas não se achou gordura neles, e portanto continuaram matando até que montes de corvos mortos fossem vistos em todo lugar. E grande medo abateu-se sobre todos os corvos.

Bem, naqueles dias o Bodhisatva morava em um grande cemitério, chefe de oitenta mil corvos. Um destes trouxe as novidades do medo que abatera-se sobre os corvos. E o Bodhisatva, sentindo que não havia ninguém a não ser ele que poderia incumbir-se da tarefa, resolveu livrar seu povo do grande terror. Revendo as Dez Perfeições e selecionando delas, Gentileza como guia, voou sem parar, direto, para o palácio do Rei, e entrou nele através de uma janela aberta, pousou debaixo do trono do Rei. Logo um empregado tentou pegar o pássaro mas o Rei entrando na câmara o impediu.

Recompondo-se em um momento, o Grande Ser, lembrando Gentileza, saiu de debaixo do trono do Rei e assim falou ao Rei ; -”Senhor, reis precisam se lembrar da máxima que reis não devem andar de acordo com luxúria e outras paixões más no legislar dos seus reinos. Antes de agir, deve-se primeiro examinar e conhecer todo o assunto e depois então somente fazer o quê é saudável. Se reis fazem o quê não é saudável, eles fazem com que milhares fiquem com medo, medo da morte mesmo. E ao prescrever gordura de corvo, seu capelão era estimulado pela vingança a mentir ; pois corvos não têm gordura.”

Com estas palavras o coração do Rei foi ganho e ordenou que o Bodhisatva se colocasse em um trono de ouro e lá ungido nas asas com os óleos mais finos e servido em vasos de ouro com as carnes mesmas e a bebida do Rei. Então quando o Grande Ser estava satisfeito e tranquilo, o Rei disse, “Sábio, dizes que corvos não têm gordura. Como aconteceu deles não terem nenhuma ?”

Deste jeito,” respondeu o Bodhisatva com voz que preencheu todo o palácio e proclamou a Verdade nesta estrofe:-

Em terror incessante, com toda a humanidade por inimiga,
Passam a vida ; por isto não têm gordura os corvos.

Dada esta explicação, o Grande Ser ensina o Rei, dizendo, “Senhor, reis não devem nunca agir sem examinar e conhecer toda a matéria.” Agraciado, o Rei deposita seu reino aos pés do Bodhisatva mas o Bodhisatva o restaura ao Rei, a quem estabelece nos Cinco Preceitos, rogando a ele que protegesse todo os seres vivos de dano. E o Rei foi movido por estas palavras a conceder imunidade a todos os seres vivos, e em particular ele foi incessantemente bondoso com corvos. Todo dia fazia com que fossem cozidos sessenta quilos de arroz e temperado com ervas finas, dado aos corvos. Mas ao Grande Ser foi dada comida que só o Rei comia.

---------------------------

Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Ananda era o Rei de Benares daqueles dias, e eu mesmo o rei dos corvos.”





segunda-feira, 23 de junho de 2008

139 Buddha Espírito d'Árvore




                   ( Veluvana, o Bosque de Bambu, Índia )

139
Ele cego, ela castigada...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre Devadatra. Escutamos que os Irmãos, reunidos no Salão da Verdade, falavam um com outro dizendo que como uma tocha de madeira, queimada em ambas as extremidades e imunda no meio, não serve de lenha seja na floresta ou no centro da vila, do mesmo modo Devadatra desistindo do mundo para seguir fé salvadora apenas alcançou imperfeição e derrota dupla, vendo que perdeu os confortos da vida leiga e também ficou distante de sua vocação como Irmão.

Entrando no Salão, o Mestre perguntou e soube sobre o quê os Irmãos conversavam juntos. “Sim, Irmãos,” ele disse, “e também em dias idos Devadatra teve justo a mesma derrota dupla.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

-----------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ) o Bodhisatva nasceu um Espírito d'Árvore, e havia uma certa vila onde pescadores de linha habitavam naqueles dias. E um destes pescadores pegando seus apetrechos saiu com seu filho pequeno e jogou seu anzol nas melhores águas conhecidas pelos companheiros pescadores. Bem, o anzol ficou preso em um tronco submerso e o pescador não conseguia puxá-lo para cima. “Que peixe grande !” ele pensou. “Seria melhor enviar meu filho para casa até minha esposa e pedir a ela que levante querela e mantenha os outros pescadores em casa , de modo que nenhum queira partes do meu prêmio.” Conformemente ele mandou o garoto correr para casa e contar para a mãe sobre o baita peixe que ele fisgou e como ela devia manter atenção dos vizinhos. Então, temendo que sua linha quebrasse, ele tirou seu casaco e mergulhou n'água para segurar seu prêmio. Mas enquanto ele tateava o peixe, bateu contra o tronco e teve ambos os olhos saltos para fora. Enquanto isto um ladrão roubava suas roupas na margem. Em dor agônica com as mãos apertando os cegos olhos, ele subiu para fora tremendo em todos os membros e tentou encontrar as roupas.

Enquanto isto sua esposa, para ocupar os vizinhos numa querela proposital, adornou-se com uma folha de palmeira atrás da orelha e pintou de preto um olho com fuligem da frigideira.  Deste jeito, acariciando um cão, ela sai chamando seus vizinhos. “Deus me abençoe, tu estais doida,” disse à ela uma mulher. “Não doida de toda,” respondeu a esposa do pescador ; “você me acusa sem razão com sua língua maledicente. Vamos juntas até o zemindar e eu te farei ser multada em oito peças por calúnia.” ( n. do tr.: A palavra Pali aqui, como no Jataka 137, é kahapana ; lá contudo mostra-se no contexto que é moeda de ouro ; enquanto aqui a pobreza do povo pescador sustenta a ideia de que a moeda era de cobre, como normalmente. O fato mostra que a palavra kahapana como outros nomes de moedas Indianas, primeiramente indicava um peso de qualquer moeda de metal, - seja de ouro, prata ou cobre.).

Então com palavras iradas elas foram ao zemindar. Quando porém a matéria foi discutida, a mulher do pescador é que foi multada ; e foi amarrada e castigada para pagar a multa. Bem, quando o Espírito d'Árvore viu quanta desfortuna caiu sobre ambos, a esposa na vila e o marido na floresta, ele ficou de pé na forquilha de sua árvore e exclamou, “Ah, pescador, n'água e na terra teu labor foi em vão e dupla foi tua derrota.” Assim falando ele pronunciou esta estrofe:-

Ele cego, ela castigada, claramente mostra
Dupla derrota e duplo castigo.


( n. do tr.: Cf. Dhammapada )

-------------------------

Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Devadatra era o pescador daqueles dias, e eu o Espírito d'Árvore.”



quinta-feira, 19 de junho de 2008

138 Buddha Lagarto





 ( Pintura de teto de Ajanta vihara buddhista construída por Arhat Acharya, Índia ) 


138
Com cabelos em tranças...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um hipócrita. Os incidentes são semelhantes àqueles relatos acima (Cf. Jatakas 128 e 325).

----------------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como um lagarto ; e em uma cabana próxima a uma vila da fronteira vivia um rígido asceta que obteve os Cinco Conhecimentos e era tratado com grande respeito pelos aldeões. Em um cupinzeiro no final do caminho em que o recluso caminhava para cima e para baixo, morava o Bodhisatva e duas ou três vezes por dia ele ia até o recluso e escutava palavras edificantes e santas. Depois com a obediência devida ao bom homem, o Bodhisatva partia para sua própria morada. Após um certo tempo o asceta deu adeus aos aldeões e partiu. Para seu lugar veio outro asceta, um sujeito tratante, para habitar no eremitério. Presumindo santidade no que chegava, o Bodhisatva agiu em relação à ele como com o primeiro asceta. Um dia uma tempestade inesperada na estação seca trouxe para fora as formigas de seus formigueiros, e os lagartos, saindo para comê-las foram pegos em grande número pelo povo da aldeia ; e alguns foram servidos em vinagre e açúcar para o asceta comer. Agraciado com prato tão saboroso, ele perguntou o quê era, e foi informado que era carne de lagartos. Aí ele refletiu que tinha um belo lagarto como seu vizinho, e resolveu jantá-lo. Conformemente aprontou a panela para cozinhar e temperos para colocar o lagarto dentro, e sentou à porta de sua cabana com um porrete escondido debaixo de seu hábito amarelo, esperando a vinda do Bodhisatva, com um ar estudado, fingido, de paz perfeita. À tarde o Bodhisatva veio e quando se aproximou notou que o eremita não parecia o mesmo mas tinha uma aparência que não indicava nenhum bem. Cheirando o vento que soprava em sua direção a partir da cela do eremita, o Bodhisatva cheirou o cheiro de carne de lagarto e imediatamente entendeu que o provar lagarto fez o asceta querer matá-lo com um porrete e comê-lo em seguida. Então retirou-se para casa sem chamar o asceta. Vendo que o Bodhisatva não vinha o asceta julgou que o lagarto adivinhara seu plano mas espantava-se em como ele podia ter descoberto.

 Determinado a não deixar o lagarto escapar, ele retirou o porrete e atirou-o, apenas atingindo a ponta do rabo do lagarto. Rápido como o pensamento, o Bodhisatva precipitou-se em seu reduto e colocando sua cabeça para fora através de um buraco diferente daquele que saíra antes, gritou, “Tratante hipócrita, seu hábito piedoso me levou acreditar em ti mas agora conheço sua natureza bandida. O quê um ladrão como tu tem a ver com roupa de eremita ?” Assim repreendendo o falso asceta, o Bodhisatva recitou esta estrofe:-

Com cabelos em tranças e hábito de pele
Por quê imitas a piedade ascética?
Um santo por fora, teu coração por dentro
Está entulhado de impureza suja.

[n. do tr.: Dhammapada v. 394].

Deste jeito o Bodhisatva expôs o mau asceta depois do que retirou-se para seu cupinzeiro. E o asceta ruim partiu daquele lugar.

------------------------

Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “O hipócrita era o asceta mau daqueles dias, Sariputra o bom asceta que vivia no eremitério antes dele, e eu mesmo o lagarto.”





terça-feira, 17 de junho de 2008

137 Buddha e a mãe de Kana



137
Dê comida a um gato...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre o preceito relativo à mãe de Kānā. Ela era irmã leiga em Savatthi conhecida como a mãe de Kānā que entrara nos Caminhos da Salvação e Eleita era.

Sua filha, Kānā ( n. do tr.: o nome Kānā significa ['cicl-ops'], 'único olho' [pode ser também um grão, medida mínima, ( donzela, menina ), de luz mesma de onde o radical do adjetivo canus, branco, em latim que forma o verbo caneo, branquejar , tudo isto servindo também para candeo, incendiar e iluminar e candeia, luz, vela. ]) era casada com um esposo da mesma casta de outra vila, e uma errância e outra a fez ir ver a mãe. Passaram-se uns dias e seu esposo enviou mensageiro com recado de que gostaria que ela voltasse. A garota perguntou à mãe se podia ir e a mãe disse que ela não podia voltar de mãos vazias após ausência tão longa, e entrou a fazer um bolo. Justo então chegou um Irmão na sua coleta de ofertas, e a mãe o fez sentar e colocou diante dele o bolo que acabara de assar. Ele sai e fala a outro Irmão que chega no tempo justo de pegar o segundo bolo que fora cozido para a filha levar para casa com ela. Este fala a um terceiro e o terceiro a um quarto, e assim cada bolo fresco foi pego por um novo visitante. O resultado disso foi que a garota não partiu no seu caminho para casa e o marido enviou um segundo e um terceiro mensageiro atrás dela. E a mensagem com o terceiro era de que se a esposa não voltasse, ele tomaria outra esposa. E cada mensagem teve exatamente o mesmo resultado. Então o esposo tomou outra esposa e com a novidade a esposa anterior dele caiu aos prantos. 

Sabendo disto tudo, o Mestre colocando seu hábito cedo de manhã, saiu com sua tigela de ofertas para casa da mãe de Kānā e sentou num lugar preparado para ele. Ele então perguntou por quê a garota estava chorando, e, sendo informado, falou palavras de consolo para a mãe e se levantou e voltou ao Mosteiro.

Bem, os Irmãos vieram a saber de Kānā impedida três vezes de voltar a seu esposo devido atitude dos quatro Irmãos ; e um dia eles se encontraram no Salão da Verdade e falavam do assunto. O Mestre veio ao Salão e perguntou o quê conversavam e eles disseram a ele. “Irmãos,” disse, “não pensem que esta é a primeira vez que estes quatro Irmãos trouxeram dor à mãe de Kana por comerem o estoque dela ; eles fizeram o mesmo em dias idos também.” Assim falando ele contou esta história do passado.

------------------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu Cortador de Pedra, e crescendo tornou-se expert em cortar pedras. Bem, no país Kasi morava um mercador muito rico que juntou quarenta 'crores' em ouro. E quando sua esposa morreu, tão forte era o amor dela pelo ouro que ela re-nasceu camundonga e morava em cima do tesouro. E um a um toda a família morreu incluindo o mercador mesmo. Do mesmo modo a vila torna-se deserta e abandonada.

 No momento da nossa história o Bodhisatva estava polindo e moldando pedras num sítio desta vila deserta ; e a camundonga usava vê-lo quando corria atrás de comida. Por fim ela apaixonou-se por ele ; e, pensando com ela mesma como o segredo de todo seu vasto tesouro morreria com ela, ela concebe a ideia de dividi-lo com ele. Assim um dia ela veio até o Bodhisatva com uma moeda na boca. Vendo isto, ele fala com ela gentilmente dizendo, “Mãe, o quê a traz aqui com esta moeda ?” “É para ti para dispores, gastares, e comprares carne para mim, meu filho.” Sem relutância, ele tomou o dinheiro e gastou meio centavo dele em carne que trouxe à camundonga que saiu e comeu alegrando coração. E isto continuou, a camundonga dando ao Bodhisatva uma moeda por dia, e ele retornando com suprimento de carne para ela. Mas aconteceu de um dia a camundonga ser pega por um gato.

Não me mate,” disse a camundonga.
Por quê não ?” disse o gato. “Estou faminto tanto quanto pode se estar, e realmente devo matá-la para aliviar minhas dores.”
Primeiro me diga se você está sempre faminto, ou faminto só hoje.”
Ah, toda dia me acho faminto de novo.”
Bem então, se isto é assim, eu trarei para ti carne sempre ; se me deixares ir.”
Fica atenta então,” disse o gato, e deixou a camundonga ir.

Como conseqüência disto a camundonga teve que dividir o suprimento de carne que obtinha com o Bodhisatva em duas partes e dar metade ao gato, guardando a outra para si mesma.

Bem, por azar, a mesma camundonga foi pega noutro dia por um segundo gato e teve que negociar livramento nos mesmos termos. Então agora a comida diária era dividida em três porções. E quando um terceiro gato pegou a camundonga e arranjo semelhante teve de ser feito, o suprimento passou a ser dividido em quatro porções. E posteriormente um quarto gato pegou ela, e a comida passou a ser dividida em cinco, de modo que a camundonga reduzida a tão pouca comida, ficou magra em pele e osso. Notando como estava magra sua amiga, o Bodhisatva perguntou a ela a razão. A camundonga então contou a ele tudo o que aconteceu com ela.

Por quê não me dissestes antes ?” disse o Bodhisatva. “Anime-se, vou ajudá-la com os seus problemas.” Ele então procurou um bloco do mais puro cristal e esculpiu nele uma cavidade e fez a camundonga entrar nela. “Agora fique aí,” disse ele, “e não falhe em tratar ferozmente e insultar quem se aproximar.”

Arrasta-se a camundonga então para dentro da cela de cristal e espera. Logo monta um dos gatos e pede carne. “Fora, gata velha,” disse a camundonga ; “por quê te daria alimento? Vá para casa e coma seus filhotes !” Em fúria com estas palavras e sem suspeitar que a camundonga estava dentro de cristal, a gata ataca a camundonga para comê-la ; e tão furioso foi seu salto que quebrou suas costelas e seus olhos pularam para fora da cabeça. Assim aquela gata morreu e sua carcaça tombou fora de vista. E fado semelhante ocorre com cada um dos quatro gatos. E sempre depois a camundonga agradecida trazia duas ou três moedas ao invés de uma para o Bodhisatva, e aos poucos deu a ele todo o tesouro. Em amizade inquebrável os dois viveram juntos até que suas vidas terminaram e eles passaram sendo tratados de acordo com seus méritos.

--------------------------

A história contada, o Mestre, como Buddha, pronunciou esta estrofe:-

Dê comida a um gato, Número Dois aparece:
Um terceiro e um quarto surgem em linha frutífera;
- Testemunhem os quatro que morreram no cristal.

Sua lição terminada, o Mestre identificou o jataka dizendo, “Estes quatro Irmãos eram os quatro gatos / gatas daqueles dias, a mãe de Kana era a camundonga e eu o Cortador de pedra.”

[n. do tr.: Ver Vinaya IV, 79 para a História Introdutória.]





segunda-feira, 16 de junho de 2008

136 Buddha Pato dourado



136
Satisfeito estejas ...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre sobre a Irmã chamada Nanda a Gorda.

Um irmão leigo em Savatthi ofereceu à Irmandade um suprimento de alho e, deu ordens ao bailio, almoxarife, que se elas viessem, dessem a cada Irmã duas ou três mãos cheias.

 Depois virou moda ir à casa dele ou campo por causa do alho. Bem, um dia o suprimento de alho na casa acabou e Irmã Nanda a Gorda vindo com ordens até a casa, teve como resposta, quando disse que precisava de um pouco de alho, que acabara o alho na casa, “usamos, gastamos, tudo”, e que ela devia ir ao campo para achar mais. Saiu então ela ao campo e pegou muito de alho. O bailio chiou e ficou irado reclamando que o lote das Irmãs estava grande demais ! Isto magoou as Irmãs moderadas ; e os Irmãos também ficaram magoados com o insulto quando as Irmãs falaram a eles, e eles contaram ao Abençoado. 

Censurando a cobiça de Nanda, a Gorda, disse o Mestre, “Irmãos, uma pessoa gananciosa é dura e grossa mesmo com a mãe que a carrega ; pessoa gananciosa não converte o inconverso, ou faz o fiel crescer em graça, ofertas virem, ou guardá-las quando vem ; contudo a pessoa moderada pode fazer todas estas coisas.” De tal modo o Mestre apontou a moral, terminando dizendo, “Irmãos, como Nanda a Gorda foi gulosa, do mesmo modo foi gananciosa em tempos passados.” E daí contou a seguinte história do passado.

----------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu brahmin e crescendo casou com uma noiva de seu rank, que deu à luz para ele três filhas chamadas Nanda, Nanda-vati e Sundari-nanda. O Bodhisatva morrendo, elas foram guardadas por vizinhos e amigos, enquanto ele nascia de novo no mundo como um Pato dourado dotado de consciência das suas existências anteriores. Crescendo, o pássaro viu seu magnificente tamanho e plumagem dourada, e lembrou que previamente havia sido humano. Descobrindo que suas filhas e esposa viviam da caridade de outros, o pato dourado pensou como com sua plumagem semelhante a ouro batido e malhado e como dando a elas uma pena de ouro por vez daria conforto de vida a suas filhas e esposa. Daí voou para onde elas moravam e pousou no topo da viga central do telhado. Vendo o Bodhisatva, a esposa e as filhas perguntaram de onde ele vinha ; e ele disse a elas que era pai delas que morrera e nascera Pato dourado e que vinha visitá-las para colocar fim na vida miserável delas de trabalharem por salário. “Vocês devem ter minhas penas,” disse ele, “uma a uma, e elas vendidas darão o suficiente para viveres bem e confortavelmente.” Assim falando, deu a elas uma de suas penas e partiu. E de tempos em tempos ele voltava para dar a elas outra pena, e com os rendimentos desta venda as mulheres brahmins cresceram prósperas e em bem estar.

 Mas um dia a mãe disse às filhas, “Não devemos confiar em animais, minhas filhas. Quem me diz que seu pai não vá embora um dia destes e não volte mais ? Aproveitemos a hora e o limpemos quando vier na próxima vez, para assegurar-nos de todas suas penas.” Pensando que isto o machucaria as filhas se negaram. A mãe na sua ganância chamou o Pato dourado um dia à ela quando ele veio, e segurando-o com ambas as mãos o depenou todo. Bem, as penas do Bodhisatva tinham esta propriedade que se fossem retiradas contra a vontade dele, cessavam de ser de ouro e tornavam-se como penas de corvo. E então o pobre pássaro, apesar de abrir as asas, não podia voar, e a mulher o atirou num barril e deu comida a ele lá. Com o passar do tempo as penas cresceram de novo (apesar de serem apenas brancas agora) e ele voou para sua casa e nunca mais voltou.

----------------------

No final da história o Mestre disse, “Assim vês, Irmãos, como Nanda a Gorda foi gananciosa tanto antes como agora. E sua ganância a fez perder o ouro do mesmo modo que agora a fez perder o alho. Observe, contudo, como sua cobiça privou toda a Irmandade do suprimento de alho, e aprenda disto a ser moderado em desejos e contente com que é dado, conquanto pouco o seja.” Assim falando, pronunciou esta estrofe:-

Satisfeito estejas e não anseies por mais provisão.
Elas pegaram o cisne - porém não mais seu ouro.

Assim falando, o Mestre sonoramente censurou a Irmã errante e deitou o preceito que qualquer Irmã que comesse alho fizesse penitência. Então fazendo a conexão, ele disse, “Nanda a Gorda era a esposa brahmin da história, três irmãs eram as três filhas brahmins e eu mesmo o Pato dourado.”


   ( Esopo Buddhista a galinha dos ovos de ouro em sua origem pato dourado ; o fato de estar no alto da cumeeira e dar presente de ouro para três meninas aproxima a imagem de são Nicolau, vulgo Papai Noel que fez a mesma coisa. O ouro aproxima-se também então do Sol propriamente e de seu solstício sendo o eixo vertical da chaminé, chemin, caminho. )   

http://vidasdebuddha.blogspot.com.br/2015/11/janua-caeli-svayamatrnna-ananda.html







sábado, 14 de junho de 2008

135 Buddha Brahma ( de novo )




                          ( Sankasia, Índia )

135
Quem sabiamente medita...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre a interpretação do problema pelo Ancião Sariputra no portão de Samkassa.

--------------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, [ novamente tudo acontece como nos Jatakas 99, 101 e 134 ] o Bodhisatva, enquanto expirava na cabana da floresta, respondeu às perguntas de seus discípulos com as palavras - “Luz da Lua e Luz do Sol.” Com estas palavras ele morreu e passou para o Reino Radiante.

Agora quando o discípulo chefe interpretava as palavras do Mestre seus seguidores não acreditaram nele. Então o Bodhisatva voltou e no meio doar recitou esta estrofe:-

Quem sabiamente medita no sol e na lua,
Ganhará (quando a Razão ao Ênstase
Der lugar) seu lote futuro nos Reinos Radiantes.

[ n. do tr.: Estes termos técnicos implicam que, tomando o Sol e a Lua como seus kammatthana ou objetos de meditação, um Buddhista, atingindo Jhana (ou Insight) em um segundo (i.e. supra-racional) grau, pode salvar-se de re-nascer em uma esfera mais baixa de existência que a Abhassaraloka ou Reino Radiante do mundo corporal de Brahma. ]

Tal foi o ensinamento do Bodhisatva, e, primeiro louvando seu discípulo, ele seguiu seu caminho de volta para o Reino de Brahma.

-------------------------

Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Sariputra era o discípulo chefe daqueles dias, e eu Maha-Brahma.”




134 Buddha Brahma




                                     ( Sankisa, Índia ) 

134
Com consciente...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre a interpretação de Sariputra, Capitão da Fé, às portas da vila de Samkassa, de um problema concisamente proposto pelo Mestre. E a seguinte história do passado ele contou então.

--------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, ... [ tudo acontece como nos Jatakas 99 e 101 ] etc... o Bodhisatva, enquanto expirava em sua cabana na floresta, exclamou, “Nem consciente nem inconsciente.” ... E os reclusos não acreditam na interpretação que o discípulo chefe deu das palavras do Mestre. Voltou o Bodhisatva do Reino Radiante e do meio do ar recitou esta estrofe:-

Com consciente, com inconsciente também,
Habita tristeza. Evite ambos os males.
Pura benção, livre de toda corrução,
Brota apenas do ênstase do Insight.

Sua lição terminada, o Bodhisatva louvou seu discípulo e voltou para o Reino de Brahma. Então o resto dos reclusos acreditaram no discípulo chefe.

------------------------

Sua lição ensinada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Naqueles dias Sariputra era o discípulo chefe, e eu Maha-Brahma.”




sexta-feira, 13 de junho de 2008

133 Buddha Pássaro


133
Vejam ! Em tua fortaleza...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um certo Irmão a quem pelo Mestre foi dado um tema para meditação e, indo para a fronteira, tomou residência na floresta perto de uma aldeia. Aí ele esperava ficar a estação das chuvas mas logo durante o primeiro mês sua cabana foi incendiada enquanto na vila ele colhia ofertas. Sentindo a falta do aconchego de seu telhado, contou aos amigos a desfortuna e eles logo começaram a construir para ele outra cabana. Mas a despeito das suas afirmações, três meses se passaram sem que ela fosse reconstruída. Não tendo telhado para abrigá-lo, o Irmão não teve sucesso em sua meditação. Nem mesmo a luz da aurora foi a ele concedida quando no final da estação das chuvas ele voltou à Jetavana e permaneceu respeitosamente de pé diante do Mestre. No desenrolar da conversa o Mestre perguntou se a meditação do Irmão teve sucesso. O Irmão então relatou tudo desde o começo o bem e o mal que com ele ocorreu. Disse o Mestre, “Em dias idos, mesmo bestas brutas puderam discernir entre o quê era bom e o quê era mal para elas e assim largar a tempo, antes que mostrassem-se perigosas, as moradias que as abrigavam em dias felizes. E se bestas foram assim inteligentes, como pudeste estar tão longe delas em sabedoria ?” Assim falando, ao pedido do Irmão, o Mestre contou esta história do passado. // Jataka 36. 

---------------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu pássaro. Quando chegou na idade da discrição, boa fortuna o esperava e ele tornou-se rei dos pássaros, tomando residência com seus súditos em uma árvore gigante que estendia seus galhos folhosos por cima das águas de um lago. E todos estes pássaros, empoleirados nos galhos, deixavam cair seu cocô nas águas abaixo. Bem, este lago era o domicílio de Canda, o Rei Naga, que ficou irado com este sujar das águas e resolveu se vingar dos pássaros e queimá-los todos. Então uma noite quando estavam todos empoleirados nos galhos, começou a trabalhar e primeiro fez àgua do lago ferver, e depois fumaça surgir e em terceiro fez chamas se projetarem altas como folhas de palmeiras.

Vendo as chamas saírem das águas, o Bodhisatva gritou aos pássaros, “Água é usada para temperar fogo ; mas aí está água em chamas. Não há lugar para nós; procuremos casa em outro lugar.” Assim falando, pronunciou esta estrofe:-

Vejam ! Em vossa fortaleza está o inimigo,
E o fogo queima àgua ;
Assim de vossa árvore apressem-se em sair,
E que a confiança converta aos apreensivos.

E aí o Bodhisatva voou com tantos dos pássaros quantos os que nele seguiam seu conselho; mas os pássaros desobedientes, que atrás pararam, pereceram todos.

-------------------------------

Sua lição terminada o Mestre pregou as Quatro Verdades (no final das quais o Irmão ganhou Arahat(idade)) e identificou o Jataka dizendo, “Os pássaros leais e obedientes daqueles dias agora tornaram-se meus discípulos e eu mesmo era então o rei dos pássaros.”


 ( Fogo & água, garuda & naga, yang & yin ) 



quinta-feira, 12 de junho de 2008

132 Buddha Príncipe ( final do 96 )



    ( Pintura de Ajanta, Índia ; derrota do exército de Mara ) 

132
Sábios conselhos considerando...etc.- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre o Sutra relativo à Tentação pelas Filhas de Mara no curral de Cabritos da Árvore Banian. O Mestre fez cotejo do Sutra começando com as palavras de abertura-

Em toda sua deslumbrante beleza, elas vieram,
- Cobiça, Aversão e Lúxuria. Como algodões que caem
Diante do vento, o Mestre as fêz flutuar.

Após ele recitar o Sutra todo até o fim, os Irmãos reuniram-se no Salão da Verdade e falavam como as Filhas de Mara aproximaram-se em suas miríades de encantos e ainda assim falharam em seduzir O Todo-Iluminado. Pois ele nem mesmo abriu os olhos para vê-las, de tão maravilhoso qu'ele era ! Entrando no salão, o Mestre perguntou, e a ele foi dito, sobre o quê conversavam. “Irmãos,” disse ele, “não é nenhuma maravilha que não tenha  mesmo olhado as Filhas de Mara nesta vida quando afastei-me do mal e ganhei iluminação. Em dias idos quando ainda estava em busca da Sabedoria, quando o mal ainda em mim morava, encontrei forças para nem mesmo espreitar na amabilidade divina dando lugar a luxúria violando virtude ; e por esta continência ganhei um reino.” Assim falando ele contou esta história do passado.

-------------------

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era o caçula de cem irmãos, e suas aventuras estão detalhadas aqui como no Jataka 96 Takkasila ( Taxila ) Jataka.

Quando o reino foi oferecido ao Bodhisatva pelo povo, e quando ele aceitou e foi ungido rei, o povo decorou a cidade como se cidade dos deuses fora e o palácio real como o palácio de Indra. Entrando na cidade o Bodhisatva passou para o espaçoso salão do palácio e lá sentou-se em beleza divina no trono em jóias debaixo do guarda-sol branco da sua Realeza. Ao seu redor em brilhante esplendor estavam os ministros, brahmins e kshatrias, com dezesseis mil 'nautch girls' [ apsaras, atrizes de teatro, dançarinas, cantoras, walquírias ], belas como as ninfas do céu, cantando e dançando e fazendo música até que todo o palácio estava cheio de sons como o oceano quando a tempestade cai em trovões nas águas. [ n. do tr.: ou querendo dizer 'como abóbada celeste cheia de nuvens de trovão' ? Cf arnara no Rig-veda.]. Olhando em volta a pompa de seu estado real o Bodhisatva pensou como, tivesse olhado o encanto das ogras, teria perecido miseravelmente, nem nunca teria vivido para ver a presente magnificência, que ele devia por ter escutado os conselhos dos Pacceka Buddhas. E enquanto tais pensares enchiam seu coração, a emoção achou vento nos versos:-

Sábios conselhos considerando, firme em propósito,
Em coração destemido por todo o percurso,
Evitei as moradas das Sirenas e suas armadilhas,
Èncontrei grande salvação na necessidade.

Assim termina a lição com o ensino destes versos. E o Grande Ser legislou seu reino com retidão, abundando em caridade e outras obras boas até que no fim passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

-------------------------

Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Eu era o príncipe daqueles dias que foi a Takkasila ( Taxila ) e ganhou um reino.”



quarta-feira, 11 de junho de 2008

131 Buddha Tesoureiro


131
Se um amigo...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre Devadatra. Pois naquele tempo os Irmãos estavam discutindo no Salão da Verdade a ingratidão de Devadatra e a incapacidade dele em reconhecer a bondade do Mestre, quando o Mestre mesmo entrou e inquirindo soube qual o tema da conversa deles. “Irmãos,” disse ele, “esta não é a primeira vez que Devadatra foi ingrato ; ele foi injusto igual em dias idos.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

----------------------

Certa vez quando um certo rei de Magadha reinava em Rajagaha, o Bodhisatva era o Tesoureiro dele, possuindo oitenta 'crores' ( um crore é dez milhões ) e conhecido como o Milionário. Em Benares morava um Tesoureiro também com oitenta 'crores', que se chamava Piliya, e era grande amigo do Milionário. Por uma razão ou outra Piliya de Benares ficou em dificuldades, perdeu toda sua propriedade, e foi reduzido à mendicância.

 Em sua necessidade ele deixou Benares e com sua esposa viajou à pé até Rajagaha, para falar com o Milionário, a última esperança que lhe restava. E o Milionário beijou seu amigo e o tratou como convidado de honra, perguntando no curso devido, a razão da visita. “Estou arruinado,” respondeu Piliya, “perdi tudo e vim para te pedir ajuda.”

De todo coração ! Não tema quanto a isto,” disse o Milionário. Abriu o cofre e deu a Piliya quarenta 'crores'. Também dividiu em duas partes iguais todos os bens vivos da propriedade, de escravos, gado e tudo, e deu a Piliya justamente a metade de toda sua fortuna. Tomando estes bens, Piliya volta a Benares, e lá mora.

Não muito depois calamidade semelhante acontece com o Milionário,que, por sua vez, perde cada centavo que tinha. Buscando ao redor para quem se virar em necessidade, ele lembrou-se de como ajudara Piliya com metade de suas posses, e como devia ir até ele em busca de assistência sem medo de ser jogado fora. Então partiu de Rajagaha com sua esposa e chegou em Benares. Na entrada da cidade disse a ela, “Esposa, não é conveniente que você fique percorrendo as ruas comigo. Espere aqui um pouco até eu te enviar uma carruagem com empregado para trazê-la à cidade de modo apropriado.” Assim falando, ele a deixou no abrigo [ n. do tr. : às portas, portões das antigas cidades haviam pousadas, para os viajantes mesmos ] e entrou sozinho na cidade, até chegar na casa de Piliya, onde pediu que fosse anunciado que o Milionário de Rajagaha veio ver seu amigo.

Bem, mande-o entrar,” disse Piliya ; mas ao ver o estado do outro nem se levantou para encontrá-lo, nem o saudou com palavras gentis mas apenas perguntou o quê o trazia ali.

Para vê-lo,” foi a resposta.

Onde estais hospedado ?”

Lugar nenhum ainda. Deixei minha esposa num abrigo e vim direto até ti.”

Não há quarto aqui para você. Tome um punhado de arroz, encontre algum lugar para cozinhá-lo e comê-lo e vá e nunca mais volte a me visitar.” Assim falando, o homem rico despachou um empregado com ordens de dar a seu amigo desafortunado um quarto de quilo de farinha amarrado as bordas da roupa; - e isto, apesar de ter naquele dia mesmo debulhado e armazenado um milhar de carretos do melhor arroz em seus silos abarrotados.

 Sim, o tratante, que friamente tomou quatro centenas de milhões, agora deu um quarto de quilo a seu benfeitor ! Conformemente, o empregado colocou a farinha medida numa cesta e a trouxe ao Bodhisatva, que questionava-se se devia ou não aceitar. E ele pensou, “Este ingrato acaba com nossa amizade porque estou em ruínas. Bem, se recuso seu presente mesquinho seria ruim como ele. Pois o ignorante que ultraja um modesto presente, ultraja a ideia mesma de amizade. Portanto seja meu o cumprir amizade tanto quanto em mim descansa, aceitando seu presente de farinha.” De modo que amarrou a farinha na borda da roupa, e fez seu caminho de volta para onde abrigara-se a esposa.

O quê você conseguiu querido ?” disse ela.

Nosso amigo Piliya nos deu esta farinha, e lavou as mãos para nós.”

Oh, por quê aceitaste ? É este retorno (contra-dom) adequado para quarenta 'crores'?"

Não chore, querida esposa,” disse o Bodhisatva. “Aceitei simplesmente porque não queria violar a princípio da amizade. Por quê estas lágrimas ?” assim falando, ele pronunciou esta estrofe:-

Se um amigo faz papel de avaro,
Um simplório é cortado ao coração ;
Da migalha a farinha pegarei
E não por isto amizade quebrarei.

Mas permaneceu em prantos a esposa.
Bem, naquele momento um empregado de fazenda a quem o Milionário dera a Piliya, passava e aproximou-se ao escutar o choro de sua antiga patroa. Reconhecendo seu patrão e sua patroa, ele caiu aos pés deles, e em lágrimas e soluços perguntou a razão por quê vieram. E o Bodhisatva contou a ele sua história.

Mantenham o ânimo,” disse o homem alegremente ; e, levando-os para sua própria casa, lá, aprontou banhos perfumados, e comida para eles. Então contou aos outros escravos que os antigos patrão e patroa vieram, e após alguns dias marcharam num só corpo para o palácio do Rei, onde causaram uma tremenda comoção.

O Rei perguntou qual era o problema, e eles contaram a história toda. Chamou então os dois, e perguntou ao Milionário se o relato era vero de que dera quatrocentos milhões a Piliya.
Senhor,” disse ele, “quando em necessidade meu amigo em mim confiou, e veio buscando minha ajuda, dei a ele metade, não apenas de meu dinheiro mas de meus bens vivos e de tudo o quê possuía.”

Foi assim ?” disse o rei a Piliya.

Sim, senhor,” disse ele.

E quando por sua vez seu benfeitor confiou em ti e te buscou, mostraste a ele honra e hospitalidade ?”

Aqui Piliya ficou em silêncio.

Você deu de esmola um quarto de quilo de farinha costurado na bainha da roupa dele?”

Continuou Piliya em silêncio.

Então o rei tomou conselho com seus ministros sobre o que fazer, e finalmente,  como juízo imposto a Piliya, ordenou-os que fossem à casa de Piliya e dessem todos os seus bens para o Milionário.

Não, senhor,” disse o Bodhisatva ; “não preciso do que é de outro. Que me seja dado apenas o quê antes dei a ele.”

Então o rei ordenou que o Bodhisatva devia gozar do que era seu de novo ; e o Bodhisatva, com largo séqüito de servos, voltou com seus bens ganhos de volta para Rajagaha, onde colocou seus negócios em ordem e após vida gasta em caridade e outras obras boas, passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

--------------------
Sua lição terminada o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Devadatra era o Tesoureiro Piliya daqueles dias, eu mesmo o Milionário.”